18 de julho de 1983... já lá vão mais de 40 anos. Dois jovens apaixonados que
se tinham conhecido há apenas dez anos, nos bancos da velhinha Faculdade de
Ciências de Lisboa, avançaram pela
primeira vez
pelo fabuloso vale de Ordesa, nos Pirenéus aragoneses,
e em Gavarnie, na vertente francesa. O filho mais velho tinha então 5 anos... em
muitos troços foi às cavalitas do paizinho... 😂
A minha paixão pelos Pirenéus começou naqueles vales, aos pés do majestoso
Monte Perdido. Por três vezes levei gerações de alunos a viverem comigo
aquela paixão... nos longínquos anos de
1985,
1988
e
1995. Entretanto, no verão de
1990
tinha regressado a Gavarnie em família, já com os dois filhos, e em
2009
levo a minha "família" caminheira - os
Caminheiros Gaspar Correia
- às terras mágicas de ambos os lados das montanhas que ligam a nossa "jangada de pedra" ao resto da Europa.
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Entre Pineta e
Ordesa... entre 1985 e 2013... 28
anos de memórias... (Clique em qualquer das fotos para ampliar o fabuloso vale de Ordesa) |
Em julho de
2013,
liguei Pineta a Gavarnie e atravessei a mítica
Brecha de Rolando, durante o
Monte Perdido Extrem
... e em
2016
atravessei os Pirenéus a pé, na primeira das 32 etapas do meu
Caminho Francês de Santiago.
As paisagens grandiosas dos vales de Ordesa ou de Pineta, coroadas pelas Tres Sorores, ficaram
sempre gravadas no canto das mais fabulosas que os meus olhos alguma vez
viram. Há 12 anos que não as via... a minha "estrelita" há 16 anos que não as
via... no tal passado que é cada vez mais muito maior que o futuro. E assim...
um dia de agosto pus-me a desenhar o que poderiam ser uns dias nos
Pirenéus, a dois, num misto de descanso, turismo, pedestrianismo... e
romance. A componente pedestre não poderia ser grande, a minha arraiana nunca
teve as mesmas capacidades com que o Universo me contemplou. E um dia, nesta
"prospecção" à frente de um ecrã... encontrei o site de uma empresa
chamada
Monte Perdido Bus. "Visita Ordesa sin aglomeraciones. Desde el pueblo de Nerín accederás por
pista de uso restringido hasta los 2150 metros de altitud, y así podes
llegar en el día al Monte Perdido y a algunas de las principales cumbres y
miradores de Ordesa"... lê-se no site. Que maravilha! Desse modo... a minha
piquena podia chegar aos pés do Monte Perdido... o que de outro
modo seria de todo completamente impossível para ela! E esse foi, sem dúvida,
o mote para desenhar o programa dos dez dias fantásticos que acabámos de
passar nos Pirenéus... e a melhor das prendas que poderia ter pelo meu recente
72º aniversário. Até dói... 😒
No "país" de Sobrarbe (1): de Aínsa a Nerín... pela serpenteante estrada do Río Bellos
Pouco passava das sete da manhã do passado dia 8 quando deixámos o "ninho"; o
Sol nasceu próximo da fronteira do Caia. Há muitas luas que eu não fazia 1000
km seguidos! Bem... não foram bem mil, foram 994 😄 Mas não foi a pé... foi no
T-ROC.
A parceira perguntava-me de vez em quando (leia-se... "quando abria os olhos")
se eu estava cansado. Eu não, cansado de quê? Não fiz nada todo o dia... e fui
sentado 😜. O coitado do T-ROC é que fez tudo... inclusive guiou sozinho
alguns bocados... 😂. A ideia era ir até o mais próximo possível do nosso
destino. Passámos Madrid, passámos Zaragoza... e fizemos alto em
Sariñena, alguma vez ouviram falar? Pois, eu também não... mas foi onde
ficámos, a caminho de um país perdido... um
país de anochecida... a caminho do "país" de
Sobrarbe! Por vezes... os países perdidos estão mais perto do que pensamos... 💖
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Pouco antes de Aínsa, 09.09.2025, 08h40 |
Sobrarbe foi um dos três condados que deram origem ao Reino de Aragão. As suas
histórias e lendas entrelaçam-se com as raízes da Reconquista e o nascimento
de Aragão.
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Plaza Mayor de Aínsa, capital histórica e cultural de Sobrarbe, 09.09.2025, 10h40 |
Pouco depois do meio dia estávamos no mini parque de estacionamento de
San Úrbez. San Úrbez é uma figura
profundamente enraizada na espiritualidade dos Pirenéus aragoneses, um santo
pastor, eremita e símbolo da fé simples e resistente que floresceu nas
montanhas. Viveu no século VIII, numa época de transição entre o domínio
visigótico e a expansão muçulmana. Teria nascido em Bordéus, mas refugiou-se
nos vales pirenaicos, onde levou uma vida de ascetismo e contemplação.
Tornou-se pastor e eremita, conhecido pela sua humildade e pelos milagres
atribuídos à sua intercessão. A tradição diz que viveu em várias grutas da
região, incluindo no Cañón de Añisclo, onde hoje se ergue a sua ermida... e onde fizemos a primeira caminhada do
nosso périplo pirenaico.
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Ponte românica e Trilho de San Úrbez, ao fundo do imponente Cañón de Añisclo e no curso do Rio Bellos |
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O imponente Cañón de Añisclo (foto de cima), visto da estrada de Buerba (foto de baixo) |
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Nerín, 09.09.2025, 16h25 - A meio da tarde chegávamos ao Hotel Palazio... literalmente no Paraíso... |
Escrito a posteriori, em casaContinua