domingo, 23 de abril de 2017

Por trilhos da Sapataria

Num belo domingo de Sol, que mais parecia Verão ... 18 km de uma bela caminhada nos trilhos da Sapataria, Sobral de Monte Agraço. O país saloio em todo o seu esplendor!

Sapataria, 23.04.2017, 09h15 - Começara mais uma caminhada "Novos Trilhos", cruzando a Linha do Oeste
Foi mais uma actividade dos "Novos Trilhos". Uma caminhada circular, subindo e descendo morros e atalaias, moinhos de vento carregados de história e de estórias. Começámos no lugar de Sizandros, junto à Sapataria e à nascente do Rio Sizandro, para subir as vertentes a poente, debruçadas sobre o vale.

Sobre o vale do Rio Sizandro ...
... com a Senhora do Socorro ao fundo
Através de túneis de vegetação, para descobrir os horizontes
Apesar da pouca chuva e das temperaturas altas para a Primavera, os campos abriram-se-nos, pintados de verde e aqui e ali pelo amarelo e branco das flores. Voltámos a cruzar a Linha do Oeste próximo da Roussada, rumámos a nordeste, e de novo a sul, rumo ao Milharado.

Verdes são os campos ... pintados de amarelo e branco
Moinhos do Milharado: foto de grupo
A Serra do Socorro, a norte, e o Cabeço de Montachique, a sul, como que nos vigiavam no nosso percurso. Continuávamos a subir e a descer, pelos moinhos da Serra de Canas e o vale da Ribeira da Bica, para então regressarmos ao rumo noroeste. Paragens para reforço alimentar ... só tinha havido uma, curta. Já passava da uma da tarde quando o "pelotão" "exigiu" uma segunda paragem, mesmo assim curta. É que ... nem todos sabíamos o que nos esperava no fim da caminhada... 😋

Sobre Vila de Canas, com o Cabeço de Montachique ao fundo
Moinho e Geodésico de Terras
(312m alt.) ... e respectiva descida
Descida das Terras para Sizandros, com Sapataria à vista ... e um final de caminhada "recheado"... 😊
Às duas e meia estávamos de regresso ao ponto de partida, com 18 km e mais uns metros percorridos. E ... alguém tinha montado no lugar de Sizandros um autêntico banquete de recepção final! Porquê?... Porque alguém tinha completado há dias mais um aniversário!... A isto chama-se convívio, amizade, vida sã. A isto ... chama-se "Novos Trilhos"!

Chafariz de Sizandros ... e o banquete que nos esperava no final!...
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sábado, 15 de abril de 2017

De Sintra a Cascais, por serras e vales encantados

Para sábado de Páscoa, os Novos Trilhos agendaram uma caminhada linear ligando Sintra a Cascais. Embora conhecendo a quase totalidade do percurso, uma travessia deste género é sempre sedutora.

Sintra, 15.04.2017, 09h27 - Tinha começado uma travessia até Cascais, no Sábado de Aleluia
Com passagem por lugares emblemáticos, como a Ermida e o Miradouro de Santa Eufémia, a caminhada iniciou-se no já habitual Parque da Liberdade, no vale abaixo do Palácio da vila, em Sintra. Dado tratar-se de uma caminhada linear, alguns carros ficaram em Cascais, outros em Sintra. Uma caminhada sem grandes histórias para contar ... mas um belo sábado, primaveril e soalheiro, subindo e descendo a serra, descendo o vale encantado do Rio da Mula, passando pela Quinta do Pisão, para chegar a Cascais ao longo do vale da Ribeira das Vinhas ... e, como sempre, com muito convívio pelo meio.


Ermida e Miradouro de Santa Eufémia
Descida para a Barragem do Rio da Mula
Belos troços da serra, entre o Rio da Mula e a Quinta do Pisão
A Quinta do Pisão situa-se no sopé da serra de Sintra. Constitui actualmente um Parque de Natureza administrado pela Câmara de Cascais, com 450 hectares de área totalmente inserida no Parque Natural de Sintra-Cascais. A quinta pretende a salvaguarda do património ecológico, cultural e histórico, perpetuando uma interacção produtiva entre a actividade humana e o espaço natural.

Foto de grupo, junto à Eira dos
Fornicos, na Quinta do Pisão
Antes das três e meia estávamos em Cascais, ao fundo da Ribeira das Vinhas, com 21 km percorridos desde Sintra. Os habituais votos de Boa Páscoa ... e até às próximas "aventuras"... 😊

Ao longo da Ribeira das Vinhas
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domingo, 9 de abril de 2017

Nas Buracas de Casmilo e por outros lugares secretos da Serra do Sicó

Nos principais maciços calcários, o processo de evolução cársica conduz muitas vezes à formação de paisagens peculiares. Os campos de lapiás, as dolinas, a fórnea da Serra de Candeeiros, são apenas exemplos, entre muitos, dessas paisagens cársicas.
Entre terras de Pombal e de Condeixa-a-Nova, a Serra de Sicó alberga várias dessas formações, de que as chamadas Buracas de Casmilo são as mais extraordinárias. Ora, as Rotas e Trilhos na Natureza agendaram para hoje uma incursão ao Sicó, com deslocação em autocarro, a que a minha "companheira de aventuras" se entusiasmou a participar, bem como o meu "mano" Zé Manel e a sua "companheira de aventuras" 😊. E assim, a umas madrugadoras seis e meia da manhã, estávamos a sair de Sete Rios, rumo ao Museu e às ruínas de Conímbriga.
O relevo calcário do maciço do Sicó representa um reduto paisagístico dominado por superfícies secas, com vertentes de rocha nua misturada com vegetação arbustiva mediterrânica. É na povoação de Casmilo, da freguesia do Furadouro (enquadrada pelo monte da Senhora do Círculo e pela Serra de Janeanes) que encontramos um canhão fluviocársico, cujas vertentes se abrem em concavidades de desenvolvimento horizontal - as Buracas. E estes foram precisamente os três pontos de interesse essenciais da actividade deste domingo: o monte da Srª do Círculo, as Buracas e a Serra de Janeanes.

Próximo de Conímbriga, 9 de Abril de 2017, 09h45 - Atravessamos o Rio de Mouros
Deixando as ruínas de Conímbriga para trás, pouco depois das nove e meia estávamos a caminhar para sul, rumo à Serra de Alconcere e ao geodésico do Cruto. Com a minha pequena arraiana e mais duas companheiras, rodeámos o geodésico pelo lado poente, por forma a minimizar os desníveis mais acentuados, enquanto o grosso do grupo subiu ao Cruto. Entre as aldeias de Peixeiro e Furadouro ... deu-se um "milagre": uma gentil enfermeira que passava de carro deu boleia às três senhoras, até à aldeia de Casmilo, evitando-lhes também assim a penitência da íngreme subida da Senhora do Círculo.

Na Serra de Alconcere, com o
Monte da Senhora do Círculo ao fundo
Aldeia do Furadouro, vista da subida à Senhora do Círculo
Durante uns 20 minutos, este peregrino peregrinou portanto sozinho. E à entrada da aldeia do Furadouro comecei a "escalada" para o topo da Senhora do Círculo, começando rapidamente a ultrapassar, na subida, a maior parte do grupo. Ao chegar à Ermida ... confessei que nunca me tinha acontecido "perder" três mulheres pelo caminho ... e "ganhar" entretanto mais de vinte!... 😊😉

Senhora do Círculo (406m alt.): 360º de panorâmicas em redor
Daquele alto avistam-se as serras do Buçaco e do Caramulo e mesmo a serra da Estrela. A poente, o olhar leva-nos a distinguir toda a costa, desde Ovar a Peniche, à Figueira da Foz e aos campos do Mondego. As vertentes vestem-se de tojo, de flores silvestres, de pedras cinzentas e milenares.
Supõe-se que a Serra do Círculo já fosse lugar de culto dos habitantes pré-romanos e romanos de Conímbriga e de outras povoações. A Ermida julga-se contudo datada do século XII ou XIV, derivando o nome, supostamente, do muro circular de pedra que rodeia o santuário. A imagem gótica da Virgem, que segura o Menino com o braço esquerdo e espalma a mão direita levantada em gesto de bênção, tem duas romarias anuais: uma no segundo domingo após a Páscoa, a outra na 5ª feira de Ascensão. Ainda hoje, quando a seca se faz sentir, o povo dirige-se para a Senhora do Círculo, subindo em procissão até ao cume, a entoar ladainhas de rogação, para implorar a chuva que tarda. Conta-se que não raras vezes, nessas ocasiões, a chuva acaba por vir brindar a penitência, antes mesmo do cortejo iniciar a descida da serra ... que nós iniciámos pela vertente sudeste, rumo à aldeia de Casmilo.

Descida da Senhora do Círculo para Casmilo
Na aldeia de Casmilo, que dá o nome às fantásticas formações do Vale das Buracas, ou vale dos Covões
As três mulheres que eu tinha "perdido" pelo caminho já tinham entretanto avançado da aldeia de Casmilo, onde a providencial enfermeira as deixou, para as Buracas, onde ganharam assim um bom descanso. Com o resto do grupo, desci pelo trilho que passa nas Buracas Pequenas; um trilho espectacular, serpenteando por entre um belo bosque e num permanente desce e sobe, até àquelas fantásticas formações geológicas, que correspondem ao que resta de várias salas de uma gruta existente no interior.

Descida do trilho do Vale das Buracas ... com rosas albardeiras a enriquecer a paisagem
No Vale das Buracas ... ou dir-se-ia que estávamos noutro planeta...
A formação das Buracas deu-se por abatimento da parte nuclear do monte, sendo que só as cavidades laterais, remanescentes da gruta que antes se ocultava dentro do monte, permanecem visíveis. E junto às Buracas ... lá estavam as nossas três "fugitivas", descansadas e fresquinhas... 😊

Passava já da uma hora, mas depois das fotos deixámos o vale e subimos agora para nordeste, rumo à Serra de Janeanes
Rumo à Serra de Janeanes, no horizonte desenhava-se a silhueta inconfundível de um moinho de vento; é o Moinho do Outeiro, ou de Janeanes. Como muitos outros que se encontram por esta região, é construído em madeira. Toda a estrutura roda sobre um círculo de pedra, apoiada num eixo central e em duas rodas também em pedra. Nos seus "Diários", Miguel Torga descreve bem o estado de degradação a que este moinho já tinha chegado há mais de 4 décadas:
O esqueleto de um moinho de vento a entristecer ainda mais esta paisagem desolada de paredes ressoantes, olivais mirrados e carrasqueiras agressivas. As rodas de pedra em que assentava todo o engenho, que assim podia ser adaptado a qualquer aragem, o ciclópico vigamento de carvalho que as unia, e as duas mós, suspensas no vazio, coladas uma à outra como maxilas defuntas. As velas voaram, o grão deixou de cair da moega, a fome mudou de rumo e da fábrica alada ficou apenas, à margem da estrada da vida, uma caricatura espectral. E é junto dela que penso noutros moinhos, que em vez do pão do corpo moeram pão do espírito, e de que só restam também carcaças semelhantes. Moinhos que, como este, tiveram destino, mas não tiveram futuro.
(Miguel Torga, Rabaçal, 4 de Março de 1973, in "Diário XI")
Janeanes à vista, com o seu
inconfundível moinho de vento
Por entre muros de pedra, a caminho de Janeanes
A povoação deve o seu nome a João Eanes, que terá sido um camponês a quem se deve o surgimento da aldeia. Assim, o nome da povoação deriva do nome do seu fundador e por consequência aquele monte terá adquirido de forma natural o nome de Serra de Janeanes.
E Janeanes foi o local escolhido pelos organizadores para o já merecido almoço, junto à Capela ... onde um pequeno painel de azulejos dá a conhecer que ali faleceu, em 1654, uma senhora que atingiu a bonita e rara idade de 125 anos!
Pouco antes das três da tarde, estávamos de novo entre muros de pedra, a descer para o vale da Ribeira da Várzea. O nosso destino era agora a aldeia de Poço, sempre com belas panorâmicas a leste, que terminavam, ao longe, na imponente Serra da Lousã.

Descida da Serra de Janeanes para nordeste
Junto à aldeia de Poço entrávamos no vale do Rio de Mouros ... e entrávamos também no Caminho de Santiago Português. Desde Lisboa, trata-se da 8ª Etapa, entre Rabaçal e Coimbra ... ou seja aquela que teria sido, em 2015, a 6ª Etapa do meu Caminho Santa Cruz - Santiago ... o caminho que o destino não transformou em Caminho! De alguma forma ... os Caminhos de Santiago vêm ter comigo ... e com o meu "mano" Zé Manel... 😊


O Caminho faz parte de nós ... e nós fazemos parte do Caminho...
E, em pleno Caminho de Santiago, pelas quatro e meia estávamos de regresso a Conímbriga, ao ponto de partida. Tínhamos percorrido 20 km por aqueles lugares secretos do Maciço do Sicó ... as três "perdidas" sensivelmente 16 km. Um belo domingo de Sol ... e de calor em excesso para a época do ano.

Conímbriga ... em fim de jornada
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