sábado, 27 de maio de 2017

Barragem do Pisão, Beringel (Beja)

No dia seguinte a ter regressado do Caminho das Estrelas ... os Caminheiros Gaspar Correia tinham em agenda uma caminhada na zona da Barragem do Pisão, próximo de Beringel, Beja... 😊

Campos de girassol em Beringel, 27.05.2017, 10h00
Começámos por uma visita à olaria do Sr. António Mestre, para quem os barros de Beringel não têm segredos. Depois, a caminhada propriamente dita desenvolveu-se completamente à volta da barragem, com belas panorâmicas dos campos e do lençol de água. 11 km de uma caminhada fácil, em que, para matar saudades de uma ausência de 21 dias ... tive a minha "estrela arraiana" a caminhar comigo!... 😊

Barros de Beringel: na
olaria do Sr. António Mestre
Rumo à Barragem do Pisão
Através dos belos campos adjacentes à Barragem do Pisão
A Natureza
em acção...
Depois de uma ausência de 21 dias ... nesta caminhada eu tinha a minha estrela comigo... 😊
Igreja de Beringel
Uma caminhada simples, fácil, mas muito bonita ... a descansar do Caminho das Estrelas ... 😊

(Escrito em 08.06.2017)

sexta-feira, 26 de maio de 2017

De León a Fisterra, no Caminho das Estrelas (5)

Nos Camiños da Fín da Terra: de Santiago a Fisterra
Lisboa, 26 de Maio
O ano passado, após o Caminho Francês, desde Saint-Jean-Pied-de-Port, eu e a minha Mana Paula complementámo-lo com o epílogo de Santiago a Muxía e a Fisterra. À Paula, ficou-lhe a faltar portanto a etapa Hospital - Fisterra, etapa que percorri em 2014 quando do "Caminho da Aventura" e da qual muito lhe falei antes, durante e depois do Caminho Francês. Assim, ao delinearmos o nosso Caminho de 2017 ... incluímos os 3 dias do epílogo a Fisterra. Os dois primeiros desses três dias eram e foram um Caminho já percorrido por ambos, mas, mais uma vez ... o Caminho é sempre dinâmico, nunca é o mesmo Caminho!

23.05.2017, 6h30 - Dois Irmãos partem de Santiago (Albergue "Blanco") para as terras "do fim do mundo"...
A luz da alvorada deu-nos o adeus às torres da Catedral de Santiago. Íamos ter dois dias excepcionalmente quentes, para a época e para a zona. Os muitos bosques em grande parte do primeiro dia souberam bem ... o muito alcatrão no final do primeiro e no segundo dia foi penoso.

7h05 - Nasce o Sol ... adeus Santiago. Voltaríamos na sexta feira seguinte...
E por entre a magia dos bosques ...
... chegamos a Ponte Maceira, sobre o Rio Tambre
Negreira, 12h40 - O almoço foi no mesmo jardim onde o ano passado almoçáramos
À semelhança de 2016, fizemos alto em Vilaserío, mas mudámos de albergue. No estudo prévio que fez, a Paula tinha descoberto um novo albergue, com o apelativo nome de "Casa Vella" ... e que falava de uma abuela muy amable! E assim descobrimos um paraíso...! Numa tarde a rondar os 30ºC e com 34 km nos pés ... albergarmo-nos numa antiga casa de lavoura, muitíssimo bem cuidada, com um jardim lindíssimo e instalações acolhedoras ... foi um must. E a abuela ... bem, tínhamos ali outra Mari Fé, como em As Seixas, com a diferença de que, na "Casa Vella", tivemos um esplêndido e saboroso jantar ... internacional. Oito nacionalidades à mesa, desde Portugal ao Japão!

No paraíso do Albergue "Casa Vella", Vilaserío: um jantar
internacional, feito pela abuela que gere o albergue
Depois de um saboroso pequeno almoço feito pela abuelita da "Casa Vella", partimos rumo à bacia do Rio Xallas, a Olveiroa e à pequena aldeia de Hospital, quase na bifurcação dos Caminhos de Fisterra e de Muxía. Mais um dia de muito calor ... e de muito alcatrão.

Vilar de Castro, 24.05.2017, 10h05
Barragem no Rio Xallas, 10h30
Ao longo do Rio Xallas, na Costa de Olveiroa
À vista do Monte Pindo ... o Olimpo celta ...
chegamos ao Albergue "O Casteliño", em Hospital
E, ao nosso 20º dia de andadura, dia 25 de Maio - exactamente um ano depois de termos chegado a Santiago no Caminho Francês - chegámos a Fisterra. Pouco depois de iniciarmos a derradeira etapa, passávamos a bifurcação dos Caminhos; esta ia ser a parte nova do percurso para a Paula, nestes Camiños da fín da Terra. E também pouco depois, junto à Capela de Nossa Senhora das Neves ... completávamos meio milhar de quilómetros desde León! Estávamos a chegar ... ao fín do Camiño!

25.05.2017, 6h55 ... e chegamos à bifurcação dos Caminhos de Fisterra e Muxía
Uma hora depois, na Capela de Nª Srª das Neves ... com 500 km percorridos desde León
Um português do Barreiro que se apaixonou pelos Camiños da fín da Terra ... e lá ficou!
Já em 2014 tinha estado com ele, no "Caminho da Aventura"
To the end
of the World...
Cruzeiro da Armada ...
... sobre o litoral de Cee
Antes das dez horas estávamos em Cee, junto ao mar. Mas, ao contrário dos anteriores, o dia estava nublado, descendo até sobre o mar um nevoeiro que se tornara mais denso. O Monte Pindo - o Olimpo celta - tinha desaparecido ... e o Cabo Fisterra, que já se veria desde o marco "To the end of the world" ... mantinha-se enigmaticamente perdido nas brumas. São os mistérios do Caminho!

Baía de Cee, 9h50 ...
... e baía de Corcubión, 10h00
Entre Corcubión e a praia de Estorde, ao longo de um caminho de terra, de repente começamos a ouvir chamar atrás de nós ... "Paula, Paula"! Viramo-nos ... e vemos os nossos amigos Stephanie e John, o jovem casal chileno-americano que fez parte do "grupo dos dez", nos últimos dias do Caminho Primitivo! A Paula ainda hoje tem aquele chamamento gravado na memória! Quanta alegria! Quanta emoção! O nosso Caminho 2017 era sem dúvida ... o Caminho da Amizade! E prosseguimos os 4 até Fisterra!

Praia do Sardiñeiro, 11h50 ...

e Santiago predicando en Galicia...
Praia da Langosteira, 12h30 ... e o Cabo Fisterra permanece nas nuvens...
E Fisterra, 13h05. O almoço seria ali ... no "Pirata"
O fín do Camiño aproximava-se a passos largos. A Stephanie e o John tinham ficado na praia de Langosteira, descansando e apreciando o mar. Nós ... à uma da tarde estávamos a entrar em Fisterra! No ano passado, a Paula tinha ficado de olho num pirata destes mares ... o restaurante "O Pirata". E que bom é ter uma Mana que tem este "olho" e esta memória 😊! Fomos almoçar ao "Pirata" ... e acabaríamos por lá ir jantar também! O dia continuava de nevoeiro. Indecisos ... resolvemos ir ao Cabo a seguir ao almoço, mesmo que depois lá voltássemos para o pôr-do-Sol ... se houvesse pôr-do-Sol.

14h30 - A caminho ... do fín do Camiño ...
Os passos a caminho do Cabo foram mais uma vez emotivos. Para mim ... as memórias do "Caminho da Aventura" ... e do Caminho feito em família, em Maio de 2015. Para a Paula, a memória do final do Caminho Francês, mas agora vindos de Fisterra; um percurso de que gostou mais ... que lhe disse mais. Ambos de lágrimas nos olhos e de mãos dadas, nos últimos passos conduziu-me primeiro à Cruz Cristã que antecede o farol. E ali nos detivemos...

Na Cruz Cristã do Cabo Fisterra, 25.05.2017, 14h50 ... dois Irmãos chegaram ao fín do Camiño, emocionados
As terras do "fim do mundo" estão carregadas de lendas e superstições pagãs. Ali se situaria o mítico Ara Solis, o templo do Sol. Ali o Homem confrontava-se com o Fim, com o seu Fim, a Morte, representada pelo pôr do Sol no imenso oceano. Mas ali, também o Homem encontrava e encontra o renascimento: Finisterre representa não só o fim de uma jornada, mas também o início de uma outra, o renascer de cada novo Dia, o reinício da Vida ... o recomeço que o Sol assinala em cada dia.

Farol do Cabo Fisterra ... donde el silencio esconde algo más que palabras
Quase desde a descoberta do túmulo de Santiago, no séc. IX, que estes Camiños constituem a etapa final de um itinerário marcado pela Via Láctea ... o Caminho das Estrelas. Dá-se a Cristianização dos cultos pagãos. A partir do séc. XII, o Códice Calixtino liga definitivamente estas terras à tradição jacobeia: Fisterra ... o fín do Camiño terreno ... o Km '0' de todos os Camiños.

Km '0' ... fín do Camiño ... onde tudo acaba ... onde tudo recomeça!
Foi a quinta vez que cheguei a pé a finis terrae ... e a sensação é sempre indescritível. O nevoeiro persistia ... mas ao mesmo tempo emprestava àquelas rochas ... um autêntico poema de palabras de piedra...
Bienvenido al principio del mar,
donde el mundo se llama Fisterra,
donde leyenda y fe se confunden
en un poema de palabras de piedra.

Bienvenido al principio del mar,

que dulce besa la arena,
con olas que son altares,
y flores de primavera.

Bienvenido al principio del mar,

donde cantan sorriendo sirenas,
un cantar luminoso que escuchan
los que vienen siguiendo las estrellas.
(Roberto Traba Velay)
No ano passado, a Paula deixara as suas velhas botas no fín do Camiño. Este ano ... foram as minhas. Não ... estas não foram para o "santuário" das Fontes Lares ... estas ficaram ali, onde a Terra acaba ... donde el mundo se llama Fisterra. Estas minhas botas Trango fizeram os 920 km do Caminho Francês 2016, os 530 deste ano ... e várias outras "aventuras"; tinham, seguramente, mais de dois mil quilómetros.

Adeus, minhas velhas botas, cardadas,
que palmilharam léguas sem fim...
E junto à bota de bronze que, frente ao mar, homenageia os peregrinos ... a minha Mana Paula alargou o seu olhar até ao imenso oceano ... até ao infinito ... ou até dentro de si própria...! Esta foto recebeu, para a Paula, os mais diversos comentários de admiração e louvor, no final de mais este desafio em que ela e eu nos lançámos. "Parabéns, grande caminheira"; "Grande Paula!"; "Realizada!!!"; "Estás com um ar muito tranquilo!" ... foram só alguns dos comentários recebidos.
Eram três e meia quando iniciámos o regresso a Fisterra. Ao contrário do ano passado, em que o edifício do farol se encontrava mais ou menos abandonado, já havíamos reparado que existe agora um Hotel e um Bar. Fomos ver, beber uma bebida ... e gostámos bastante. O Hotel "O Semaforo de Fisterra" e respectivo bar permite seguramente uma estadia inolvidável ... ali ... onde tudo termina ... onde tudo começa!
E como tudo recomeça ... regressámos a Fisterra. Só então fomos pedir o nosso Certificado do fín do Camiño Xacobeo, da chegada às terras da Costa da Morte. O dia continuava cinzento ... mas a Paula acreditava que ainda haveria cores do pôr do Sol, que o Sol ainda haveria de romper o nevoeiro que se abatera sobre as terras do fim do mundo. Pouco depois das 19h30 voltámos ao "Pirata" para jantar, desta vez uma fresquíssima grelhada de peixe, com percebes de bónus. Depois ... depois fomos dar um passeio. A indecisão sobre voltar ou não ao Cabo mantinha-se...

Junto ao Castelo de San Carlos, Fisterra, 21h10: o nevoeiro mantinha-se ...
... mas eis que o Sol poente rompe as nuvens e surgem as cores do pôr do Sol!
E a fé da Mana Paula de que ainda poderíamos contemplar o pôr do Sol venceu o nevoeiro! Não, não foi um pôr do Sol como o do ano passado e tantos outros, brilhantes, numa explosão de cores ... mas foi um pôr do Sol igualmente mágico e místico ... e que acabámos por admirar num local onde nunca o tinha visto, a Praia do Mar de Fora, por onde passou o nosso Caminho de 2016, no litoral oeste da península de Fisterra e apenas a pouco mais de um quilómetro da vila.

25.05.2017, entre as 21h40 e as 22h10 ... e o Sol põe-se sobre o Mar de Fora, onde tudo termina ... onde tudo recomeçará...
No dia seguinte, 26 de Maio ... seria o regresso. Tínhamos percorrido 534 km em 20 dias, de León às terras do "fim do mundo". Estávamos felizes ... mas tudo tinha sido rápido. O que ainda há bem pouco era futuro, meticulosamente planeado e desejado ... começava a ser passado.
Santiago, 26.05.2017, 10h35
Às oito e pouco da manhã ainda estávamos em Fisterra; antes das dez estávamos de regresso a Santiago ... e às oito e pouco da tarde estava em Lisboa. Em Santiago, ainda voltámos à Catedral, ainda percorremos as ruas tantas vezes percorridas ... num Camino recto, Camino erguido ... y no pararé hasta alcanzar mi destino...

Até depois de Valença do Minho, este dia do demorado coming home foi de chuva quase ininterrupta ... excepto durante as duas horas que estivemos em Santiago. Decididamente ... S. Pedro e Santiago tinham estado connosco durante os 20 dias guiados pelas estrelas! Para trás ficaram as fabulosas Vivências de três Caminhos, o duro San Salvador, o ancestral Caminho Primitivo e o Caminho de Fisterra. 534 km intensamente Vividos e Sentidos, 24 horas por dia, a dois, a três ... e a dez. Sim, porque este foi também ... um Caminho da Amizade. Thanks Michael, Anne, Steve, Stephanie, John, Joseph, Albert; wherever you are … you are in our memory … in our mind ... in our heart! Gracias Pedro; donde quiera que estés ... estás en nuestra memoria ... en nuestra mente ... en nuestro corazón! Fué un privilegio haberte conocido. It was an honour to have met you all!

Porto, 15h40: estávamos de regresso; 8 horas de viagem desde Santiago ... 12 horas desde as terras "do fim do mundo"...
Passamos o Douro ...
... e, às 20h15 ... Lisboa
A Mana Paula saiu em Fátima. Senti-me sozinho no autocarro ... até me sentir abençoado, pouco mais de uma hora depois, com a presença de uma parte do ninho familiar à minha espera em Lisboa ... incluindo a "estrelinha" que, há 44 anos, tem iluminado a minha Vida ... e incluindo o Mano Zé Manel, regressado três dias antes! A Vida é Bela ... e eu tinha acabado de Viver 20 dos mais Belos dias da minha Vida!
Ver o álbum completo
Os números do Caminho de Fisterra:
Etapas realizadas:
(1) Santiago - Vilaserío (34 km)
(2) Vilaserío - Hospital (26 km)
(3) Hospital - Fisterra (30 km)
Desnível acumulado: 1981m D+ / 2139m D-
(Escrito em casa, após os Caminhos de San Salvador, Primitivo e Fisterra, em 04.06.2017)