domingo, 29 de abril de 2012

Da Malcata à Gardunha ... testando os limites

"Meti a direito pelos fraguedos, e foi até o corpo dizer basta"          
(Miguel Torga, Diário VIII)
Não sendo homem de ambições competitivas, ou recordistas, as "aventuras" dos últimos anos têm-me criado contudo uma crescente vontade de testar, de certo modo, os meus limites e capacidades. Até onde seriam as minhas pernas capazes de me levar? O máximo que alguma vez tinha feito num dia tinham sido 46 km, quando em Agosto de 2008 "peregrinei" de Vale de Espinho à Senhora da Póvoa e regressei quase até ao Sabugal. Nessa e nas muitas outras deambulações pela minha Malcata, a Gardunha fecha sempre o horizonte, a sudoeste, para lá da grande Cova da Beira. Gardunha por onde também já deambulei várias vezes, sozinho, com amigos, ou com a minha "família" Caminheira. Portanto ... porque não uni-las? Porque não tentar uma grande travessia, da "minha" Vale de Espinho à Alpedrinha dos amigos que tantas vezes lá me levaram?
Vale de Espinho, 27.04.2012
Partida para a grande "aventura"...
Análise aprofundada das cartas, estudo de trajectos mais aconselháveis ... e o projecto foi fermentando no meu imaginário. Tratava-se de uma "aventura" um pouco audaciosa: o percurso rondaria os 60 km ... pelo menos mais 14 do que o meu anterior "record" ... mas ainda em Julho de 2011, às 11h da manhã, eu tinha quase 28 km percorridos, de Vale de Espinho ao Terreiro das Bruxas.
Com todas estas ideias em mente ... 5ª feira fui sozinho para Vale de Espinho, preparado para, no dia seguinte, testar a minha resistência. O velho campanário da aldeia abençoaria o sonho...J. O estado do tempo nos últimos dias deixou-me na dúvida até à partida ... mas cheguei a Alpedrinha com 54 km percorridos em 13 horas e 20 minutos. Cansado, evidentemente ... mas feliz! O desafio a que me propus estava ganho, a "missão" estava cumprida.
Depois de uma tarde e noite de chuva, saí de casa, em Vale de Espinho, às 6:25h, quase meia hora mais tarde do que tinha previsto. Caía uma chuva miudinha...! Rapidamente o Côa e o Cabeço da Pelada ficaram para trás, chegando à Lomba entre o Cabeço da Moura e o Barroco Branco, de onde me despedi da Beira Alta e me embrenhei na Malcata pura e dura. As nuvens abundavam, a chuvinha continuava, mas nada de muito ameaçador. O panorama era muito melhor do que nos dias anteriores ... confirmando mais uma vez o meu velho pacto com S. Pedro... J.
A primeira "etapa" era nos Carvalhos Basteiros, onde o planning que havia feito me mandava estar às 8:15h ... e onde cheguei às 8:40h, com os primeiros 11,5 km percorridos em pouco mais de duas horas.

Ribeira do Vale da Maria
Adeus Vale de Espinho (do Cabeço da Pelada)
Na Lomba: escutando o silêncio e os murmúrios vindos das profundezas da nossa consciência...
Água , fonte
de vida
Carvalhos Basteiros, 8:40h, 11,5 km
Seguiu-se a Malhada Medronheira e os dois geodésicos dos Concelhos ... e a vertiginosa descida para o Monte do Salgueirinho, pelo trajecto seguido em Junho de 2007, numa "TransMalcata" com a minha "família" caminheira. Às 10:50h via pela primeira vez alcatrão, junto à carreira de tiro da Meimoa, na velha estrada Penamacor - Meimão. O OziExplorer marcava 22,3 km ... pouco mais de 1/3 do percurso.
Em isolamento integral ...
... pelos claustros
da Malcata
Monte de Salgueirinho
Antiga estrada de Meimão, junto à Carreira de Tiro de Meimoa - 10:50h, 22,3 km
5 km de estrada e estou nas imediações de Penamacor. Abandono o alcatrão para acompanhar a Ribeira de Ceife, passando próximo das antigas Minas do Palão. Apesar de abandonadas, a paisagem parecia quase lunar, ou vulcânica. Por momentos, pareceu-me estar na ilha do Faial, pisando as terras do vulcão dos Capelinhos. Mas o destino era agora a Ermida de Nossa Senhora do Incenso, ao cruzar da estrada Penamacor - Fundão. Trata-se de uma pequena capela com fachada do séc. XVII, cuja romaria se realiza na 2ª feira a seguir à Páscoa. No espaço que rodeia a ermida, o povo continua a viver as tradições e o folclore, o mistério da vida e da morte, envolvendo-se no manto da Natureza, rezando e cantando, suplicando a protecção de Deus e dos Santos para o tempo da eternidade. O sagrado vive na oração e nas promessas; o profano, na feira, no convívio, nas merendas. Os campos da Senhora do Incenso foram aliás precisamente o meu local do rápido descanso e almoço J. Eram 13:15h e tinha agora pouco mais de metade do percurso feito.

Campos a noroeste de Penamacor
Antigas minas do Palão: paisagem "lunar"...
Oliveiras, olivais...
Nª Srª do Incenso - 13:15h - 32,8 km
Entretanto as nuvens tinham-se afastado, entreabrindo várias zonas de céu azul e perspectivando uma tarde agradável. Seguiram-se 10 km de uma extensa e plana campina, cruzada aqui e ali por ténues linhas de água e algumas represas, a maior das quais entre as quintas de Monte do Conde e de Vale Freixo. Esta vasta planura marca verdadeiramente a separação entre as cordilheiras das serras da Malcata e da Gardunha.

Continuamos para SW
Ao fundo ... a Serra da Gardunha
Campinas junto ao Cabeço das Freiras
Presas de Vale Freixo
Uma vez cruzada a Ribeira de Taveiró, entrava no concelho do Fundão e chegava a Quintas da Torre, pequena aldeia também conhecida por Torre dos Namorados, à qual se liga uma lenda que remonta ao tempo dos reis e rainhas, associada a manifestações sentimentais e do foro amoroso. Nesta "aventura", Quintas da Torre teve a particularidade de ser ... a única povoação atravessada!

Ribeira de Taveiró ... e entro no concelho do Fundão
Caniça, Quintas da Torre
Quintas da Torre, com 43 km percorridos

E começa a subida da Serra da Canaveira
Pouco depois de Quintas da Torre, começava a subida da Serra da Canaveira, guarda avançada da Gardunha. Passei próximo do lugar da "Covilhã Velha", topónico igualmente associado a uma outra lenda e onde existe um pequeno castro. Embora não havendo certezas em relação à sua história, este castro terá sido a cidade lusitana de Cingínia, referida por Valério Máximo; terá sido destruído algures entre 138 ou 136 a. C., pelas tropas romanas comandadas por Décimo Júnio Bruto.

Sâo ou não clautros naturais?
Serra da Canaveira ... com 48 km percorridos. Estava batido o record pessoal de distância
Próximo da "Covilhã Velha" ... estava batido o meu anterior record de distância: tinha ultrapassado os 46 km! Mas, como naturalmente já previa, a subida da Serra da Canaveira foi a parte mais penosa desta "aventura", já que tinha de voltar a subir a bom subir. Principalmente depois de cruzada a estrada Mata da Rainha - Enxames (550m) ... a subida foi dura! Os cerca de 20 minutos de atraso que levava, relativamente ao meu planning, transformaram-se nesta subida ... em quase uma hora. Um desnível de 200 metros quando já se têm quase 50 km nos pés ... não é fácil. Ainda por cima ... recomeçou a chover. Havia que tomar opções: gostaria de ter continuado a cumeada, até ao geodésico da Cortiçada e à velha estrada Alpedrinha - Fundão, mas face à chuva - não iria ver nada da Cortiçada -  e aos mais 150 metros de desnível que ainda teria de subir, optei por descer a Monte Leal e Vale de Prazeres. Mas ao fundo, já lá muito ao fundo, para nordeste ... lá estava a minha Malcata, de onde já quase me parecia milagre que eu tinha partido de manhã. Para o lado oposto, a Gardunha destacava-se, próxima e imponente, mas envolta nas nuvens, dando-lhe um ar de mistério e de magia.

O morro de Monsanto, que tantas vezes vejo a sul, da "minha" Malcata ... já estava para nordeste!
Ao longo da cumeada da Canaveira / Cortiçada ... recomeça a chover
Necessidade, a quanto obrigas...

Mas o objectivo surge no horizonte!
E assim, às 19:35h, com o dia a começar a declinar e com 54 km nos pés, chegava a Quinta do Monte Leal, próximo de Vale de Prazeres, onde uns minutos antes tinha combinado a minha "recolha" pela "equipa de apoio". É certo que faria sem problema os 6 km que faltavam para Alpedrinha, mas que eram forçosamente por estrada, chegando já de noite. Não se justificava. Quase 500 metros andados ... e aí vinha o Passat da equipa de recolha! Estava completada a "aventura" de ligar a Malcata à Gardunha!

A Gardunha "fumegando" nuvens e mistérios...
Objectivo à vista: a missão estava cumprida
Quinta de Monte Leal, 19:35h, 54 km percorridos
"Recepção" em Alpedrinha: fim de jornada
Em Alpedrinha, esperava-me a minha pequena arraiana e o resto da equipa de amigos. Um bom banho e um bom jantar ... e estou pronto para a próxima "aventura"... J.

Os números desta "aventura":
Distância percorrida: 54,4 km
Tempo total: 13 horas e 20 minutos
Paragens (4): 1 hora e 34 minutos
Tempo de marcha: 11 horas e 46 minutos
Média global: 4,1 km/h
Média de marcha: 4,6 km/h
Altitude à partida: 870m
Altitude máxima: 1077m (Cabeço da Moura)
Altitude mínima: 375m (Ribeira de Taveiró)
Altitude à chegada: 572m
Desnível acumulado de subida: 1.792m
Desnível acumulado de descida: 2.157m                               O percurso da Malcata à Gardunha:
  

A todos aqueles que me apoiaram e incentivaram (e muitos foram), antes e durante esta travessia, via Facebook, por telefone ou por mail, aqui fica o meu agradecimento e reconhecimento. Parafraseando o meu grande amigo António Mousinho, nestas "aventuras" a solo eu sinto-me o "monge dos espaços abertos", em isolamento integral, pelos claustros das serras e dos vales.
"Quem disse que o encontro, com o Deus que existe em cada um de nós, tinha de ser na clausura das paredes espessas de um mosteiro?! Afinal, esse encontro pode acontecer, em qualquer lugar, onde possamos escutar o silêncio e os murmúrios vindos das profundezas da nossa consciência!"                      (António Mousinho)

Como tantas outras, esta travessia Malcata - Gardunha dedico-a ao meu saudoso sogro. Embora a data não tenha sido escolhida propositadamente … esta caminhada pelos claustros da Malcata à Gardunha foi feita na véspera de se passarem 9 anos sobre a sua partida, para uma viagem eterna, sem regresso e desconhecida de todos nós. Não tenho dúvidas de que também ele me guiou, nesta "peregrinação". E como me soube bem "senti-lo" na brisa da serra, "vê-lo" além de cada colina, por trás de cada nuvem escura … ou sorrindo sob a forma do Sol que também por vezes me iluminou o caminho e a paisagem raiana!

sábado, 14 de abril de 2012

Na senda das abetardas, em terras de Castro Verde

De novo com a minha "família" Caminheira, este sábado rumámos a sul, à estepe cerealífera de Castro Verde. O chamado Campo Branco alentejano é a área mais importante para a conservação das aves estepárias em Portugal, nomeadamente da abetarda, a mais pesada das aves europeias ... mas também uma das mais difíceis de observar.  Há um mês atrás, com 4 companheiros da "família", partici-
Abetarda (Otis tarda) - Origem: Naturlink
pei na prospecção para mais esta actividade. Vimos abetardas ... mas depois de muitos saltos no compartimento de carga de uma camioneta, cujo condutor já desesperava por não no-las conseguir mostrar, onde ele achava que era suposto encontrá-las.
Hoje, pelas 10:00h, estávamos assim um grupo de mais de 50 caminheiros na povoação de Entradas, 10 km a norte de Castro Verde, preparados para percorrer os caminhos da estepe ... na senda das abetardas. Ao contrário do dia da prospecção, hoje o céu esteve cinzento, principalmente de manhã, descarregando de quando em vez a chuva que tanta falta tem feito. As ribeiras de Terges e de Cobres são as únicas linhas de água nesta vasta estepe ondulada, onde nos 17 km percorridos o relevo varia apenas entre os 130 e os 190m de altitude.
Bando de abetardas em voo, nos campos de Castro Verde, 15.03.2012
Para que conste, fica a foto das abetardas que efectivamente vimos no dia 15 de Março... J! Hoje ... bem perscrutámos os campos e os ares. Alguns afortunados ainda conseguiram ver duas ou três abetardas em voo; outros viram dois veados, perdizes, lebres e coelhos. Mas todos fugidios ao grupo e às fotografias. Ficam as fotos possíveis de mais um dia passado no são convívio dos amigos desta verdadeira família. Fica também o percurso efectuado ... e o respectivo vídeo.
A seara ondulante nos campos de Castro Verde
Caminheiros em acção, 14.04.2012
Ribeira de Cobres
Campos de esteva
Monte dos Penedos
É assim o "campo branco" alentejano
E de regresso a Entradas, Castro Verde, 14.04.2012


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Dois dias no coração do Gerês puro e duro (2)

Depois de termos subido ao Pé de Cabril e à Calcedónia, no domingo, segunda feira era o dia da travessia do Gerês, no sentido noroeste - sueste. Eu tinha de partilhar com a minha "família" caminheira mais alguns dos paraísos perdidos no coração do Gerês "puro e duro", até porque...
«Onde houver silêncio e tempo escritos em jeito de virgindade... aí estaremos»
Luís Miguel Vendeirinho           
Segunda 2 de Abril: Leonte - Conho - Roca Alva - Fafião

Leonte, 2.04.2012 - Vai começar a 2ª jornada
A partir da nossa base em Lobios - o Hotel Lusitano - tinha delineado algumas alternativas: subiríamos pela Costa de Sabrosa ou pela Freza, rumo ao Curral do Conho, para depois seguir pelas Fichinhas e Porto da Laje, ou pela Roca Alva e pelo trilho da Vezeira de Fafião. Em ambos os casos, o facto de não conhecer pessoalmente alguns troços de ligação não me assustava ... nem aos meus seguidores. Todos confiávamos plenamente nas cartas e no meu velho e fiel "amigo" OziExplorer... J.
Foi pela segunda das alternativas que optámos; a distância um pouco menor a percorrer, aliada ao igualmente menor desnível inicial, foram os principais factores ponderados. E assim, antes das oito da manhã estávamos de novo em Leonte. A subida para o Prado do Vidoal foi-se fazendo a bom ritmo. Do outro lado do vale, o Pé de Cabril vigiava-nos, talvez com a saudade de o termos escalado na véspera.
Subida da Costa de Mourô,
com o Pé de Cabril a dominar a encosta contrária
No Vidoal, fomos informados por um grupo de escuteiros que ali havia passado a noite ... que a chuva tinha sido abundante! Mas a atmosfera estava agora límpida, contrariamente às previsões. E que maravilha de dia iríamos ter!

Prado do Vidoal (ou de Mourô)
Pouco depois das 9 horas estávamos na Freza. Mesmo com a seca e com alguns vestígios de incêndios ... a panorâmica para o Camalhão e para o vale da Teixeira é soberba. Alguns dos Caminheiros que me acompanhavam tinham lá estado em 2008, noutra grande jornada por aquelas terras mágicas, da Pedra Bela à Teixeira e ao Arado.
Vale do Camalhão e da Teixeira, vistos da Freza
A Chã da Fonte deixou-me apreensivo. A bela água que nos havia saciado em Junho de 2011 ... nestes primeiros dias de Abril nada corria! Chuva abençoada, que venha rápida!
À vista já do Borrageiro, da Lomba do Pau ao início da descida para o Curral do Conho foi rápido. Para mim e para a minha "cabrita de montanha", a visão do Conho avivou-nos as recordações de há menos de um ano, quando 2 vacas e seus bezerros foram nossas companheiras por uma noite ali passada.
Ao longo da Lomba do Pau
Curral do Conho
Chegava a hora de optar pelas Fichinhas, Sombrosas e Porto da Laje, ou pela Roca Alva. A possibilidade de almoçarmos e descansarmos um pouco naquele autêntico paraíso perdido, fez-me optar pelo percurso da Roca Alva. E em boa hora o decidi ... já que se sucederam as exclamações de encanto e admiração, relativas àqueles prados e àquela fabulosa envolvência.
Roca Alva à vista e Cutelo de Pias, ao fundo à direita
Estávamos, decididamente, no paraíso! E logo ali nasceu a ideia de voltarmos, um pequeno grupo, para a fabulosa experiência de uma noite na serra! O aconchego, o carinho, o cuidado postos na preservação da cabana da Rocalva, na protecção das árvores ali replantadas, tudo cativou e emocionou os meus 12 companheiros desta fabulosa jornada.
A chegar ao Prado da Roca Alva, com o Cutelo de Pias ao fundo
Prado e cabana da Roca Alva: um paraíso perdido, a 1275m de altitude, no coração do Gerês
Cabe aqui também uma palavra de grande homenagem e de grande reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela Associação Vezeira de Fafião, cujos membros e amigos, em regime de voluntariado, muito têm contribuído para que as suas terras não morram. Pena é que o Parque Nacional da Peneda-Gerês e o ICNB, bem pelo contrário ... se limitem aos gabinetes e à emissão de normas ridiculamente absurdas.
E seguimos rumo a Fafião, pelo trilho da Vezeira
Com alguma pena, dada a beleza do paraíso onde nos encontrávamos, deixámos o prado da Roca Alva poucos minutos antes da uma da tarde. Passando muito próximo do Cutelo de Pias, seguíamos agora o trilho da vezeira, precisamente uma das tradições recuperadas pelas gentes de Fafião e de outras aldeias. A vezeira consiste na junção dos rebanhos duma aldeia para serem pastoreados em terrenos comuns, os baldios. É baseada no agrupamento dos proprietários de gado, seguindo regras transmitidas de geração em geração; o papel principal dos vezeireiros era conduzir o rebanho, à vez.
Descida para o prado do Vidoirinho
Atravessado o prado do Vidoirinho chegámos à estreita cumeada entre os vales dos rios do Laço e do Conho. Ao fundo, a leste, víamos o estradão do Porto da Laje. E ultrapassámos o ponto onde, na autonomia de Junho passado, tinha descido para o vale do rio Conho! Daí à ligação para Fafião era portanto um troço novo também para mim ... e continuámos ao longo de uma paisagem assombrosa.

Panorâmicas de cortar a respiração
E a jornada prossegue, rumo à Cabana Pradolã
Faltam pouco mais de 5 km para Fafião, encontramos nova cabana completamente restaurada pela Vezeira, a Cabana Pradolã. A partir daí, acompanhamos a imponente cumeada dos Bicos Altos, do outro lado da Corga de Carnicente.
Panorâmica para os Bicos Altos, na descida para Fafião
Já em estradão, os últimos quilómetros não deixaram por isso de ser espectaculares. Em Junho de 2011, tinha descido o vale do Rio Conho até à ponte de Servas ... mas, mais a sudeste, só do trilho da Vezeira se consegue apreciar a espectacularidade do abrupto canyon que o rio ali abriu.


Desfiladeiro do Rio Conho
E já só nos faltava cruzar o Rio Fafião, onde felizmente ainda abundam lagoas de águas límpidas, convidativas a um mergulho. Depois ... depois era a penosa subida que nos conduziu a Fafião, passando pela sua silha dos ursos, outra relíquia perdida no tempo; os cortiços das abelhas eram protegidos dos ursos por muros de pedra altaneiros, à prova daqueles gulosos comedores de mel.

Piscinas naturais no rio de Fafião
Silha dos ursos de Fafião
E, em fim de jornada, entramos em Fafião
Pouco passava das 4 da tarde quando terminámos esta fabulosa jornada. Em Fafião, casualmente, o Sr. Argentino Matos acabou por se tornar um nosso anfitrião. Membro da Vezeira e irmão de um dos seus principais impulsionadores, Almerindo Matos, falou-nos de tradições seculares e do bem meritório trabalho da Associação. Não podíamos desejar melhor e mais apropriado fim de actividade!
Com o Sr. Argentino Matos, da Vezeira de Fafião
De Fafião a Braga foi um salto ... para ontem regressarmos à velha Lisboa. Como outros, estes dias e estas jornadas ficam eternamente gravados na minha memória, no baú das recordações de uma vida vivida no seio de Amigos verdadeiros. À espectacularidade do Gerês "puro e duro", aos paraísos perdidos que atravessámos, aliou-se união, amizade, alegria de viver, conviver e partilhar. Aqui fica o meu muito obrigado a todos os que me quiseram seguir!
Aqui fica também, como habitualmente, o álbum completo de fotos e o percurso desta fabulosa travessia.
  

E também o vídeo destes dois dias fantásticos...