Pirenéus a dois... ou uma nostalgia com mais de 40 anos... (2)
A partir de Nérin e num cómodo autocarro
todo-o-terreno, a
Monte Perdido Bus
proporciona um circuito pelos
Miradores de Ordesa, mas também faz
Transporte de Montañeros
para o alto de Cierracils, a partir do qual
se podem iniciar diversos percursos pedestres, inclusive ao cume do Monte
Perdido. Tudo parecia ter sido criado para nós: o tour dos
miradouros... era o ideal para a minha "estrelita" poder "sobrevoar" o
fabuloso vale de Ordesa e ter uma
aproximação ao Monte Perdido como de outro modo nunca poderia ter. O
transporte de caminheiros e montanhistas... permitir-me-ia a mim desenhar uma
jornada a solo por aquelas fabulosas paragens. E assim...
No "país" de Sobrarbe(2):Ruta de los Miradores de Ordesa
O dia 10 de setembro amanhecia assim em
Nerín, no
viejo Condado de Sobrarbe, Parque Nacional de Ordesa e Monte
Perdido
O autocarro
Monte Perdido Bus
esperava-nos ... para nos levar a Viver um Sonho...
Reservámos o circuito
Miradores de Ordesa
para o dia 10, com partida de Nerín às dez da manhã, ao longo de um
caminho de acesso restrito que nos permite ganhar altitude pouco a pouco. A
pista foi traçada para uso agropecuário e florestal, permitindo o acesso de
pastores e proprietários às zonas altas, como Cuello Arenas ou o
Pueyo de Mondicieto. Agora, no conforto do autocarro e com as
explicações do guia e motorista... chegar e passar dos 2000 metros de altitude
é fácil e rápido. Tão fácil e tão rápido que àquele dia poderíamos chamar...
uma dádiva dos céus. Nas já muitas incursões ao
Parque Nacional de Ordesa... nunca tinha tido uma visão tão soberba do
Monte Perdido e das suas
duas sorores, o Cilindro e o Soum de Ramond, ou Pico de
Añisclo... além das impressionantes panorâmicas do Cañón de Ordesa. Fazer a pé o que fizemos naquele dia seria impensável para a minha
estrelita, bem como seguramente para a maioria dos que nos acompanharam no
autocarro. O tourMiradores de Ordesa
é qualquer coisa de sensacional e recomendável.
10.09.2025, 10h50 - Como que estávamos a sobrevoar o fabuloso vale de
Ordesa, com as
Tres Sorores como pano de fundo
A
lenda das Tres Sorores
- também conhecidas como Treserols, em aragonês - envolve os três
majestosos picos do maciço do Monte Perdido. Há muitos séculos, três princesas
mouras fugiram da Aljafería de Zaragoza, tentando escapar de um destino
imposto. Subiram pelos vales de Sobrarbe, mas foram surpreendidas por
uma nevada brutal nas margens do rio Cinca. Encurraladas e vencidas
pelo frio, morreram juntas, e sobre os seus corpos a neve acumulou-se tanto
que, com o tempo, ergueram-se três montanhas - as Tres Sorores: da
esquerda para a direita na foto acima, o Cilindro de Marboré (3328m alt.), o
Monte Perdido (3355m) e o
Soum de Ramond, ou Pico de
Añisclo (3263m).
Cuello e miradouro de
Cierracils (2263m alt.): estávamos
os dois aos pés do Monte Perdido. Sensações indescritíveis...
💖
Há 12 anos, no
Monte Perdido Extrem, tinha vindo do vale de Pineta e rodeado o maciço por
Gavarnie e pela mítica
Brecha de Rolando. Quando as nuvens se abriam, a Brecha surgiu nos
restantes três miradouros a que o autocarro nos levou -
Mirador de las Hayas, de la Brecha e de la Herradura - como que
revelando segredos antigos, como o da espada Durandarte, com a qual Rolando
teria golpeado a montanha e aberto a famosa brecha. Completámos sensivelmente
30 km de alta montanha... de cujas sensações o vídeo abaixo é uma muito
simples e pequena amostra.
Circuito dos
Miradores de Ordesa... ou uma viagem ao paraíso da alta montanha aragonesa
No dia seguinte... a "aventura" seria diferente... e a solo.
No "país" de Sobrarbe(3):Monte Perdido - Arrablo - Añisclo
O
Transporte de Montañerospara o alto de Cierracils, repetindo embora
a mesma subida em autocarro... deixa ampla liberdade para que os montanhistas
desenhem as suas "aventuras", tanto mais que a partida é, neste caso, às sete
da manhã... com o Sol a nascer. Ora, há 12 anos, à quarta e última etapa do
Monte Perdido Extrem
eu e a "Mana" Cristina (que na altura nos conhecíamos há bem pouco tempo)
chamámos-lhe ... um dia no Paraíso.
Sobre a Cascata de Cola de caballo, 11.09, 09h
Saímos do
Refúgio de Goriz
rumo ao Collado de Arrablo, descemos o
respectivo barranco em direcção ao Cañón de Añisclo, que depois subimos
até ao Collado que nos separava de Pineta, onde quatro dias
antes tínhamos começado. Muito bem... então se agora o autocarro me
deixava em Cierracils... podia "sobrevoar" o Cañón de Ordesa até
ao final, passar em frente de Goriz, entrar no percurso dessa última
etapa do MPE, descer o fabuloso
Barranco de Arrablo até à cabana e à ponte
de Fuen Blanca de que tão bem me lembrava...
e em vez de subir desceria agora o
Cañón de Añisclo quase até
San Úrbez, até ao ponto em que um
serpenteante trilho sobe para a aldeia de
Sercué... e para
Nerín, a nossa base. Estava consciente de
que seria uma jornada longa e dura (mais de 24 km de alta montanha), mas tinha
praticamente doze horas de luz para a percorrer; só precisei de dez.
11.09.2025, 09h30 - Ordesa ainda nas sombras, mas, ao Sol, o
pontinho branco a meio da foto de baixo é o
Refúgio de Goriz
Pouco depois das 10h estava no
Collado de Arrablo, a 2343m de altitude, o
ponto mais alto do meu projecto. Já tinha entrado no trilho proveniente de
Goriz e, portanto, que já tinha percorrido em 2013.
A fabulosa descida do
Barranco de Arrablo para
Fuen Blanca, no
Cañón de Añisclo
Com a câmara GoPro fixada ao peito... o vídeo abaixo ilustra melhor as
características da descida. Creio que em 2013 não existiam as correntes de aço
que agora dão alguma segurança, mas não me lembrava que esta descida era
tão... desafiante. Não estava sozinho, contudo. Ao longo de toda a jornada
encontrei esporadicamente outros montanhistas, incluindo uma jovem lituana em
sentido contrário, que segundo me disse dedicou uns dias a solo às montanhas
aragonesas.
A solo na cabana de Fuen Blanca, numa
fabulosa "aventura" de alta montanha entre o Monte Perdido e o
Cañón de Añisclo
Pouco depois do meio dia, com 10 km percorridos em mais de 4 horas, estava na
cabana de Fuen Blanca, onde o
Barranco de Arrablo dá lugar ao
Cañón de Añisclo. Na "foto de capa" do vídeo
acima... procurei posicionar-me identicamente à foto de há 13 anos, com a
minha "Mana" Cristina 😂
Com a Cristina na cabana de
Fuen Blanca... em 8 de julho de
2013... já se passaram 12 anos...
Em Fuen Blanca, o
Barranco de Arrablo desagua no Rio Bellos, proveniente das alturas para onde
há 13 anos tínhamos subido. Agora, ia descer todo o imponente
Cañón de Añisclo, esculpido ao longo de
milénios pelas forças erosivas das águas ligeiramente ácidas sobre a rocha
calcária dos Pirenéus.
Descendo o fabuloso
Cañón de Añisclo, entre
Fuen Blanca e
La Ripareta
Não sendo tão exigente como a descida do Arrablo, alguns troços do
Cañón de Añisclo são contudo igualmente sinuosos e de progressão
relativamente lenta. Como se pode ver no vídeo, acima... partilhei um pequeno
troço com umas simpáticas ovelhas que, tal como eu, não se queriam
desiquilibrar nos desfiladeiros.
La Ripareta,
Selva Plana,
Cumaz... nomes de locais iam-se sucedendo à
medida que as águas do Bellos seguiam céleres... até que, pouco depois
das quatro da tarde, surge a indicação "Nerín 4,5 km". Mas 4,5
km a subir... e a subir bem até Sercué, a
primeira e única aldeia no meu percurso.
Entre La Ripareta
e Selva Plana
Cumaz, numa pausa para descanso,
15h35
E no cruzamento para Sercué e
Nerín, 16h10, com sensivelmente 20
km percorridos
Sercué à vista... depois de subir
mais de 200 metros em menos de 1 km...
17h30 ... e esta paisagem já a conhecia: estava quase em
Nerín
Uma fabulosa "aventura" pirenaica (clique para ver no
Wikiloc)
Cheguei ao Hotel Palazio, a nossa "base" em Nerín, sensivelmente
às seis da tarde. A "sócia" tinha tido um dia de completo descanso, só
interrompido pelos telefonemas entre ambos... quando havia rede.
Para este septuagenário que (ainda) se sente com vigor... tinha sido sem
dúvida um dia cheio. Os valores de desnível acumulado indicados pelo
Wikiloc
são significativamente inferiores aos do Locus, o que se deve ao facto de o
Wikiloc usar modelos de elevação com muito menor resolução; confio bem mais no
Locus.
Um bom banho e um bom jantar repôs as energias gastas. No dia seguinte...
partiríamos para outra "base"...
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