terça-feira, 9 de setembro de 2025

Pirenéus a dois... ou uma nostalgia com mais de 40 anos... (1)

18 de julho de 1983... já lá vão mais de 40 anos. Dois jovens apaixonados que se tinham conhecido há apenas dez anos, nos bancos da velhinha Faculdade de Ciências de Lisboa, avançaram pela primeira vez pelo  fabuloso vale de Ordesa,  nos Pirenéus aragoneses,  e em Gavarnie,  na vertente francesa. O filho mais velho tinha então 5 anos... em muitos troços foi às cavalitas do paizinho... 😂
A minha paixão pelos Pirenéus começou naqueles vales, aos pés do majestoso Monte Perdido. Por três vezes levei gerações de alunos a viverem comigo
Entre Pineta e Ordesa... entre 1985 e 2013... 28 anos de memórias...
(Clique em qualquer das fotos para ampliar o fabuloso vale de Ordesa)
aquela paixão... nos longínquos anos de 1985, 1988 e 1995. Entretanto, no verão de 1990 tinha regressado a Gavarnie em família, já com os dois filhos, e em 2009 levo a minha "família" caminheira - os Caminheiros Gaspar Correia - às terras mágicas de ambos os lados das montanhas que ligam a nossa "jangada de pedra" ao resto da Europa.
Em julho de 2013, liguei Pineta a Gavarnie e atravessei a mítica Brecha de Rolando, durante o Monte Perdido Extrem ... e em 2016 atravessei os Pirenéus a pé, na primeira das 32 etapas do meu Caminho Francês de Santiago.
As paisagens grandiosas dos vales de Ordesa ou de Pineta, coroadas pelas Tres Sorores, ficaram sempre gravadas no canto das mais fabulosas que os meus olhos alguma vez viram. Há 12 anos que não as via... a minha "estrelita" há 16 anos que não as via... no tal passado que é cada vez mais muito maior que o futuro. E assim... um dia de agosto pus-me a desenhar o que poderiam ser uns dias nos Pirenéus, a dois, num misto de descanso, turismo, pedestrianismo... e romance. A componente pedestre não poderia ser grande, a minha arraiana nunca teve as mesmas capacidades com que o Universo me contemplou. E um dia, nesta "prospecção" à frente de um ecrã... encontrei o site de uma empresa chamada Monte Perdido Bus. "Visita Ordesa sin aglomeraciones. Desde el pueblo de Nerín accederás por pista de uso restringido hasta los 2150 metros de altitud, y así podes llegar en el día al Monte Perdido y a algunas de las principales cumbres y miradores de Ordesa"... lê-se no site. Que maravilha! Desse modo... a minha piquena podia chegar aos pés do Monte Perdido... o que de outro modo seria de todo completamente impossível para ela! E esse foi, sem dúvida, o mote para desenhar o programa dos dez dias fantásticos que acabámos de passar nos Pirenéus... e a melhor das prendas que poderia ter pelo meu recente 72º aniversário. Até dói... 😒
No "país" de Sobrarbe (1): de Aínsa a Nerín... pela serpenteante estrada do Río Bellos
Pouco passava das sete da manhã do passado dia 8 quando deixámos o "ninho"; o Sol nasceu próximo da fronteira do Caia. Há muitas luas que eu não fazia 1000 km seguidos! Bem... não foram bem mil, foram 994 😄 Mas não foi a pé... foi no T-ROC.
Pouco antes de Aínsa, 09.09.2025, 08h40
A parceira perguntava-me de vez em quando (leia-se... "quando abria os olhos") se eu estava cansado. Eu não, cansado de quê? Não fiz nada todo o dia... e fui sentado 😜. O coitado do T-ROC é que fez tudo... inclusive guiou sozinho alguns bocados... 😂. A ideia era ir até o mais próximo possível do nosso destino. Passámos Madrid, passámos Zaragoza... e fizemos alto em Sariñena, alguma vez ouviram falar? Pois, eu também não... mas foi onde ficámos, a caminho de um país perdido... um país de anochecida... a caminho do "país" de Sobrarbe! Por vezes... os países perdidos estão mais perto do que pensamos... 💖
Sobrarbe foi um dos três condados que deram origem ao Reino de Aragão. As suas histórias e lendas entrelaçam-se com as raízes da Reconquista e o nascimento de Aragão.
Plaza Mayor de Aínsa, capital histórica e cultural de Sobrarbe, 09.09.2025, 10h40
Já conhecíamos Aínsa, mas claro que fomos recordar o seu fabuloso centro histórico medieval. O desconhecido, para nós, era a partir de Escalona... subindo o curso do Río Bellos rumo ao Cañón de Añisclo, pela estrada HU-631, que é, felizmente... de sentido único a partir de Puyarruego. Descrever o que é aquela estrada... hmm... não se descreve... é preferível verem o vídeo 😁
Pouco depois do meio dia estávamos no mini parque de estacionamento de San Úrbez. San Úrbez é uma figura profundamente enraizada na espiritualidade dos Pirenéus aragoneses, um santo pastor, eremita e símbolo da fé simples e resistente que floresceu nas montanhas. Viveu no século VIII, numa época de transição entre o domínio visigótico e a expansão muçulmana. Teria nascido em Bordéus, mas refugiou-se nos vales pirenaicos, onde levou uma vida de ascetismo e contemplação. Tornou-se pastor e eremita, conhecido pela sua humildade e pelos milagres atribuídos à sua intercessão. A tradição diz que viveu em várias grutas da região, incluindo no Cañón de Añisclo, onde hoje se ergue a sua ermida... e onde fizemos a primeira caminhada do nosso périplo pirenaico.
Ponte românica e Trilho de San Úrbez, ao fundo do imponente
Cañón de Añisclo e no curso do Rio Bellos
Terminado o trilho de San Úrbez... eram horas de almoço. Naquelas paragens não havia nada, mas uma rápida pesquisa na net levou-nos à aldeia de Buerba, vendo espectaculares vistas panorâmicas sobre o Cañón de Añisclo.
O imponente Cañón de Añisclo (foto de cima), visto da estrada de Buerba (foto de baixo)
A nossa primeira "base" pirenaica era a pequena aldeia de Nerín, onde nas minhas "prospecções" tinha encontrado o Monte Perdido Bus... e onde também tinha encontrado o Hotel Palazio, um hotel de montanha, a 1260 metros de altitude... onde reservara três noites para o que desse e viesse.
Nerín, 09.09.2025, 16h25 - A meio da tarde chegávamos ao Hotel Palazio... literalmente no Paraíso...
O Hotel Palazio e o autocarro 4x4 Monte Perdido Bus foram os elementos essenciais que permitiram que a nossa digressão pirenaica pudesse ter "aventura", poesia, turismo... mas também descanso... e, porque não... "namoro". A panorâmica da última das fotos acima... era a que se via do terraço do nosso quarto e da sala de refeições do Hotel. A meteorologia... até ela estava do nosso lado!
Escrito a posteriori, em casa
Continua

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