sábado, 24 de junho de 2017

Deambulando pelas margens da
Pateira de Fermentelos e do Rio Águeda

A Pateira de Fermentelos é a maior lagoa natural da Península Ibérica. Área sensível e importante zona húmida da Rede Natura 2000, ali ocorrem habitats, ecossistemas e espécies com estatuto de protecção nacional e internacional, como a lontra, a toupeira de água e a rã ibérica, peixes como o sável e a savelha, e aves, como o maçarico, o milhafre-preto e muitos outros. Mas a importância desta área vai muito para além dos seus valores paisagísticos, ecológicos, biofísicos e culturais.

Pateira de Fermentelos, 24.06.2017, 11h00
A actividade de Junho dos Caminheiros Gaspar Correia foi precisamente direccionada para a Pateira de Fermentelos. Pouco passava das onze da manhã quando iniciámos a caminhada, no parque de lazer do Espinhel, começando por descansar o olhar no amplo e tranquilo espelho de água da Pateira, para depois começarmos pela foz do Rio Cértima, onde velhas carcaças de velhas bateiras como que nos querem contar as memórias perdidas no tempo. As bateiras eram os barcos tradicionais que antigamente cruzavam a lagoa, ligando as suas margens e as suas povoações ribeirinhas.

Velhas carcaças das bateiras, na foz do Rio Cértima
O almoço foi no aprazível parque de lazer de Óis. E a caminhada prosseguiu, rumo à Ponte de Requeixo, onde invertemos o rumo para sudeste, ao longo do Rio Águeda, até à povoação de Óis da Ribeira. E pelas quatro horas estávamos de regresso ao ponto de partida, com quase 16 km percorridos.

Afinal não é difícil chegar à Alegria... 😊
Através do milho ...
rumo à Ponte de Requeixo
Ao longo do Rio Águeda
Óis da Ribeira
À caminhada seguiu-se a visita ao Centro de Artes de Águeda, recentemente inaugurado, que começou por um workshop de "gamelão" - conjunto de instrumentos de origem indonésia, constituído por diferentes percussões em peças de loiça - e que incluiu também uma visita guiada às exposições "40 Anos em Pessoa(s) ... Vidas Preto no Branco" e "A Coleção (Reloaded)".

Centro de Artes de Águeda, 16h35
"Raramente o Tempo nos dá tempo enquanto passa; muito mais quando urge, quando é preciso, quando falamos da berma do caminho e não da estrada principal."... (Exposição "Vidas Preto no Branco", Cerciag Águeda, "40 anos em Pessoa(s)")
E a actividade Gaspar Correia não podia terminar sem um pequeno passeio na baixa de Águeda. Com o meu velho "Mano" Mousinho, entrei no primeiro local que nos apareceu para beber umas "lourinhas" ... e só depois reparei que estava num estabelecimento ostentando o símbolo de Santiago! O Caminho faz parte de mim ... nada acontece por acaso...

E em Águeda estava, afinal ...
no Caminho de Santiago...
Ver o álbum completo

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Das terras de Narcea às terras de Somiedo (3)

Quinta feira; última jornada em Somiedo. Apesar de quase metade do grupo já ter conhecido os Lagos de Saliencia (ou de Somiedo), nas anteriores "edições" ... nenhuma incursão nestas terras pode deixar de incluir o principal cartão de visita do paraíso. Seria apenas uma questão de preparar um percurso que, mesmo para os "repetentes", tivesse algo de diferente. E teve ... de diferente e até de inesperado...
Circular dos Lagos de Somiedo
Lisboa, 16 de Junho
Subindo de La Farrapona (1708m alt.) para o Collado de La Forcada (1832m), 15.06.2017, 8h55
O alto da Farrapona é o habitual ponto de partida e/ou de chegada para uma jornada pelos lagos de Somiedo. Mas desta vez saímos da Farrapona, subindo a bom subir, pelo trilho que havia descido em Outubro de 2013, com a minha "estrela" e um dos nossos casais de "Manos velhos". Passado o Collado de la Forcada o trilho torna-se mais acessível ... e a imponência de Somiedo abre-se diante dos nossos olhos extasiados. Não tardou a termos aos nossos pés, bem lá no fundo, o Lago de La Cueva, em cujas águas se reflectiam as Peñas de La Cueva e Almagrera. Afinal ... o Paraíso existe!

Descendo das alturas de La Forcada ...
... para as fabulosas panorâmicas sobre o Lago de La Cueva
Sempre acima dos 1700 metros de altitude e "sobrevoando" o Lago de La Cueva, atravessámos a Horcada de Calabazosa e descemos ao segundo lago, o Lago Negro, ou Lago de Calabazosa. O magnífico dia que os "deuses" de Somiedo nos deram ... levou até os mais intrépidos às águas frias do lago mais profundo de Astúrias, que chega por vezes aos 60 metros de profundidade.

Horcada de Calabazosa e descida ao Lago Negro
Vários foram os intrépidos que provaram as águas do Lago Negro, ou de Calabazosa

Toda a beleza do Lago de Calabazosa ...
até a minha mochila aprecia!
21 intrépidos "guerreiros" nas terras mágicas de Somiedo; o 22º está atrás da objectiva ... e o 23º optou por um dia a solo
As paisagens de sonho sucediam-se. Continuando a contornar os lagos a sul, ao de Calabazosa seguiu-se o Lago de Cerveiriz. Geologicamente, toda a zona apresenta as características típicas da abrasão glaciar; todos estes lagos são de origem glaciar, com as correspondentes comunicações através de vales glaciares.

Lago de Cerveiriz e alguns
dos seus habitantes
E vai começar a grande "escalada"...
A sudoeste do Lago de Cerveiriz, tínhamos pela frente a mole imponente dos Picos Albos. Trezentos metros de desnível para subir em pouco mais de um quilómetro; quase 25% de inclinação média! Mas, apesar de tudo, uma subida mais suave do que a opção que contorna a Laguna de Cebolléu, maioritariamente em cascalheira ... e por onde havíamos subido em 2014. E assim, pouco depois do meio dia estávamos quase a 2000 metros de altitude, entre os Picos Albos Ocidental e Oriental, com a mole imensa de Peña Orniz do outro lado da paisagem "lunar" das Morteras.

Imagens de uma "escalada" épica...
Entre os Picos Albos Ocidental (na imagem) e Oriental, a 1990 metros de altitude
Las Morteras e, ao fundo, o Maciço de Peña Orniz
Atingidos os quase 2000 metros de altitude, o rumo era agora a já minha bem conhecida Majada El Couto, com "instruções" para darmos corda às botas, se queríamos ir almoçar à vista do Lago del Valle, o maior e mais imponente lago não só de Somiedo, como de toda a Cordilheira Cantábrica. Como habitualmente nestas paragens ... as camurças começaram a aparecer, vigilantes, fugidias, mas bem presentes.

Camurças e grifos ... grifos e camurças ... harmonia ... paz ... paraíso!
Majada de El Couto, 12h45 - Viemos da esquerda, dos Picos Albos ... e estávamos literalmente no Paraíso
Como que empurrado pelas forças que levantaram estas montanhas e estes vales, no extremo ocidental da Majada de El Couto quase que voei até àquele a que me habituei a chamar o "meu" miradouro. No dia 17 de Outubro de 2013 cheguei àquele mesmo local numa caminhada a solo. A solo não ... acompanhado pelo "meu" Mastín, o "meu" cão guardador de gado que me acompanhou nessa caminhada, desde terras de Babia, que achou que eu não deveria fazer essa caminhada sozinho ... o Mastín com quem partilhei o meu almoço e a minha água. Mas ... que miradouro é este? Passava um minuto da uma da tarde quando perante os olhos extasiados dos meus companheiros ... se abriu de repente esta paisagem...

Miradouro natural sobre o Lago del Valle (1760m alt.) ... o Paraíso existe!
O almoço foi neste balcão natural. Cada um escolheu o seu recanto, a sua forma de ver e sentir como somos pequenos, neste horizonte avassalador. Aquele almoço era uma entrega à Montanha, em que cada um se sentia personagem de um Tempo sem tempo ... de um Tempo para ser Vivido!

Obrigado aos "deuses" de Somiedo ... e a todos os que aqui levei, naquele dia 15 de Junho de 2017
"Somiedo es un poema escrito por el agua, una balada caótica de versos labrados piedra a piedra; pero es poesía armónica y hermosa, arropada por la vida que aflora en todas partes. Poema vivo, arcaico pero eterno, imperecedero aunque vetusto, primitivo pero inmortal, como si hubiera sido concebido para perdurar."                (Víctor Vásquez, biólogo)
Até "ela" admira a fabulosa paisagem ... extasiada...
O plano que havia traçado para esta edição circular dos lagos de Somiedo incluía a descida daquele mágico miradouro até às margens do Lago. Pouco depois das duas estávamos no Lago del Valle, como se fôssemos descer para Valle de Lago, onde tínhamos estado na véspera. Mas não, não íamos descer a Valle de Lago; o objectivo era voltar a subir para noroeste, rumo às veigas de Camayor.

Descidos "dos montes que medem o céu "...
... chegamos ao Lago del Valle (Cabaña Cobrana, 1580m alt.)
No topo norte do lago retomámos a subida, pelo trilho que inclusivamente já desci com os Caminheiros Gaspar Correia. Uma pequena zona em obras, no caminho, baralhou-me a bifurcação ... mas o inesperado viria depois! Passada a Fuente Las Divisas ... uma ligeira distracção afastou-me do trilho...

O fabuloso vale do Rio del Lago, do início do trilho que subiria a Camayor
Voltamos às alturas ... por enquanto no trilho certo...
Quando dei pelo erro de rota ... já estávamos bem acima do trilho, em direcção aos Pozos de Promediu; seria mais demorado e perigoso voltar a descer ... mas demorámos o melhor de 45 minutos para progredir menos de 600 metros. Quando a "aventura" suavizou (ou, neste caso, aventura mesmo, sem aspas...) ... descomprimi a tensão acumulada. Os Pozos de Promediu é um planalto a quase 1800 metros de altitude, algo semelhante às Morteras, entre os Picos Albos e Peña Orniz, que há algum tempo queria conhecer ... mas não esperava conhecê-los inesperadamente e "guiando" 21 amigos. Bem fez o "Mano" Zé Manel em ter optado por um percurso a solo neste último dia... 😊. Aqui ficam, mais uma vez, as minhas desculpas ao grupo, bem como o meu agradecimento e admiração pela compreensão e carinho que me transmitiram.

Imagens de uma épica e inesperada subida aos Pozos de Promediu ... ou as consequências de uma distracção...
Uma vez no planalto dos Pozos de Promediu ... havia que descobrir uma passagem para as Veigas de Camayor, 100 metros de desnível abaixo de nós. A panorâmica dos 1840 metros a que estávamos, próximo do Pico de la Cueva de Camayor, era fabulosa! O estudo da carta e uma curta "prospecção" indicou-nos felizmente a passagem para aquele autêntico Shangri-La de Somiedo. Estava de novo e finalmente em terreno conhecido ... e tínhamos encurtado cerca de 4 km à caminhada!

Veigas de Camayor ... o reino dos verdes prados
Às cinco da tarde estávamos a cruzar a Veiga de Cerveiriz, agora com o lago do mesmo nome à nossa direita. Pelo velho estradão mineiro já tantas vezes percorrido, menos de uma hora depois estávamos na Farrapona, com 14,5 km percorridos ... uma parte bem lentamente...

Veiga e Lago de Cerveiriz
Lago de La Cueva ... de manhã tínhamos passado na encosta em frente
E, em fim de jornada e em fim de actividade, o fabuloso vale de Saliencia, do Alto da Farrapona
O Zé Manel esperava-nos na Farrapona ... e concluímos que quase nos encontrámos nas Veigas de Camayor, que percorreu até ao extremo noroeste ... por onde era suposto termos entrado. Regresso de autocarro ... e Pola de Somiedo esperava-nos. Estávamos no fim de uma semana fabulosa ... nas "minhas" terras mágicas de Somiedo. O dia seguinte seria o do longo regresso a casa.

Pola de Somiedo, 15.06.2017, 19h00 - Não é um adeus ... é só um até breve...
Ver o álbum completo da "aventura" em Somiedo
Somiedo, a minha terceira "terra natal", é sempre um bálsamo para os sentidos ... uma cura para a alma. Se o Paraíso existe ... naquelas terras está seguramente um pedaço dele ... e ao qual levei 22 amigos e amigas, de onde trouxemos recordações que, como sempre, perdurarão nas memórias. Depois de tantos agradecimentos recebidos, depois de tantas palavras amigas, depois de tantas fotos partilhadas, agora é a minha vez de dizer Obrigado, Muito Obrigado a Todos os que comigo construíram aqueles dias ... fabulosos ... inesquecíveis!

(Escrito em 21.06.2017)