sábado, 29 de julho de 2017

Da Areia Branca ao Cabo Carvoeiro e à Papoa

Desde Abril que não caminhava com os Novos Trilhos, que entretanto têm estado a percorrer a costa Oeste, da Ericeira para norte. Hoje era a vez do troço desde a praia da Areia Branca a Peniche e ao contorno da península do Cabo Carvoeiro ... e hoje pude mais uma vez acompanhá-los.

Praia da Areia Branca,  29.07.2017, 09h05 ... com o nevoeiro típico do Oeste
Às nove da manhã estávamos assim a partir da Areia Branca. Alguns carros haviam ficado em Peniche, para a logística inerente a uma caminhada linear. Sempre pelas praias e falésias, como mandava o programa, fomos subindo e descendo, descendo e subindo, acompanhados - eu diria que felizmente - pela neblina típica da costa oeste; felizmente ... porque o calor húmido, com Sol aberto ... seria bem duro. E antes das dez estávamos no Forte de Paimogo. Já em 2014 ali tinha andado com os Novos Trilhos, altura em que descrevi alguma da história deste Forte.

Subindo e descendo, descendo
e subindo, rumo ao ...
... Forte de Paimogo ...
... e a Praia de Paimogo
Foto de grupo, junto ao Forte de Paimogo (Foto: Novos Trilhos)
E a jornada prosseguiu rumo a norte. Pouco depois das onze estávamos em S. Bernardino e ao meio dia na Consolação, considerada a melhor praia do mundo para os ossos.

A caminho de S. Bernardino ...
seguindo o voo das gaivotas
Praia de S. Bernardino
Quinta do Gato Cinzento, em S. Bernardino: uma mansão envolta em muitas histórias e mistérios...
Praia sul da Consolação
Junto ao Forte da Consolação, a paisagem muda completamente. Das rochas e falésias escarpadas, passamos para um areal que se estende por três quilómetros, até Peniche. É a praia do Medão Grande, mais conhecida por Supertubos, paraíso dos surfistas, graças às ondas muito tubulares e rápidas. Antes da uma da tarde estávamos em Peniche, com 13 km percorridos desde a Areia Branca.

Praia do Medão Grande, ou Praia dos Supertubos, com Peniche ao fundo
E em Peniche
O almoço não foi em nenhum dos muitos restaurantes repletos de passeantes e turistas. Sentámo-nos no velho Portinho, junto à Cidadela, deliciando-nos como habitualmente ... com as sanduíches de cada um... 😊. Depois ... faltava a segunda parte da caminhada, a volta quase completa à Península do Cabo Carvoeiro. Perdi a conta, ao longo de meio século, às vezes que já percorri os caminhos do Cabo, dos Remédios, da Papoa ... mas nunca me canso de os voltar a percorrer.

Caminhos do Cabo Carvoeiro, pela costa sul ... até à Nau dos Corvos, com as Berlengas ao fundo
Só nesta segunda parte da caminhada o Sol abriu, mesmo assim de início tímido. As Berlengas viam-se no horizonte, mas ainda um pouco perdidas na bruma. E, na ponta do Cabo e no Cruzeiro dos Remédios ... a bruma fez-me também perder no Tempo, recuar mais de 4 décadas. Já perdi a conta a quantas vezes ali fui ... mas as memórias levam-me sempre para Agosto de 1973 (pois, já lá vão 44 longos anos), quando namorava uma moçoila que me acompanharia vida fora ... e acampei à porta da colónia de férias onde ela estava, junto ao Santuário da Senhora dos Remédios... 😊

Cruzeiro dos Remédios, Cabo Carvoeiro: 44 anos separam esta imagem das três anteriores.
Julho de 2017 / Agosto de 1973 ... Cantando era como se dissesse: estou aqui!
Nos Remédios, Peniche ... quando o tempo se cruza com o Tempo...
O regresso foi pela costa norte da península, agora sim com o Sol a iluminar o mar e as Berlengas. O pequeno istmo da Papoa também não faltou ... e pouco depois das três e meia estávamos de regresso aos carros que haviam ficado em Peniche. Tínhamos percorrido 26 km de belas paisagens, por praias e falésias ... por trilhos bem à medida dos Novos Trilhos. Obrigado, companheiros!

As Berlengas, para lá do mar do Carvoeiro
A caminho da Papoa
Na Papoa ...
... e a terminar, à vista das muralhas e da praia norte de Peniche
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domingo, 16 de julho de 2017

Caminhos da Franqueira e das fragas e levadas do Calvo e do Deva

De regresso de uma "semana galega", descrita nos artigos anteriores, um amigo, vindo dos bancos do velhinho Liceu Passos Manuel, de origem galega, tinha-nos convidado para um fim de semana em terras do concelho de A Cañiza, paredes meias com o nosso Minho.
Regresso da "Missão Proteus",
Serra d'Aire, 15.11.1970
Embora nos últimos anos nos tenhamos encontrado ... quase 47 anos separam as duas fotos à direita! O Adelino acompanhou-me nas primeiras "aventuras" nas entranhas da terra, nos "anos loucos" da Espeleologia, quando comecei a minha vida por fragas e pragas.
E assim, vindos de Santiago de Compostela e tendo passado pelo "meu" Pico Sacro, pouco antes das cinco da tarde de um sábado bastante quente estávamos no lugar de Os Carris, junto da aldeia de Randufe e não muito distante de A Cañiza. Ao fundo, a sul, já se percebia o vale do Minho e terras portuguesas.
A proposta de fim de semana tinha nascido do PR-G 165, nas encostas da serra da Paradanta, cujas águas correm para o grande rio Minho. Mas, naquele fim de tarde, havia outro local nas proximidades que justificava uma primeira caminhada.
A Franqueira, 15.07.2017
A Virgem d'A Franqueira é uma das imagens marianas mais veneradas da Galiza. Terá sido encontrada por uma aldeã entre as pedras do monte, onde a teriam escondido quando da invasão sarracena. A imagem foi então carregada num carro puxado por bois de olhos vendados; no primeiro lugar onde os animais se detivessem a beber ... seria construído o Santuário.
Caminhos da Serra da Paradanta. Ao fundo, a Serra da Peneda
Ao longo da serra, existem diversos caminhos para chegar à Franqueira. A partir de Os Carris, subimos a encosta sudeste, com o vale do Minho e Portugal cada vez mais à vista. Do alto, via-se Melgaço e o cume da Pedrada, vértice da nossa Serra da Peneda. Para norte, deixámos o alto de Montouto e as suas enigmáticas três cruzes - que as populações dizem sempre ali terem existido - e descemos para sudoeste, rumo à Franqueira. No Coto da Vella, a 940 metros de altitude, ergue-se mais uma cruz, que assinala o local onde a imagem terá sido encontrada.

Melgaço e a Serra da Peneda, para lá do vale do Minho
As três cruzes do Alto do Montouto (949m alt.)
Santuário de Santa María da Franqueira


São nítidas as relações entre a devoção à Virgem da Franqueira
e os Caminhos de Santiago
x
A Rainha Dª Urraca e, mais tarde, a Rainha Santa Isabel, terão percorrido estes caminhos ... que também são, ou foram ... Caminhos de Santiago.

E domingo era o dia da caminhada maior: o PR-G 165, as fragas e levadas dos rios Calvo e Deva. O primeiro é afluente do segundo, que por sua vez corre para a margem direita do Minho. É impressionante a quantidade de água que toda a região possui, uma riqueza infelizmente cada vez menor e bem problemática em muitas outras zonas.
Levámos o carro para a aldeia de A Lameira ... e começámos a percorrer um mundo de verde e de águas cristalinas e abundantes. Pelo lugar de As Poldras descemos à margem direita do Deva, com alguns restos de velhos moinhos ainda a testemunharem tempos passados, como o Moinho de Entre as Viñas, na confluência dos dois rios, o de Sampaio e o da Fraga.


Por entre a magia das fragas (que em galego significa bosques)
do Deva, entre As Poldras e A Balsada
Moinho de Sampaio, rio Deva:
memórias perdidas no tempo...
Fragas do Deva ... uma sucessão de imagens num paraíso de verde e cristal
Agora por caminhos rurais e passando A Balsada e O Feirón, ao meio dia estávamos junto à Igreja de Parada de Achas ... cujo patrono é Santiago. Para o cemitério de Parada de Achas vinham os mortos da maioria das aldeias vizinhas, trazidos a pé pelos caminhos tortuosos destes vales escarpados; o caminho que nos leva às fragas do rio Calvo chama-se, por isso ... o Caminho dos Defuntos.


Igreja de Parada de Achas ...
dedicada ao Apóstolo Santiago...   
Camiño dos Defuntos e Fragas do Calvo ... não há palavras para descrever a beleza e o mistério destes recantos!
Cruzamos o Calvo e, na margem esquerda, chegamos ao Caminho da Rainha, assim chamada por se tratar do percurso seguido pela rainha Dª Urraca desde terras de Castela até ao Mosteiro da Franqueira. À esquerda deixámos aliás uma variante do PR-G 165, que nos poderia levar ao já citado Coto da Vella, onde terá sido encontrada a imagem da Virgem da Franqueira. Deixando a fraga, a panorâmica abre-se agora sobre o vale, com as serranias de Melgaço e da Peneda ao fundo.

Descendo a margem esquerda do vale do Rio Calvo, com terras portuguesas ao fundo.
Com 12 km percorridos, pouco antes das três da tarde estávamos junto à Ermida da Peña de Francia ... onde nos esperavam umas boas empanadas e não só... 😊. Esperava-nos também algum descanso, já que a tarde estava excepcionalmente quente. Só voltámos ao trilho mais de duas horas depois, agora pelo Camiño de San Martiño, entre o rio Oulo e de novo o Deva, junto à pequena aldeia de Ibia.

Ermida da Peña de Francia
Rio Oulo ...
... e de novo o rio Deva
E, quase às seis e meia da tarde, o regresso ao ponto de origem marcou o fim desta belíssima caminhada pelas fragas e levadas do Calvo e do Deva ... e com ela de uma "semana galega" que nos levara, a mim e à minha estrela, aos confins da Costa Ártabra, às terras da Finisterrae ... e ao campus stellae, a Santiago. Uma semana a dois, culminada da melhor forma, a quatro, nas terras de A Cañiza. Aqui fica o agradecimento aos nossos anfitriões galaico portugueses! Moitas grazas! Graciñas, amigos!
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