domingo, 17 de fevereiro de 2019

Dos arrozais do baixo Mondego às Lagoas de Quiaios

Nos Caminheiros Gaspar Correia, o Carnaval é tradicionalmente antecipado … este ano duas semanas em relação ao calendário… 😊. E a equipa organizadora levou-nos para os arrozais do baixo Mondego, numa actividade a que justificadamente chamou … Funaná no arrozal 😜
Castelo de Montemor-o-Velho, 16.Fev.2019, 10h40
Pouco depois das dez e meia estávamos no Castelo de Montemor-o-Velho. Esta vila primitiva remonta à pré-história e foi ocupada sucessivamente por romanos, visigodos e muçulmanos, atraídos pelo estanho da região. O Castelo Medieval, cujas primeiras referências remontam ao séc. IX, é a maior fortificação do Mondego e uma das mais antigas e belas do país, marcando presença em algumas paisagens que fomos contemplando ao longo do dia.
Castelo de Montemor-o-Velho, uma vez iniciada a caminhada
De Montemor-o-Velho rumámos a poente, rumo às terras de Maiorca e aos arrozais. À hora do almoço estávamos nos Montes de Santa Olaia e Ferrestelo, onde se encontra o Castro de Santa Olaia, habitado desde o Neolítico e prolongando-se a sua ocupação pelas épocas do bronze, romana e medieval. O dia, entretanto … parecia de autêntico verão!

Na planura a oeste de Montemor-o-Velho
… quando passam as cegonhas...

Castro e Capela de Santa Olaia, nos
Montes de Santa Olaia e Ferrestelo
Nos arrozais de Maiorca
A caminho dos arrozais, passámos no Terreiro do Paço de Maiorca, edificado no sec. XVII, de marcada influência barroca. Logo a seguir, testemunhámos os efeitos da passagem do furacão Leslie por estas paragens, em Outubro do ano passado, particularmente no que foi a área de lazer e parque desportivo junto à pequena Lagoa de Maiorca.

Paço dos Viscondes de Maiorca, do sec. XVII
Lagoa e área de lazer de Maiorca
E entre Maiorca e Santo Amaro da Boiça, atravessando os campos adjacentes às valas e arrozais
Com 17 km nos pés, a caminhada terminou em Santo Amaro da Boiça, onde os organizadores nos reservavam uma surpresa. Para além de um belo lanchinho com Porto de honra, pudemos ouvir e ver in loco o testemunho da produção do famoso arroz de Maiorca, após o que rumaríamos à Figueira da Foz, base de alojamento deste fim de semana ... e onde à noite nos divertiríamos no tradicional Carnaval dos Caminheiros Gaspar Correia. A Vida também se leva a brincar...

Próximo de Camarção,
17.Fev.2019, 10h30
O segundo dia de actividade destinou-se a uma caminhada mais curta, entre duas das três lagoas de Quiaios. A norte da Figueira da Foz, testemunhámos bem os efeitos dos incêndios de 2017 e da passagem do furacão Leslie, em 2018. A foto acima, à direita, ilustra uma mínima parte da devastação.

Lagoa da Vela: um
santuário de aves!
Através dos campos devastados pelos incêndios de 2017 e pelo Leslie... 😓
Lagoa das Braças: milhares
de anatídeos na água e no ar!
E na Lagoa das Braças ... a actividade pedestre deste fim de semana de um Carnaval antecipado estava no fim. Faltava um saboroso almoço na Figueira ... e o regresso a Lisboa e a casa. Foi, sem dúvida, um belíssimo fim de semana, em que imperou o convívio, as brincadeiras sãs, a Amizade, tão ao estilo desta que é a minha mais antiga "família" caminheira ... e que desde há uns meses conta com mais uma minha "mana velha"... 😊. A Vida é Bela!
Nos arrozais do Baixo Mondego
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Lagoas das Velas e das Braças
(Clique para ver o álbum completo)

domingo, 10 de fevereiro de 2019

De Lisboa a Santarém, no Caminho de Santiago (2)

Vila Franca de Xira - Santarém

No primeiro fim de semana de Dezembro, respondendo ao desafio da minha "mana" Paula, fizemos as duas primeiras
O Caminho não é o chão que pisas... (Foto de Luís Martins)
Tínhamos deixado Vila Franca de Xira para trás
das quatro etapas entre Lisboa e Santarém do Caminho Central Português de Santiago. No final da respectiva crónica, escrevi então: "O Caminho segue um dia ... qualquer dia...". E esse dia chegou ... pouco mais de dois meses depois. Com a mesma equipa de então, às 8h da manhã de ontem estávamos de novo na bela estação da CP de Vila Franca de Xira ... e de imediato nos pusemos a caminho ... no Caminho! Com estas duas etapas, a Paula fecharia o trajecto completo entre Lisboa e Santiago. Eu ia conhecer o troço pela Valada e Porto de Muge, já que das várias vezes que já tinha feito a ligação a Santarém e a Fátima fi-la a "velocidade de cruzeiro" e pela variante directa da Azambuja ao Vale de Santarém.

Pela Castanheira do Ribatejo, Vila Nova da Rainha ... passo a passo se faz o Caminho (Foto inferior de Luís Martins)
A Primavera já aí vem... (próximo de Espadanal da Azambuja)
A primeira paragem propriamente dita foi na Azambuja. Reforço alimentar, uma curta visita à Igreja Matriz e ao novo Abrigo do Peregrino; cruzamos de novo a linha do comboio ... e a jornada prossegue lezíria fora. A última vez que aqui tinha passado a pé ... era uma da manhã, a caminho de Fátima non stop, em que segui directo para Santarém. Agora ia também eu seguir as setas amarelas, rumo à beira Tejo, na Valada, que tínhamos escolhido para final da terceira etapa deste Lisboa - Santarém.

Belos painéis de azulejos, junto à Igreja
Matriz e na Estação CP da Azambuja

À saída da Azambuja ... uma quinta que os Peregrinos não esquecem
E a jornada prossegue por uma Primavera a despontar
Às quatro da tarde estávamos no Reguengo, a pouco mais de 2 km do destino. Mas ainda assim fizemos uma última paragem, antes de entrarmos na tapada que protege a lezíria das águas do Tejo.

Reguengo ... numa pausa antes de
avançarmos para Valada
Entre Reguengo e Valada, sobre o dique (ou tapada) que protege as povoações ribeirinhas em épocas de inundações
Antes das cinco horas entrávamos em Valada, com 32 km percorridos desde Vila Franca. Em Agosto de 2014,
Ponte Dª Amélia, 10.Ago.2014 ... quando 2 Manos
se conheceram antes de se conhecerem...
com os "manos" com quem tinha percorrido o meu primeiro Caminho de Santiago, também cheguei à Valada, vindo de Escaroupim, na outra margem do Tejo. Pois é ... quando agora estávamos a entrar na Valada, a minha "mana" Paula recordou essa actividade pelas margens do Tejo ... em que também ela esteve! Afinal ... nós já nos conhecíamos antes de nos conhecermos! A minha "estrela arraiana" também participou ... e eis que encontro, hoje ... uma foto das duas naquele dia de Agosto de 2014! O Universo já nos tinha unido antes mesmo de sabermos quem éramos! Desígnios e mistérios do Caminho...
Praia fluvial da Valada em fim de tarde ... e de jornada
A Valada e arredores (Reguengo, Vale da Pedra) foi de há muito destino de naturais da raia Sabugalense, nomeadamente da "minha" Vale de Espinho. Não seria difícil por isso encontrar amigos ou conhecidos ... e assim aconteceu. Na aprazível esplanada do Bar Beira Tejo, lá estava o amigo Alberto Pachê, ex Presidente da Casa do Concelho do Sabugal em Lisboa.
09.Fev.2019 - Os "6 Mosqueteiros" chegam ao fim da etapa
Na Valada, ficámos alojados na "Casa Velha", uma casa de alojamento local que também é alojamento de Peregrinos. Para jantar, tinham-nos recomendado o "Maiorial Zé" ... e não nos arrependemos. A Dª Rosa e o Sr. Francisco serviram-nos uns excelentes bitoques e um excelente pequeno almoço, a preços peregrinos. E a noite deu lugar ao dia ... ao dia em que a Paula completaria todo o Caminho Central Português. Talvez para celebrar ... quase logo à partida dava-se o segundo acontecimento marcante deste fim de semana...

Valada, 10.Fev.2019, 8h40 - Tinha começado há
pouco a 4ª e última etapa deste Lisboa - Santarém
À saída da Valada ... uma jovem Peregrina surgiu do nada. Ainda não tínhamos encontrado Peregrinos, desta vez. De onde vinha?
Duas Peregrinas ... duas almas que o Universo juntou?
Onde ficara? Como um dos lemas do Peregrino é a partilha (de experiência, conhecimento, ajuda), a conversa fluiu. Começámos por saber que ficara num espaço do Salão Paroquial da Valada. Disse-nos que vai para Fátima ... e talvez para Santiago. Está no seu primeiro Caminho. "Quero-me reencontrar comigo própria", confessou ... e partilhou alguns problemas, algumas dores. Absorveu os conselhos da Paula, recebeu com carinho e gratidão uma oferta e uma promessa de ajuda no que precisar ... e desabafou: "Ontem, sozinha, alguém me disse que ia encontrar uma Peregrina que me ia ajudar..."! Decididamente ... o Universo tem destas coisas...
Próximo de Porto de Muge, no dique, ou tapada, que protege a lezíria (Foto: Luís Martins)
A partir do Porto de Muge, o Caminho volta a afastar-se do Tejo. É a lezíria a perder de vista, com o casario do Cartaxo e de Vila Chã de Ourique à nossa esquerda ... e com Santarém a aparecer ao fundo, a norte. Algumas nuvens escuras tornavam o dia mais enevoado que o anterior, mas a chuva que se sabia cair em Lisboa seria adiada mais para a tarde. A "nossa" jovem Peregrina acompanhou-nos nalguns troços, noutros ficava entregue aos seu Encontro. "Não há palavras para descrever a gratidão que vos sinto! Os nossos Caminhos estavam destinados a cruzar-se, num Caminho que é tão só nosso..." ... dir-me-ia já ao fim do dia, por mensagem.

Junto ao aeródromo LPSR, com Santarém à vista (foto superior) e entre Omnias e Alfange (foto inferior)
Pouco antes de Alfange e da Ribeira de Santarém. A nossa meta está próxima; a cidade está lá em cima, à esquerda
Chegados à Ribeira de Santarém à uma e meia da tarde, com 20 km percorridos ... estávamos onde em Setembro passado começámos a ligação Santarém - Tomar - Ansião. Um abraço merecido à Mana Paula; agora já pode dizer que fez Lisboa - Santiago, pelas duas variantes, das terras de Ourém e de Tomar. O almoço, tal como em Setembro, fechou mais este belo fim de semana de Caminho ... de partilha ... de vivências ... de Amizade ... de sã camaradagem ... até porque hoje tínhamos uma aniversariante! E a nossa Peregrina cujos "Caminhos estavam destinados a cruzar-se"? Soubemos no final do almoço que tinha chegado bem a Santarém; estava alojada ... pronta para seguir o seu rumo. Bom Caminho, Peregrina! Nós ... temos mais Caminhos pela frente. Ultreïa!
Casa Condeço, Ribeira de Santarém, 15h00
(Clique para ver o álbum completo)