sábado, 3 de agosto de 2024

Andaina galega, com o GCGC (1)

Regresso a Armenteira, à Ruta Traslatio ... e a Santiago de Compostela!

Três semanas depois de ter regressado do Caminho Inglês ... voltei a Santiago de Compostela pela terceira vez este ano. E porquê? Porque o GCGC - a "família" Caminheiros Gaspar Correia - pediu a quatro "manos velhos" para organizarem uma actividade de verão na Galiza. Os quatro "manos velhos" são, naturalmente ... estes irmaus que se conhecem há mais de meio século: o autor destas memórias e a minha estrela ... e os nossos muito queridos manos Maria degli Angeli e Mousinho.
É também o terceiro ano consecutivo em que organizo a actividade de verão do GCGC: Picos de Europa, em 2022, Somiedo, em 2023, e agora uma andaina galega, ou, numa conotação mais ampla, uma Xira galega, já que, ao desenhar o programa, procurámos enfatizar as tradições, a história e a cultura, ínterligando-as e conectando-as com a Natureza e com os percursos em áreas naturais.
No primeiro dia de agosto, pouco depois do almoço e da viagem desde Lisboa ... estávamos assim em Pontevedra, cruzando o Lérez pela velha Ponte do Burgo, que o mesmo é dizer ... no Caminho Português. Na primeira parte da Xira ... desenhei alguns olhares sobre a Variante Espiritual.

Pontevedra, 01.08.2024, 16h30 - Os Caminheiros vieram ao Caminho Português...
Mas a nossa entrada em Pontevedra ... teve uma aventura bem digna de um telejornal da CNN... 😂:
Idealizara deixarmos o autocarro no parque do Pavilhão dos Desportos, junto ao Lérez e à Ponte do Burgo ... mas o nosso motorista dispôs-se a deixar-nos mais no centro, junto ao Convento de S. Francisco e, portanto, não muito longe da Virgem Peregrina ... e pediu-me para o ir orientando pelo Maps. Orientar orientei ... até ao ponto em que o autocarro já não se conseguia dobrar ao meio para virar. Solução (proposta por um solícito habitante local): chamar a polícia para poder recuar e sair dali.
E não só recuámos (depois de "limpar" a fila atrás de nós) ... como a polícia fechou o trânsito em duas ruas ... para nos pôr a circular em sentido proibido!!! Havia de ser em Lisboa... 😏
E, perto de Padrón, o Sol põe-se para o primeiro dia de andaina
"Acampados" perto de Padrón nas duas primeiras noites, dali subimos ao Mosteiro de Santa María de Armenteira. Não subimos a pé ... mas descemos a pé, pela fabulosa Ruta da pedra e da auga, o primeiro banho de Natureza desta actividade. Já na parte final, misturámo-nos com os fantasmas de pedra da aldeia labrega. Em galego, a palavra labrego não tem a conotação pejorativa que muitas vezes se lhe dá em português; os labregos são, muito simplesmente, os aldeões, os camponeses.

Mosteiro de Santa Maria de Armenteira, 02.08.2024, 09h25
Ruta da pedra e da auga ... a magia da Natureza
O autocarro recolheu-nos antes do Rio Umia, para nos levar a Vilanova de Arousa. Os olhares sobre a Variante Espiritual continuariam lá. Para além das belíssimas paisagens da Ria, das praias e da vila, onde aliás almoçámos ... às quatro da tarde embarcávamos para a Ruta Traslatio, a única Via Crucis marítimo-fluvial do Mundo. No ano 44 dC, o Apóstolo Santiago foi decapitado em Jerusalém, por ordem de Herodes. Reza a história (ou a lenda) que então os seus discípulos roubaram o corpo e carregaram-no numa barca de pedra que, guiada pelos anjos e por uma estrela, foi conduzida à desembocadura do Rio Ulla, precisamente a Ria de Arousa. A Ruta Traslatio pretende assim recriar a chegada à Galiza do corpo de Santiago, depois do seu martírio em Jerusalém, subindo a ria e depois o Rio Ulla, até ao porto de Pontecesures, próximo de Iria Flavia (a actual Padrón), onde a barca teria aportado. Foi a terceira vez que a subi e que acompanhei Santiago ... já que até o próprio timoneiro se chama Santiago.

Vilanova de Arousa, 02.08.2024
Ruta Traslatio, subindo o Rio Ulla: a Via Crucis, as Torres de Catoira e barcos vikings
Uma hora e quarenta depois, desembarcávamos em Pontecesures
Eram quase 18h00 quando desembarcámos em Pontecesures ... e continuámos a pé até Padrón, misturando-nos com os peregrinos. Debaixo do altar da Igreja de Santiago encontra-se o pedrón, a pedra a que supostamente foi amarrada a barca que transportava o corpo do Apóstolo; pedrón deu origem ao topónimo Padrón. E no jardim em frente à Igreja ... apetece-me sempre cantar "Adios rios, adios fontes", com Amancio Prada e a grande Rosalía de Castro, falecida em Padrón em 1885.

E chegamos a Padrón e à Igreja de Santiago, com o pedrón que lhe deu o nome
O autocarro esperava-nos em Padrón, mas o regresso ao Hotel Scala era curto ... e de lá saímos na manhã do dia seguinte para recordar / reViver Santiago de Compostela, em dia quase inteiramente livre. Este "gasparito" … passou algum tempo, como sempre, sentado no chão do Obradoiro, a ver chegar peregrinos … a reVer e a Sentir as emoções do Caminho nas expressões de muitos deles...

Santiago de Compostela
... cidade Viva ... cidade mágica!
Catedral, Praça da Quintana, Igreja de S. Francisco ... um pulsar de que nunca me cansarei...
A meio da tarde deixávamos Santiago para trás e para sul. Estávamos agora a caminho da segunda parte desta actividade estival. A xira, ou andaina galega, continuaria ... nas terras do Eume.

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