Nos portos galegos acentuábanse por centos os peregrinos das Ilhas Británicas... dos Países Baixos... dos Mares do Norte... |
Nos primeiros séculos do fenómeno jacobeu, aqueles que decidiam fazer uma
peregrinação a Santiago de Compostela a partir das Ilhas Britânicas, da
Holanda ou da Escandinávia, tinham de atravessar o Mar do Norte e/ou o Canal
da Mancha, para depois seguirem um longo percurso
por terras francas, navarras, castelhanas e galegas, numa viagem perigosa e
cheia de riscos. Diante disso, algum armador resolveu aproveitar os avanços
náuticos da época para reabrir as antigas rotas comerciais com a Península
Ibérica (atravessadas alguns séculos antes pelos drakkars vikings e
normandos) e transformá-las numa nova rota económico-espiritual na qual, além
de tecidos ingleses, vinho, carne ou azeite galego, transportavam também
passageiros, geralmente grupos de peregrinos burgueses, comerciantes ou
rentistas, em busca da salvação das suas almas. A opção resultava numa viagem
muito mais curta e segura, com viagens marítimas e terrestres, refeições e um
guia no seu próprio idioma.
Assim, ao longo dos séculos XII a XV, centenas de peregrinos ingleses,
irlandeses, galeses, escoceses, bretões, holandeses, alemães e nórdicos
desembarcavam diariamente nos portos galegos, a maioria em Ferrol e na
Corunha. Os navios pagavam taxas alfandegárias significativas ao
Capítulo da Catedral e ao Tesouro Real, não apenas pelas mercadorias, mas
também por cada passageiro transportado, transformando este negócio numa
enorme fonte de renda para a Cúria Compostelana e para a Coroa.
(Fonte: gronze.com) |
A caminho do Caminho...Não somos ingleses ou nórdicos, nem estamos a atravessar o mar cantábrico, mas somos quatro peregrinos que vamos "desembarcar" do autocarro em Ferrol, mais logo ... para começarmos amanhã o Caminho Inglês. Dez anos depois dos Caminhos de Santiago terem entrado na minha Vida, aos 60 anos ... 14 Caminhos de Santiago depois ... cá estou de novo, aos 70 anos, a caminho do Caminho ... a caminho do α que se seguirá sempre ao ω. E quem são estes quatro peregrinos? Bem ... o autor destas linhas, o amigo Joaquim Gomes e o "mano" Zé Manel Messias, ambos companheiros do
Braga, 07.07.2024, 13h10 ... uma vez reunida a equipa para o Caminho Inglês |
Mas voltemos precisamente à história: a chegada de peregrinos por mar aos
portos galegos diminuiu a partir do século XVI, como consequência das ideias
de Martinho Lutero e da ruptura de Henrique VIII com a Igreja Católica. As
tradicionais querelas entre Espanha e o Reino Unido ajudaram ao declínio,
especialmente a guerra de 1585 a 1604, com os ataques de Francis Drake a
cidades costeiras e o desastre da "Invencível Armada". A rota marítima
destinada aos peregrinos do norte foi assim declinando gradualmente, até que
nos séculos XVIII e XIX praticamente deixou de ser utilizada. À semelhança de
outros, o
Caminho Inglês
só foi recuperado e sinalizado nos anos 90 do século passado, graças às
associações de peregrinos e à colaboração de várias câmaras municipais e
outras.
Quanto a nós ... amanhã iniciaremos o Caminho, em Ferrol. Para nós 4
portanto ...
Bo Camiño
!
(Continua para as etapas)
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