Sábado dia 3, ao fim da tarde, estávamos a "acampar" com "armas" e bagagens
para quatro noites no
HotelFraga do Eume, no lugar de A Capela, onde os quatro "manos velhos" tinham
"acampado"
em abril; mas agora ... éramos 50! À espera do grupo, lá estava o amigo Roxelio, o
miñoto do norte ... já que eu para ele passei a ser tratado por
galego do sur... 😁
Para todos os presentes, era suposto que no dia da chegada apenas houvesse a
instalação e o jantar ... mas não ... depois do jantar havia algo mais de que
só alguns eleitos sabiam...
Hotel "Fraga do Eume", A Capela, 03.08.2024, 21h00 - Os
Caminheiros são recebidos ao som dos
Silbarda Foi uma noite memorável de intercâmbio cultural, música
tradicional, animação ... e baile!
San André de Teixido ... onde vai de morto o que non foi de vivo !
Com o som e a animação dos
Silbarda
dentro de cada um de nós ... no dia seguinte estávamos prontos para prosseguir
a nossa xira. A primeira andaina ... era a
San André de Teixido ... onde vai de morto o que non foi de
vivo ! Eu e a miña compañeira ...
xa fomos en vida dúas veces ...
em julho de 2017
e
em abril
deste ano, com os nosos irmaus maiores Mousinhos. À terceira ...
levámos mais 44 gasparito(a)s!
Em plena Serra da Capelada,
próximo da aldeia de Rabadán, 04.08.2024, 11h00
As contingências de um autocarro grande levaram a que o único local possível
para o grupo iniciar a caminhada a San André de Teixido fosse na estrada proveniente de
Cedeira, descendo às pequenas aldeias de
Chímparra e
Rabadán, para então subir à cumeada de
Ouzal, pela qual se regressa à estrada, no
miradouro de Chao do Monte, onde se vê
San André lá em baixo ... e onde
almoçámos.
Miradouro de Chao do Monte, 13h40,
com 6 km percorridos: lá em baixo está
San André de Teixido
E do Chao do Monte descemos o caminho ziguezagueante de
San André de Teixido
"A San Andrés de Teixido vai de morto o que non foi de vivo...". Como
já referi em abril, este ditado popular deriva da lenda que conta que Santo
André estava triste, porque o seu templo era pouco frequentado, ao contrário
do de Santiago. Santo André pediu então ajuda ao Senhor ... e um dia
apareceu-lhe o Todo poderoso, acompanhado por S. Pedro. Ao ver Santo André tão
desanimado, prometeram-lhe que ao seu templo acudiriam todos os mortais ... e
aquele que não o fizesse em vida, faria depois da morte, reencarnado num
inseto ou num réptil. E assim o Santuário de
San André de Teixido converteu-se no segundo centro de
peregrinação de toda a Galiza!
San André de Teixido, local de culto
e de peregrinação
A Coruña ...
a cidade de Breogán
O dia seguinte, 5 de agosto, foi dedicado à Corunha, a cidade de
Breogán ... de onde parti menos de um mês antes para o segundo "braço"
do meu
Caminho Inglês. Como então referi, Breogán foi um personagem lendário da Galiza,
figura central na mitologia celta. A história de Breogán é contada em
diversas lendas e poemas épicos. Rei de Brigantia, era conhecido pela sua força, bravura e sabedoria. Para alcançar o Céu e
desafiar os deuses, teria construído uma torre gigantesca - a
Torre de Breogán - vista como um símbolo da ambição humana. Do alto da
torre, prescrutando o horizonte para norte, os milesians teriam
avistado uma verde e fértil costa, o que os levou à colonização celta da
Irlanda, nas invasões descritas no
Leabhar Gabhála, o livro das invasões.
N'A Coruña, o dia foi inteiramente livre,
regressando à tarde ao "nosso"
Hotel Fraga do Eume. Da Torre de Hércules (ou de Breogán) à Igreja de Santiago e à
Avenida da Marinha ... a Coruña é sempre com prazer que se revisita.
Da península da Torre de Hércules às praias de
Riazor e
Orzán,
Coruña, 05.08.2024
Avenida da Marinha, a mais emblemática das avenidas da capital
corunhesa
Igreja de Santiago, 14h25 De onde parti menos de um mês
antes... (Caminho Inglês)
No paraíso das Fragas do Eume
O último dos nossos dias em terras ártabras, só podia ser no paraíso ... o
paraíso das Fragas do Eume. O
Parque Natural das Fragas do Eume
abrange mais de 9000 hectares nas encostas abruptas do rio Eume, que
desagua em Pontedeume, na ria de Sada e de A Coruña. Em galego,
fraga significa bosque denso, com árvores de diferentes espécies, como
carvalhos, castanheiros, bétulas e amieiros, freixos e teixos, avelãzeiras e
árvores de frutos silvestres; de folha perene surgem os loureiros e azevinhos.
Nas margens húmidas e sombrias conserva-se uma ampla variedade de líquenes,
musgos e fetos.
No paraíso das Fragas do Eume, entre
a estrada da Central do Eume e a Ponte de Santa
Cristina, 06.08.2024
As características dos trilhos levaram-nos a optar por dividir os caminheiros
em dois grupos, como havíamos decidido
em abril, quando da preparação logística. Os mais preparados - física e
psicologicamente - para um terreno mais exigente, desceram comigo à Central do
Eume, a sudeste do Hotel, a partir de onde acompanhámos sempre o rio até à Ponte de Santa Cristina
... o trilho que eu havia feito sozinho, em sentido inverso ... literalmente
através do paraíso! Outros, guiados pelo "mano" Mousinho, desceram
directamente do Hotel, pelo trilho que tínhamos percorrido os quatro, passando
na Igreja de Santiago de A Capela. Havíamos de nos encontrar no ou próximo do Mosteiro Beneditino de
San Xoán de Caaveiro. E assim foi ... quando ia verificar se já estaríamos na área de cobertura
dos rádios do grupo ... ouvi pelo meu a voz do Mousinho a perguntar-me isso
mesmo... 😂
No coração das Fragas do Eume,
surge o Mosteiro Beneditino de San Xoán de Caaveiro
Toda a envolvência do Mosteiro é mágica e mística, convidando à contemplação e
à introspecção. Os monges sabiam bem onde construir os seus Mosteiros. E foi
nessa envolvência que os nossos dois grupos voltaram a ser um único,
prosseguindo juntos o curso do rio
Eume até ao Centro de Interpretação,
com o almoço junto à cabana de pescadores de Figueira.
De novo na Ponte de Santa Cristina, sobre o
Eume, para continuar a descer o seu
curso
As duas pontes suspensas que atravessam o
Eume continuam encerradas... 😓
Com 13,5 km para uns e 11,5 km para outros, antes das três da tarde
estávamos a finalizar esta verdadeira incursão no paraíso!
De novo como surpresa para o grupo - e naturalmente que em conluio com o já
nosso amigo Roxelio - a seguir ao último jantar tivemos uma tradicional
queimada galega ... ilustrada no vídeo que, em pouco mais de meia hora, resume
esta semana de convívio, de amizade, de festa ... de Vida!
E com aa Meigas fora ... resta-me transmitir a minha enorme gratidão por pertencer à verdadeira
família que são os
Caminheiros Gaspar Correia. Fará em outubro 22 anos que entrei (a minha estrelita meio ano depois) ...
e jamais esquecerei o calor, a amizade, o carisma que desde logo senti. Só uma
família assim pode manter-se unida há tantos e tantos anos, e atrair gente tão
bonita e tão boa como tem atraído, caminhada após caminhada... 💞
Os momentos mais marcantes e inesquecíveis ... de uma semana
inesquecível!
Um merecido agradecimento também aos meus queridos "manos velhos" Mousinhos,
os mais "velhos" dos nossos "manos velhos"; 52 anos de Amizade sem qualquer
sobressalto ... não é para todos!
E ainda uma palavra de admiração e gratidão ao amigo "minhoto do norte" ... o
nosso amigo Roxelio do HotelFraga do Eume ... que ainda por cima me deixou com água na boca acerca de um
Caminho Irlandês de que nunca ouvira falar, bem como acerca, ou
parcialmente coincidente, de um
Camiño dos Apóstolos, que une
Betanzos a
San André de Teixido pelo
GR55, que passa em A Capela e cruza o rio Eume, inclusive em
parte do percurso que fizemos. Juntando estes "ingredientes" com um velho
projecto e com o incentivo do Roxelio ... pode ser que ... um dia ... no canto
de um qualquer sonho ou Sonho ... nasça a vontade! Sonhar, por enquanto ...
não é proibido e é grátis... 💖
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