Três semanas depois de ter regressado do
Caminho Inglês
... voltei a
Santiago de Compostela pela terceira vez este ano. E
porquê? Porque o GCGC - a "família"
Caminheiros Gaspar Correia
- pediu a quatro "manos velhos" para organizarem uma actividade de verão na
Galiza. Os quatro "manos velhos" são, naturalmente ... estes
irmaus que se conhecem há mais de meio século: o autor destas memórias
e a minha estrela ... e os nossos muito queridos manos Maria
degli Angeli e Mousinho.
É também o terceiro ano consecutivo em que organizo a actividade de verão do
GCGC:
Picos de Europa, em 2022,
Somiedo, em 2023, e agora uma
andaina galega, ou, numa conotação mais ampla,
uma
Xira galega, já que, ao desenhar o programa, procurámos enfatizar
as tradições, a história e a cultura, ínterligando-as e conectando-as com a
Natureza e com os percursos em áreas naturais.
No primeiro dia de agosto, pouco depois do almoço e da viagem desde Lisboa ...
estávamos assim em
Pontevedra, cruzando o
Lérez pela velha
Ponte do Burgo, que o mesmo é dizer ... no
Caminho Português. Na primeira parte da
Xira ... desenhei alguns olhares sobre a
Variante Espiritual.
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Pontevedra, 01.08.2024, 16h30 - Os Caminheiros vieram ao
Caminho Português...
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Mas a nossa entrada em
Pontevedra ... teve uma aventura bem digna
de um telejornal da CNN... 😂:
Idealizara deixarmos o autocarro no parque do Pavilhão dos Desportos, junto ao
Lérez e à Ponte do Burgo ... mas o nosso motorista dispôs-se a deixar-nos mais no centro, junto
ao Convento de S. Francisco e, portanto, não muito longe da
Virgem Peregrina ... e pediu-me para o ir orientando pelo Maps.
Orientar orientei ... até ao ponto em que o autocarro já não se conseguia
dobrar ao meio para virar. Solução (proposta por um solícito habitante local):
chamar a polícia para poder recuar e sair dali.
E não só recuámos (depois de "limpar" a fila atrás de nós) ... como a polícia
fechou o trânsito em duas ruas ... para nos pôr a circular em sentido
proibido!!! Havia de ser em Lisboa... 😏
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E, perto de Padrón, o Sol põe-se para o primeiro dia de
andaina
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"Acampados" perto de
Padrón nas duas primeiras noites, dali
subimos ao
Mosteiro de Santa María de Armenteira. Não subimos a pé ... mas descemos a pé, pela fabulosa
Ruta da pedra e da auga, o primeiro banho de Natureza desta actividade. Já na parte final,
misturámo-nos com os fantasmas de pedra da
aldeia labrega. Em galego, a
palavra
labrego não tem a conotação pejorativa que muitas vezes se lhe
dá em português; os
labregos são, muito simplesmente, os aldeões, os
camponeses.
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Mosteiro de Santa Maria de Armenteira, 02.08.2024, 09h25
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Ruta da pedra e da auga ... a magia da Natureza
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O autocarro recolheu-nos antes do Rio
Umia, para nos levar a
Vilanova de Arousa. Os olhares sobre a
Variante Espiritual
continuariam lá. Para além das belíssimas paisagens da Ria, das praias e da
vila, onde aliás almoçámos ... às quatro da tarde embarcávamos para a
Ruta Traslatio, a única
Via Crucis marítimo-fluvial do Mundo. No ano 44 dC, o
Apóstolo Santiago foi decapitado em Jerusalém, por ordem de Herodes. Reza a
história (ou a lenda) que então os seus discípulos roubaram o corpo e
carregaram-no numa barca de pedra que, guiada pelos anjos e por uma estrela,
foi conduzida à desembocadura do
Rio Ulla, precisamente a Ria de Arousa. A
Ruta Traslatio pretende assim
recriar a chegada à Galiza do corpo de Santiago, depois do seu martírio em
Jerusalém, subindo a ria e depois o Rio
Ulla, até ao porto de
Pontecesures, próximo de
Iria Flavia (a actual
Padrón), onde a barca teria aportado. Foi a terceira vez que a subi e que
acompanhei Santiago ... já que até o próprio timoneiro se chama Santiago.
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Vilanova de Arousa, 02.08.2024
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Ruta Traslatio, subindo o Rio Ulla: a Via Crucis, as Torres de Catoira e barcos vikings
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Uma hora e quarenta depois, desembarcávamos em
Pontecesures
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Eram quase 18h00 quando desembarcámos em
Pontecesures ... e
continuámos a pé até
Padrón,
misturando-nos com os peregrinos. Debaixo do altar da Igreja de Santiago
encontra-se o
pedrón, a pedra a que supostamente foi amarrada a barca
que transportava o corpo do Apóstolo;
pedrón deu origem ao topónimo
Padrón. E no jardim em frente à Igreja ... apetece-me sempre cantar "
Adios rios, adios fontes", com Amancio Prada e a grande Rosalía de Castro, falecida em Padrón em
1885.
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E chegamos a Padrón e à Igreja de Santiago, com o
pedrón que lhe deu o nome
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O autocarro esperava-nos em
Padrón, mas o
regresso ao
Hotel Scala
era curto ... e de lá saímos na manhã do dia seguinte para recordar /
reViver
Santiago de Compostela, em dia quase inteiramente livre.
Este "gasparito" … passou algum tempo, como sempre, sentado no chão do
Obradoiro, a ver chegar peregrinos … a reVer e a Sentir as emoções do Caminho nas
expressões de muitos deles...
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Santiago de Compostela
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... cidade Viva ... cidade mágica!
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Catedral, Praça da Quintana,
Igreja de S. Francisco ... um pulsar de que nunca me
cansarei...
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A meio da tarde deixávamos
Santiago para trás e para sul. Estávamos
agora a caminho da segunda parte desta actividade estival. A
xira, ou
andaina galega, continuaria ... nas terras do
Eume.
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