terça-feira, 4 de agosto de 2020

Uma noite de avós e neta, na magia das Fontes Lares

... em noite de Lua cheia, no alinhamento de Saturno e Júpiter

 
Há exactamente um ano, vivi uma melodia entre avô e netas nestas minhas terras de Vale de Espinho.
Entre o Vale da Maria e a Pelada,
Vale de Espinho, 5.Agosto.2019
Curta, um mero final de tarde, uma noite de todas as estrelas e o início da manhã seguinte, mas aquela foi uma das autonomias mais maravilhosas que já vivi, entre o Vale da Maria e o Cabeço da Pelada. Foi vivida a três ... eu e as minhas duas netas, na altura com 11 e 9 anos. Um ano depois, vivi nova pequena/grande autonomia a três ... desta vez também com a minha estrela arraiana e avó das minhas netas e netos ... só com a Sofia, a mais nova, agora com 10 anos; a Catarina ... preferiu o aconchego da casa 😊.
O local ... as minhas mágicas e místicas Fontes Lares. E ... em noite de Lua cheia, ainda em alinhamento com Saturno e Júpiter ... numa ligação mágica entre a Terra e o Céu ... entre o passado e o presente. Nos pés ... as botas com as quais o ano passado saí de Vale de Espinho ... e que hoje lá deixei; mas estas não são umas botas quaisquer ... são "só" as botas que, no ano passado, me levaram a pé de Vale de Espinho a Santiago de Compostela. Sim ... para mim Vale de Espinho foi e é ... Caminho de Santiago.

Subida de Vale de Espinho ao Areeiro e à Có Pequena, 03.Ago.2020, 18h30
E chegamos às Fontes Lares, 18h45 ... o "santuário" das minhas terras de Vale de Espinho
A caminhada tinha sido curta, uns simples 4,2 km, embora sempre a subir ... o que para a minha "velha" companheira da Vida tem de ser feito a uma velocidade muito moderada. Pouco depois das sete e meia estávamos a atravessar o lameiro que antecede aquele lugar abençoado ... e a minha "velha" estrela recebeu ainda do barroco "sagrado" a energia telúrica que dele emana. Montar a tenda, ao lado do barroco ... levou dois segundos ... um "pouco" menos do que hoje para a desmontar... 😜
Água que brota da terra
... água sagrada...
Acampamento nas Fontes Lares ... preparando a noite de autonomia de avós e neta 😊
A noite de autonomia foi escolhida propositadamente para a noite de Lua cheia, alinhada com Saturno e Júpiter. As aplicações Stellarium e LunaSolCal permitiam saber não só a hora exacta do nascer da Lua como a posição exacta em que nasceria no local onde estávamos. Mas ... no azimute 117,5º havia árvores ... além da serra a nordeste das Fontes Lares ... onde há uma semana eu tinha visto o nascer do Sol. Por isso ... às 21h00 não havia ainda Lua ... e ficámos à espera de a ver elevar-se. O barroco "sagrado" foi o nosso palco, recolhendo de quando em vez à "casa" em que íamos passar a noite.
À espera da Lua cheia

Posições da Lua, Saturno e Júpiter para as Fontes Lares,
03.08.2020, 21h (Apps LunaSolCal e Stellarium)
Quase uma hora depois de nascer, a Lua eleva-se por detrás da ramagem do carvalho "sagrado" das Fontes Lares

A Lua, para a posição das Fontes Lares (App Stellarium)
Os sons da noite embalaram-nos naquele chão sagrado. Só o ruído das eólicas se somava à música dos ramos e do vento. Nada nem ninguém incomodou a nossa entrega. Aos curtos despertares dos avós ainda no reino das sombras, seguiu-se o despertar já com a luz de um novo dia.
04.Ago.2020, 6h32 ... o Despertar dos Mágicos
O Sol acabara de nascer, mas não estávamos em posição de o ver. O pequeno almoço, frugal, foi "servido" ainda na "cama" 😄
Calcei as sandálias que tinha trazido junto com a tenda. As botas que na tarde anterior me tinham levado às Fontes Lares ... fizeram a sua última viagem. Foram as primeiras Bestard a juntarem-se aos dois pares de Meindl que há alguns anos dormem nas ruínas da velha casa que um dia conheci de pé. Mas, como disse no início ... estas não são umas botas quaisquer ... são as botas que, no ano passado, me levaram a pé de Vale de Espinho a Santiago de Compostela, depois de, há dois anos, terem percorrido o Caminho Central Português. Mais do que quaisquer outras ... estas botas tinham de ser entregues às terras de Vale de Espinho ... ao meu santuário.

Minhas botas, velhas, cardadas
...
que já palmilharam léguas sem fim...
Na sombra das ruínas, das giestas e do Tempo ... jazem três pares de botas e um par de bastões...
Eram oito horas quando deixámos as Fontes Lares. Como nunca gosto de regressar pelo mesmo caminho, rumámos a sul, atravessando o campo de mariolas com que, há uns anos, assinalei aquele percurso. Uma hora depois passávamos junto a Castelo Velho e ao Ribeiro da Presa, quase sem água.

Regresso a Vale de Espinho, por Castelo Velho e o Ribeiro da Presa
Para trás ficava mais uma "aventura" ... para uma neta contar aos netos...
Ainda não eram nove e meia estávamos de regresso a casa. A tenda, armada ao Sol no quintal, fez as delícias do neto mais novo, dois anos a caminho dos três. Pode ser que, um dia ... ele saia à irmã no gosto pela Natureza, por andar a pé, pela vida ao ar livre...

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