4 de Setembro, 6ª feira, 8:00h. Estávamos ainda nos nossos "apartamentos" no "
Les Mouflons", a 3200 metros de altitude ... mas o nosso encontro com o
Toubkal estava a terminar.
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4 de Setembro, 9:45h ... e o Refúgio tinha ficado para trás... |
A uma hora um pouco mais tardia do que nos dias anteriores, começámos o regresso, do qual a primeira etapa era a descida para
Imlil. O caminho era já nosso conhecido, mas cada instante, cada hora do dia, cada sentido, dá-nos uma perspectiva diferente, um espectáculo diferente. À hora a que descíamos, cruzámo-nos com os rebanhos de cabras que todos os dias sobem e ao final do dia descem. Parecendo sozinhas e conhecendo a montanha como ninguém, o som latia como uma melodia. E os nossos olhos perdiam-se no horizonte, nos rebanhos, na cordilheira, nas caravanas de mulas, na Lua, no Sol. Mas os nossos olhos e preocupações perderam-se também, por momentos, num infeliz pequeno acidente de percurso. Uma queda originou uma contusão numa face. Nada de muito grave, felizmente. Na mochila do Nuno, a
Outside tinha o necessário para o curativo, secundado pelo nosso "enfermeiro de serviço".
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E os nossos olhos perdiam-se no horizonte,
na Lua, nas cabras que pastavam...
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Pouco depois do meio dia estávamos de regresso a
Sidi Chamharouch. Uma enorme pedra de que na subida tínhamos assistido às manobras de deslocação, à força de braços e de alavancas, já tinha criado um novo patamar. Talvez o santo berbere tenha dado uma ajuda...; aliás, de Sidi Chamharouch para baixo, fomo-nos cruzando com uma autêntica peregrinação rumo ao marabout da pedra branca. Novos, velhos, elas de face destapada ou coberta pelo véu, de ténis, de sapatinhos ... ou até de chinelos de enfiar no dedo, a peregrinação naquele início de tarde de sexta feira era bem grande.
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De regresso ao Marabout de Sidi Chamharouch |
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Descendo e subindo do vale, homens e |
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mulas, rumo a Sidi Chamharouch |
Pouco depois da uma e meia estávamos no leito seco do
Tizi n'Ouagane e à vista de
Aroumd. A aldeia parecia-nos imponente, na perspectiva e na hora diferente da que a víramos três dias antes.
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Pelo leito quase seco do Tizi n'Ouagane, entramos em Aroumd |
À hora a que passámos em
Aroumd havia pessoas, havia crianças de corrida rápida e sorriso sincero. Sim, aqui os sorrisos são sinceros, aqui sente-se vida. Miúdos que brincam com uma pequena bola de ténis, num campo improvisado, felizes na ignorância do mundo para lá do deles, divertindo-se na pureza do momento. Em
Aroumd compro uma
t-shirt por 40 dirhams (menos de 4 €), com a pirâmide do Toubkal estampada e caminheiros subindo os 4167m. Preço negociado; não negociar é ofensa.
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14:00h ... e temos Imlil à vista |
Às duas e meia estávamos de regresso àquela que tinha sido a base da nossa aventura. Mas
Imlil fervilhava agora de gente, num inusitado movimento que viemos a saber que se devia às
eleições locais e regionais em Marrocos. Durante os quatro dias do
trekking tínhamos estado desligados da grande aldeia global que é hoje o mundo. Felizmente ou infelizmente, a rede WiFi do "nosso"
Riad Imlil pôs-nos de novo em contacto com a rede global ... e pouco depois estávamos a partir rumo a
Marrakesh.
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Imlil, 14:30h - Regressámos à base desta aventura |
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15:40h - Em Asni ... dizemos adeus ao Toubkal e à Cordilheira do Atlas, ao fundo! |
Chegamos a
Marrakesh pelas quatro e meia. Continuamos no "
Hotel du Tresor", mas em instalações diferentes das de onde ficáramos dias antes. As bagagens de que não necessitámos na montanha já lá estão ... as que trouxemos da montanha vão de carro de mão. E ali estávamos de novo, na parafernália daquela cidade fervilhante, onde igualmente passaríamos todo o dia seguinte.
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Marrakesh, 16:30h - Transfer de bagagens... |
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19:40h - Vamos jantar de novo sobre Jemaa el Fna |
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E, à noite, Marrakesh continua a fervilhar de gente |
O último dia foi livre. Juntámo-nos para almoçar e jantar. Passeámos pela medina e pelos
souks ... gastámos os últimos dirhams. Trouxemos presentes para as famílias e para nós próprios, mandámos cunhar pulseiras e placas com a nossa aventura: "
Toubkal, 4167m, 3-9-15"...
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5 de Setembro: deambulando no mundo da |
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medina e dos souks de Marrakesh |
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Cunhando uma pulseira muito especial... |
Como referi no
artigo introdutório desta série, os berberes dizem que o
Toubkal é o ponto mais próximo de Deus a que podem chegar. O
جبل توبقال ... é "
aquele que nos observa do alto". Para os berberes, a subida ao cume do Toubkal é um objectivo, um Caminho ... um
Caminho cuja concretização a "minha" gralha de bico amarelo festejou, lá no alto dos 4167 metros onde a Terra dá lugar ao Céu.
Às pulseiras e símbolos do meu
Caminho de Santiago, do "
Caminho da Aventura", juntei por isso pulseiras e símbolos berberes ... símbolos deste meu
Caminho do Toubkal. Tê-lo feito com os meus "Irmãos" Cristina e Zé Manel ... foi sublime. Tê-lo feito com a Dina, a Anabela, a Luísa, o Arménio, o Vicente, o Miguel e o André ... foi cimentar e consolidar uma amizade e uma ligação criada noutras "aventuras", noutros trilhos, noutras terras ... noutras fragas. Quem sabe, um dia, os Caminhos venham a transformá-los igualmente em "Irmãos"...! Curiosamente - ou talvez não - acabo de escrever esta crónica e estas linhas quando um outro Irmão, o meu Irmão António Araújo ... acaba de chegar a
Santiago de Compostela, em mais um dos seus múltiplos Caminhos, desta vez o Caminho Primitivo, acompanhado por amigos que provavelmente já serão ... mais uma sua Irmã e Irmãos...
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6 de Setembro de 2015, 6:30h - Vamo-nos despedir de Marrakesh, ainda adormecida |
Ter feito este
Caminho do Toubkal com o Nuno e a
Outside, foi também um privilégio. Mais do que guia, o Nuno foi desde a primeira hora mais um elemento da equipa, mais um amigo do grupo que se "aventurou" em terras berberes. Pequenas sugestões e ajustes no programa delineado poderão eventualmente melhorá-lo em futuras edições, mas a
Outside está sem dúvida de parabéns pela qualidade do serviço e pela dedicação que sentimos desde as primeiras reuniões.
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10:08h - Adeus terra marroquina... |
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Sobre a Lagoa de Albufeira |
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10:58h - Tejo à vista |
Um voo matinal trouxe-nos de regresso daquele outro mundo que deixámos para trás. Num tempo e num mundo tão conturbado como é o nosso mundo actual ... oxalá Marrocos consiga manter-se afastado do terror e da barbárie que grassam por tantas outras regiões. O povo marroquino merece-o, a simpatia, a afabilidade daquela gente simples justifica-o. Tantos de nós temos tudo mas nada fazemos; muitos deles nada têm e fazem tudo! De certo modo ainda lá estou, com eles e com os meus companheiros de aventura. Trago-os a todos na memória, nas coisas óptimas, nas gargalhadas, nos sorrisos, nas contemplações. De certo modo ainda estou na montanha, nas pedras, na terra, nos corações das pessoas e dos animais que nos receberam, estou nas árvores e na água, nos cheiros e no silêncio. Parte de mim ficou lá ... parte daquele mundo veio comigo. Veio comigo a imagem de um tocador de rua em Marrakesh, veio comigo o arrependimento de não lhe ter comprado a ele um CD que seguramente seria bem melhor do que aquele que os meus receios me levaram a comprar numa loja "oficial". Vieram comigo os habitantes das aldeias berberes, de Imlil, de Aroumd. Vieram comigo as crianças, os caminhantes, os carregadores de bagagem, as mulas, as árvores, os pássaros. Veio comigo a gralha de bico amarelo que "falou comigo" no cume do Toubkal. A ela e a todos ... obrigado ... porque primordial é viver o presente, não deixando que ele vá passando e o vamos perdendo, perdidos entre o que já vivemos e o que não sabemos se vamos viver.
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Lisboa, Aeroporto da Portela, 11:30h ... e o "outro mundo" ficou para trás... |
3 comentários:
Uma fantástica aventura e bem reportada. Parabéns.
Gostei do que vi e do que li!
Senti uma imersão na Natureza, no silêncio e naquelas gentes e nos seus mundos!
Parabéns pelo projeto, pela sua concretização e pela autenticidade das reportagens!
Até à próxima...
Grande aventura...gostei muito de fazer a viagem virtual, belas fotografias,expressões e texto....parabéns a todos..... belo trabalho de reportagem....um abraço
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