quinta-feira, 17 de maio de 2012

As águas que correm para o Coa (1)

Depois da seca do inverno de 2011/2012, as chuvas de Abril vieram felizmente dar vida às minhas terras raianas, como já transmiti no texto e fotos do último artigo. E, precisamente, a vida que vim encontrar nos campos e lameiros, nestes dias que tenho passado em Vale de Espinho, deram-me o mote para um novo projecto pedestre: depois da descida pedestre do Côa, no concelho do Sabugal ... porque não lançar-me na senda das águas que correm para o Côa,  percorrendo o mais possível as linhas  de  água
Foios - Lameirão: o lençol freático de que se origina o Côa
e alguns dos seus primeiros afluentes
que o alimentam, as barrocas, as ribeiras e ribeirinhas que, com mais ou menos caudal, fazem dele o grande "Rio Sagrado" que se lança para norte, rumo ao Douro?
Da ideia à acção mediou pouco. Em três dias, 13, 14 e 15 deste mês de Maio, percorri mais de 30 km de serra, de lameiros, de prados viçosos, por vezes saltando muros ou divisões aramadas, por vezes afastando o mato para progredir. Naturalmente, comecei a "missão" na Serra das Mesas, berço do Coa e da maioria dos seus primeiros afluentes. Sendo embora a nascente "oficial" do Coa já na vertente norte da serra, a origem destas águas é seguramente o grande lençol freático sob o Lameirão dos Foios, origem também do rio "gémeo" do Coa, o Águeda. Dali vertem diversas linhas de água, particularmente para  sudoeste,  concorrentes  para
13.05.2012 - Na base do Cabeço dos Currais, este primeiro e singelo
afluente desagua no Coa, ele próprio ainda jovem e singelo
os dois primeiros afluentes dignos de menção nas cartas topográficas, os ribeiros do Colmeal e Picoto.
Em dia de aniversário das aparições de Fátima, na primeira destas três jornadas limitei-me contudo a pesquisar as primeiras águas cartografadas. Vindas da encosta próxima da própria nascente do Coa, o primeiro fio de água junta-se-lhe na margem esquerda, na base do Cabeço dos Currais. O próprio cabeço, que domina os Foios a nordeste, é também ele origem de algumas destas incipientes águas, antes mesmo do Coa se precipitar para o Prado da Barrosa. Dos lados do Cabeço Vermelho e da Rodeira também vêm outras pequenas linhas, que juntam a sua muito pouca água à margem direita do Coa, na grande curva do rio a norte da Barrosa.
13.05.2012 - Na base do Cabeço dos Currais, de onde descem duas outras linhas de água na margem esquerda do Coa
Foi por um afluente da margem direita que comecei a ronda do dia 14: o ribeiro dos Prados. Saindo dos Foios pela rua a que o ribeiro deu nome, os prados sucediam-se efectivamente, à medida que subia o vale deste já mais caudaloso ribeirinho, em direcção ao Vale Covo e ao Malhão dos Foios.
14.05.2012 - Ao longo do Ribeiro dos Prados
14.05.2012 - Vale Covo
A atender à cartografia, na sua fase mais jovem o ribeiro dos Prados toma a designação de Barroca da Égua, na encosta sul da Serra Alta. E foi a encosta da Serra Alta que a seguir desci, agora ao longo de nova ribeira, ainda sem direito a nome, que passa sob a estrada dos Foios a Aldeia do Bispo e alimenta o extenso e fértil Prado da Barrosa.
14.05.2012 - Descendo a encosta da Serra Alta, rumo à Tapada Grande
14.05.2012 - Prado da Barrosa
Contornando a Barrosa e a grande curva do Coa, aos pés da antiga casa florestal da nascente, subi de novo o Cabeço dos Currais, agora do lado poente, com o objectivo de descer o curso da Ribeira do Colmeal, que dele desce para os Foios. E ali encontrei mais troços lindíssimos ... mas que me obrigaram a um quase sucessivo saltar de muros e arames.
14.05.2012 - Ao longo da Ribeira do Colmeal
Foios, 15.05.2012 - Início de mais uma jornada na senda das águas que alimentam o Coa. Hoje éramos 3 "exploradores"
Cabeço dos Currais marcaria ainda o início da terceira jornada. Saindo pela Sortelha dos Foios, subimos a vertente oeste, onde uma simpática raposa parou por momentos a olhar-nos, curiosa. Voltámos a passar junto à nascente da ribeira do Colmeal, mas cruzámos também uma singela linha de água que, vinda do Lameirão, ajuda aquela ribeira a descer mais caudalosa para os Foios. E era precisamente para o Lameirão que nos dirigíamos, já que dele partem várias linhas de água que ajudam a formar a Barroca do Centieiral, afluente do Ribeiro Picoto, o primeiro afluente permanente do Coa na sua margem esquerda.
15.05.2012 - Vertente oeste do Cabeço dos Currais: começam os paraísos!

Estas águas correm para o Ribº do Colmeal
15.05.2012 - A caminho do Lameirão
No Lameirão dos Foios ... com Vale de Espinho à vista
Atravessando o Lameirão no sentido norte / sul, não podíamos deixar de ir contemplar a panorâmica das terras estremenhas que se avista da antiga Caseta de Carabineiros. Destas vertentes correm aliás também águas para os vales férteis de Sobreiro e Pesqueiro.

15.05.2012 - Do Lameirão, águas abaixo, rumo à Barroca do Centieiral e ao Ribeiro Picoto
Antiga Caseta dos Carabineiros, no Picoto da raia, vertente estremenha; já aqui vi nascer o Sol, em Dezembro de 2005
Almoçados na Caseta de Carabineiros, o destino seguinte era o Cancho Sozinho, passando pelo barroco que foi "rachado" pela fronteira. Depois, descemos o caminho que acompanha a Barroca do Centieiral, até onde esta cruza a do Cabeço do Brejo ... onde voltámos a subir, agora para as origens da Barroca do Lodeiro, vinda esta última das alturas da Pedra Monteira.
O barroco que foi "rachado" pela fronteira
Com um pé em Espanha e outro em Portugal...
15.05.2012 - Barroca do
Centieiral, ou das Centieiras


As Barrocas do Centieiral e do Lodeiro juntam-se, a norte do Cabeço do Brejo, para formarem o Ribeiro do Picoto, que lança as suas águas no Coa muito próximo da foz da Ribeira do Colmeal. Ao descer a Barroca do Lodeiro, o estalar do mato fez-me pensar que tínhamos assustado algum javali, mas o que atravessou o caminho, descendo vertiginosamente a ladeira, foi uma ágil e imponente corça! Já tínhamos ganho o dia! Na mesma jornada pedestre vimos uma raposa e uma corça!
Descida do vale da Barroca do Lodeiro
Corça (Capreolus capreolus) (foto de www.digitalphoto.pl)
Barroca do Lodeiro
A etapa final desta primeira fase da descida das águas que alimentam o Coa foi ao longo do Ribeiro Picoto, proveniente da junção das duas barrocas. Sucediam-se os prados verdejantes, as piscinas naturais de águas cristalinas, convidativas à contemplação e ao descanso. Muito próximo já dos Foios e da foz da ribeira do Colmeal, que havia descido na véspera, o Ribeiro Picoto lança-se no Coa junto a uma açude de beleza ímpar, uma imagem de calma que só a Natureza nos transmite!

15.05.2012 - O Shangri La na confluência das barrocas do Lodeiro e do Centieiral
Ao longo do Ribeiro do Picoto
15.05.2012 - Açude junto à foz do Ribeiro do Picoto no Coa
Estas três jornadas pelos ribeiros e ribeirinhos que constroem o Coa ... vão ter seguramente continuidade. Amigos dizem-me muitas vezes ... "tu já conheces tudo nestas paragens!". Nada de mais errado. Nestas três jornadas descobri cantos e recantos paradisíacos, onde nunca tinha estado, prados convidativos à introspecção, à meditação, à entrega à Natureza ... claustros "onde possamos escutar o silêncio e os murmúrios vindos das profundezas da nossa consciência!"
Ficam os percursos efectuados nesta primeira fase da descoberta das águas que formam o Coa ... e o álbum completo das respectivas fotos.



2 comentários:

hp disse...

Vi por aqui fotos fantásticas e pasme-se vi o Espigal de que toda a vida ouvi falar ( a quinta era do meu avô Florentino) mas que nunca tinha visto, nem em foto. Curioso.
De resto vou ter que fazer uma verdadeira caminhada por este blogue.
Parabens e um abraço

José Carlos Callixto disse...

O Espigal é uma das zonas mais bonitas da serra e tem aquela que eu considero a melhor água da zona. Quando se proporcionar terei todo o gosto em te ir mostrar ... a quinta do teu avô Florentino.
Um abraço.