Vale de Espinho ... a minha aldeia adoptiva! Desde que, há quase
20 anos, fizemos "
Um doloroso regresso a Vale de Espinho...", o final de Outubro e início de Novembro passamo-lo sempre nestas terras
que também são minhas, nestas terras que adoptei e me adoptaram há quase meio
século. O Dia de Todos os Santos leva-nos a passar, nesta altura, uns dias
antes e uns dias depois neste nosso retiro que em boa hora construímos ... e
leva-me particularmente a mim às minhas "fugas", à minha catarse.
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26.Out.2022, 10h45 - Seria eu um duende? Ou um simples mortal,
extasiado neste reino mágico?...
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Desde dia 25 no nosso retiro raiano ... a chuva que toda a noite caiu não me
desencorajou de, logo no dia seguinte, ir ver as "minhas" terras, sequiosas de
água! E onde fui de manhã, em primeira catarse, sozinho, no meio da chuva e do
nevoeiro? Às
Fontes Lares, o meu "santuário", entre as pedras, os
carvalhos, as nascentes ... entre as ruínas da velha casa que há 50 anos ainda
conheci de pé ... lá...
"nas terras de onde se contam velhas lendas, quase negras ... por trás do
monte onde nasce a lua cheia"...🏡
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O nevoeiro não era nem ténue, nem espesso ... parecia ter
personalidade própria ... misticismo ... magia...
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Nascente das Fontes Lares ... lá, "onde os rios ainda são apenas fontes"...
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Qual andarilho a caminho "dos montes que medem o céu", em menos de uma
hora estava nas Fontes Lares. Os lameiros rejubilavam de vida, e até o
"barroco sagrado" transpira e brilha! E naquele reino de magia ... envolvida
pelas cores, pelo nevoeiro, pela chuva ... surge a casa das
Fontes Lares ... que um dia ... há quase 50 anos ... ainda conheci de
pé, com Alma ... com Vida.
Seguramente que o meu barroco sagrado é a
Fraga que o
Sebastião Antunes canta ... quando nos fala "
das bredas feitas à sorte pelas vidas de quem canta" ... quando nos diz que "
na encruzilhada onde piam as corujas, o demo deixou perdidos mil segredos
... junto à fraga..."
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Casa das Fontes Lares, 11h05 ... ou estaria eu a Viver um dos
contos fantásticos de Tolkien?
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Em
Março de 2014, as ruínas da velha casa hoje sem tecto passaram a ser o meu "santuário" ...
o local que escolhi para as "
minhas botas, velhas, cardadas", que
palmilharam "
léguas sem fim"...
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O meu "santuário", no interior das ruínas da velha casa das
Fontes Lares. Mas à esquerda, do par mais antigo das
minhas velhas Meindl ... só estava uma... 😥
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"𝘖𝘯𝘥𝘦 𝘦𝘴𝘵𝘢𝘳𝘢́ 𝘢 𝘮𝘪𝘯𝘩𝘢 𝘨𝘦́𝘮𝘦𝘢?" ... parecia-me ouvir dos "lábios"
desta velha companheira de tantas aventuras...
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"𝘖𝘭𝘩𝘢 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘣𝘢𝘪𝘹𝘰", respondeu a gémea ... "𝘌𝘴𝘵𝘰𝘶 𝘢𝘲𝘶𝘪, 𝘦𝘯𝘤𝘩𝘢𝘳𝘤𝘢𝘥𝘢 𝘦
𝘧𝘳𝘪𝘢, 𝘯𝘰 𝘤𝘩𝘢̃𝘰 𝘱𝘢𝘳𝘢 𝘰𝘯𝘥𝘦 𝘢𝘴 𝘪𝘯𝘵𝘦𝘮𝘱𝘦́𝘳𝘪𝘦𝘴 𝘮𝘦 𝘦𝘮𝘱𝘶𝘳𝘳𝘢𝘳𝘢𝘮!"
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11h30 - Entretanto recomeçou a chover ... regressei pelas Guisias. Mas
depois ... os deuses não quiseram que eu apanhasse mais chuva... 😍
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Como todas as histórias têm as suas estórias ... a caminhada / catarse às
Fontes Lares também teve a sua. Apesar da chuva, naturalmente eu contava ir e
vir a pé; não contava aliás ver viv'alma. No regresso vim pelas Guisias; para
minha admiração, vi uma carrinha, mas naturalmente que continuei a pé; no
entanto, quando a carrinha passou por mim ... parou. "𝘌𝘯𝘵𝘢̃𝘰 𝘲𝘶𝘦 𝘢𝘯𝘥𝘢 𝘢
𝘧𝘢𝘻𝘦𝘳?", perguntou-me uma senhora no lugar do pendura; apesar de encapotado e
debaixo de chuva, reconheceu-me! "𝘌𝘯𝘵𝘳𝘦 𝘭𝘢́, 𝘤𝘰𝘮 𝘦𝘴𝘵𝘦 𝘵𝘦𝘮𝘱𝘰 𝘷𝘢𝘪 𝘤𝘩𝘦𝘨𝘢𝘳
𝘦𝘯𝘤𝘩𝘢𝘳𝘤𝘢𝘥𝘰!" ... e eu não consegui rejeitar a proverbial cordialidade raiana.
E lá vim na carrinha desde as Guisias, devagar como impõe a dureza do caminho
... sempre a conversar com a "Maria do Xico". "𝘕𝘢̃𝘰 𝘴𝘰𝘶 𝘥𝘦 𝘤𝘢́, 𝘮𝘢𝘴 𝘤𝘰𝘮𝘦𝘤𝘦𝘪 𝘢
𝘷𝘪𝘳 𝘢 𝘝𝘢𝘭𝘦 𝘥𝘦 𝘌𝘴𝘱𝘪𝘯𝘩𝘰 𝘦𝘮 1973", disse-lhe ... respondeu-me que então ainda
comecei a vir antes dela! Os pais da minha estrela também vieram à conversa,
claro ... o meu saudoso Zé Malhadinhas, o Vital e o Hermínio, irmãos dele, que
também já viajaram para outras dimensões. Como não hei-de sentir estas terras
e estas gentes como minhas? Estou ligado a elas há mais de 70% da minha Vida!
Obrigado, Universo! 🙏
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28.Out.2022 - Dois dias depois voltava às
Fontes Lares pelos Nheres, regressando pelo Areeiro
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A segunda romagem às
Fontes Lares foi uma romagem ... de colheita
de castanhas e de tartulhos. De castanhas na zona do ribeiro da Presa e
castanheirinhos ... de tartulhos nos lameiros das Fontes Lares. E a colheita
rendeu, como se vê; apesar de os conhecer, os tartulhos passam pela inspecção
da mãe da minha arraiana ... que os aprovou a todos.
No sábado houve magusto em Vale de Espinho ... e, no penúltimo dia
do mês, uma tarde de Sol numa semana maioritariamente de chuva benfazeja
convidou-me a descer ao Côa.
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O Côa no Moinho do Rato, 30.Out.2022, 14h40 - Tem
de chover mais, mas felizmente as águas já correm céleres
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Do Moinho do Rato resolvi subir à
Pelada ... e o
destino escreveu nova estória: de repente vejo um jeep em sentido
contrário, com dois tripulantes, que pára ao pé de mim. Quem sou, quem não
sou, de quem sou, para onde vou ... e depois das minhas respostas veio a
pergunta: "
Você é que é o Zé Carlos Calhistro?". Não corrigi nada ...
apenas confirmei que sou ... e não foi fácil conter a emoção, ao ouvir que há
muito que me queriam conhecer ... que conhecem as minhas andanças por estas
terras ... que admiram a minha paixão e a divulgação que delas faço. O mais
velho dos dois é sobrinho do Narciso ... quem segue este meu
blog já me "ouviu" falar dele ... e das suas cabras nos lameiros e
pastagens do Moinho do Rato. Eles desceram para Vale de Espinho ... eu ainda
ia subir para o
Cabeço da Moura...
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Vale de Espinho vista da Pelada ... e a subida
para o Cabeço da Moura
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No Cabeço da Moura (1076m alt.), 15h30
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Limite Sabugal / Penamacor, a nascente do Cabeço da Moura, com
Vale de Espinho ao fundo
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Entre o Cabeço da Moura e o Cabeço do Passil rumei a norte, descendo a vereda
que conduz à
Fonte Moira e ao
Vale da Maria, maioritariamente a
corta mato e a saltar arames. A Fonte Moira e o Vale da Maria, transformadas
em paraíso pelas chuvas recentes, respiram memórias da "ti Maria Clementa",
mãe do meu saudoso sogro, bem como do também saudoso "ti" Vital, filho dela e
irmão dele... 💐
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A corta mato, pelo meio das giestas, rumo à Fonte Moira
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Fonte Moira ... pedras com memórias...
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Descida da Barroca da Fonte Moira e do
Vale da Maria ... recantos do paraíso...
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Antes das cinco da tarde estava de regresso ao
Côa; com a mudança da
hora para a hora de inverno, o Sol já se escondera atrás da Malcata. A força e
o som das águas na
Açude do Pisão levaram-me a fazer um breve
desvio até lá, desviando também depois à velha ponte "romana" (mais
propriamente medieval), verdadeiro
ex-libris de
Vale de Espinho ... e a precisar de rápidas obras de manutenção.
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O Côa na Açude do Pisão e a montante do pontão
proveniente do Vale da Maria
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E a velha ponte de dois arcos, ex-libris de
Vale de Espinho, 30.Out.2022, 17h00
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aqui
para ver no
Wikiloc
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Pouco depois das cinco da tarde estava em casa, com o dia a declinar. Tinha
feito quase 11 km em menos de três horas. Das
Fontes Lares à
Fonte Moira, nestas três incursões nas "minhas" terras raianas percorri
28 km ... nestes dias pré-
halloween. As tradições do
halloween originaram-se do antigo festival celta das colheitas, o
Samhain, festividade gaélica posteriormente cristianizada pela Igreja primitiva,
dando origem à festa do Dia de Todos os Santos.
Mas a minha aldeia adoptiva ainda nos verá por cá mais uma semana. Quem sabe
nos primeiros dias de Novembro não me lançarei ainda em mais "aventuras". O
futuro é cada vez mais o momento presente...
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