Dois meses depois de termos participado na
rentrée dos Caminheiros Gaspar Correia em Aveiro, os meus "Manos" Vítor e Paula desafiaram um grupo de amigos para um evento
nas terras aveirenses onde residem, para o qual só o título logo convidava a
aceitar: "
Vem ... e traz um amigo também!"
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Junto à antiga Estação CP de Aveiro, 22.Out.2022, 09h40
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O grande rio atmosférico associado à depressão
Armand prometia o
período de chuva outonal com mais impacto dos últimos anos; e ela veio,
assustando até os mais receosos ... mas o programa dos dois dias foi cumprido
na íntegra e, ocasionalmente, o Sol até nos beijou. Pouca chuva apanhámos.
E assim, pouco depois das 9h30 de sábado, com a minha pequena arraiana e os
restantes que responderam à chamada, concentrámo-nos junto à estação de
caminho de ferro de Aveiro, onde os anfitriões lhes deram as boas
vindas e onde o Vítor nos/lhes fez uma primeira apresentação.
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Um belo arco-íris contra o céu de Aveiro, a prenunciar o belo
fim de semana que estávamos a iniciar
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O programa para sábado era um percurso urbano através do centro histórico e
pela zona lagunar contígua à cidade, ponto de encontro do ideal republicano e
democrático. Tal como há dois meses, a visita centrou-se nos muitos elementos
ligados à Arte Nova, às Igrejas de planta centralizada, à História, à
Literatura e, claro, às figuras ilustres de que Aveiro foi berço, como
Fernando Pessa e Zeca Afonso.
Na ria o ar tem nervos. A luz hesita e cisma e esta atmosfera comunica
distinção aos homens e às mulheres…
A luz aqui estremece antes de pousar… (…).
Raul Brandão, "Os
Pescadores"
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E o "programa" de sábado terminou com um convívio entre todos e as
despedidas dos que não ficaram para domingo
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Domingo acordámos ... com o "rio atmosférico" a passar por cima de Aveiro! Do
céu caíam grandes bátegas de água. A caminho da
Murtosa, onde estava
programada a actividade, a chuva continuava a parecer que não nos iria dar
tréguas ... mas à medida que nos íamos aproximando o panorama melhorou
substancialmente ... e chegámos ao
Cais da Bica já sem chuva e até
com algumas abertas!
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Cais do Bico, Murtosa, 23.Out.2022, 09h40 - O dia
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começa e o nosso anfitrião lança-nos à descoberta
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Junto ao monumento ao barco moliceiro, partimos ao longo da ria, rumo
à ribeira de Pardelhas
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Murtosa é o coração da Ria e a pátria dos tradicionais
moliceiros. O
Cais do Bico abre para a zona mais larga da Ria, frente à
Boca do Rio Velho e à zona pantanosa das Veias de Testada. Um belo percurso
litoral ... que fizemos na companhia de um simpático cachorro que decidiu
fazer a caminhada connosco e que baptizámos de ...
Bico. Junto ao
original Café "Farol", já na ribeira de Pardelhas, inflectimos para o
interior, atravessando agora uma zona rural e a sede do Concelho, com a sua
Igreja Matriz, antes dos passadiços e do baloiço do
Cais da Cambeia,
onde regressámos ao litoral.
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Escola Primária da aldeia de Ribeiro
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Igreja Matriz da Murtosa ... e o simpático "Bico" que nos
acompanhou em toda a caminhada
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Passadiços de Cambeia e Baloiço do Cais de Cambeia
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Próximo do Cais do Chegado, no regresso ao ponto de origem
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De regresso ao Cais do Bico, 12h45
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Clique no mapa para ampliar ou
aqui
para ver no
Wikiloc
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Antes da uma da tarde estávamos de regresso ao ponto de origem, com 11,5 km
percorridos ... praticamente sem chuva. A componente pedestre deste fim de
semana estava completada ... mas não a componente de amizade e convívio. Um
almoço no sem dúvida recomendável "
Braseiro do Mar", na
Torreira, fechou as actividades para alguns. Mas para os últimos
resistentes, o Vítor tinha ainda "na manga", também na Torreira, o
Estaleiro e Museu do "Monte Branco", onde fomos recebidos pelo Sr. Vice-Presidente da Câmara Municipal da
Murtosa. O Museu dá a conhecer a importância da construção naval tradicional,
que alimentava a imensa e diversificada frota de embarcações - moliceiros,
mercantéis, chinchorros, caçadeiras, mercantelas - que cruzavam a Ria de
Aveiro, transformada, antes do estabelecimento das grandes vias terrestres, na
verdadeira autoestrada da região, por onde tudo chegava e partia, do moliço ao
peixe, dos materiais de construção ao sal, das pessoas aos animais. E que bela
forma de terminar um fim de semana na Ria de Aveiro!
Que dizer mais, portanto, sobre esta actividade com que os nossos anfitriões
me/nos brindaram? Quando alguém põe paixão e amizade naquilo que faz e por
quem faz ... resulta um dia ou dias de espectacular convivência e
aprendizagem! Tivemos tudo, história, poesia, lendas, natureza, urbanismo ...
e tivemos até a meteorologia do nosso lado. Obrigado, Vítor e Paula, muito
obrigado! Bem hajam 💐
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