domingo, 23 de outubro de 2022

Regresso às águas onde navegam moliceiros e mercantéis...

Dois meses depois de termos participado na rentrée dos Caminheiros Gaspar Correia em Aveiro, os meus "Manos" Vítor e Paula desafiaram um grupo de amigos para um evento nas terras aveirenses onde residem, para o qual só o título logo convidava a aceitar: "Vem ... e traz um amigo também!"
Junto à antiga Estação CP de Aveiro, 22.Out.2022, 09h40
O grande rio atmosférico associado à depressão Armand prometia o período de chuva outonal com mais impacto dos últimos anos; e ela veio, assustando até os mais receosos ... mas o programa dos dois dias foi cumprido na íntegra e, ocasionalmente, o Sol até nos beijou. Pouca chuva apanhámos.
E assim, pouco depois das 9h30 de sábado, com a minha pequena arraiana e os restantes que responderam à chamada, concentrámo-nos junto à estação de caminho de ferro de Aveiro, onde os anfitriões lhes deram as boas vindas e onde o Vítor nos/lhes fez uma primeira apresentação.
Um belo arco-íris contra o céu de Aveiro, a prenunciar o belo fim de semana que estávamos a iniciar
O programa para sábado era um percurso urbano através do centro histórico e pela zona lagunar contígua à cidade, ponto de encontro do ideal republicano e democrático. Tal como há dois meses, a visita centrou-se nos muitos elementos ligados à Arte Nova, às Igrejas de planta centralizada, à História, à Literatura e, claro, às figuras ilustres de que Aveiro foi berço, como Fernando Pessa e Zeca Afonso.

Aveiro, os canais, a Ria, as Igrejas ... como esta, de
S. Gonçalinho, onde tivemos direito a Confrade
O nosso guia e mentor deste belo fim de semana ... lê-nos a lenda dos amores do pescador Ramiro
e da esbelta sereia pela qual se apaixonou
Há flamingos, na zona lagunar e de salinas, contígua à cidade
Igreja de Santiago e Parque Infante D. Pedro
Na ria o ar tem nervos. A luz hesita e cisma e esta atmosfera comunica distinção aos homens e às mulheres…
A luz aqui estremece antes de pousar… (…).
Raul Brandão, "Os Pescadores"          
E o "programa" de sábado terminou com um convívio entre todos e as despedidas dos que não ficaram para domingo
Domingo acordámos ... com o "rio atmosférico" a passar por cima de Aveiro! Do céu caíam grandes bátegas de água. A caminho da Murtosa, onde estava programada a actividade, a chuva continuava a parecer que não nos iria dar tréguas ... mas à medida que nos íamos aproximando o panorama melhorou substancialmente ... e chegámos ao Cais da Bica já sem chuva e até com algumas abertas!

Cais do Bico, Murtosa, 23.Out.2022, 09h40 - O dia
começa e o nosso anfitrião lança-nos à descoberta
Junto ao monumento ao barco moliceiro, partimos ao longo da ria, rumo à ribeira de Pardelhas
Murtosa é o coração da Ria e a pátria dos tradicionais moliceiros. O Cais do Bico abre para a zona mais larga da Ria, frente à Boca do Rio Velho e à zona pantanosa das Veias de Testada. Um belo percurso litoral ... que fizemos na companhia de um simpático cachorro que decidiu fazer a caminhada connosco e que baptizámos de ... Bico. Junto ao original Café "Farol", já na ribeira de Pardelhas, inflectimos para o interior, atravessando agora uma zona rural e a sede do Concelho, com a sua Igreja Matriz, antes dos passadiços e do baloiço do Cais da Cambeia, onde regressámos ao litoral.
Escola Primária da aldeia de Ribeiro
Igreja Matriz da Murtosa ... e o simpático "Bico" que nos acompanhou em toda a caminhada
Passadiços de Cambeia e Baloiço do Cais de Cambeia
Próximo do Cais do Chegado, no regresso ao ponto de origem
De regresso ao Cais do Bico, 12h45
Clique no mapa para ampliar ou aqui para ver no Wikiloc
Antes da uma da tarde estávamos de regresso ao ponto de origem, com 11,5 km percorridos ... praticamente sem chuva. A componente pedestre deste fim de semana estava completada ... mas não a componente de amizade e convívio. Um almoço no sem dúvida recomendável "Braseiro do Mar", na Torreira, fechou as actividades para alguns. Mas para os últimos resistentes, o Vítor tinha ainda "na manga", também na Torreira, o Estaleiro e Museu do "Monte Branco", onde fomos recebidos pelo Sr. Vice-Presidente da Câmara Municipal da Murtosa. O Museu dá a conhecer a importância da construção naval tradicional, que alimentava a imensa e diversificada frota de embarcações - moliceiros, mercantéis, chinchorros, caçadeiras, mercantelas - que cruzavam a Ria de Aveiro, transformada, antes do estabelecimento das grandes vias terrestres, na verdadeira autoestrada da região, por onde tudo chegava e partia, do moliço ao peixe, dos materiais de construção ao sal, das pessoas aos animais. E que bela forma de terminar um fim de semana na Ria de Aveiro!
Que dizer mais, portanto, sobre esta actividade com que os nossos anfitriões me/nos brindaram? Quando alguém põe paixão e amizade naquilo que faz e por quem faz ... resulta um dia ou dias de espectacular convivência e aprendizagem! Tivemos tudo, história, poesia, lendas, natureza, urbanismo ... e tivemos até a meteorologia do nosso lado. Obrigado, Vítor e Paula, muito obrigado! Bem hajam 💐

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