Eu sou lá dos montes
Que medem o céu,
Sou das frias serras onde
primeiro o Sol nasceu
E onde os rios ainda são apenas fontes.
...
(Branquinho da Fonseca)
Ir ver o nascer do Sol não é inédito, particularmente nas minhas terras da
Raia Sabugalense. Mas ver o nascer do Sol no verão obriga a sair de
Vale de Espinho bem cedo; a menos de 5 a 6 km em redor da aldeia
... apenas o veria erguer-se por detrás "dos montes que medem o céu".
Assim ... passavam 5 minutos das cinco da manhã quando saí do meu "refúgio" de
mansinho, rumo a norte, à Serra Madeira e do
Homem de Pedra. À medida que ia subindo, surgiam os alvores de um novo
dia, por entre as sombras da ainda noite, com Vénus a brilhar no céu e como
que a guiar o rumo: nascente.
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Junto ao cruzeiro da Có Pequena, 5h33:
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Pouco acima da
Có Pequena, ainda nas sombras, surpreendo-me com um
bater de grandes asas bem perto de mim ... e outras se lhe seguiram; a minha
passagem tinha pelos vistos despertado 3 ou 4 grupos de grandes rapinas, que
saíram em debandada de dois grandes pinheiros à direita do caminho. A surpresa
e a pouca luz não me permitiram identificá-las, mas pela dimensão só poderiam
ser grifos, habituais mais a sul, na
Malcata, mas que pelos vistos
passam a noite mais a norte.
A tecnologia dizia-me que o nascer do Sol era às 6h23. Deixei à direita o
cruzamento para as minhas sagradas Fontes Lares (irei lá um destes
dias) e continuei a subir, rumo ao parque eólico da
Serra do Homem de Pedra. Uma hora depois da partida e com 5,1 km
percorridos, estava no Cabeço Melhano, a 1152 metros de altitude ... o
meu balcão para o espectáculo grandioso que se aproximava.
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Cabeço Melhano (1152m alt.): ao fundo, à direita, o "meu" Xalmas O
Sol vai nascer no azimute 63º, às 6h23 (apps: LunaSolCal e Locus Map)
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E, à hora marcada, lá estou à espera dele ... nas "frias serras onde primeiro o Sol nasceu"
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O astro rei erguia-se entre as serranias da
Peña de Francia e da
Gata, com o "meu"
Xalmas à direita do quadro natural ... e
por ali estive até às 7 horas, a ver a própria Natureza a acordar.
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A Natureza acorda para um novo dia ... que se prevê bem
quente
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No Verão, estas "
frias serras onde primeiro o Sol nasceu" ... só são
frias até meio da manhã ... e mesmo assim não muito. É impensável,
com mais de 30ºC à tarde, caminhar até mais do que o meio dia, no máximo. Mas
até ao meio dia ... ainda me dava para ir até "
onde os rios ainda são apenas fontes" ... à
Serra das Mesas, berço do Côa. E assim, pela
Serra Alta e
Rodeira e pela base do
Cabeço Vermelho, pouco depois das oito estava no que resta da casa
abrigo da nascente do
Côa.
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Estradão da Serra Alta à Rodeira, 7h40: o
Xalmas espreita, à esquerda, por trás da
Serra das Mesas
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Casa abrigo da Nascente do Côa ... ou o que resta dela,
tristemente abandonada
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Toda esta caminhada a solo foi traçada ao sabor do momento; quando saí de
casa, a única certeza era de ir ver o nascer do Sol ao
Cabeço Melhano.
No regresso a Vale de Espinho, poderia ter seguido as cumeadas Mesas /
Malcata, acompanhando a fronteira, mas há mais tempo que não descia o vale do
Côa. Pouco abaixo da casa abrigo entrei, portanto, na
GR 45, a
Grande Rota do Côa.
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Praia fluvial e parque de lazer dos Fóios, 9h05
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A seguir aos
Fóios, aí sim segui o percurso da
GR 45, pela
Cama Grande e até à
Fontanheira. Depois,
inexplicavelmente a GR sobe de novo a serra, afastando-se do rio, para voltar
a descer pouco depois. Na Fontanheira cruzei o
Côa ... desviei-me
dos caminhos rurais ... segui o curso do rio pelas
Colesmas e
Braciosas ... e na parte final fui pela estrada ... já com o calor a
apertar.
3 comentários:
É, um prazer enorme ler as tuas reportagens! Um abraço
Há muito que leio com muito prazer as reportagens do autor de "Por Fragas e Pragas". Creio que está a contribuir para que as paisagens destes espaços sagrados, onde passei a minha longínqua infância, mantenham em mim e em muitos leitores o mesmo encanto de então. A toponímia sempre referida acrescenta-lhe um interesse maior porque muitos desses "sítios" só agora o localizo. Parabéns e que tenha saúde e força para continuar a deliciar-nos com estes textos magistralmente ilustrados.
Raul Branco e José Cobrado, muito obrigado pelas vossas palavras.
É sempre bom receber o feedback daquilo que escrevo com a mesma paixão com que caminho pelos meus espaços.
Bem hajam.
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