sábado, 15 de outubro de 2016

Nos trilhos das antas de Lousa

No primeiro sábado verdadeiramente de Outono, os Novos Trilhos levaram-me à típica aldeia de Lousa, conhecida pela arquitectura e urbanismo característicos da região saloia.
15.10.2016 - Subida da encosta nascente do vale de Lousa
A ideia foi percorrer alguns dos montes e vales da região, entre os quais o próprio vale da Ribeira de Lousa, o Cabeço de Montachique e o forte/reduto do Mosqueiro, inserido no sistema defensivo das Linhas de Torres Vedras. Era suposto ser um percurso com fantásticas vistas, mas o Outono reservou-nos as primeiras chuvas, logo a abrir a caminhada ... o que fez desistir quase metade dos mais de 50 inscritos ... que perderam belas paisagens, pintadas pelo Sol que intervalava entre o nevoeiro e as nuvens escuras.

Fantástica vista do Moinho dos Valérios sobre o Vale de Lousa
Vista do Cabeço de Montachique para noroeste
O Cabeço de Montachique corresponde a uma das chaminés vulcânicas que constituem o Complexo Vulcânico de Lisboa, formado há cerca de 70 milhões de anos. Este cone vulcânico destaca-se na paisagem, sobretudo pela sua dimensão e altitude (409 metros, ponto mais alto do concelho de Loures). As características do cone vulcânico permitem-nos definir o tipo de actividade vulcânica como do tipo efusivo/misto, dadas as suas vertentes suaves, que testemunham a emissão lenta de lava, ainda que com algumas intercalações de episódios explosivos de pouca violência.

Junto ao Forte do Mosqueiro
Do Forte do Mosqueiro seguimos para nascente, por momentos ao longo da encosta da Ribeira de Ribas, afluente do Trancão, para logo inflectirmos para sul e sudoeste, rumo a Casainhos e Salemas.

Vale da Ribeira de Ribas
O habitual "banana time" foi em Salemas. Ao repararmos melhor, estávamos quase encostados à área de serviço de Loures da auto-estrada A8. Quando se passa na auto-estrada, não se imaginam estas pequenas aldeias rurais, nem muito menos a belíssima envolvência natural da zona. Já debruçados sobre o vale de Lousa, surge-nos o morro verde do Alto da Toupeira e uma autêntica bancada de calcários formando cornija, onde se localiza a Gruta de Salemas, onde foram encontradas indústrias pré-históricas e ossos de fauna quaternária, como ursos (Ursus arctos e Ursus spelaeus), felinos (Felis pardus e Felis pardina), hiena (Hyaena croata spelaea), lobo (Canis lupus), cavalo (Equus caballus), etc..

Cabeço da Toupeira e afloramentos calcários de Salemas
Gruta de Salemas
Seguiu-se a Anta da Toupeira, ou Dólmen de Salemas. É um monumento de dimensão superior aos restantes da zona, mas aparentemente bastante "abandonado". Dos materiais recolhidos desde a sua descoberta salienta-se um vaso de grande dimensão, um bojo, fragmentos de cerâmica, restos de talhe e instrumentos polidos.

Anta da Toupeira,
ou Dólmen de Salemas
Do Alto da Toupeira regressámos à Ribeira de Lousa, descendo um fantástico trilho debruçado para o vale ... para logo subirmos a encosta contrária, originalmente chamada a Encosta da Saúde.
O rumo era agora as imediações da pequena aldeia de Carcavelos, onde se localiza a anta melhor conservada, chamada precisamente Anta de Carcavelos.

Descida do Alto da Toupeira para o vale da Ribeira de Lousa
Na bela cobertura vegetal da Encosta da Saúde
Paisagens bucólicas, a
caminho da Anta de Carcavelos
A Anta de Carcavelos é uma sepultura colectiva megalítica, composta por uma câmara sepulcral de forma poligonal. Está localizada numa zona predominantemente rural da freguesia de Lousa, perto da povoação de Carcavelos, e é um dos vestígios pré-históricos melhor preservados do concelho de Loures. O monumento é constituído por seis esteios de calcário provenientes da região, dos quais cinco fariam parte da câmara e o sexto pertenceria ao corredor. Junto ao monumento existem ainda algumas lages de calcário, uma das quais de grande dimensão que poderia constituir a cobertura da anta.

Anta de Carcavelos... local indicado para a foto de grupo (Foto: Novos Trilhos)
E da Anta de Carcavelos - local simbólico para a foto de grupo - faltava apenas descer de regresso a Lousa e ao ponto de partida. Antes da uma e meia da tarde tínhamos terminado este belo percurso ... acompanhado aqui e ali pelas primeiras chuvas de Outono.
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4 comentários:

Anónimo disse...

Como sempre excelente discrição , quase não precisamos estar presentes, é como se estivéssemos participado. Obrigado. Abraço
Joao J Fonseca

José vaz disse...

Descrição muito completa e apelativa para fazer este trilho. Parabéns.

Anónimo disse...

Como sempre, uma óptima DESCRIÇÃO, com imagens elucidativas dos lugares visitados.
Na verdade, a Natureza não precisa de ser DISCRETA...

NobreLuso disse...

Uma bela DESCRIÇÃO, com imagens a ilustrar a caminhada.
É maravilhoso passar tanto tempo na meio da Natureza, que precisa de ser assim apreciada. Não é necessário discrição...