A previsão meteorológica para estes dias não era famosa, pelo contrário ... mas estávamos confiantes que alguma aberta haveria, que nos permitisse, pelo menos, alguma pequena incursão pela magia das águas, das cores, dos cheiros e das sensações deste cantinho "perdido" à beira do
Alto Côa ... de um Côa que há muito eu não via tão cheio de água e de vida, extravasando as margens, inundando lameiros verdejantes!
"Milagrosamente", as abertas foram maiores do que o previsto, permitindo-me dar a conhecer a esta amiga "tripeira" alguns dos locais mais emblemáticos das terras que um dia, há mais de 40 longos anos, eu adoptei como minhas.
Anteontem, dia 3, começámos pela nascente do
Côa. A velha fonte jorrava feliz, com a força das águas bravias que ali iniciam a sua longa viagem para o
Douro. Mas a chuva e as nuvens baixas não convidavam à exploração da sua Serra Mãe, de cujo ventre brotam igualmente as águas do
Águeda, que acabámos também por ir ver correr nos campos de
Navasfrias.
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... e às terras do Águeda (Navasfrias, Espanha, rio Águeda) |
De regresso a
Vale de Espinho, uma curta caminhada de cerca de 7 km levou-nos da velha
Ponte às águas do Ribeiro do
Vale da Maria, à encosta do
Cabeço da Pelada ... e ao "meu" sempre mágico sítio do
Moinho do Rato, onde o
Côa é agora, mais do que nunca, rei e senhor daquelas pedras "
que não envelhecem", das poldras um dia transformadas em velho pontão, quase galgado neste inverno chuvoso pelas águas impetuosas do nosso "Rio Sagrado".
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Vale de Espinho: a velha Ponte há muito que não via passar tanta água |
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No Moinho do Rato ... água, fonte de vida! |
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Vendo passar as águas ... e "vendo envelhecer estas pedras que não envelhecem" ... |
Já noite, ainda voltámos aos
Fóios a convite de umas belas castanhas e jeropiga ... caindo como que por mágica combinação no pedido cantado e tocado das Janeiras, de porta em porta, como manda a tradição! Valham-nos as aldeias para manter as nossas raízes e a nossa identidade cultural...
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Vamos cantar as Janeiras ... |
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Fotos de: Grupo Cultural e Desportivo de Fóios |
O dia seguinte, ontem ... era um dia a prometer neve acima dos 600 metros de altitude.
Vale de Espinho está a 870 metros...! Muita chuva e vento varreram a noite e a manhã ... mas de neve nem vestígios. E quando, ao almoço, já dávamos por impossibilitada outra incursão para dar a conhecer a "minha" serra à nossa visitante ... eis que os céus se abrem e mostram largos pedaços de azul, intervalados embora por nuvens cinzentas ... enquanto a temperatura descia a uns simpáticos 2,8ºC ... convidativos a um esticar de pernas...! E assim, embora tivéssemos apenas umas três horas de luz pela frente ... eu e a nossa "corredora de montanha", como lhe chamei no
Monte Perdido Extrem, lançámo-nos "à conquista" da
Serra da Malcata...!
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Na Lomba, Vale de Espinho, 4.Jan.2014: um dia a prometer
neve trouxe Sol ... mas também alguns flocos de neve! |
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De vez em quando os céus abriam-se ... para nos mostrar todo o "Circo" das Torres das Ellas |
Na linha divisória das Beiras, junto à antena do
Cabeço Passil ... a neve brindou-nos mesmo com alguns flocos levados com pressa pelo vento forte e cortante que soprava de poente. Mas rapidamente a neve deu de novo lugar a grandes clareiras de céu azul. Do
Coxino, da
Lomba, da
Portela da Arraia, a atmosfera límpida e o Sol iluminavam agora o "circo" que vai da
Serra das Mesas ao
vale do Xálima, passando pelas
Torres das Ellas. Para sul, as colinas ondulantes da
Malcata pareciam mágicas, perdendo-se nas nuvens cinzentas e na neblina que cobriam as terras de
Penamacor.
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Há magia nas colinas ondulantes da Malcata: a Marvana e os seus mistérios recortam-se nos céus do Sol poente... |
Quantas vezes já te atravessei, "minha" Malcata? Quantas vezes me "perdi" nos teus mistérios, nas lendas da
Marvana, sonhando com tesouros escondidos nas míticas galerias que a atravessam, "convivendo" com os "fantasmas" das gentes que viveram na serra e dela dependiam inteiramente, ou com o fantasma do pobre Padre Pedro Picado, pároco de
Valverde del Fresno, assassinado às mãos do bando do
Montejo, depois de ter casado, em segredo, os jovens Fernando e Beatriz.
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Ao fundo estão as Ellas,
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ao Sol das terras extremeñas... |
Para leste, os céus estavam mais limpos e o Sol iluminava a brancura das
Ellas, uma das três "princesas" do
vale do Xálima. E nós continuávamos ao longo da
Portela da Arraia e dos cumes do
Piçarrão, deixando à direita a vereda que desce para
Valverde. Com quase 11 km percorridos em apenas duas horas ... às 16:40h entendemos por bem descer para o vale do
Côa; ainda tínhamos mais de 8 km até casa ... com os céus numa explosão de cores à medida que o astro-rei se recolhia por trás da "minha"
Malcata.
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O céu em explosão de cores... |
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O Côa na Fontanheira: todas as linhas de água são "mares"... |
Pela antiga casa florestal do
Canto da Ribeira descemos à
Fontanheira. Com o Sol a recolher-se e com os autênticos mares de água que correm em todos os campos e lameiros, optei por nos dirigirmos à estrada Foios - Vale de Espinho, já que seria certamente impossível atravessar a
Ribeira das Colesmas e continuar pela margem esquerda do
Côa. E uma hora depois estávamos de regresso a
Vale de Espinho, onde chegaríamos com 19km nos pés, feitos em 3 horas e 23 minutos ... à boa média de 5,6 km/h! Somos ambos, sem dúvida ... bons "andarilhos"...
J! Obrigado Anabela!
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