quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Águas que correm para o Côa (5)

Pelas águas do Prado, dos Urejais e do Alcambar

E ao sétimo dia ... o Sol abriu! Oito dias depois do ano começar, sete dias depois de vir para este meu "retiro" raiano, depois de dias de muita chuva, em que a única excepção foi a tarde em que fiz de "guia" destas "minhas" terras, como descrevi no artigo anterior ... o Sol apareceu em pleno!
Vale de Espinho, 8.1.2014, 10:00h - A Fonte Grande
é alimentada pelas águas do Ribeiro do Prado
E apareceu ... para dar luz e cor aos imensos lençóis de água em que as chuvas transformaram leitos, campos, lameiros, encostas. A Natureza não dorme...
"A Natureza não dorme, apenas repousa dos dias fecundos, e vai, com enlevo, deixando-se regar o chão que virá a acolher novos ninhos, donde irão brotar as nascentes, até que seja hora de, nos dias quentes, eclodirem as sementes e se darem as fontes à sede dos seus filhos; assim façamos nós, para darmos à luz cada sonho no tempo destinado a que ele floresça..."
(Luís Miguel Brandão Vendeirinho)
Assim, num dia de Sol, continuando a saga das águas que correm para o Côa deixada em Fevereiro de 2013 nas águas dos Entremontes, Balsas e Serra Madeira, avancei hoje para as águas que correm das encostas da Serra do Homem de Pedra para a margem direita do Côa, bem como para as que, na margem esquerda, fazem a grande bacia hidrográfica da Ribeira do Alcambar.

Atrás da Fonte Grande, o Ribeiro do Prado alimenta os campos
O Ribeiro do Prado pode-se dizer que atravessa Vale de Espinho, vindo dos lados da Có Pequena, de onde traz as águas que, na Fonte Grande ... prendem os forasteiros que se enamoram das donzelas locais...J. Há mais de 40 anos ... bebi a água da Fonte Grande...
Deixando o velho caminho do Soito à minha esquerda, na Có Pequena segui pelo caminho novo, rumo aos Urejais, onde tantas e tantas vezes já fui ... mas que estava ansioso de ver depois das grandes descargas de água dos últimos dias. O que já tinha visto no Côa fazia prever ... aquilo que vim a encontrar: desde as alturas do Barroco do Sino, ao longo de todo o vale da Ribeira dos Urejais, a Natureza vai realmente, "com enlevo, deixando-se regar o chão que virá a acolher novos ninhos, donde irão brotar as nascentes".

Urejais: o verde e as águas começam...
Urejais: no meio de um caos granítico,
aparentemente construído por deuses enraivecidos...
Dois velhos arraianos conversam eternamente nos barrocos dos Urejais...
Ao longo do vale da Ribeira dos Urejais
A magia da água
Com um reforço alimentar em casa e 8 km nos pés, à tarde a "peregrinação" continuou junto ao Pontão dos Urejais e à Trutalcôa. Há muitas luas que não via o Côa tão vivo e tão "selvagem", de águas bravias correndo céleres e inundando as margens. Chuva benfazeja, 2014 não vai ser seguramente um ano de falta de água nos campos!

A Ribeira dos Urejais extravasa das margens
O Côa entre o Pontão dos Urejais e Vale de Espinho
Do Pontão dos Urejais "saltei" para os campos do Alcambar. A Ribeira do Alcambar é um dos principais afluentes do Côa na área de Vale de Espinho. Do cabeço do mesmo nome, da Moita do Senhor, das alturas do Barroco Branco, do Cabeço da Moura e da Pelada, correm águas que se juntam em íngremes e bravias barrocas, como a Barroca dos Lobos, a Barroca Direita e a do Mustageiro, reunindo-se estas na Ribeira do Alcambar e no mais tímido Regato dos Pradinhos, que por sua vez desaguam no Côa, respectivamente no sítio da Ervaginha e junto ao Moinho do Rato, pouco depois do Regato dos Pradinhos receber também a Barroca das Pedras.

Campos do Alcambar
Memórias perdidas no tempo
Na "selva" das Barrocas Direita e dos Lobos
Barroca dos Lobos ... e um rendilhado de líquenes
Toda esta bacia hidrográfica contribui para a riqueza destas terras, quase permanentemente encharcadas em invernos chuvosos como este. E eu que o diga ... que perdi a conta às vezes que tive de atravessar as ribeiras com água pelos joelhos...J.

Barroca do Mustageiro
Ossos da "profissão"...
17:10h - O dia declina sobre as colinas do Alcambar e dos Pradinhos
Com o dia a declinar, a travessia das Barrocas Direita e do Mustageiro não foram fáceis...! Com as cores do pôr-do-Sol atrás de mim, a "corrida" para o Regato dos Pradinhos e para o Moinho do Rato não permitiu já contudo chegar de dia àquele "meu" lugar emblemático. Mas as cores do crepúsculo, as águas do Côa correndo céleres sobre as velhas poldras - bem mais do que sábado passado - emprestavam, como sempre, àquele local, uma auréola de magia e de permanente atracção.

A magia do Moinho do Rato, com as cores crepusculares...
Com 21 km percorridos, às 6 da tarde que já era noite estava de novo em casa ... para pensar em quais vão ser as próximas "aventuras"...

6ª feira 10 de Janeiro ... na senda do Barroco do Sino

Afinal, dois dias depois ... voltei aos Urejais, agora a dois. A minha pequena arraiana acompanhou-me, aliás as águas daquela ribeira, o vale verdejante, os barrocos que o vigiam, são um dos locais de que mais gosta neste nosso retiro natural. E foram precisamente os barrocos que nos levaram de regresso aos Urejais, ou melhor, um barroco!
No Barroco do Sino, 10.Jan.2014
Há muito que sabia que no meio daquele caos granítico há um barroco "especial", a que os valdespinhenses chamam o "Barroco do Sino". Mas ... qual? As fotos e as indicações de um amigo, filho "biológico" de Vale de Espinho, aliadas ao "milagroso" aparecimento, ao cimo do vale, de outro amigo que vive em permanência na aldeia ... levaram-me finalmente ao Barroco do Sino! Do alto do seu pedestal, aquele mágico bloco de granito parece ter sido escavado pela mão da Natureza ... criando o interior do "sino".

A Natureza escavou o interior do "sino"...
Mas a bela tarde de Sol não se limitou à descoberta daquele mítico barroco: todo o vale dos Urejais era um matizado de cores, brilhos, sensações. E por isso o percorremos com calma, remansando ao som das águas, acompanhando o ribeiro e o velho caminho da Fieiteira.

Vale da Ribeira dos Urejais, a norte do Barroco do Sino, 10.Jan.2014
Ainda há pastores ...J
... pastores de paisagens, de beleza infinita!
Pelo velho caminho da Fieiteira regressámos a Vale de Espinho, nesta tarde de brilhos, cores e sons...
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As terras de Vale de Espinho continuam, mais de 40 anos depois, a revelar-me os seus segredos...

1 comentário:

Zé Domingos Clemente. disse...

Zé Carlos, sem dúvida, imagens que valem milhões, mas que bom visualizar estas lindíssimas imagens . O meu BEM -HAJA.2384