Depois de um primeiro dia bem duro, com mais de 14 horas de jornada, a segunda "etapa" do
Monte Perdido Extrem prometia ser mais suave ... pelo menos na alternativa que a organização nos havia aconselhado: em vez de subir a parede de
Les Echelles - a parede quase vertical à direita da
Cascata de Gavarnie - deveríamos subir ao
Col de Boucharo, ou
Bujaruelo, na fronteira franco - espanhola, e daí subir ao Refúgio de
Sarradets, situado aos pés da mítica
Brecha de Rolando.
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6.07.2013, 7:55h
Refúgio de Espuguettes ... com a Brecha de Rolando à vista |
O dia amanheceu de novo bem limpo ... e à nossa frente estava precisamente a
Brecha de Rolando, do lado de lá do vale de Gavarnie. Ao pequeno almoço, da janela do Refúgio de Espuguettes, conseguíamos ver praticamente todo o percurso que iríamos fazer neste 2º dia. Como a jornada era mais suave ... só saímos às 8 e meia, começando desde logo a descer para o
Plateau de Pailla, a uns escassos 1800 metros de altitude. Lá em baixo, a noroeste, percebe-se já o bulício da turística
Gavarnie; mas nós inflectimos para sudoeste, através de um denso e frondoso bosque, rumo à
Cascata de Gavarnie e à famosa
Hotellerie du Cirque, onde há 4 anos havia estado com os "meus" Caminheiros Gaspar Correia.
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Plateau de Pailla, 1800m alt. |
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Ao longo do bosque do Plateau |
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de Pailla à Cascata de Gavarnie |
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O sempre impressionante Cirque de Gavarnie e a sua Grande Cascade |
Da cascata, tomámos o caminho turístico que leva à vila de
Gavarnie. Como habitualmente, sucediam-se os grupos e famílias em visita àquela que foi uma das primeiras estâncias de montanha da Europa. Atravessámos o
Gave de Gavarnie ... e pouco depois recomeçámos a subir para
Pouey Aspé. O calor apertava ... mas os horizontes iam-se de novo abrindo para o vale, para o imponente Circo e os Picos que o rodeiam, como o
Astazou do qual não passámos muito longe no dia anterior.
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Ao longo do caminho turístico de Gavarnie |
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Gave de Gavarnie |
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Subida ao Plateau de Bellevue e Pouey Aspé |
Ao cruzar o
Gave de Gavarnie, tínhamos descido aos 1430 metros de altitude. Agora ... havia que subir aos quase 2600 metros do Refúgio de
Serradets, também chamado da Brecha de Rolando. Quase 1200 metros de desnível...! Mas, para grande "felicidade" minha e da Cristina ... hoje só teríamos neve no troço final da jornada. A subida foi ora por verdes pastagens de altitude, ora por rocha corroída pela erosão, subindo o vale que conduz ao
Puerto de Bujaruelo, no qual correm límpidas águas em que apetecia mergulhar. Uma das pausas foi, aliás, junto à torrente que, vinda de norte, se precipita nas águas do vale; deu para refrescar do calor pouco habitual aos 1800 metros a que já estávamos. 150 metros mais acima, um simpático casal finlandês fez-nos companhia ao almoço, à sombra da
Cabane du Soldat ... onde apetecia ficar a descansar na erva fresca...
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Vale alto de Pouey Aspé |
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Junto à Cabane du Soldat, 1953m alt. |
Pouco depois das três da tarde estávamos aos 2273 metros do
Port de Boucharo, ou
Puerto de Bujaruelo ... conforme se esteja do lado francês ou espanhol. Ali tinha iniciado, há 4 anos, a descida para o vale de
Bujaruelo e para
Torla e
Ordesa. Agora ... o destino era a mítica
Brecha de Rolando!
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Port de Boucharo (vertente francesa) |
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Puerto de Bujaruelo (vertente espanhola) |
O percurso do
Puerto de Bujaruelo ao Refúgio da Brecha (ou de
Serradets) foi feito quase totalmente sobre neve. Que saudades já tínhamos dela...
J. Tínhamos ainda cerca de 300 metros de desnível a vencer, até aos 2590 metros do refúgio. A panorâmica? Sublime! De novo à nossa frente, tínhamos o Circo de
Gavarnie e a sua cascata ... agora vistas quase do alto! E do outro lado do vale, um pontinho na encosta verde ... permitia-nos distinguir o Refúgio de
Espuguettes, de onde tínhamos partido.
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A caminho do Refúgio de Serradets e da Brecha de Rolando |
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E o destino está à vista, à direita na imagem. Ao fundo, a cascata de Gavarnie |
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Estávamos bem aos pés da Brecha de Rolando ... |
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... e estávamos bem nas núvens! |
Bem mais cedo do que na véspera, chegámos sãos e salvos ao
Refúgio de Serradets ... bem mais cheio que o anterior. Os dormitórios ... lembravam de certo modo imagens tenebrosas de há 70 anos atrás...! Dormi com o nariz talvez a uns 15 cm do teto ... no "terceiro andar" de uma "bateria" de beliches ... onde estávamos nós os 4 e talvez mais umas 20 pessoas...! Mas dormimos ... porque no dia seguinte a aventura continuaria...
J
2 comentários:
Que paisagens de SONHO!!!
As paisagens continuam deslumbrantes e a narrativa das aventuras entusiasmada! A dependência da altitude já vai ao ponto de escolheres o 3º andar de uma bateria de beliches, para dormires com o nariz a 15 cm do tecto!
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