Conta a lenda que no ano de 778, em plena ocupação muçulmana da Península Ibérica,
Rolando, sobrinho de Carlos Magno, derrotado em
Roncesvalles e fugindo dos seus perseguidores, encontrou uma parede rochosa intransponível, antes de chegar à vertente francesa dos Pirenéus. Para evitar que a sua espada Durandarte caísse nas mãos do inimigo, e sentindo-se encurralado, Rolando lançou-a violentamente contra a rocha ... provocando com este acto uma brecha que se abriu na montanha. Graças a esta braveza, Rolando logrou contemplar terras de França antes de morrer ... e a brecha ficou conhecida como
La Brèche de Roland.
|
7.07.2013, 6:30h ... e a Brecha de Rolando acorda com as cores do nascer do Sol |
Etapa 3 (Domingo 7 de Julho): Sarradets - Brecha de Rolando - Góriz (8km)
Duração: 5 horas
Altitude mín.: 2190m (Refúgio de Góriz) / Desnível positivo: 457m
Altitude máx.: 2810m (Brecha de Rolando) / Desnível negativo: 810m
Às seis e meia da manhã, a montanha acordava à volta do
Refúgio de Sarradets, para um novo dia que despontava magnífico. As cores do nascer do Sol espelhavam-se nas paredes rochosas da
Brecha de Rolando, no Circo de
Gavarnie, em todo o esplendor da Natureza à nossa volta. Para nosso espanto, vários montanhistas dormiam ainda ... no terraço do refúgio, ao ar livre, seguramente em sacos cama bem térmicos, já que a temperatura matinal era bem baixa.
|
A montanha acorda para um novo dia que desponta ... |
|
Na plataforma do Refúgio, alguns ainda dormem
|
|
... enquanto espreito o desafio que nos espera!
|
Na sala de refeições do Refúgio, a lenda de Rolando e da sua mágica
espada, levava-nos a viajar no tempo e nas brisas da imaginação, da história e das estórias. E às oito e meia iniciávamos a subida dos últimos 220 metros de desnível que nos separavam da Brecha, em lenta progressão na neve. Aproximarmo-nos da
Brecha de Rolando, vermos aumentar gradualmente a altura daquele descomunal paredão rochoso, olharmos para trás e contemplarmos a panorâmica sublime que se nos abre sobre a plataforma de
Sarradets, o circo de
Gavarnie à direita, a cumeada de
Boucharo ao
Vignemale à esquerda ... tudo nos faz parecer estar a viver um sonho ... um sonho que se tinha tornado realidade!
|
Às 8:25h começámos a 3ª etapa, deixando para trás o Refúgio de Sarradets ... |
|
... e aproximando-nos da mítica Brecha de Rolando! |
|
Estas terão sido as terras de França que Rolando viu ao abrir a Brecha ... |
|
... e estas as terras de Espanha que deixava para trás e que nós agora tínhamos pela frente! Ao fundo, o vale de Ordesa |
Às nove e meia da manhã atravessámos a
Brecha de Rolando, a 2810 metros de altitude. "
Aujourd'hui encore, si on cherche bien, on peut trouver des petits morceaux de Durandal autour de la Brèche de Roland et on peut être sûre que Roland est passé par là!"
|
Serão estes os "petits morceaux" da espada Durandarte?... |
Atravessada a Brecha e regressados a terras aragonesas, a organização do
Monte Perdido Extrem e os guardas do Refúgio de Sarradets aconselhavam-nos a descer ao
Collado de Millars, em vez de seguir o trilho do
Paso de los Sarrios e da
Gruta de Casteret, dada a enorme acumulação de neve. Apesar de curta em extensão, esta etapa foi aliás praticamente toda em neve, com crampons.
|
Rumo ao Collado de Millars, abaixo do Paso de los Sarrios e da Gruta gelada de Casteret |
|
Ao longo do Plan de Millars |
|
Ao fundo, à direita, o Canyon de Ordesa |
Um pouco acima ainda dos 2300 metros de altitude, começamos a ver o
Refúgio de Góriz ... e o vale de
Ordesa! É uma sensação estranha e ao mesmo tempo "mágica", esta de começar agora a ver um local que se conhece, onde já se esteve várias vezes, mas a que agora se chega e que agora se vê ... vindos das alturas! Atravessamos um campo de lapiás sensivelmente aos 2300 metros; estávamos, finalmente, em rocha! E pela uma e meia da tarde estávamos em
Góriz, no Refúgio também chamado de
Delgado Ubeda, presidente da Federação Espanhola de Montanha e impulsionador da sua construção, no início dos anos 60 do século passado.
|
Finalmente rocha...! Lapiás a 2300m alt. |
|
Visão sublime! |
|
E chegamos ao |
|
Refúgio de Góriz |
Para além da travessia da mítica
Brecha de Rolando, o terceiro dia deste fabuloso
Monte Perdido Extrem incluía a eventual ascensão ao cume do
Monte Perdido, a 3355 metros de altitude, já que a distância e o desnível entre Sarradets e Góriz eram os menores das 4 etapas. Mas a subida ao cume seria sempre extra circuito, a partir do Refúgio de Góriz. A quantidade de neve, as dificuldades já passadas principalmente no primeiro dia e a falta de experiência em condições tão adversas ditaram contudo o cancelar daquele extra ... excepto para os dois "profissionais" da nossa equipa de quatro, que continuaram a programá-lo para a manhã do último dia. Esta terceira etapa foi assim a menos dura das quatro, com um resto de tarde de algum descanso no terraço de Góriz, mas também com uma pequena incursão até aos 2000 metros de altitude, praticamente por cima da grande cascata de
Cola de Caballo, bem conhecida de anteriores "aventuras" no vale de Ordesa que tínhamos agora aos pés!
|
Barranco de Góriz: as águas que correm para a grande cascata de Cola de Caballo |
|
Vista "aérea" do vale de Ordesa ... |
Góriz foi o melhor dos três refúgios de montanha utilizados no circuito do
Monte Perdido Extrem. Este ... até tinha o luxo de possuir duches ... de água fria, pois claro! Segundo um companheiro catalão, também ele integrante de um grupo a fazer o
Monte Perdido Extrem, a torneira tinha duas posições: fria ... e muito fria...! Até os ossos se queixaram daquela "aventura" de tomar um duche...
E, à hora dele, o Sol deitou-se lá ao fundo, sobre o vale de
Ordesa, num ocidente de todas as cores.
O dia seguinte seria o do regresso a
Pineta, completando o "círculo mágico" à volta do maciço calcário do
Monte Perdido.
1 comentário:
gloriosas
(a)venturas
*abraço*
Enviar um comentário