Em conjunto com a "minha" Malcata e a Serra das Mesas, berço do Côa, a Serra da Gata é outro permanente atractivo quando estou no meu "retiro" de Vale de Espinho, como agora. Já várias vezes nela
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Gata, no sopé da Serra do mesmo nome, 2.03.2013 |
me "perdi", sozinho, com a minha "cabrita" de montanha, ou com familiares e amigos. Em Abril de 2011 levei até a "família" caminheira a descer a
calçada romana da Gata, depois de em Maio de 2010 ter subido ao
cume da Jañona e de, dois meses antes, em caminhada solitária, ter conhecido a velha
Torre Almenara, que domina a vila de
Gata. Por isso, na lista das minhas caminhadas virtuais - as estudadas nas cartas e no écran do computador - já constava há bastante tempo a ligação ... das Jañonas à Torre Almenara. Uma caminhada circular, com base na vila de Gata, permitiria conhecer a encosta poente da Serra das Jañonas, regressando à vila pelo vale da
Rivera de Gata. E assim foi a jornada de ontem, um passo mais para conhecer esta serra, "irmã" das Mesas e da Malcata. A minha companheira, "cabrita" de montanha, acompanhou-me.
A parte inicial do percurso era conhecida de ambos: foi o troço final da descida da calçada romana que desce do Puerto de Castilla. Mas por alturas da Cruz de Gago inflectimos para nordeste, para começar a subir a bom subir para as Jañonas. Ao fundo, para ocidente, lá estava o "meu" Xalmas, a montanha dos deuses vetões, ainda com vestígios do nevão que também vestiu Vale de Espinho de branco nos dois últimos dias de Fevereiro.
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Cruz de Gago, na calçada romana da Gata |
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Para ocidente, o Xalmas, a montanha dos deuses vetões |
A imponência das formações graníticas lembra formas fantasmagóricas; a meia encosta, parecia termos acima de nós o dorso de um dinossauro. Acima já dos 1100 metros de altitude, cruza-se a zona pantanosa que constitui as nascentes da
Rivera de Gata e aos 1230 metros inicia-se o ataque final ao cume das
Jañonas.
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No reino do granito ... |
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... e da floresta despida em tons de inverno |
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A velha Torre Almenara vigia quase toda a caminhada |
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Planalto aos 1220m alt., origem das águas da Rivera de Gata |
A
Sierra de las Jañonas é uma cumeada situada no coração da Serra da Gata, entre o imponente maciço do
Xalmas, a ocidente, e a Sierra de
La Canchera, a nordeste, já no limite com
Las Hurdes e com a
Peña de Francia, que aliás já se avistava no horizonte, bem como as alturas do
Pico Tiendas, por onde ainda em Janeiro "peregrinei" a partir de
El Gasco.
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Um olhar atento ante a imponência serrana |
Os dois cumes das
Jañonas distam menos de um quilómetro um do outro e disputam por escassos 3 metros qual é o mais alto. Em Maio de 2010 tinha estado no que se situa mais a norte, na "fronteira" entre a Extremadura e Castilla, o pico que teve direito a monolito ... mas que apenas atinge os 1362 metros de altitude; ontem subi aos 1365 metros do segundo Pico Jañona, ligeiramente mais a sudeste.
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E no Pico Jañona (1365m alt.), em 2.03.2013 |
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A imponente panorâmica do Jañona para norte: lá muito ao fundo, à esquerda, as alturas nevadas da Peña de Francia |
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Zoom às alturas nevadas da Peña de Francia |
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E mais ao fundo ainda ... a Serra de Béjar |
A panorâmica do cume do Jañona é espectacular. 360º à volta, a vista vai abrangendo tudo, da planície estremenha à "minha"
Marvana, ao Xalmas, à Peña de Francia ... e até, ao longe, perdida nalgumas nuvens, a imponente
Serra de Béjar, coberta por um extenso manto branco ... que seguramente me impediria, agora, de fazer o percurso que lá fiz há exactamente dois meses.
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Ao fundo El Payo e as terras da raia do Sabugal e de Almeida, do cume do Jañona |
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Há que descer: a Torre Almenara está agora bem abaixo de nós |
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Descida dos Cumbres de Peginoso ... |
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... onde a urze já floresce! |
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Uma passagem para outra dimensão... |
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Vale do Arroyo del Concejo e da Rivera de Gata |
A descida das Jañonas rumo à
Torre Almenara ... foi parcialmente a corta mato. Mais de 400 metros de desnível, até à base da imponente atalaia, não foram propriamente fáceis. Mas lá fomos avançando, por entre matos e urzes já floridas, até ao caminho rural que, de novo a subir, nos conduziu àquela imponente e enigmática Torre.
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Ei-la já próxima, no cume de imponente e dominante pog, a exactamente 1000 metros de altitude |
A
Torre Almenara teve origem numa edificação árabe do século XI, conquistada aos mouros em 1212 por Afonso IX de Leão, junto com o castelo de Santibáñez el Alto, do qual dependia. A torre data contudo do século XIV, sendo a sua função eminentemente defensiva.
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Torre Almenara, atalaia defensiva sobre a planície estremenha |
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Cadalso, aos pés da Torre Almenara |
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E vamos descer para a Gata... |
A primeira parte da descida da Torre Almenara, de regresso à vila de Gata ... foi "aventurosa". Tentando poupar alguma distância aparentemente desnecessária, e dado que as cartas pareciam mostrar a relativa facilidade daquela descida, rumámos directamente ao vale do
Arroyo del Concejo. Chegámos lá ... mas em corta mato puro e duro...! Mas como depois de uma "tempestade" há sempre uma bonança, fomos compensados pela extraordinária beleza que se seguiu, ao longo da
Rivera de Gata, atravessando extenso bosque de carvalhos e castanheiros, já por bom caminho ladeado de muros de pedra, completamente cobertos de musgo, ao som melodioso das águas, que correm rápidas para o vale, e do cantar das aves. Foi um final de jornada muito belo, pintado pelas cores do entardecer.
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Arroyo del Concejo ... no meio da "selva"... |
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Muros cobertos de musgo |
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Aqui a giesta já floresce! |
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Há magia nos bosques ... |
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Ao longo da Rivera de Gata |
Entrámos em
Gata já depois do Sol posto ... e o regresso ao nosso "retiro" de Vale de Espinho foi já nocturno. Sem dúvida uma bela jornada ... e mais umas fragas e pragas que aqui deixo relatadas.
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A tarde declinava, quando regressámos a Gata |
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Clique no mapa para ampliar ou veja no Wikiloc |
2 comentários:
Mais uma preciosa reportagem de um notável passeio. Parabéns!
Logo no «slideshow» Picasa, reparara na foto, que legendaste: «Muros cobertos de musgo», eu sou admirador de Musgos, mas não me canso de publicitar os «Conchelos», Umbilicus rupestris, que utilizamos cá em casa, apenas em uso externo, nomeadamente para atacar calosidades e afins, talvez esta informação seja importante para incansáveis caminheiros...
Há sempre estórias que poderiam complementar a história de cada caminhada, de cada instantâneo de ar livre. Umas ficam ... outras passam. Vem isto a propósito deste teu comentário sobre o Umbilicus rupestris, planta muito vulgar por estas bandas e a que a minha companheira de aventuras chamava "cocilhos", quando jovenzinha e as usava nas brincadeiras de criança. A designação foi certamente "construída" a partir de alguns dos nomes vulgares normalmente atribuídos a esta espécie, como cauxilhos, cochilros, conchelos, couxilgos ... ou também chapéu-dos-telhados.
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