Depois de termos subido ao
Pé de Cabril e à Calcedónia, no domingo, segunda feira era o dia da travessia do
Gerês, no sentido noroeste - sueste. Eu tinha de partilhar com a minha "família" caminheira mais alguns dos paraísos perdidos no coração do Gerês "puro e duro", até porque...
«Onde houver silêncio e tempo escritos em jeito de virgindade... aí estaremos»
Luís Miguel Vendeirinho
Segunda 2 de Abril: Leonte - Conho - Roca Alva - Fafião
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Leonte, 2.04.2012 - Vai começar a 2ª jornada |
A partir da nossa base em
Lobios - o
Hotel Lusitano - tinha delineado algumas alternativas: subiríamos pela Costa de Sabrosa ou pela Freza, rumo ao Curral do
Conho, para depois seguir pelas Fichinhas e Porto da Laje, ou pela
Roca Alva e pelo trilho da
Vezeira de Fafião. Em ambos os casos, o facto de não conhecer pessoalmente alguns troços de ligação não me assustava ... nem aos meus seguidores. Todos confiávamos plenamente nas cartas e no meu velho e fiel "amigo"
OziExplorer...
J.
Foi pela segunda das alternativas que optámos; a distância um pouco menor a percorrer, aliada ao igualmente menor desnível inicial, foram os principais factores ponderados. E assim, antes das oito da manhã estávamos de novo em
Leonte. A subida para o Prado do Vidoal foi-se fazendo a bom ritmo. Do outro lado do vale, o
Pé de Cabril vigiava-nos, talvez com a saudade de o termos escalado na véspera.
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Subida da Costa de Mourô,
com o Pé de Cabril a dominar a encosta contrária
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No
Vidoal, fomos informados por um grupo de escuteiros que ali havia passado a noite ... que a chuva tinha sido abundante! Mas a atmosfera estava agora límpida, contrariamente às previsões. E que maravilha de dia iríamos ter!
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Prado do Vidoal (ou de Mourô) |
Pouco depois das 9 horas estávamos na
Freza. Mesmo com a seca e com alguns vestígios de incêndios ... a panorâmica para o
Camalhão e para o
vale da Teixeira é soberba. Alguns dos Caminheiros que me acompanhavam tinham lá estado em 2008, noutra grande jornada por aquelas terras mágicas,
da Pedra Bela à Teixeira e ao Arado.
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Vale do Camalhão e da Teixeira, vistos
da Freza |
A
Chã da Fonte deixou-me apreensivo. A bela água que nos havia saciado em Junho de 2011 ... nestes primeiros dias de Abril nada corria! Chuva abençoada, que venha rápida!
À vista já do
Borrageiro, da
Lomba do Pau ao início da descida para o Curral do Conho foi rápido. Para mim e para a minha "cabrita de montanha", a visão do
Conho avivou-nos as recordações de
há menos de um ano, quando 2 vacas e seus bezerros foram nossas companheiras por uma noite ali passada.
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Ao longo da Lomba do Pau |
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Curral do Conho |
Chegava a hora de optar pelas
Fichinhas,
Sombrosas e
Porto da Laje, ou pela Roca Alva. A possibilidade de almoçarmos e descansarmos um pouco naquele autêntico paraíso perdido, fez-me optar pelo percurso da
Roca Alva. E em boa hora o decidi ... já que se sucederam as exclamações de encanto e admiração, relativas àqueles prados e àquela fabulosa envolvência.
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Roca Alva à vista e Cutelo de Pias, ao
fundo à direita |
Estávamos, decididamente, no paraíso! E logo ali nasceu a ideia de voltarmos, um pequeno grupo, para a fabulosa experiência de uma noite na serra! O aconchego, o carinho, o cuidado postos na preservação da cabana da Rocalva, na protecção das árvores ali replantadas, tudo cativou e emocionou os meus 12 companheiros desta fabulosa jornada.
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A chegar ao Prado da Roca Alva, com o
Cutelo de Pias ao fundo |
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Prado e cabana da Roca Alva: um paraíso perdido, a 1275m de altitude, no coração do Gerês |
Cabe aqui também uma palavra de grande homenagem e de grande reconhecimento ao trabalho desenvolvido pela
Associação Vezeira de Fafião, cujos membros e amigos, em regime de voluntariado, muito têm contribuído para que as suas terras não morram. Pena é que o Parque Nacional da Peneda-Gerês e o ICNB, bem pelo contrário ... se limitem aos gabinetes e à emissão de normas ridiculamente absurdas.
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E seguimos rumo a Fafião, pelo trilho da
Vezeira |
Com alguma pena, dada a beleza do paraíso onde nos encontrávamos, deixámos o prado da Roca Alva poucos minutos antes da uma da tarde. Passando muito próximo do
Cutelo de Pias, seguíamos agora o trilho da vezeira, precisamente uma das tradições recuperadas pelas gentes de Fafião e de outras aldeias. A vezeira consiste na junção dos rebanhos duma aldeia para serem pastoreados em terrenos comuns, os baldios. É baseada no agrupamento dos proprietários de gado, seguindo regras transmitidas de geração em geração; o papel principal dos vezeireiros era conduzir o rebanho, à vez.
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Descida para o prado do Vidoirinho |
Atravessado o prado do
Vidoirinho chegámos à estreita cumeada entre os vales dos rios do Laço e do Conho. Ao fundo, a leste, víamos o estradão do
Porto da Laje. E ultrapassámos o ponto onde, na
autonomia de Junho passado, tinha descido para o vale do rio Conho! Daí à ligação para Fafião era portanto um troço novo também para mim ... e continuámos ao longo de uma paisagem assombrosa.
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Panorâmicas de cortar a respiração |
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E a jornada prossegue, rumo à Cabana Pradolã |
Faltam pouco mais de 5 km para Fafião, encontramos nova cabana completamente restaurada pela Vezeira, a
Cabana Pradolã. A partir daí, acompanhamos a imponente cumeada dos
Bicos Altos, do outro lado da
Corga de Carnicente.
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Panorâmica para os Bicos Altos, na descida para Fafião |
Já em estradão, os últimos quilómetros não deixaram por isso de ser espectaculares. Em Junho de 2011, tinha descido o vale do
Rio Conho até à ponte de
Servas ... mas, mais a sudeste, só do trilho da Vezeira se consegue apreciar a espectacularidade do abrupto canyon que o rio ali abriu.
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Desfiladeiro do Rio Conho |
E já só nos faltava cruzar o
Rio Fafião, onde felizmente ainda abundam lagoas de águas límpidas, convidativas a um mergulho. Depois ... depois era a penosa subida que nos conduziu a
Fafião, passando pela sua
silha dos ursos, outra relíquia perdida no tempo; os cortiços das abelhas eram protegidos dos ursos por muros de pedra altaneiros, à prova daqueles gulosos comedores de mel.
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Piscinas naturais no rio de Fafião
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Silha dos ursos de Fafião |
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E, em fim de jornada, entramos em Fafião |
Pouco passava das 4 da tarde quando terminámos esta fabulosa jornada. Em
Fafião, casualmente, o Sr.
Argentino Matos acabou por se tornar um nosso anfitrião. Membro da Vezeira e irmão de um dos seus principais impulsionadores,
Almerindo Matos, falou-nos de tradições seculares e do bem meritório trabalho da Associação. Não podíamos desejar melhor e mais apropriado fim de actividade!
De
Fafião a Braga foi um salto ... para ontem regressarmos à velha Lisboa. Como outros, estes dias e estas jornadas ficam eternamente gravados na minha memória, no baú das recordações de uma vida vivida no seio de Amigos verdadeiros. À espectacularidade do
Gerês "puro e duro", aos paraísos perdidos que atravessámos, aliou-se união, amizade, alegria de viver, conviver e partilhar. Aqui fica o meu muito obrigado a todos os que me quiseram seguir!
Aqui fica também, como habitualmente, o álbum completo de
fotos e o percurso desta fabulosa travessia.
E também o vídeo destes dois dias fantásticos...
2 comentários:
Notável! Fui verificar ao 140467... mas ainda não, porque há ali fotos a ver em tela maior...
Olá Callixto!
espero que consiga enviar esta mensagem...tenho tentado mas não sei porquê, não segue!!
O Gerês como sabemos tem muito para ver, e um dia não chega para tudo! Mas o percurso não podia ser melhor escolhido para levar uma família de caminheiros!! Muitos Parabéns :)
Só de ver as imagens já tenho saudades :)
Um grande abraço!!
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