Em Setembro de 2013 participei numa memorável
travessia da Serra da Estrela, em quatro dias, da pequena aldeia de Vila Soeiro a Louriga,
subindo e cruzando os vales dos dois grandes rios da Estrela, o Mondego e o
Zêzere. Passados quase 10 anos, era com expectativa que aguardava a actividade
de Fevereiro dos Caminheiros Gaspar Correia, projectada para os novíssimos
Passadiços do Alto Mondego, que ligam
Videmonte a
Vila Soeiro e à
albufeira da Ribeira do Caldeirão.
Como tantas outras, a "moda" dos passadiços tem alastrado em Portugal como uma
praga. Sem incorrer em oposições fundamentalistas, como amante da Natureza e
como biólogo não posso ver com bons olhos a proliferação desregrada destes
equipamentos. Os primeiros passadiços de que há registo em Portugal foram os
das Dunas de S. Jacinto, onde aliás levei largas
dezenas de alunos nos anos 80 e 90
do século passado; destinavam-se a permitir o acesso sem pisotear o cordão
dunar, evitando a degradação do solo e da flora. Mas a esta função de
preservação e de educação ambiental rapidamente se sobrepuseram interesses
económicos e uma ausência quase completa de estudos de impacto ambiental e
visual ... o que particularmente em áreas montanhosas acaba por inverter os
objectivos ligados à preservação e divulgação de uma paisagem "natural" e
"imaculada".
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Cascata do Ribeiro dos Moinhos, 10h40 - Tínhamos
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começado o percurso Videmonte - Vila Soeiro
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Ao longo do Ribeiro dos Cabris. Por baixo dos passadiços está o
velho trilho pedonal ... para quê a madeira?
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Ponte suspensa junto à Quinta dos Cabris, 11h30
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Ruínas da Quinta do Fojo, 11h50 - Há 10 anos também aqui passei
em sentido contrário
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Partindo de próximo de
Videmonte, o troço inicial cruza as ribeiras dos
Moinhos e dos Cabris, afluentes do
Mondego, que passámos a acompanhar
desde a foz da segunda daquelas ribeiras. A partir das ruínas da
Quinta do Fojo já conhecia a paisagem; em 2013 tinha vindo em
sentido contrário, subindo depois para a aldeia de
Trinta para
continuar a subir o curso do rio Mondego.
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Descendo o vale do Alto Mondego, nesta última foto já com
Vila Soeiro ao fundo
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Final dos passadiços em Vila Soeiro, 15h00
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Ao fim de cerca de 10 km maioritariamente "emparedados" ... ao chegar a
Vila Soeiro sinceramente já estava farto de madeira. Claro que a
paisagem continua a ser fabulosa, claro que as cascatas, os cantos e os
recantos do Mondego, as encostas, a luz e as cores, tudo contribuiu para que
este dia frio de Inverno, mas de um Sol radioso, tenha sido um óptimo dia, na
companhia da minha "família" caminheira de há já mais de 20 anos, com a minha
"colega especial" neste ano especial, com a nossa neta caminheira e com os
nossos "Manos Velhos" caminheiros ... mas a paisagem era ainda mais fabulosa
e, principalmente, muito mais natural e imaculada ... sem as toneladas de
madeira que de todo o lado se vêem à distância, "riscando" as encostas como
quem risca um belo quadro.
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Vila Soeiro - Para alguns, a caminhada terminaria aqui;
para outros ... ainda havia que subir à albufeira do Caldeirão
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Em Vila Soeiro havia três opções: quem quis foi recolhido pelo
autocarro, mas para quem ainda tivesse vontade de percorrer mais cerca de 2 km
poderia subir a calçada romana que liga aquela aldeia a Pêro Soares ...
ou subir os quase 800 degraus do prolongamento dos passadiços até à albufeira
do ribeiro do Caldeirão. O leitor está a ver qual foi a minha opção,
não está?
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Calçada romana entre Vila Soeiro e Pêro Soares
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A meio da calçada romana ... descobri um "trilho"
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a subir a bom subir para a albufeira do Caldeirão
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Panorâmica sobre Vila Soeiro, de junto à
Barragem do Caldeirão
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Com a devida comunicação aos organizadores, este troço final da caminhada
fi-lo em autogestão: como as fotos acima ilustram, a pouco mais de meio da
calçada romana vi à minha direita um trilho que se dirigia à conduta de água
vinda da albufeira ... e foi por ela que "trepei" os cerca de 150 metros de
desnível, a solo, enquanto o resto do grupo subia o resto da calçada, uns, e a
"interminável" escadaria de madeira dos passadiços, outros. Encontrámo-nos
todos próximo do
Miradouro do Bufo Real, sobre o profundo vale a
jusante da albufeira, onde o autocarro nos recolheu.
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Albufeira do Caldeirão e o salto por onde a ribeira do mesmo
nome se precipitava para o Mondego ... numa panorâmica
agora "ornamentada" por mais umas toneladas de madeira...
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Mas a actividade dos Caminheiros Gaspar Correia mais próxima do Carnaval é,
por tradição do Grupo ... o Carnaval Caminheiro. Assim, aos passadiços do
Mondego seguiu-se uma animada noite na
Quinta de Santa Iria, próximo de Teixoso, preenchendo a manhã de domingo com uma componente
cultural nas terras sefarditas de
Belmonte. Acompanhados por uma
excelente guia, foi sem dúvida um enriquecimento em termos da história e da
cultura da comunidade judaica de Belmonte.
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Igreja de Santiago ... Belmonte também é Caminho de Santiago!
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Imagens de uma bela manhã em Belmonte, com a
Serra da Estrela em pano de fundo, à direita
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Percurso de sábado no Alto Mondego (Clique no mapa para ampliar
ou
aqui
para ver no
Wikiloc)
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6 comentários:
Obrigada Zé pela tua descrição e pontos de vista que até colidem com os meus. A atividade fica sempre mais enriquecida depois de ler o teu relatório.
Bjs
Margarete
Olá Zé Carlos que bela caminhada...
Pela descrição e fotos imaginei-me inserida no grupo.
Um grande abraço aos meus amigos caminheiros.
Bom relato Callixto. Subscrevo a tua posição sobre o excesso de passadiços. Neste caso em concreto são especialmente exagerados, criando a sensação de "encurralado". Abraço.
Que maravilha
Mais uma excelente reportagem para mais tarde recordar, a magnífica atividade dos Passadiços do Mondego.
Subscrevo a oportuna crítica da existência de passadiços onde não era necessário, acrescentando que oneram a manutenção desnecessariamente.
Mais um texto interessante e bonitas fotos sobre a atividade das caminhadas. Subscrevo inteiramente o teu ponto de vista. Seria bom que se repensasse a construção de passadiços nível nacional.
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