quinta-feira, 29 de março de 2012

Cantos e encantos da Serra da Malcata...

Depois da pequena/grande caminhada da "Coba" Grande e das Guisias, a passada 2ª feira, 26 de Março, foi dia de mais uma caminhada pela Serra da Malcata, dando a conhecer a um amigo, natural de Vale de Espinho, com quem tinha feito um mês antes a Quinta do Major, mais alguns dos encantos daquela serra. De Quadrazais seguimos assim o Côa até ao Espírito Santo, para depois subirmos ao Fojo, passarmos a Lomba, descermos ao Espigal para beber a sua bela água, voltarmos a subir à torre de vigia da Machoca, e descermos até à aldeia de Malcata.

O Rio Côa no Espírito Santo, Quadrazais, 26.03.2012
Casa abrigo do Fojo ... mais uma ao abandono...
Espigal, Serra da Malcata
Torre de vigia da Machoca
Machoca (1072m alt.)
Barragem do Sabugal, vista da Machoca
E descemos para a aldeia de Malcata
Mas se os encantos da Serra da Malcata cativam em cada passeio que se dá, na aldeia de Malcata fomos partilhar esses encantos com quem a conhece palmo a palmo e a canta e encanta magistralmente: José Corceiro Lucas ... um homem grande!

"Este homem grande nasceu em Malcata e até aos 18 anos percorreu os vales e montes da serra que rodeiam a aldeia. Foi para terras de França trabalhar, mas sempre com tempo para aprender. A pintura e a música transformaram a vida de José. Depois de umas dezenas de anos em França, regressou a Malcata e aos caminhos, montes e vales da serra. Os ares puros e limpos da serra da Malcata e as recordações de infância levaram este malcatanho a entranhar-se todos os dias a caminhadas que tão bem têm feito à sua saúde. Pelo amanhecer ou pelo anoitecer, só ou na companhia da sua esposa, José Lucas, de lanterna na mão e dois bastões, deixa-se diluir por meio de pinheiros e carquejas e nunca se mostra saturado de andar. E foi numa noite de luar, na companhia da sua esposa, que José Lucas cativou uma raposa."   (José Nunes Martins, in Malcata.net)

Pois o amigo José Lucas brindou-nos com uma espectacular sessão de viola, percorrendo não só os encantos da Malcata, mas também a música clássica, o fado de Coimbra e de Lisboa, numa rara exibição de sensibilidade e saber.


E foi já com o dia a declinar que regressámos a Quadrazais. Os acordes magistrais que trazíamos, ainda frescos, aliaram-se às cores espectaculares do pôr do Sol, quase nos fazendo esquecer os 9 km que separam as duas aldeias.

O Côa no Moinho da Mursa, Quadrazais, 26.03.2012
E o dia declina...
   

sábado, 24 de março de 2012

Histórias da Coba Grande e das Guisias
(Vale de Espinho)

A passar de novo uns dias nas minhas terras raianas, anteontem à tarde lá estava eu de novo nas "minhas" Fontes Lares. Tínhamos ido à meruge, tarefa infelizmente difícil na prolongada seca que vivemos, mas que, mesmo assim, nos permitiu uma óptima salada. O regresso foi pela velhinha quelhe
Fontes Lares, 22.03.2012, 16:55h
das pedras; e uma foto das Fontes Lares que coloquei no Facebook, com essa pequena descrição, despoletou uma onda de saudade e de nostalgia, por parte de quem viveu os tempos em que todas estas terras tinham vida, gente, trabalho, suor.
Quando eu era criança, ou já como adolescente, tantas e tantas vezes que calcorreei essa quelhe pedregosa, que eu trilhava para atalhar e mais rápido chegar às minhas graciosas Guisias..... Todos os barrocos me conheciam e cumprimentavam! Hoje, essas pedras não dialogam mais comigo, estão tristes e solitárias, por não serem mais minhas, e eu não posso animá-las!
José Manuel Corceiro, "As Guisias já não são minhas", Facebook, 23.03.2012
Tomando por base este apaixonado comentário, delineei a minha pequena caminhada de ontem. Tinha de ir às Guisias! Tinha de trazer o registo de que as Guisias continuam a ser dos que amam apaixonadamente os barrocos, de quem fala com eles, com os ramos dos carvalhos, com as cores do entardecer, com a água que felizmente ainda brota na nascente das Fontes Lares, que apesar de não serem minhas, são minhas. Saudade sim, melancolia talvez ... tristeza não.
Vale de Espinho, 23.03.2012
Pés ao caminho, ontem de manhã parti na senda dessas Guisias de outrora, "que nos presenteavam com centeio, batata, milho, feijão, nabo, couve, lenha, feno, pastagens para animais … e na sua envolvência era um consolo aspirar o ar perfumado pela essência do constante e sempre presente rosmaninho, ou saciar a sede com água cristalina e fresca que brotava do chão selvagem e arenoso, das suas sete fontes! . Assim, subi às Cabeças e desci à Cova Grande (ou "coba" grande), para depois subir às Guisias. Cada pedra, cada barroco, cada curva dos caminhos falavam comigo, contavam-me histórias de quando aquelas terras tinham gente, culturas, vida.
Para as Guisias passava-se na Coba Grande. É pouco o valor que me dá, mas o enorme prazer é ainda senti-la minha, como um tesouro que revisita o meu mundo da Infância. Pelo meio da nossa Coba Grande passavam os ganhões com os seus carros de vacas a transportarem os carretos de pedra. Ouvia o concerto dos carros de bois em eixo de madeira e isso deliciava o meu ouvido. Depois era a fala dos homens, ou saudavam em voz alta para os terrenos do meu pai, ou às vezes era o meu pai a pregar para os transeuntes: "então para quem é a pedra?" e entaramelava-se ali uma conversa à distância e o eco dos montes permitia a fala à distância como num anfiteatro grego. Tudo produzia a nossa Coba Grande: feijão, milho, batata, feno e, junto da presa da água, havia uma horta com tudo muito mimoso que a água milagreira e o cuidado do tratador permitiam: tomate, pimento, morangos, alface e, na presa, sempre uma meruge e a sua flor de um azul mais lindo que outros azuis que não via noutras lugares.
Ismael Malhadas Vigário, Facebook, 24.03.2012
Cova (ou Coba)
Grande, 23.03.2012
A caminho das Guisias, 23.03.2012
Imaginei-me, ainda criança, sentado em muitos dos barrocos que fotografaste, grande parte deles são-me familiares!

Guisias, 23.03.2012
Até fotografaste a "Lage", estou seguro que não sabias, mas essa "Laje" serviu de Eira, para malhar o trigo e o centeio, que o meu trisavô e bisavô cultivavam nas Guisias. Tiveste o condão de fotografar o meu estimado e adorado mostageiro … para mim é a árvore mais emblemática das Guisias… Lá continua o mostageiro saudável e em pé, à minha espera para o voltar a trepar…
José Manuel Corceiro, 24.03.2012

Guisias, 23.03.2012 - Lá continua o mostageiro saudável e em pé, à minha espera para o voltar a trepar…
Das Guisias às Fontes Lares seria um salto, mas já lá tinha estado na véspera e eram quase horas do almoço. Mas, mais uma vez, a fotografia das Fontes Lares tinha despertado recordações nostálgicas...
Para aqui, quando menino, ia com umas vitelas e uma burra, na Primavera. Depois ia até à corte do Ti Zézinho Brísido e da Ti Bei Pêdra e lá davam-me soro cozido que me sabia como o melhor pitéu. Sabia-me a companhia como o amparo da melhor urbe e afugentava, com aquela caraba quase familiar, a nesga de solidão que me pudesse invadir. Às vezes ia à fonte da ti Mª Augusta Bgueira e ia para junto dos pastores, com muito respeito por aqueles fiéis companheiros: os cães pastores que me metiam respeito, com aquela coleira de ferros. A tarde escorria calmamente, os frondosos carvalhos e as águas frescas ofereciam-nos um vergel encantador. Depois regressávamos à povoação, com a satisfação de um dever bem cumprido do homem em companhia da natureza.
Ismael Malhadas Vigário, Facebook, 24.03.2012
O regresso foi de novo pela "quelhe" das pedras. Se aquelas pedras falassem teriam muito que contar. A tradição popular reza que ali terá nascido Vale de Espinho; será?

Quelhe das Pedras
... pedras com história

À tarde ainda fomos até aos Urejais, lugar que a minha arraiana gosta sempre de visitar ... mas desta vez a tristeza dominou. Não fazia ideia que o recente incêndio em terras de Vale de Espinho tinha sido tão extenso! Do Areeiro à ribeira e ao caminho do Soito, uma vasta área foi calcinada. E estamos apenas em Março...

A miséria que não merece
comentários ... em Março
Ribeira dos Urejais, 23.03.2012
E ... Vale de Espinho !
Aqui fica o percurso efectuado de manhã, à Coba Grande e às Guisias, bem como o álbum completo de fotos. Dedico esta entrada do meu blog a todos os Valespinhenses que amam a sua terra natal (que adoptei e aprendi a amar há quase 4 décadas), mas principalmente aos dois amigos que, com os seus belos e sentidos textos, em muito enriqueceram esta descrição de uma pequena grande caminhada.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Em terras de Cebolais ... entre a esteva, o olival e a azinheira

Com a minha "família" caminheira, participei sábado passado em mais uma jornada de convívio e de contacto com a Natureza. Desta vez foi em terras de Cebolais de Cima, a sul de Castelo Branco e a
17.03.2012 - Em terras de Cebolais
cerca de 9 km da margem direita do rio Tejo, próximo de um dos seus principais afluentes, o Pônsul.
Com sensivelmente 17 km, o percurso desenvolveu-se entre a esteva, o olival e a azinheira. Das "terras altas" de Cebolais, avistando ao longe as serranias de Espanha, descemos no sentido sudeste, em direcção a Alfrívida. Passando próximo do Monte dos Olheiros, chegamos à ermida de Nossa Senhora dos Remédios, local de culto e de grande romaria. Já no fim, descemos para a aldeia de Alfrívida ... onde "invadimos" a queijaria local. Ficam as fotos e o percurso.
Panorâmica para sudeste de Cebolais

De registar ainda, uma vez terminada a caminhada, a comemoração dos 27 anos de história e de estórias do Grupo de Caminheiros Gaspar Correia.

Alfrívida
Ao fundo via-se Castelo Branco
Capela de Nossa Senhora dos Remédios
E junto à igreja de Alfrívida esperava-nos o autocarro