sábado, 28 de novembro de 2015

Bobadela - Santarém: 72Km em menos de 14 horas
Uma aventura insana ... ou uma insanidade sã... J

Via redes sociais, um amigo das "longas aventuras" lançou no início do mês um desafio que rezava assim:
"Venho propor um treino intenso. Objectivo: 50km em dez horas de caminhada... Sentes-te capaz? Então vem connosco...Vamos partir de Vila Franca de Xira e chegar a Santarém. Lá ... iremos apanhar o comboio de volta para Vila Franca de Xira."
Tendo o dia proposto disponível ... não pensei duas vezes ... tanto mais que, para além do proponente desta "aventura insana" ... a iria realizar também com o meu bom e grande Amigo António Araújo, o meu "Mano Maior", a quem devo muito do que tenho feito nos últimos anos e, principalmente, a quem devo os tantos e tantos grandes amigos que, directa ou indirectamente, tenho feito através dele. Bem hajas, Mano Araújo. A paixão pela Natureza, pelos grandes espaços, pelo Caminhar ... une e prende os seus amantes!
A ideia era encontrarmo-nos na Estação ferroviária de Vila Franca de Xira. Pus, por isso, o meu "galo" despertador para as 6:30h, o que me permitiria apanhar o comboio e encontrar-me com os meus três parceiros às 8 horas. Contudo, pelas três e pouco da manhã ... acordei sem sono. A Lua, como a foto acima mostra, ia alta e clara ... convidativa a meter pés ao caminho...J

Póvoa de Santa Iria, 5h da manhã ... e já levava uma hora de caminho...
Saí de casa um minuto antes das 4h da manhã! Não sem deixar um bilhetinho à minha "pequena", claro ... não fosse ela pensar que eu tinha fugido...J. Mas ... fui "apanhado" logo ao sair de casa! Coincidências do destino ... os meus vizinhos do lado (filho e nora... J) estavam a chegar de um concerto exactamente quando ia a sair o portão...! "Que exageros! Que maluqueira!" ... mas já estou acostumado... J
Era a oportunidade de bater o meu record pessoal de distância num dia (a minha "prenda de anos" quando virei sexagenário) ... e era também a oportunidade de testar que o que me fez parar o meu Caminho em Ourém, em Abril passado, não foram as botas, como na altura admitira. Naquela altura ... algo ou alguém me "disse" que não era a altura certa...! As mesmas botas - as mesmas que já tinham feito o Monte Perdido e o Caminho da Aventura - foram as que quis levar para esta ... "aventura insana". E tanto as botas como o dono se portaram bem ... ao longo de 72 longos quilómetros. Outras "aventuras" as esperam...!

Este é o Caminho!
5h:20 - Passeio ribeirinho da Póvoa
Até à Póvoa de Santa Iria, o meu caminho foi pela estrada. Mas, a partir da Póvoa, o meu caminho passou a ser Caminho ... os Caminhos de Fátima e de Santiago; antes da Póvoa, além de mais longe ... achei que era demasiado noite para seguir pela Várzea do Trancão. E os Caminhos de Fátima e de Santiago seguem pelo passadiço ribeirinho da Póvoa, até Alverca, onde se é obrigado a regressar às ruas. Às seis e meia, entre Alverca e Alhandra, o "galo" cantou sonoramente no meu bolso. Tinha-me esquecido de desligar o despertador...J

6h:55, Alhandra - Luzes de um novo dia que vai nascer
Decididamente ... estou no Caminho (graffiti no passadiço de Alhandra)


Vénus ainda lá estava, sobre o rio
7h:26, Vila Franca ... e o primeiro objectivo estava à vista!
Às 7:30h estava em Vila Franca de Xira. Tinha percorrido 22,5km em três horas e 35 minutos, apenas com 8 minutos de pequenas paragens. Uma média em movimento de 6,5 km/h; não me parece mau... J

Vila Franca de Xira, 7:32h. Era suposto iniciar aqui... J
Fresquinhos para começar, os meus três companheiros lá foram surgindo. "Ohh, já fizeste 22?! Podias-nos ter dado boleia!"...J. O novo desafio era, como disse, chegar a Santarém com 50 km percorridos num máximo de 10 horas; às 8:27h foi dada a partida.. E este "insano", autor destas linhas, aguentaria? Eu achava que sim ... mas na vida nunca há certezas. Mas mal arrancámos "mandaram-me" logo ir mais devagar ... "mata cavalos" ... ouvia eu constantemente... J!

Próximos do Rio da Ota, Carregado
Grande parte do percurso escolhido seguiu os Caminhos de Fátima e de Santiago. Só um ou outro troço foi modificado, pela muita experiência e muito saber do meu Mano Araújo... J!

Um dos mais belos troços do percurso, entre Azambuja e Virtudes
O almoço - uma breve paragem de 20 minutos - foi nas Virtudes, perto da Igreja do velho Mosteiro Franciscano, mandado edificar por D. Duarte, pelo êxito da conquista de Ceuta. Pouco depois estávamos a passar no cruzamento dos Casais do Vale da Pedra ... recordações de um passado distante; os meus sogros tiveram lá uma quinta ... na qual cheguei a acampar quando ainda namorava a minha moçoila... J



Casais do Vale da Pedra ... 10 de Março de 1973

E a jornada prosseguia a bom ritmo. Setil, junto à linha de combóio ... e o rumo era agora o Vale de Santarém.


13:20h - Entre Reguengo e Setil ... e siga a marcha...
Rumo ao Vale de Santarém
Quinta de Santo António, Vale de Santarém, 15:25h
Com quase 38 km nos pés - ou sejam 60 km para o "insano" que saiu de casa às 4h da manhã... - estávamos a atravessar a Vala da Azambuja junto à quinta de Santo António, no Vale de Santarém. Dos quatro "aventureiros" ... havia alguém a querer desistir, a querer regressar de comboio a partir da estação do Vale. Mas ... "somos um grupo", é sempre o nosso lema... J! Demos-lhe os sais de que estava a necessitar, demos-lhe os conselhos e o conforto psicológico igualmente fundamentais, aguardámos a evolução dos acontecimentos ... e vimos a única menina desta "aventura insana" recompor-se o suficiente para continuar. Afinal ... só faltavam mais 12 Km... J!

16:15h ... com Santarém à vista!
E com Santarém à vista ... o autor destas linhas tinha 63 km nos pés. Estava batido o meu record pessoal de distância num dia; para bater o do meu Mano Araújo ... ainda tenho de palmilhar muito... J.

Junto à Casa da Tapada Nova, nas lezírias de S. Lino ... e no Caminho!
Rumo a Santarém

Marcas das inundações do Tejo,
junto à Tapada Nova
17:25h ... o dia já declinava ... mas já estávamos na área urbana de Santarém! Ao fundo a Ponte Salgueiro Maia
Às cinco da tarde estávamos nas Omnias, arrabalde já de Santarém. Cruzada a linha do comboio, o rumo era agora Alfange. A nossa companheira reclamava contudo que estava no limite das suas capacidades. Mas ... havia uma "alma salvadora" que a podia "salvar".. J! Desde início que estava combinado que uma outra "Mana" que os caminhos trouxeram à minha Vida, residente em Santarém, se encontraria connosco no final. Ora ... a Mana Paula foi convocada para descer a Alfange e apanhar a nossa já muito debilitada companheira desta longa aventura. Para a Ofélia ... a "insanidade" terminou assim aos 46 km.
Restávamos três ... e restavam os 4 derradeiros quilómetros, subindo à Porta de Santiago e às Portas do Sol (que já se pusera...), para voltar a descer pela Calçada de Santa Clara, rumo à Estação de comboio.

Ponte Santarém - Almeirim, vista da subida de Alfange às portas do Sol
Santarém, 17:53h ... e entramos
pela Porta de Santiago!
Dois Manos nas Portas do Sol ... já sem Sol...
Das Portas do Sol à estação de comboio ... a "correria" foi "louca". Correria não ... porque o que estava combinado era que a aventura se tratava de uma caminhada e não de uma corrida. Tínhamos partido de Vila Franca de Xira às 8:27h ... e o desafio era fazer os 50 km num máximo de 10 horas, lembram-se?

Estação CP de Santarém. Estavam completados 50 km em 9h:59m ... 72 km em 14 horas... J
Às 18:26h ... com 50,07 km nos pés (e aqui o "je" com 72,56...) ... estávamos na estação de comboio de Santarém! A meta foi cortada com 9 horas e 59 minutos. O Paulo dizia que estava morto ... mas feliz... J! Entretanto a Ofélia e a "salvadora" Mana Paula já lá estavam, claro ... e fomos brindar e comemorar no bar próxímo da Estação. Depois ... tínhamos um comboio para apanhar às 19:08h...

Três Manos, na Estação de Santarém...

... com projectos no horizonte!
x
Claro que os músculos nos doíam. Claro que os pés não estavam "fresquinhos". Claro que os bancos do comboio nos souberam a luxuosos sofás. A Ofélia perguntava-se se teria forças para carregar no acelerador do carro... J. Mas ... estávamos felizes! A nossa insanidade ... era e é a mais sã das "insanidades"!
Obrigado aos três companheiros desta jornada memorável. E obrigado Paula, pelo encontro, por teres feito de "salvadora" ... pelos muitos projectos que perpassam pelo nossos cérebros. A Serra Amarela uniu-nos, em Novembro de 2014 ... os Caminhos do Tejo fizeram de nós Irmãos, em Setembro deste ano... J

Ver o álbum completo

domingo, 22 de novembro de 2015

Pela Linha do Tua e no Douro Vinhateiro (2)

O Tua lança as suas águas no Douro em Foz Tua. Ora, com o mote de "A Linha é Nossa" que nos levou ao Tua ... não podíamos deixar de percorrer as belas encostas vinhateiras do Douro, no concelho de S. João da Pesqueira! E que belo complemento vivemos!

Ervedosa do Douro, 22.11.2015, 9:35h
Domingo 22 ... Na Rota das Vinhas do Douro
De novo a partir da Pousada de Juventude de Alijó, domingo saímos rumo a Ervedosa do Douro. O PR2 - Rota das Vinhas - é um percurso circular que percorre a encosta esquerda do Douro, desce até ao rio e volta a subir. 18 km, com um desnível acumulado de mais de 700 metros ... numa sucessão de paisagens de sonho. As encostas vinhateiras, particularmente nesta época outonal, constituem autênticos quadros vivos, de uma Natureza humanizada, mas humanizada pelo lado do belo e do místico.

À saída de Ervedosa do Douro: o paraíso começa...
Descíamos para a Quinta da Gricha, pelo meio de vinhas a perder de vista ... e o Douro não tardou a surgir lá em baixo, ainda bastante lá em baixo. Estávamos sensivelmente entre Foz Tua e o Pinhão.
Memórias
esquecidas
Por momentos ... o Douro é meu...!
Rostos na paisagem vinhateira...
E descemos até à margem do grande Rio
Pouco depois das onze estávamos junto à linha de água, sensivelmente frente às Quintas da Barca e do Carvalheiro, na encosta oposta. Também na margem oposta e junto à linha de água, lá estava a Linha do Douro, esta felizmente ainda activa ... até ao Pocinho.

Comboio do Douro ...
Pouco depois da Quinta de S. José recomeçou a subida, primeiro rumo à Quinta do Caedo, depois num ziguezaguear permanente. Durante muito tempo tínhamos frente a nós, na margem direita do Douro, as Quintas da Romaneira e do Roncão, bem como a ponte ferroviária da Ribeira do mesmo nome.

Admirando o Douro, sobre a foz e ponte ferroviária da Ribeira do Roncão
Subindo de novo a encosta ... com 
belos e saborosos medronhos
Paisagem Duriense, de regresso a Ervedosa do Douro
Pouco depois das duas da tarde estávamos a entrar em Ervedosa do Douro, de regresso aos carros ... com os olhos e a alma cheias. Mas ... as maravilhas não tinham ainda acabado...

Ervedosa do Douro ... depois de 18 km de um maravilhoso desbobinar de paisagens vinhateiras


Mas ... as maravilhas não tinham ainda realmente acabado. Embora já de carro, de Ervedosa fomos até ao mítico e místico Miradouro de S. Salvador do Mundo. A vista é magnifica, permitindo uma perspectiva única sobre o rio Douro, a Barragem da Valeira e a paisagem envolvente. O miradouro é tradicionalmente procurado por raparigas que querem casar, dizendo a lenda que, ao dar um nó nas muitas giestas que por ali existem ... vão encontrar facilmente um bom homem para casar... J.

Capela do S. Salvador do Mundo,
sobre o Douro e a Barragem da Valeira
Barragem da Valeira, vista do S. Salvador do Mundo
Curiosamente, quis o destino que esta fosse a terceira vez que visitei aquele lugar mágico. A primeira vez ...em 1965! Depois voltei lá em 2004; há 50 anos, há 11 anos ... e agora!

S. Salvador do Mundo,

17 de Abril de 1965 (com a minha mãe, na foto da esquerda)
S. Salvador do Mundo, 6 de Dezembro ... de 2004
S. Salvador do Mundo, 22 de Novembro de 2015
O Miradouro de S. Salvador do Mundo situa-se sobre a actual barragem da Valeira, na zona do famoso Cachão da Valeira, onde a 12 de Maio de 1861 o barco onde seguiam D. Antónia (a "Ferreirinha") e o Barão de Forrester se voltou e naufragou. D. Antónia salvou-se, porque as suas enormes saias de roda lhe permitiram flutuar até chegar à margem; mas o corpo do Barão nunca foi encontrado.

Bela panorâmica para nordeste, do S. Salvador do Mundo
Ali viveu, numa gruta ainda existente, Frei Gaspar da Piedade, entre 1494 e 1515. Construiu a Igreja, mais tarde entregue aos Franciscanos do Convento de S. João da Pesqueira.


Gruta, fonte e Capela
do 
S. Salvador do Mundo
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Ver o álbum completo dos dois dias
Aos pés do S. Salvador do Mundo ... o nosso fim de semana tinha acabado. Mais um fim de semana de muita Natureza, de muita beleza, mas também de muito convívio, de muita amizade, de um são e puro fortalecimento de amizades existentes e de construção de outras. Dali regressámos às bases de cada um ... no meu caso e das minhas duas acompanhantes e acompanhante ... ao som de Sebastião Antunes!...
Quem não o conhecia e à "Quadrilha" ... adorou! No carro até se dançava... J. Obrigado Vítor e Saraiva, pela organização deste belíssimo fim de semana. E obrigado a todos os que nele participaram. Apesar dos tempos conturbados que vivemos ... A Vida é Bela!