Quinta feira; última jornada em
Somiedo. Apesar de quase metade do grupo já ter conhecido os
Lagos de Saliencia (ou de Somiedo), nas anteriores "edições" ... nenhuma incursão nestas terras pode deixar de incluir o principal cartão de visita do paraíso. Seria apenas uma questão de preparar um percurso que, mesmo para os "repetentes", tivesse algo de diferente. E teve ... de diferente e até de inesperado...
Circular dos Lagos de Somiedo
Lisboa, 16 de Junho
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Subindo de La Farrapona (1708m alt.) para o Collado de La Forcada (1832m), 15.06.2017, 8h55 |
O alto da
Farrapona é o habitual ponto de partida e/ou de chegada para uma jornada pelos lagos de Somiedo. Mas desta vez saímos da
Farrapona, subindo a bom subir, pelo trilho que havia descido em
Outubro de 2013, com a minha "estrela" e um dos nossos casais de "Manos velhos". Passado o
Collado de la Forcada o trilho torna-se mais acessível ... e a imponência de
Somiedo abre-se diante dos nossos olhos extasiados. Não tardou a termos aos nossos pés, bem lá no fundo, o
Lago de La Cueva, em cujas águas se reflectiam as
Peñas de La Cueva e
Almagrera. Afinal ... o Paraíso existe!
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Descendo das alturas de La Forcada ... |
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... para as fabulosas panorâmicas sobre o Lago de La Cueva |
Sempre acima dos 1700 metros de altitude e "sobrevoando" o
Lago de La Cueva, atravessámos a
Horcada de Calabazosa e descemos ao segundo lago, o
Lago Negro, ou
Lago de Calabazosa. O magnífico dia que os "deuses" de Somiedo nos deram ... levou até os mais intrépidos às águas frias do lago mais profundo de Astúrias, que chega por vezes aos 60 metros de profundidade.
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Horcada de Calabazosa e descida ao Lago Negro |
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Vários foram os intrépidos que provaram as águas do Lago Negro, ou de Calabazosa |
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Toda a beleza do Lago de Calabazosa ...
até a minha mochila aprecia! |
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21 intrépidos "guerreiros" nas terras mágicas de Somiedo; o 22º está atrás da objectiva ... e o 23º optou por um dia a solo |
As paisagens de sonho sucediam-se. Continuando a contornar os lagos a sul, ao de
Calabazosa seguiu-se o
Lago de Cerveiriz. Geologicamente, toda a zona apresenta as características típicas da abrasão glaciar; todos estes lagos são de origem glaciar, com as correspondentes comunicações através de vales glaciares.
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Lago de Cerveiriz e alguns
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dos seus habitantes
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E vai começar a grande "escalada"... |
A sudoeste do
Lago de Cerveiriz, tínhamos pela frente a mole imponente dos
Picos Albos. Trezentos metros de desnível para subir em pouco mais de um quilómetro; quase 25% de inclinação média! Mas, apesar de tudo, uma subida mais suave do que a opção que contorna a
Laguna de Cebolléu, maioritariamente em cascalheira ... e por onde havíamos subido em 2014. E assim, pouco depois do meio dia estávamos quase a 2000 metros de altitude, entre os Picos Albos Ocidental e Oriental, com a mole imensa de
Peña Orniz do outro lado da paisagem "lunar" das
Morteras.
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Imagens de uma "escalada" épica... |
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Entre os Picos Albos Ocidental (na imagem) e Oriental, a 1990 metros de altitude |
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Las Morteras e, ao fundo, o Maciço de Peña Orniz |
Atingidos os quase 2000 metros de altitude, o rumo era agora a já minha bem conhecida
Majada El Couto, com "instruções" para darmos corda às botas, se queríamos ir almoçar à vista do
Lago del Valle, o maior e mais imponente lago não só de Somiedo, como de toda a Cordilheira Cantábrica. Como habitualmente nestas paragens ... as camurças começaram a aparecer, vigilantes, fugidias, mas bem presentes.
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Camurças e grifos ... grifos e camurças ... harmonia ... paz ... paraíso! |
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Majada de El Couto, 12h45 - Viemos da esquerda, dos Picos Albos ... e estávamos literalmente no Paraíso |
Como que empurrado pelas forças que levantaram estas montanhas e estes vales, no extremo ocidental da
Majada de El Couto quase que voei até àquele a que me habituei a chamar o "meu" miradouro. No dia
17 de Outubro de 2013 cheguei àquele mesmo local numa caminhada a solo. A solo não ... acompanhado pelo "meu"
Mastín, o "meu" cão guardador de gado que me acompanhou nessa caminhada, desde terras de Babia, que achou que eu não deveria fazer essa caminhada sozinho ... o
Mastín com quem partilhei o meu almoço e a minha água. Mas ... que miradouro é este? Passava um minuto da uma da tarde quando perante os olhos extasiados dos meus companheiros ... se abriu de repente esta paisagem...
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Miradouro natural sobre o Lago del Valle (1760m alt.) ... o Paraíso existe! |
O almoço foi neste balcão natural. Cada um escolheu o seu recanto, a sua forma de ver e sentir como somos pequenos, neste horizonte avassalador. Aquele almoço era uma entrega à Montanha, em que cada um se sentia personagem de um Tempo sem tempo ... de um Tempo para ser Vivido!
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Obrigado aos "deuses" de Somiedo ... e a todos os que aqui levei, naquele dia 15 de Junho de 2017 |
"Somiedo es un poema escrito por el agua, una balada caótica de versos labrados piedra a piedra; pero es poesía armónica y hermosa, arropada por la vida que aflora en todas partes. Poema vivo, arcaico pero eterno, imperecedero aunque vetusto, primitivo pero inmortal, como si hubiera sido concebido para perdurar." (Víctor Vásquez, biólogo)
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Até "ela" admira a fabulosa paisagem ... extasiada... |
O plano que havia traçado para esta edição circular dos lagos de Somiedo incluía a descida daquele mágico miradouro até às margens do Lago. Pouco depois das duas estávamos no
Lago del Valle, como se fôssemos descer para
Valle de Lago, onde tínhamos estado na véspera. Mas não, não íamos descer a Valle de Lago; o objectivo era voltar a subir para noroeste, rumo às veigas de
Camayor.
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Descidos "dos montes que medem o céu "... |
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... chegamos ao Lago del Valle (Cabaña Cobrana, 1580m alt.) |
No topo norte do lago retomámos a subida, pelo trilho que inclusivamente já desci com os Caminheiros Gaspar Correia. Uma pequena zona em obras, no caminho, baralhou-me a bifurcação ... mas o inesperado viria depois! Passada a
Fuente Las Divisas ... uma ligeira distracção afastou-me do trilho...
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O fabuloso vale do Rio del Lago, do início do trilho que subiria a Camayor |
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Voltamos às alturas ... por enquanto no trilho certo... |
Quando dei pelo erro de rota ... já estávamos bem acima do trilho, em direcção aos
Pozos de Promediu; seria mais demorado e perigoso voltar a descer ... mas demorámos o melhor de 45 minutos para progredir menos de 600 metros. Quando a "aventura" suavizou (ou, neste caso, aventura mesmo, sem aspas...) ... descomprimi a tensão acumulada. Os
Pozos de Promediu é um planalto a quase 1800 metros de altitude, algo semelhante às
Morteras, entre os Picos Albos e Peña Orniz, que há algum tempo queria conhecer ... mas não esperava conhecê-los inesperadamente e "guiando" 21 amigos. Bem fez o "Mano" Zé Manel em ter optado por um percurso a solo neste último dia... 😊. Aqui ficam, mais uma vez, as minhas desculpas ao grupo, bem como o meu agradecimento e admiração pela compreensão e carinho que me transmitiram.
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Imagens de uma épica e inesperada subida aos Pozos de Promediu ... ou as consequências de uma distracção... |
Uma vez no planalto dos
Pozos de Promediu ... havia que descobrir uma passagem para as
Veigas de Camayor, 100 metros de desnível abaixo de nós. A panorâmica dos 1840 metros a que estávamos, próximo do
Pico de la Cueva de Camayor, era fabulosa! O estudo da carta e uma curta "prospecção" indicou-nos felizmente a passagem para aquele autêntico
Shangri-La de Somiedo. Estava de novo e finalmente em terreno conhecido ... e tínhamos encurtado cerca de 4 km à caminhada!
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Veigas de Camayor ... o reino dos verdes prados |
Às cinco da tarde estávamos a cruzar a
Veiga de Cerveiriz, agora com o lago do mesmo nome à nossa direita. Pelo velho estradão mineiro já tantas vezes percorrido, menos de uma hora depois estávamos na
Farrapona, com 14,5 km percorridos ... uma parte bem lentamente...
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Veiga e Lago de Cerveiriz |
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Lago de La Cueva ... de manhã tínhamos passado na encosta em frente |
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E, em fim de jornada e em fim de actividade, o fabuloso vale de Saliencia, do Alto da Farrapona |
O Zé Manel esperava-nos na
Farrapona ... e concluímos que quase nos encontrámos nas Veigas de
Camayor, que percorreu até ao extremo noroeste ... por onde era suposto termos entrado. Regresso de autocarro ... e
Pola de Somiedo esperava-nos. Estávamos no fim de uma semana fabulosa ... nas "minhas" terras mágicas de
Somiedo. O dia seguinte seria o do longo regresso a casa.
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Pola de Somiedo, 15.06.2017, 19h00 - Não é um adeus ... é só um até breve... |
Somiedo, a minha terceira "terra natal", é sempre um bálsamo para os sentidos ... uma cura para a alma. Se o Paraíso existe ... naquelas terras está seguramente um pedaço dele ... e ao qual levei 22 amigos e amigas, de onde trouxemos recordações que, como sempre, perdurarão nas memórias. Depois de tantos agradecimentos recebidos, depois de tantas palavras amigas, depois de tantas fotos partilhadas, agora é a minha vez de dizer Obrigado, Muito Obrigado a Todos os que comigo construíram aqueles dias ... fabulosos ... inesquecíveis!
(Escrito em 21.06.2017)