Depois de muitos anos afastado da minha velha
Serra da Arrábida, as voltas e fragas da vida fizeram que agora, em menos de um mês, fizesse duas caminhadas espectaculares naquela que era, nos "
anos loucos" de há 40 anos, uma das zonas que mais frequentava. Levado pela minha "família" dos Caminheiros Gaspar Correia, voltei ontem à Arrábida para repetir, em sentido contrário, parte do percurso da
GRD entre Castelos de há quatro semanas atrás.
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De Pedreiras para nascente, rumo às Terras do Risco |
Partindo de
Pedreiras para nascente, a primeira atracção foram as
marmitas de gigante da
Ribeira do Risco, depressões mais ou menos arredondadas existentes no leito rochoso de alguns rios e ribeiros. Trata-se de um fenómeno de erosão hídrica causado pelo fluxo da ribeira ao longo de um afloramento calcário que ganhou, assim, formas ímpares.
Mas ... formas ímpares e algumas escorregadelas também foram frequentes, enquanto avançávamos lenta e prudentemente ao longo da "selva" da ribeira do Risco, engrossada pelas águas das intensas chuvas dos dias anteriores, principalmente da véspera. E assim se levam duas horas para progredir ... 1 quilómetro...
J
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Marmitas de Gigante da Ribeira |
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do Risco, 15.12.2012 |
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Ao longo da Ribeira do Risco |
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Terras do Risco |
Atravessada a estrada 379-1, o destino era agora o
Convento da Arrábida, com fabulosas panorâmicas de serra e de mar.
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Convento da Arrábida |
No
Convento da Arrábida, revivemos a vida e as memórias de
Frei Agostinho da Cruz, pela descrição do autêntico "guardião do templo" que é Quirino Lopes de Almeida, o zeloso cicerone que orgulhosamente descreve a história do convento ... ou não tivesse sido ele já actor de Manoel de Oliveira.
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Quirino Lopes de Almeida, o zeloso
guardião do Convento da Arrábida |
Solidão, naquele lugar isolado, diz nunca ter sentido. No convento começou uma vida nova: a sua contratação para tão particular trabalho levou-o - talvez influenciado pelo lugar - a querer saber mais sobre o lado oculto e espiritual e a pôr de parte outros géneros de leitura. Diz que aquele local é "
altamente energético". Senta-se num banco em frente ao mar azul que banha as praias da Arrábida, o mesmo onde se sentava Sebastião da Gama escrevendo poesia.
Perdido no imenso espaço do Convento (onde todas as 19 horas acerta o relógio para que o tempo ali entre), Quirino tem ainda outras funções: do outro lado do oceano, a Fundação Carl Sagan conta também com os seus préstimos.
Esta instituição tem um programa de descodificação de milhões de sons que chegam à Terra, através de um rádio telescópio no Peru. Através da internet, o guardião da Arrábida soube da sua existência e ajuda na descodificação dessa informação que vem de todo o Universo. “
Se há vida no nosso sistema solar, que é considerado pequeno em relação a outros, em outros maiores ou com as mesmas condições não poderá haver também?”
Fonte: "Correio da Manhã", 21.09.2003
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"Alta Serra deserta, de onde vejo
as águas do Oceano de uma banda,
da outra, já salgadas, as do Tejo"
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