Neste meu
blog, em que um dia resolvi começar a deixar as minhas memórias, é a primeira vez que escrevo sobre uma "aventura" ... antes da "aventura". E porquê? Porque a "aventura" que vou começar a viver dentro de poucos dias é diferente de todas as outras "aventuras" vividas...! Desta vez estou prestes a fazer-me ao caminho ... mas a um Caminho especial. Estou a caminho ... do
Caminho de Santiago.
"Os peregrinos que fixeron o Camiño de Santiago, dende o século IX en diante, tiveron diversas motivacións, fundamentalmente relixiosas, nun primeiro momento, e doutros tipos ó longo dos séculos." (Wikipedia)
A minha motivação para o
Caminho de Santiago? Ir!... Aliar o misticismo do Caminho à minha paixão pelos grandes espaços...
Aos 60 anos, depois de mais de 40 anos
por fragas e pragas ... depois de "aventuras" as mais diversas, nos mais diversos paraísos perdidos da
Ibéria, depois de ter percorrido os
Caminhos de Fátima ... eis-me a preparar
O Caminho ... o meu Caminho ... o nosso Caminho ... nos Caminhos de Santiago!
"É un camiño moi antigo que te leva a novas experiencias. Sexan cales foren as túas crenzas, o Camiño é unha experiencia única que vas vivir en corpo e alma. Unha viaxe espiritual que te leva ao encontro coa natureza, cos outros e, sobre todo, contigo mesmo." (Camiño de Santiago)
Caminho da Geira Romana
Normalmente, associa-se o
Caminho Português ao percurso por Santarém, Porto, Valença, ou também ao chamado
Caminho do Interior, por Viseu, Lamego, Chaves. Mas houve, historicamente, outras vias de peregrinação, como o
Caminho de Torres (proveniente de Salamanca, pela Guarda, Sernancelhe e Lamego), ou as diversas vias que atravessavam o
Alto Minho.
Uma dessas vias ... é o
Caminho da Geira Romana, que atravessa o
Parque Nacional da Peneda-Gerês pela
Portela do Homem e, de novo, pelo
Planalto Castrejo. Diversos factores contribuíram para a escolha deste percurso. O
Caminho Francês, os caminhos portugueses desde
Lisboa, ou mesmo a partir da "minha"
Vale de Espinho (pela Guarda e Lamego), implicariam sempre uma "aventura" de várias semanas a mais de um mês. Não se achando a minha "pequena arraiana" com forças para se fazer ao Caminho ... era muito tempo! E a hipótese de fazer meia dúzia de etapas separadas não me seduzia. Um dia, ela própria me disse: "
se queres tanto fazer, porque é que não fazes a partir do Porto?".
Essa pista acendeu-me a luz: quem começa no
Porto também pode começar em
Braga, que na Idade Média disputava com
Compostela o título de centro da Cristandade na Península. Depois, a minha paixão pelo
Gerês claro que também pesava; atravessar o Gerês a pé, a caminho de Santiago ... era uma aliciante!
E assim começou a Etapa -1...
J. Foi a etapa de reunir elementos, estudar percursos. Sendo uma das vias menos massificada dos Caminhos de Santiago ... é também a menos assinalada, a menos documentada ... sem Albergues. Mas a pesquisa foi começando a dar os seus frutos...
Para o percurso em Portugal, uma das melhores fontes que encontrei foram as "
Rotas do Alto Minho", uma publicação da Região de Turismo do Alto Minho.
Partindo de
Braga, os peregrinos passavam por
São Frutuoso de Montélios, atravessavam o
Rio Cávado em direcção a
Terras de Bouro e depois seguiam para o
Gerês, entrando em terras de Espanha pela
Portela do Homem. A partir de
Vilarinho da Furna, o percurso é o da mata da
Bouça da Mó, da "minha" velha
Geira e dos "meus" velhos marcos miliários romanos, tantas vezes mostrados a grupos de alunos, nos bons velhos tempos das excursões ao
Gerês.
Camiño Miñoto-Ribeiro
E na Galiza? Já tinha reunido informações acerca da passagem desta velha via de Santiago pelas terras de
Lobios e de
Entrimo, antes de voltar a território português, para atravessar o planalto de
Castro Laboreiro, rumo a terras de
Melgaço. Mas ... e depois, em terras galegas?
Depois ... soube da existência de pelo menos duas rotas medievais utilizadas pelos peregrinos que, do norte de Portugal e do sul da Galiza, se dirigiam à cidade do Apóstolo. Essas rotas estavam ligadas não só à religião mas também ao comércio, como é o caso do
Camiño Vreeiro, utilizado pelos arrieiros que levavam o
vinho Ribeiro até
Compostela. O outro, era o
Camiño Miñoto-Ribeiro, seguido principalmente por leprosos em peregrinação a Santiago, na esperança de uma cura milagrosa.
Diversos vestígios de hospitais e leprosarias testemunham esta vertente do Caminho, ligada à história da Saúde Pública. Actualmente, a área de Medicina Preventiva e Saúde Pública do
campus de Pontevedra e as Associações
Camiño Xacobeo Miñoto-Ribeiro e
Eirasenda estão a implementar a recuperação deste velho Caminho que, desde o concelho de
Padrenda (limítrofe com o nosso de
Melgaço), seguia por
Cortegada, cruzava o
Rio Minho entre
Arnoia e
Ribadavia e continuava por terras de
Forcarei e
A Estrada ... rumo a
Santiago.
Infelizmente, a referida Associação
Camiño Xacobeo Miñoto-Ribeiro mostrou-se bastante fechada e pouco cordial, pelo que o estudo do percurso mais viável prosseguiu com base na pesquisa de informações históricas e geográficas, na rede, bem como no estudo das cartas topográficas do
Centro Nacional de Información Geográfica (CNIG).
Não havendo Albergues na maior parte do trajecto, houve que recorrer à colaboração das autarquias. Desde a primeira hora, os municípios de
Terras de Bouro,
Cortegada e
Forcarei disponibilizaram-se para receber os "peregrinos"; para aqueles municípios, o meu muito obrigado. E assim, gradualmente, o "meu"
Caminho foi passando da Etapa -1 à Etapa 0. Foi, verdadeiramente, desencantar
A etapa 0 ... é a etapa da preparação da mochila...
J. O Caminho vai ser feito ... ao ritmo do tempo e dos tempos. No dia em que faz um ano que comecei a grande "aventura" do
Monte Perdido Extrem, quase com a mesma equipa que comigo viveu aqueles 4 fantásticos dias ...
O próximo sábado 5 de xullo imos facernos ao Camiño! Bo camiño, compañeiro(a)s!
Luar Na Lubre - "Romance de Don Gaiferos", tema especial gravado para o álbum "Cantigas do Camiño"