Conta a lenda que, ao finalizar a sua grandiosa obra, o arquitecto responsável pela construção do Convento de
Mafra terá mandado construir duas capelas, uma no ponto mais alto e outra no ponto mais baixo do concelho, respectivamente a Serra do Socorro e o vale que corre ao fundo do Longo da Vila, renomeado para
Vale do Arquitecto.
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Descida para o Vale do Arquitecto, Mafra, 16.Jan.2014 |
Outra lenda, contudo, diz que a segunda capela foi mandada construir por um pescador que, ao ver-se em perigo no mar, prometeu erguer uma ermida a Nossa Senhora do Socorro. Com base nestas lendas, a primeira caminhada do ano dos Caminheiros Gaspar Correia estava agendada para o
Vale do Arquitecto, que não é mais do que o vale do chamado
Rio Pequeno, uma das várias linhas de água que depois constituem o Rio
Lizandro. Há pouco mais de uma semana participei no reconhecimento do percurso, que seria, como foi, entre a bucólica aldeia de
Boco, na freguesia da
Igreja Nova, e a
Foz do Lizandro, paredes meias com a cosmopolita
Ericeira.
Tanto no dia do reconhecimento como agora ... as linhas de água e os caminhos reflectiam bem a intensidade das chuvas deste inverno bem regado. Meter pés e pernas à água e "patinar" na lama foram especialidades em que nos tornámos mestres...
J. Mas a beleza do percurso vale bem as agruras impostas pela meteorologia.
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Capela da Senhora do Arquitecto, 16.Jan.2014
"Catedrais" de vegetação
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25.Janeiro.2014 - Travessia da Ribeira do Rio Pequeno ... uma das muitas travessias... |
Se exceptuarmos as múltiplas travessias da ribeira - que acabam por se transformar em divertidos momentos de brincadeira... - o percurso não oferece qualquer dificuldade. Com pouco mais de duas horas de caminhada, pela bela várzea do
Lizandro aproximávamo-nos da
Senhora do Ó, ou Senhora do Porto, onde existiu um cais onde se pensa que eram carregadas as embarcações de carvão rumo à capital, justificando o nome da sobranceira povoação da
Carvoeira.
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Ao longo das várzeas do Rio Pequeno e do Lizandro |
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Chegada à Senhora do Ó |
A capela da
Senhora do Ó foi o local escolhido para o reforço alimentar. A chuva miudinha voltou, o grupo recolheu-se como possível nos alpendres da capela. Calças e botas molhadas e enlameadas, sacos de plástico enfiados nalgumas pernas ... mais parecíamos um grupo de indigentes...
J
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Ponte construída sobre estrutura medieval, na Senhora do Ó, ou Senhora do Porto |
Continuando ao longo do
Lizandro, o troço final da caminhada levou-nos à estrada Ericeira - Sintra. Cruzado o rio de novo para a margem sul, faltava-nos apenas o troço final da Foz, pelas belas falésias que separam a praia de
São Julião da praia da
Foz do Lizandro. E que belas panorâmicas do rio e da foz se admiram daquelas falésias.
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Da ponte sobre o Lizandro |
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E ... um guardador da Foz do Lizandro |
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Falésias e praia, na Foz do Lizandro |
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A Ericeira estava ao Sol... |
Antes das duas e meia da tarde tínhamos completado os previstos pouco mais de 12 km da caminhada, na praia de
S. Julião. Para primeira caminhada do ano de 2014 dos Caminheiros Gaspar Correia ... não se pode dizer que não tenha sido divertida...
J. O grande oceano estendia-se à nossa frente ... quase nos deixando perceber na neblina o célebre "rei da Ericeira". Mateus Álvares, ermitão em S. Julião e fisicamente parecido com D. Sebastião, acabou por vestir a pele do monarca desaparecido, chegando a organizar corte e a coroar rainha. A nossa caminhada terminou pelos caminhos por onde este falso D. Sebastião da Ericeira terá andado, até ser desbaratado pelos espanhóis...
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Arribas da costa oeste, para sul da praia de São Julião da Ericeira |