sábado, 26 de novembro de 2022

Por trilhos da Sapataria ... cinco anos e meio depois...

"Amanhã vou ao da Sapataria.". "De quem?", perguntei. "Da Junta de Freguesia", veio a resposta ... e assim nasceu, de um dia para o outro, uma pequena mas bela caminhada, num belo sábado de Sol, relativamente perto, em que pude ter a companhia da minha "pequena arraiana", quase septuagenária, além de três bons Amigo(a)s com os quais, no final da caminhada ... almoçámos um bom manjar 🤪

Sapataria, 26.Nov.2022, 09h30 - Verdes são os campos ... e amarelos
Em Abril de 2017 - já lá vão cinco anos e meio - tinha andado com os "Novos Trilhos" nos trilhos desta freguesia rural do concelho do Sobral de Monte Agraço, numa caminhada maior e mais ... à "Novos Trilhos". Desta vez tratava-se de uma caminhada de 11 km, organizada pela Junta de Freguesia, seguindo o PR2, a Rota do Sizandro, que cruzámos quase logo no início do percurso.

Da Sapataria aos Moinhos da Atalaia (314m alt.), pelos belos trilhos do Oeste
Do geodésico da Atalaia a panorâmica dava-nos 360º; para norte, a Serra de Montejunto; para sul o Cabeço de Montachique e as restantes formações do complexo vulcânico de Lisboa. Descemos depois para Galegos e para o Parque Desportivo O Sobreiro, onde a organização providenciara um pequeno mas simpático reforço alimentar, seguindo depois para os Moinhos do Charela e de Terras.

Fontanário na nascente do Sizandro, na pequena aldeia de Sizandros
Igreja de Nossa Senhora da Purificação, à entrada de Sapataria, 12h45
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Antes da uma da tarde estávamos a reentrar em Sapataria. Apenas 10 km ... mas, como sempre, os km são o que menos importa. Foi sem dúvida uma bela manhã de um belo sábado de Sol de Outono ... a que se seguiria um belo almoço, num belo "Manjar do Marquês" ... e até por um belo preço. A sobremesa e o café ... foram oferta, integrada no "Fim de Semana Gastronómico" promovido pela Junta de Freguesia e diversos restaurantes da zona.

sábado, 12 de novembro de 2022

Lagoa de Óbidos, do Gronho ao Vau ... com magusto caminheiro

A penúltima actividade do ano dos Caminheiros Gaspar Correia estava agendada para a Lagoa de Óbidos, o mais extenso ecossistema lagunar da costa portuguesa, onde diversas espécies de aves aquáticas e principalmente de moluscos bivalves encontram um habitat privilegiado.

Entre a rocha do Gronho e a Aberta, 12.Nov.2022, 09h50
Na margem sul da Lagoa, frente à Foz do Arelho, começava a 355ª Actividade do GCGC
Num sábado em pleno verão de S. Martinho, pouco depois das nove e meia da manhã, mais de 60 "gasparitos" estavam no fim da estrada do Bom Sucesso, quase na "aberta" da
Amoreira de Óbidos, 1.08.1971
Lagoa de Óbidos para o mar e frente à Foz do Arelho. Na viagem para lá, ao passar na Amoreira de Óbidos ... vieram-me à memória dois "indígenas" (eu e outro🤪) ... acampados numa horta, depois de uma tentativa infrutífera de chegarmos a Peniche à boleia, para depois irmos para as Berlengas. A estória passou-se ... há mais de meio século ... nos "anos loucos" do início das minhas "aventuras" de ar livre...😁
Chegados à praia do Gronho e após o desentorpecimento e o café, as "tropas" caminheiras iniciaram o "trilho do mar", no sentido noroeste - sudeste. Seriam 12 km de prazer, como as organizadores chamaram à actividade, quase sempre com a paisagem espectacular da Lagoa e a ajuda preciosa de um céu azul a condizer com o azul das águas.
As tradicionais cabanas dos "varinos", pescadores da Lagoa de Óbidos
Quase logo no início do percurso, tivemos oportunidade de ver as típicas cabanas onde antigamente os pescadores da Lagoa habitavam durante os meses da faina. Actualmente, as cabanas servem de guarida a alguns instrumentos e artes da pesca, como o "galricho", utilizado preferencialmente para a captura da enguia. Junto a uma das cabanas, ouvimos da boca de um pescador e filho de pescadores algumas histórias ligadas à pesca e à Vida daquelas populações.
O nosso percurso passou depois pela aldeia da Lapinha, seguindo ao longo da margem da lagoa até à Ponta do Espichel, Caneiro e Bico dos Corvos. O almoço foi junto ao Covão dos Musaranhos, no extremo sul da lagoa. A parte final da caminhada, rumo à aldeia do Vau, atravessou eucaliptais e campos agrícolas, no único troço com alguns desníveis desta bela jornada outonal.
Imagens da margem poente da Lagoa, entre a aldeia da Lapinha e a Vala do Ameal
Entre a Vala do Ameal e o Vau ... e no Vau, 15h10, em fim de caminhada ... "12 km de prazer"
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No Vau terminou a caminhada ... mas não terminou a actividade. Ontem foi dia de S. Martinho ... e a actividade de Novembro inclui sempre magusto. Por isso ... o autocarro levou-nos do Vau de regresso ao ponto de origem, junto à "aberta" da Lagoa ... para um belo magusto e convívio no "Merkado", um aprazível espaço de restauração ali situado e onde, das castanhas à jeropiga, passando pelos queijos, saladas, enchidos, picanha e outras iguarias ... terminámos em cheio este sábado de verão ... de S. Martinho.
Na "aberta" da Lagoa em fim de tarde e no Bar / Restaurente "Merkado" para o magusto caminheiro, entre as 16h e as 18h30

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Rio Côa (6): GR45, de Pinhel à foz do Côa

No final de outubro do ano negro de 2020 avancei duas etapas da GR45, a Grande Rota do Côa. Tinha-a iniciado 10 anos antes ... muito antes de existir uma GR45 (ou GRVC) homologada, tendo embora colaborado com a Associação Transumância e Natureza, em 2013, no
Próximo de Pinhel, 2.Nov.2022, 07h40
O Duster ficou aqui a descansar dois dias 😄
reconhecimento que levou à marcação daquela grande rota no meu concelho adoptivo. Há dois anos, tinha deixado o percurso próximo de Pinhel ... e claro que ficou sempre a fermentar a ideia de completar a minha descida pedestre do Côa até à foz. E assim ... "abandonei" a minha estrelita em Vale de Espinho e parti, a solo, para mais duas etapas ao longo do rio que brota do ventre das Mesas ... e "abandonei" o carro no ponto exacto onde terminei há dois anos, entre Pinhel e a Ribeira das Cabras ... com um papel no tablier a dizer que não estava abandonado... 😂
Um nevoeiro húmido perdurou grande parte da manhã. Como previa ... não vi viv'alma durante horas, até à aldeia do Azêvo, já perto do meio dia. Era só eu, os campos e as profundezas do Côa. E ao contrário de há dois anos, entre Porto de Ovelha e Pinhel, desta vez comecei logo de início a ficar agradavelmente surpreendido com o estado dos trilhos e com as marcações; as marcas branca e vermelha são frequentes, nos locais necessários, e muitas até de pintura nitidamente recente.

Ponte sobre a Ribeira das Cabras, ainda próximo de Pinhel ... e um portal para esta "aventura" a solo
Apesar das chuvas, o Côa leva muito pouca água, na zona do canyon de Monforte e na Ponte da Excomungada
Pedaços de paraíso, no troço da GR entre a Ponte da Excomungada e a Quinta da Chinchela
Este foi um dos troços mais bonitos da primeira destas duas etapas. Cerca de 1,5 km à beira Côa, pelo meio de vegetação luxuriante ... até dar de caras com uma cerca de gado, antes da foz da Ribeira da Quinta Nova. Depois, mais a noroeste, a foz da Ribeira das Cabras marcou o afastamento provisório do Côa, subindo o ondulado das encostas que conduzem à aldeia de Azêvo.
Quinta da Chinchela, junto à foz da Ribeira da
Quinta Nova ... bem povoada de gado 😊
O Côa junto à foz
da Ribeira das Cabras
O vale do Côa ficou provisoriamente para trás, subindo agora as encostas da margem esquerda, rumo à aldeia de Azêvo
Estranhamente, o traçado da Grande Rota contorna o Azêvo, não sei se para evitar o desnível. Mas a subida, curta, à Aldeia Velha de Azêvo,   merece bem a pena. Desabitada e abandonada, a aldeia é um local fantasmagórico, de ruínas rodeadas de muros toscos e ruas onde cresce a erva e o mato. Quantas vidas por ali terão passado ... quantas memórias haverá ali perdidas...

Aldeia velha de Azêvo ... uma aldeia fantasma
... uma aldeia de memórias perdidas...
Desço da aldeia velha e, já na base do morro, esta Cruz parece abençoar a aldeia de Azêvo ... a nova!
Na nova aldeia, uma simpática anciã estava à porta. A expressão dela, ao ver-me, indiciava a necessidade de falar. "Estou à espera que passem do Centro de Dia, para me darem o almoço", disse-me ... "então e o que anda a fazer?". Lá lhe disse que estava a fazer a Grande Rota do Côa ... mas tanto isso como a minha pergunta se ainda tinha vivido na aldeia velha caiu na surdez da simpática senhora ... e eu lá continuei o caminho para norte, rumo a Cidadelhe.
Igreja de Nossa Senhora da Purificação, Azêvo (aldeia nova), 12h00

E a jornada segue para norte, por entre portais pétreos ...
e onde se juntam a GR45 e a GR22, as Grandes Rotas do
Côa
e a das Aldeias Históricas
E chego a Cidadelhe às 14h00, 2.Nov.2022
Ao estudar a logística destas duas etapas da GR45, Cidadelhe pareceu-me o local indicado para pernoitar, tanto mais que já conhecia o complexo Cidadelhe Rupestre Turismo Rural;
Cidadelhe Rupestre: qualidade '5' / gentileza e saber cativar '0'
há 7 anos, numa actividade centrada na Serra da Marofa, fiquei ali com os restantes companheiros dessa "aventura". Agora, quando telefonei a reservar o alojamento, não pensava chegar tão cedo ... pelo que ao longo da manhã tentei ligar várias vezes ... sempre infrutiferamente; já aliás para fazer a reserva tinham sido necessárias 3 ou 4 tentativas. Quando finalmente alguém me atendeu, estava praticamente a entrar em Cidadelhe ... e só então fui informado de que não havia ninguém no alojamento;
Igreja de Santo Amaro, Cidadelhe, 14h30 ... enquanto espero
"a minha mãe vai já para aí, daqui a meia hora está aí " ... mas esperei quase uma hora! Um horário de check-in é normal e aceitável ... o que não é aceitável é esse horário não estar no site nem me terem informado ... e menos aceitável é ainda não atenderem sucessivas vezes o único telefone divulgado. O único não ... há um outro (fixo) ... que não funciona, responde a gravação referindo não estar atribuído. É certo que eu tinha dito, quando reservei, que chegaria mais tarde ... mas por isso mesmo tentei telefonar 4 vezes durante a manhã. Mas a estória ainda não ficaria por aqui...

Panorâmica de Cidadelhe para nordeste e as simpáticas casinhas de pedra da Cidadelhe Rupestre ... enquanto espero...
A casinha que me foi atribuída. Bem precisava de amparo... 😂
Quando finalmente chegou a minha anfitriã, justificou-se com o horário de check-in, que é a partir das três ... e de nada serviu referir que essa informação ninguém ma deu nem está em lado nenhum; e os telefonemas não atendidos ... "pois, a minha nora esteve numa formação". Apesar de tudo, nessa altura a conversa estava a ser relativamente cordial, pelo que, em tom de brincadeira, sugeri que, face aos telefonemas não atendidos e à espera, deveria ter direito a um desconto; ouvi como resposta que "a minha nora já lhe aplicou o desconto" ... mas o preço com o suposto desconto foi exactamente o que me haviam informado quando da reserva. "O preço normal seriam 'xx' euros", disse-me a senhora ... sendo que esse 'xx' era superior ao preço divulgado em vários sites, nomeadamente no Booking! Perante a minha observação, a única "gentileza" da senhora foi que não querem ninguém insatisfeito ... pelo que se quisesse poderia ir-me embora!
E a tarde declina em Cidadelhe, onde fiquei excelentemente alojado ... mas com nota '0' para a hospitalidade, cortesia e simpatia da Cidadelhe Rupestre. Que lição de saber cativar precisam de tantas e tantas outras unidades de Turismo Rural!
Em clara contradição com a falta de cortesia no alojamento ... esperava-me um jantar caseiro, num espaço acolhedor e servido com muita simpatia e, diria até, muito carinho. Curiosamente, o contacto da Dª Mila, que confecciona refeições a pedido, tinha-me sido dado quando da reserva de alojamento.
Em ambiente rústico e familiar, o jantar da Dª Mila (913472486), para além da qualidade e quantidade, foi uma lição de simplicidade, hospitalidade e simpatia. Bem haja, Dª Mila ... e Vitória, a filha e ajudante 😍
💖 "Nunca deixes de brilhar" 💖 / 💖 "Colecciona momentos ... não coisas!" 💖
Para além do jantar, pela Dª Mila fiquei a saber que Cidadelhe e aquele seu espaço foram palco das filmagens de "Fátima", do italiano Marco Pontecorvo, com Sonia Braga, Joaquim de Almeida e Lúcia Moniz, entre outros. E de barriga e alma cheias, recolhi à minha "Casa do Amparo".

03.11.2022 - Deixo Cidadelhe antes das
7h, de regresso ao vale do Côa
Por um trilho fabuloso, uma hora depois estou na ponte da estrada para Figueira de Castelo Rodrigo
Cruzado o Côa, a GR45 atravessa a Reserva da Faia Brava, a primeira área protegida privada portuguesa, que abrange uma vasta área envolvente das arribas do Côa, entre Cidadelhe, Vale de Afonsinho e Algodres. Logo à entrada, um pequeno desvio da GR leva ao miradouro sobre as arribas, onde as vistas se deleitam sobre o "Rio Sagrado", no seu curso apertado em direcção ao Douro.

Travessia da Reserva da Faia Brava, a primeira área protegida privada portuguesa, nas arribas do Côa
Às dez e meia da manhã estava a pouco mais de 1 km de Algodres. Quando desenhei estes dois dias, o objectivo era que esta segunda etapa fosse de Cidadelhe a Castelo Melhor, deixando para outra altura a derradeira etapa até à foz do Côa. Contudo ... foi começando a surgir no pensamento a hipótese de poder terminar a GR, tanto mais que a meteorologia estava bem melhor do que a previsão.

A caminho de Almendra, entre as 10h15 e as 11h00 ... e já se viam as serranias durienses...
Almendra, 11h40 - Igreja da Misericórdia e Pelourinho
Não cheguei portanto a ir a Algodres, não é passagem "obrigatória" da GR45. E assim ... sem o ter planeado ... ao sabor do improviso ... foi-se delineando a ideia de completar a Grande Rota do Côa. O importante ... é Viver, gerir e saborear cada segundo. Castelo Melhor estava à vista!...

Castelo Melhor à vista, 11h50 ... e ao fundo já se percebe o vale do Douro
Quintas e vinhedos Durienses, entre Almendra e Castelo Melhor
Castelo Melhor, 12h30 ...
e já não houve hesitações!
Castelo Melhor ficou para trás ... estava escrito que terminaria hoje a GR45
A chuva tinha começado a rondar à minha volta ... mas não me desmoralizou. Era meio dia e meia hora quando passei em Castelo Melhor; a minha logística dizia-me que se terminasse antes das três da tarde seria folgado para tratar do transporte de retorno a Pinhel e a Vale de Espinho; achei que seria possível ... e prossegui, agora já sem hesitações ... mas com alguma chuva... 😏

Ia começar um banho de vinhedos com as cores outonais. Orgal, a última povoação atravessada, 13h50
E a seguir a Orgal ... à minha direita surge o Douro, imponente!
A seguir a Orgal, a GR45 atravessa a cumeada das Tulhas, uma autêntica península entre o Côa e o Douro. A parte final, através dos vinhedos ... foi literalmente Viver um Sonho! Lá em baixo, já via o destino, a Foz do Côa, e a ponte da antiga linha ferroviária ... onde também terminei, com o meu "Mano velho" Mousinho, a grande rota de Fregeneda à Foz do Côa ... já lá vão 10 anos!

A fabulosa descida para a foz do Côa, através dos vinhedos da margem direita do Côa e do Douro
Foz do Côa, 14h50: da Serra das Mesas ao Douro ... estava completada a minha descida pedestre do Côa!
Antigo apeadeiro do Côa, junto à foz ... abandonado e esquecido
A minha "missão" estava terminada. A GR45 termina no Museu do Côa, mas para mim o que conta é a foz, a "romagem" que iniciei há 12 anos na Serra das Mesas, na nascente do Côa. Do Museu descem agora até à foz uns longos passadiços tão na moda ... mas eu não me guio por modas. Guio-me mais pelos acasos do destino: os velhos bastões que costumo usar nas terras raianas, há muito radicados em Vale de Espinho ... abriram nos últimos km desta jornada. E portanto ... que melhor local poderia escolher para lhes fazer o "funeral"? Ficaram junto à ponte ferroviária ... e poderão portanto contar aos caminheiros que virem passar ... que também eles desceram da nascente até à foz do Côa...💖
E quando tudo parecia terminado ... ainda tive de subir os mais de 3 km da foz do Côa a Foz Côa ... enquanto esperava pelo taxista que me "pescou" de regresso a Pinhel. O Duster lá estava no mesmo local onde "dormiu"; ele sabia que eu voltava ... bem como a minha donzela. Eram seis da tarde (já noite) estava na nossa Vale de Espinho😍

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