Nos últimos anos, a "conquista" dos pontos mais altos do
Gerês e de
Somiedo tem-me cada vez mais feito ouvir essa melodia, a melodia que desenha caminhos, a melodia que leva a esse mundo de magia onde nada é impossível ... a melodia do sentimento da montanha.
Nunca fui nem sou homem de ambições desmesuradas. Como "filho da natureza" que ainda hoje me chamaram, os lugares próximos do céu onde os trilhos da imaginação me levam são quase todos na nossa pequena Ibéria. Posso já ter corrido muito ... mas muito mais me espera!
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Panorâmica do Lago de Sanabria, próximo de San Martín de Castañeda, 18.05.2012 |
Nos confins das terras de Zamora, sobre o nordeste transmontano e nos limites com a Galiza,
Peña Trevinca era um desses lugares míticos, que há muito me lançava o desafio da conquista. Quis o destino que a minha "família" caminheira me tivesse incentivado a organizar uma actividade no Parque Natural do Lago de
Sanabria, onde se situa Peña Trevinca. Quis o destino que, para isso, ali tivesse
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Senda de los Monjes, 18.05.2012 |
passado 5 dias, de sexta a terça, de 18 a 22 deste mês de Maio de calor e de frio, Sol e chuva, vento ... e neve!
Com a minha fiel companheira e outro casal de velhos, bons e grandes amigos, que também estão na "família" caminheira, partimos de
Vale de Espinho na passada 6ª feira, rumo a terras sanabresas. E que paraíso ali fomos encontrar! Lagos, bosques, rios, torrentes de montanha, altas cascatas ...
"O céu a flutuar e o rio a correr, o mato a eriçar-se e a serra também! Tudo lindo, tudo misterioso e mágico! "
(Hermann Hesse, "Siddhartha")
Não vou relatar em pormenor cada uma das quatro caminhadas que ali fizemos. Qualquer delas daria, só por si, longas descrições dominadas pelo êxtase, pela contempla-ção, pela maravilha das paisagens que a vista e a mente saudavelmente ali sorvem. Na própria sexta feira, em que chegámos, descemos a
Senda de los Monjes, que liga o Mosteiro de
San Martín de Castañeda, reconstruído por monges moçárabes no século X, à aldeia de
Ribadelago, tragicamente destruída pelo rebentamento da barragem de
Vega de Tera, em 9 de Janeiro de 1959.
No dia seguinte, sábado ... foi o grande dia da conquista de
Peña Trevinca. A previsão meteorológica não era segura, mas iríamos gerindo a progressão à medida do que víssemos ... ou S. Pedro não estivesse sempre comigo...! Partindo da
Laguna de Los Peces, a 1735 metros de altitude, o rumo era o vale alto do
rio Tera, numa manhã em que o Sol iluminava as esplêndidas panorâmicas que se iam abrindo ante os nossos olhos extasiados. Já acima dos 1900 metros ... há que descer aos 1600, em que se entra no vale do
Tera. Ao longo desta progressão,
Peña Trevinca aparecia-nos no horizonte ... ora esplendorosa e recortando-se no céu azul, ora coberta por nuvens às vezes ameaçadoras. Pequenos aguaceiros levavam-nos a questionar se deveríamos manter a "missão" ... mas logo a seguir o Sol iluminava de novo as encostas cobertas de urze. Nos cumes, a neve recordava-nos que a Primavera ainda estava a meio.
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Lagoa de Vega del Conde, da encosta nordeste do vale do Tera, 19.05.2012 |
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Panorâmica do vale do Alto Tera, a caminho de Peña Trevinca |
Entretanto tínhamos deixado para trás duas caminheiras que optaram por regressar à
Laguna de Los Peces e ao abrigo do carro. Éramos portanto só dois "exploradores", que avançávamos em direcção ao vértice pontiagudo que, lá ao fundo, chamava por nós. Subir a
Peña Trevinca não é pera doce. Do fundo do vale, a pouco mais de 1600 metros de altitude, sobe-se até aos 2127 metros do cume em sensivelmente 2,5 km; uma inclinação média de 21% ... que nalguns pontos ultrapassa os 30%. Cansado, o meu companheiro de jornada resolveu esperar na base do troço final, pelo que foi portanto sozinho que, pouco depois das duas da tarde, atingi o cume de
Peña Trevinca.
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Vale do Rio Tera, desde a encosta de
Peña Trevinca |
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"Conquistado" o cume de
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Peña Trevinca, 2127m altitude
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O imponente vale do Tera, do cume de
Peña Trevinca |
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Panorâmica a noroeste de Peña Trevinca, do cume |
A sensação de chegar ao cume de
Peña Trevinca é sublime, até mesmo pelo esforço dispendido na subida. 360º em redor, tudo é o reino da montanha e das encostas multicolores. Para poente, são terras galegas que vemos. Situada no limite das duas províncias, Peña Trevinca é simultaneamente considerado o ponto mais alto de Zamora e de Orense.
O regresso foi essencialmente pela margem direita do
Tera, até à barragem de
Vega del Conde, onde existem uns estratégicos abrigos de montanha. Um deles ... tinha a lareira acesa e estava ocupado por simpáticos montanheiros, com quem trocámos algumas palavras ... e que ainda nos ofereceram uns goles de um precioso néctar, alegadamente de sua produção. Mas de Vega del Conde à Laguna de Los Peces ... foram quase duas horas em que se sucedeu a chuva, o granizo ... e a neve! Pequenos e incipientes flocos transformaram-se num nevão que rapidamente ia cobrindo de branco aquela paisagem ímpar. Batida pelo vento, ao chegarmos ao carro o lado direito deste estava já razoavelmente "pintado"; as nossas duas companheiras esperavam-nos com alguma ansiedade. E esta jornada tinha totalizado 23 km extraordinariamente vividos e diversificados.
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No regresso de Peña Trevinca, 19.05.2012 |
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Cascatas do
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Rio Tera
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Peña Trevinca fica para trás ... e a este Sol seguir-se-ia chuva, granizo ... |
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... e neve! |
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"Tombe la neige"... |
Puebla de Sanabria mereceu também uma visita, no domingo 20, em que a meteorologia não esteve propícia a "aventuras". Mas na 2ª e 3ª feiras ... aí estávamos nós de novo nas
rutas sanabresas, para dois percursos completamente distintos: no primeiro, a jusante do vale alto onde andámos sábado, descemos o espectacular canyon que o
Tera abriu nestas paragens fabulosas, de novo até
Ribadelago e ao Lago de Sanabria. A sucessão de poços, lagos, lagoas e cascatas é indescritível!
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Vale do Alto Tera, 21.05.2012 |
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Refúgio abrigo nos bosques que ladeiam o alto Tera |
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Lago de La Cueva, rio Tera |
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O caminho nem sempre é fácil... |
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Imagens da espectacular descida
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do Canyon do Rio Tera
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Laguna de La Carbonera |
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E chegamos a Ribadelago, no fim de
uma caminhada fabulosa! |
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Ribadelago, 21.05.2012 |
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Imagens de um passado não muito
distante |
Terça feira, a última jornada pedestre em terras sanabresas ... foi um banho de verde, um mergulho num bosque onde pareciam pulular as fadas e duendes, atravessado pelo
Rio Truchas, que se precipita naquela que é uma das mais espectaculares cascatas de Sanabria, a
Cascata de Sotillo.
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Sotillo de Sanabria, 22.05.2012:
vai começar mais uma fabulosa caminhada ... através de bosques
"encantados" |
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Miguel de Cervantes andou por estas terras ... das quais provavelmente era natural |
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Rio de Las Truchas |
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Neste bosque há formas fantasmagóricas... |
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Sucedem-se os claustros naturais |
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O espectáculo das Cascatas de Sotillo |
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Cascatas de Sotillo |
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A ponte sobre o Rio Truchas
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não estava em muito bom estado...
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Um banho de verde! |
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E regressámos a Sotillo ... dando
por findos estes espectaculares dias em terras de Sanabria |
A selecção de fotografias a incluir neste artigo foi difícil ... já que o total são mais de 600! Para quem tiver paciência e quiser "explorar" um pouco mais o que foi esta espectacular "aventura" ... aqui ficam os álbuns dos quatro percursos efectuados.
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Senda de los Monjes (44 fotos) |
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Peña Trevinca (160 fotos) |
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Cañón del Tera (297 fotos) |
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Bosque e Cascata de Sotillo (160 fotos) |
(Clique nas fotos para ver os respectivos álbuns)
Aqui fica igualmente o registo dos percursos em terras sanabresas: