quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Falésias, mar, geologia ... de S. Julião ao Magoito

Quase a terminar 2016, a vinda a Lisboa da minha "mana" nortenha foi o mote para, provavelmente, a última caminhada do ano. E como a "mana" Anabela é geóloga ... o "mano" Araújo reservou-lhe uma caminhada geológica, pelas falésias do litoral de Sintra / Ericeira. Pena os outros "manos" que as "aventuras" pedestres trouxeram à minha Vida não tenham podido estar presentes.
Praia de S. Julião, 22.Dez.2016, 9h55
Com um pequeno atraso, pouco antes das dez horas juntávamo-nos assim seis carolas na Praia de S. Julião, na foz da Ribeira do Falcão e ligeiramente a sul da foz do rio Lisandro. Atendendo ao horário das marés, o percurso seria portanto de norte para sul. O segundo dia de inverno esteve um esplêndido dia de sol, excelente para caminhar pelas arribas, praias, calcários, arenitos, basaltos ... e fósseis. E assim foi um esplêndido andarilhar, em permanente sobe e desce, sucedendo-se nomes como a Praia da Vigia, a Ponta dos Ladouros e a foz da Ribeira da Mata, vinda de terras da Assafora e do local onde um dia acampei com a minha "estrela" e outros colegas ... nos "anos revolucionários" de 1975 e 76. Já lá vão ... exactamente 40 anos!

Rumo a sul, em desce e sobe permanente
A já citada Ribeira da Mata precipita-se na praia numa bonita cascata que dá ainda mais vida àquele troço do litoral. E seguiu-se um troço de espectaculares formações rochosas, antecedendo a Praia da Samarra. Com a maré a subir ... chegar à praia pelos rochedos junto ao mar não foi propriamente fácil...

Cascata da Ribeira da Mata
Foz da Ribeira da Samarra e Praia da Samarra à vista
O acesso escolhido à Praia da Samarra, por entre formações rochosas escultóricas ... e a fugir às ondas...
Praia da Samarra
Para sul da Praia da Samarra já estava em terreno que já conhecia. Nomeadamente o local escolhido para o almoço: o cume da Lomba dos Pianos, afloramento basáltico com disjunção prismática, que é um autêntico monumento geológico na costa oeste, com belas panorâmicas do litoral.

A caminho da
Lomba dos Pianos

"Escalada" ao cume da Lomba dos Pianos
e, abaixo, a respectiva panorâmica litoral
Um autêntico monumento geológico!
Sempre para sul ... o nosso "mestre" levou-nos a descer cordas de acesso a pesqueiros escondidos, onde se "pescam" recantos fabulosos de um litoral que, nalguns pontos, lembra a costa ocidental da Irlanda. Entre a Ponta das Ladras e a das Incimas, a Ribeira de Samougueiro precipita-se em cascata sobre a Praia de Gerebele. Topónimos bastante originais, sem dúvida.

Descida "radical", a sul da Lomba dos Pianos
Quando o mar encontra a terra...
Cascata da Ribª de Samougueiro
Ao longo da costa a norte do Magoito ... ou estaríamos na Irlanda?...
Na Ponta das Incinas, ainda a norte do Magoito, a Natureza mostra-nos mais uma lição de Geologia, nos arenitos escultóricos que enfeitam mais aquele troço de litoral. E antes das quatro da tarde estávamos na praia do Magoito ... mas a jornada ainda prosseguiria um pouco mais a sul.

Dunas fossilizadas a
norte do Magoito ...
A Natureza é escultora de Arte
Praia do Magoito, 15h55
Agora ao longo da praia, continuámos jornada até à Aguda, saboreando o vaivém das ondas a beijar a areia e as rochas, cobertas de pequenos mexilhões e de vestígios fósseis ... e brincando com a espuma do mar, a lembrar flocos de neve doce e esvoaçante. A Praia da Aguda seria o limite sul desta bela descoberta do litoral de Sintra / Ericeira. Subindo a escadaria de acesso à arriba, regressámos ao Magoito agora sobre a praia, à medida que o Sol se preparava para mergulhar no mar.

Ao longo da Praia da Aguda, brincando com a espuma
E ... regressamos às arribas ...
O pôr do Sol é sempre um espectáculo glorioso; desta vez fomos até "abençoados" por uma enigmática "Cruz" nos céus, ao lado do disco solar. Com um pouco de imaginação ... seria a Cruz de Santiago?...

Pôr do Sol nas arribas, entre a Aguda e Magoito. À direita do Sol ... a Cruz de Santiago...
Cinco e vinte ... e brindámos à Amizade, à época Natalícia, à Natureza, na praia do Magoito. Os seis no único carro que ali deixáramos, regressámos a S. Julião ... e despedimo-nos até à próxima, para a maioria provavelmente até para o ano.
(Foto original: Rui Castro)

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Ao luar ... com a última Lua cheia do ano...

"Whos'o pulleth out this sword from this stone and anvil, is the true born King of all Britain"

Assim começava Rick Wakeman a sua adaptação dos "Myths And Legends Of King Arthur And The Knights Of The Round Table", de Thomas Malory ... e mais ou menos assim começava o desafio que uma certa "fada Morgana" lançou para ontem, a última Lua cheia do ano da graça de 2016:
"Olá Gente gira! Vamos ver a Lua a nascer? E caminhar sob o luar? O guia é o António Araújo - Sir Lancelot - que nos levará por Lagos, Penedos e Bosques encantados. Mais uma vez será uma caminhada sem uso de frontal ou lanterna e em silêncio (o possivel claro...J); a meio faremos um brinde e comemos algo; o resto logo se vê ... bom será de certeza ... J".
Estrada da Serra, 14.12.2016, 16h50
E claro que foi bom ... muito bom! Para além de Morgana e Sir Lancelot ... tivemos o próprio Rei Artur, o mago Merlin ... e seis garbosos Cavaleiros e Cavaleiras da Távola Redonda... J
E onde nos reunimos? Numa adoração à Lua ... o que poderia haver de melhor do que a Serra da Lua ... a mágica e mística Serra de Sintra? A "Távola Redonda" começou-se a reunir na estrada sul da serra, no acesso à Pedra Amarela ... o "altar" eleito para assistir ao pôr do Sol e ao nascer da Lua. E, perante uma previsão meteorológica negra ... o primeiro "milagre" deu-se às 17h18, hora a que o astro Rei mergulhou no mar. Não foi uma explosão de cores, mas mesmo assim um deleite para as mentes.

Subimos para
a Pedra Amarela
17h10 - Numa tarde cinzenta ... vai começar o mergulho do Sol ...
... que desce para as águas do Atlântico!
O nosso Sir Lancelot - o meu "mano Araújo...J - montou a mesa junto àquele "altar". A Távola não era redonda ... mas mais importante era celebrar aquele momento. Brindámos ao Sol, à Lua que havia de nascer ... a nós próprios, à Amizade, à Vida! E fomos abençoados ... pelo vento que se levantou e a alguma chuva que entretanto caiu; os víveres foram protegidos com uma manta térmica ... e o vinho desceu à "adega"; leia-se ... debaixo da mesa...J!

Há montanhas no céu...

Enquanto o Sol se põe ... prepara-se a
Távola Redonda ... apesar de ser rectangular...J
x
Entretanto fez-se noite, um presépio de luzes nasceu aos nossos pés ... e às 18h22 o disco lunar surgia, imponente e mágico, ao lado do Palácio da Pena, entretanto iluminado. A chuva parara e os céus limparam ... para nos deixar sentir a união estabelecida ... para nos deixar fazer pedidos...

18h15 - Aos nossos pés nasceu um presépio de luzes...
18h22 - E à direita do Palácio da Pena ... começa a nascer a Lua ...
Celebramos a Lua!
(Foto da direita: Paulo Teles)
A Lua iria iluminar o nosso caminho...
À luz do luar e sem chuva, voltámos a descer à estrada da serra, para nos dirigirmos à albufeira do Rio da Mula. E o que se seguiu foram os momentos mais altos desta "aventura": desde a barragem, subimos o chamado trilho das pontes ... completamente às escuras, sem qualquer frontal ... e completamente em silêncio. "Sir Lancelot" guiava o grupo por entre o denso arvoredo; só se viam por vezes os raios de luar, espreitando por entre a ramagem; só se ouviam os passos e o murmúrio das águas da ribeira. Espectacular! Uma autêntica aventura dos sentidos! Não nos admiraríamos se das formas fantasmagóricas que nos rodeavam surgissem duendes ... espíritos verdes ... ou Selene ... a deusa da Lua!

Trilho das Pontes ... a aventura dos sentidos!
Outro local que igualmente já visitei várias vezes de dia foi a Casa "dos Espíritos Verdes". À noite, na magia do luar ... mais do que nunca parecíamos transportados através de um portal para outra dimensão!

Um portal para outra dimensão - Casa dos Espíritos Verdes
E a Lua continua, radiante e limpa, iluminando a nossa noite
ACasa "dos Espíritos Verdes" ... para nós eram as ruínas do Castelo do Rei Artur...J. Faltava-nos "eleger" uma Guinevere ... e Viviane, a Lady of the Lake; o lago nós tínhamos ... a Lagoa Escura, ou Lagoa dos Mosqueiros ... que seria a nossa passagem para Camelot ... ups, para o Monte Rodel.

21h35 - Junto à Lagoa Escura, ou dos Mosqueiros
... talvez procurando a dama do lago...
O Monte Rodel não é propriamente fácil de escalar, particularmente o troço final de acesso ao cume. De noite e com tempo húmido ... menos fácil é. Mas imbuídos do espírito arturiano ... subimo-lo até ao cume! Localizados praticamente no centro da Serra de Sintra, com vista privilegiada sobre a vertente norte, aqueles dois aglomerados graníticos, em forma piramidal, parecem ali colocados por mãos superiores. E ... mãos superiores ditaram que os céus se revolvessem às quase dez e meia da noite: a chuva voltou, as panorâmicas esconderam-se ... mas a Lua fez a sua aparição por entre as nuvens, como que a dizer-nos ... estou aqui! Tínhamos pensado juntarmos de novo a Távola Redonda no cume ou próximo do Rodel ... mas Camelot entendeu guardar os seus segredos. Na descida, ainda houve um bastão que quase se fez passar pela espada Excalibur...J. E o Concílio decidiu ... que regressássemos à origem.

22h20 - No maciço granítico do Rodel ... debaixo de chuva. Os mistérios de Camelot permaneceriam no cume...
O regresso duraria ainda mais de uma hora e meia, pelos Capuchos e a leste do Monge, rumo à Pedra Amarela e à estrada da serra. Quase sempre sob chuva, por vezes forte, os ponteiros aproximavam-se já da meia noite quando chegámos às "carruagens" que havíamos deixado estacionadas. E, aí ... voltámos então a montar a Távola para uma merecida refeição que não tinha sido feita, face à inclemência dos elementos a partir da incursão a Camelot ... ou ao Rodel J.

Enfim ... jantávamos no ponto de partida! Faltavam cinco
Teríamos encontrado
para a meia noite, chovia ... mas estávamos felizes... J
Excalibur?...
Os mistérios de Sintra ... ou de Camelot ... fazem com que o Rei Artur, Sir Lancelot, a fada Morgana, o Mago Merlin
(que tirou a foto... ) e dois Cavaleiros ... permaneçam na Serra quase à 1h de uma madrugada fria e chuvosa...
E assim terminou esta viagem da imaginação, dos sentidos, da amizade, do companheirismo. Nos nossos mitos e lendas ... Selene soube ler os nossos pedidos e desejos! Obrigado Fada Morgana, pela ideia e convite! Parafraseando-te ... obrigado também a Sir Lancelot, que nos guiou magnificamente pelos trilhos da floresta encantada a caminho de Camelot; obrigado às Fadas da Floresta, Rei Artur, Cavaleiros, Merlin e Espíritos verdes ... e a ti, Lua, que estiveste quase sempre lá, cheia de força, a iluminar o nosso caminho. Sem dúvida que os deuses e os seres da floresta de Sintra que nos acompanharam ... anseiam pelo nosso regresso...
Ver o álbum completo