domingo, 23 de setembro de 2012

Grande Rota Dura nas Serras de Aire e Candeeiros

Se as viagens no tempo são possíveis ... ontem recuei mais de 40 anos no tempo! Pela mão de amigos e companheiros das caminhadas na Ota e na Malcata, ontem voltei às minhas velhinhas Serras d'Aire e Candeeiros, onde vivi tantas e tantas "aventuras" nos longínquos "anos loucos" do início da década de 70 ... do século passado! E, para que a viagem no tempo fosse um verdadeiro flashback, a actividade deste sábado começou e terminou precisamente na velha aldeia de Alcaria ... a "minha" velha Alcaria do "Café da Bica" e da Dª Meireles. Permito-me transcrever aqui o que já escrevi a propósito da velha Alcaria e das "aventuras" perdidas na noite de mais de 4 décadas:

"Que será feito da D.ª Meireles e do velho "Café da Bica", em Zambujal de Alcaria, Serra d'Aire? Na minha primeira "missão" à serra d'Aire – 14 e 15 de Novembro de 1970 – dormi, como os outros, no palheiro a que chamávamos a Casa Abrigo do Centro Nacional Juvenil de Espeleologia. Começámos a subir a serra antes das 7 horas, ainda de noite. Percorremos uns km pelos píncaros e pelas 8 começou a nascer o Sol! Sem frio, com o grande cenário das serranias a perder de  vista,  o  Sol elevava-se sobre o horizonte e nós  caminhávamos  entre
O velho "Café da Bica" lá continua
vales e serra, sobre estreitos e tortuosos atalhos, ao som do velho hino:

Minhas botas, velhas, cardadas,
palmilhando léguas sem fim,
quanto mais velhinhas e estragadas
quanto mais vigor sinto em mim"

Pois o velho "Café da Bica" lá continua em Alcaria, à beira da estrada. E as minhas botas, velhas cardadas, voltaram a palmilhar léguas sem fim naquela serra ... numa GRD - Grande Rota Dura - que contou com a presença de quase 3 dezenas de amantes da Natureza e dos longos desafios. Depois de uma pequena incursão ao longo da ribeira do Alcaide, começámos a subir a serra precisamente em Zambujal de Alcaria. Hora e meia depois estávamos no fabuloso trilho dos fósseis, que proliferam mesmo aos nossos pés.

Alcaria, 22.09.2012, 8:50h - Com a Fórnea em pano de fundo, vamos começar a "aventura"
No fabuloso trilho dos fósseis
Abrem-se os horizontes
Passada a povoação de Pragais, recomeçámos a subir, agora para a Corredoura. Pouco depois estávamos no trilho em boa hora aproveitado a partir da antiga linha do Caminho de Ferro Mineiro do Lena. Vindo da Martingança, passava pela Batalha e Porto de Mós, seguindo depois até ao lugar da Bezerra, de onde transportava o carvão explorado nas minas que ali existiram. Os túneis da Corredoura foram aliás o local do merecido almoço ... até porque depois íamos subir aos pontos mais altos da serra, os Penedos Negros e Vale Grande.

Túneis da Corredoura,
na antiga linha de caminho de ferro do Lena
A caminho dos píncaros da Serra de Candeeiros
E a caminho dos píncaros ... encontraríamos Stonehenge! Não, claro, o verdadeiro círculo megalítico da distante planície de Salisbury, mas uma "imitação" natural onde a pedra impera, em formas e posições para todas as imaginações.

Stonehenge na Serra de Candeeiros...
Geodésico dos Penedos
Negros (547m alt.)
Foto de grupo no Geodésico do Vale Grande (615m alt.)
Dos mais de 600 metros de altitude do Vale Grande, rapidamente descemos aos pouco mais de 400 da Bezerra. Uma curta visita à velha mina de carvão, e pouco depois embrenhamo-nos num bosque de carvalho onde vamos encontrar ... a "Cabana do Elias"! Esta cabana é um retiro para caminheiros, construída e propriedade de um simpático morador da Bezerra. Ali se encontram apetrechos de cozinha, com a particularidade de ter bens de consumo, principalmente bebidas à mão de todos. Uma Cabana mágica ... e onde as "loirinhas", as águas e outras refrescantes bebidas lá deixadas pela organização da actividade foram mais do que providenciais. Sem dúvida um lugar mágico...

Na "Cabana do Elias" ... um lugar mágico no meio do bosque
Quando se está com 25 km nos pés, de uma  
caminhada intensa ...que intermezzo sensacional...! :)
Subida das Penas da Feteira
Depois ... seguiu-se a subida ao Serro Ventoso e ao Cabeço da Fórnea. A Fórnea é uma construção geológica espectacular, única no país. Trata-se de um magnífico anfiteatro natural, com cerca de 500 metros de diâmetro e 250 metros de altura, onde brota a ribeira da Fórnea, que passa em Alcaria. Contornámo-la no sentido NW/SE, já com as cores do final do dia a pintarem o horizonte e as paredes rochosas daquele anfiteatro. E descê-la ... é uma pequena "aventura"! O trilho mais seguro é, mesmo assim, uma cascalheira íngreme onde a técnica ... é ir depressa! Os calhaus rolam-nos debaixo dos pés, deixamo-nos levar num autêntico jogo de equilibrismo! Quando chegamos ao fundo e olhamos para cima ... parece-nos impossível ter descido aquelas paredes! Mas sim, era verdade, estávamos no fundo da Fórnea e já próximos do ponto de partida ... e de chegada!

À beira da majestosa Fórnea
Abençoados pelo Sol poente ...  lá vamos para o "abismo"
Que anfiteatro!
Sim ... é por aqui o caminho...                    Será que viemos mesmo lá de cima?...
Alcaria, 19:45h - 11 horas depois da partida e com 33,5 km nos pés!
E assim, onze horas depois da partida, estávamos de novo em Alcaria. O regresso a casa, contudo ... só seria depois de uma saborosa sopa serrana, de umas saborosas morcelas de arroz, etc., tudo providenciado pelos organizadores desta excelente jornada caminheira.
Parabéns ... e venham mais GRDs...J



sábado, 15 de setembro de 2012

Na rota da vinha e do vinho (Dois Portos)

Há mais de um mês que não via a minha "família" Caminheira...! Desde as terras de Miranda e de Alpajares! Que saudades! Mas Setembro é o mês da reabertura da "época" ... e reabrimo-la hoje, com uma bela caminhada por terras vitivinícolas de Dois Portos ... embora em dia de muito calor!
Na Rota da Vinha e do Vinho, próximo de Ribaldeira, 15.09.2012
A “Rota do Vinho e da Vinha” é um percurso circular de pequena rota, delineado pela Câmara de Torres Vedras. Afamada pelas suas Quintas e Adegas, é nesta zona que, segundo muitos especialistas, se produz o melhor vinho do concelho.
Iniciámos a caminhada na localidade de Ribaldeira. O circuito deste percurso passa pela Caixaria, Casal dos Bacelos, Casal da Conceição, Quinta do Hespanhol, Ribeira de Maria Afonso, Bulegueira, Murteira, Casal de S. Pedro e Dois Portos.
Na Quinta do Hespanhol, detivemo-nos para viver um pouco dos seus seis séculos de história. A construção partiu da iniciativa de Felippo Pallastrelli e mantém-se até hoje na família,  representando  uma
Próximo do Casal dos Bacelos
casa senhorial cujo espólio inclui pertences de Cristóvão Colombo. Envolta por arvoredos, matas seculares e agradáveis jardins, os novos tempos transformaram-na em quinta de casamentos e outros eventos.
A Quinta do Hespanhol perdida no arvoredo
Este foi sem dúvida um belo início de época caminheira, proporcionando-nos um passeio marcado por cores e cheiros que convidam à prática pedestre, apreciando ao mesmo tempo paisagens e casarios de carácter rústico ... afinal bem às portas de Lisboa.

Aldeia de Ribeira de Maria Afonso
Ruralidade às portas da capital
E aqui fica, como sempre, o percurso utilizado nesta rota.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

MegaTransect da Estrela

Na sequência do trilho dos Cornos do Diabo, e como então referi, acabo de passar os primeiros dois dias e o primeiro fim de semana de Setembro numa mega caminhada na Serra da Estrela, que os organizadores, ligados ao Clube de Montanhismo da Guarda, chamaram de MegaTransect da Estrela. O objectivo era aliciante: descer o vale glaciar do Zêzere, do Covão d'Ametade a Manteigas, e voltar a subir às Penhas Douradas, Nave da Mestra e Torre. Como escrevi em Outubro de 2011, a Serra da Estrela fui-a sempre relegando para esporádicas passagens, puxado como sempre fui para o Gerês e para a raia beirã. Tal como então, estes três dias revelaram-me contudo também uma Serra da Estrela de fabulosas panorâmicas.

A extraordinária panorâmica do vale glaciar do Zêzere, 1.09.2012
Às oito e meia da manhã de sábado, depois de uma noite no Vale do Rossim, estávamos a reunir o grupo de 23 montanhistas inscritos para este MegaTransect, junto aos Bombeiros Voluntários de Manteigas, cuja colaboração foi essencial, no transporte do material para o chalé das Penhas Douradas, onde pernoitámos. Eu ... era o mais velho do grupo, a mais de 10 anos de diferença dos seguintes... J!
De Manteigas subimos à Torre, onde alguns carros iriam descansar os dois dias ... e pouco depois das 9 horas estávamos a iniciar a marcha no Covão d'Ametade.
Aos pés do Cântaro Magro, sensivelmente a 1430 metros de altitude, o Covão d'Ametade situa-se no início do vale glaciar do Zêzere, o maior vale glaciar da Europa. Os sedimentos arenosos, resultantes da erosão e depositados no covão, deram lugar a belos relvados naturais. Uma pequena floresta de bétulas e o curso do rio Zêzere a atravessar o covão, fazem deste local um dos mais bonitos e acolhedores de toda a serra. E foi precisamente o vale do Zêzere que descemos, por belo trilho paralelo à estrada, inicialmente na margem direita do Zêzere e, pouco acima dos 1000m, passando para a margem esquerda. Sucedem-se as linhas de água que alimentam o rio, como a ribeira da Candieira, ainda quase logo no início. Sucedem-se também velhas cabanas e abrigos de pastores, de telhados de colmo ... a lembrar-me Somiedo. E ... ainda há pastores!

Descida do vale glaciar do Zêzere, 1.09.2012
Ainda
há pastores!
Manteigas à vista
Passadas as Caldas de Manteigas, pouco depois da uma estávamos de novo na vila. O saboroso almoço criava pouco ânimo para seguir jornada ... mas havia que subir para as Penhas Douradas! Quase 700 metros de desnível em menos de 6 km...! Felizmente que quase sempre debaixo de frondoso arvoredo ... e com que fabulosas panorâmicas!


Subida de Manteigas às Penhas Douradas, 1.09.2012
Casa da Fraga, Penhas Douradas
E chegámos à "nossa" casa nas Penhas Douradas!
Menos de três horas depois estávamos nas Penhas Douradas, no miradouro onde havia estado com a minha "família" caminheira em Outubro de 2011. Aos nossos pés, Manteigas, de onde havíamos acabado de subir. E, para merecido descanso, finda esta primeira etapa do MegaTransect, nada melhor que um dos chalés de montanha que igualmente nos tinham chamado a atenção há quase um ano! Esplêndida organização, a destas jornadas de montanha: não só tínhamos cama ... como tínhamos jantar! E um jantar ... que foi ter connosco ao chalé... J!!!
O despertar, ontem ... foi mais cedo que o previsto. Como me é habitual, quando deixei o país dos sonhos ainda a maioria dos restantes dormia. O amanhecer estava espectacular, convidativo a uma pequena exploração pelas imediações ... e respectivas fotos.

2.09.2012, 6:55h - O Sol nasce nas Penhas Douradas, para um novo dia que desponta!
A primeira parte da 2ª "etapa" do MegaTransect coincidiu com o percurso que já havia efectuado em Outubro de 2011: Fragas das Penhas, Poiso da Águia ... a lembrar-me o Gerês!
Como há um ano, subimos ao Curral do Martins e descemos à Nave da Mestra, atravessando a imponente fenda que lhe dá acesso.

9:10h - E começou a caminhada!
Barragem do Vale do Rossim
Fragões das Penhas ... estarei no Gerês?...J
A caminho da Nave da Mestra
Reza a história que um juiz, o Dr. Matos, construiu ali a sua casa de férias em 1910. A construção foi concretizada pela mão-de-obra vinda de Manteigas em cima de mulas, por um caminho que ainda hoje existe, ajudada por macacos hidráulicos utilizados para levantar as pedras gigantes, incluindo aquela que faz de telhado à casa. Esta obra é comprovada pela inscrição que ainda se pode ler na construção principal, por cima da porta: “Dr. J. Matos – Barca Hirminius – 1910”.
 
Aspectos da fabulosa descida da Fenda da Nave da Mestra (duas fotos de Jó Andrade)
Casa do Dr. Matos, Nave da Mestra, 2.09.2012
Nave da Mestra
Abandonando agora o percurso de há um ano, da Nave da Mestra continuámos para sudoeste, rumo ao vértice geodésico do Cume, acima já dos 1800 metros de altitude. As panorâmicas ao longo deste trilho são fabulosas, com o vale da Candieira a sul, a Lagoa Comprida a noroeste, coroadas pelos fragões do Cume e do Poio dos Cães.

Aspectos do fabuloso percurso Nave da Mestra - Cume, 2.09.2012
Preparado para o voo...J,
no Geodésico do Cume (1858m alt.), com a Lagoa Comprida ...
... e a Torre já à vista!
Garganta de Loriga
Pouco antes das duas da tarde estávamos na estrada Lagoa Comprida - Torre, à vista da garganta de Loriga ... e esperava-nos uma surpresa da organização: o percurso final, para a Torre ... foi "aéreo", nas cadeiras suspensas!

E aí vamos nós para a "viagem aérea" até à Torre!

"Sobrevoando" a encosta do Covão do Quelhas
Lagoa do Covão do Quelhas
Torre à vista!
E acabou a "aventura"(Foto da esquerda de Jó Andrade)
Na Torre, os carros lá estavam onde os havíamos deixado. Mas o MegaTransect não estava ainda terminado: já em quatro rodas, descemos ao ponto de partida, no Covão d'Ametade, e daí a Manteigas ... onde a organização havia providenciado outro saboroso almoço de confraternização final.
Manteigas, 2.09.2012, 15:30h. Estávamos quase no fim deste fabuloso fim de semana!
Foram sem dúvida três dias sensacionais! Parabéns à organização, pela dedicação posta neste grande acontecimento de convívio com a Serra e entre todos os participantes! E que grupo maravilhoso se juntou! Parabéns também a todos os que participaram neste mega evento! Outros se hão-de seguir...! Já ficou aliás no ar o "cheirinho" de um dia levar este grupo de novos amigos ... ao "meu" Gerês e/ou à "minha" Malcata... J!

Aqui fica o percurso do MegaTransect, no conjunto dos dois dias: