domingo, 26 de fevereiro de 2023

A Frente Ribeirinha de Loures ...

e os milhões da Jornada Mundial da Juventude...

Há mais de quatro décadas morador na zona, várias vezes tenho procurado alguma Natureza nas margens do Trancão e do Tejo, assistindo à transformação da zona oriental dos concelhos de Lisboa e de Loures que se seguiu à Expo-98 e à evolução destes bairros dormitórios, que se prolongam para o concelho de Vila Franca de Xira. Várias vezes tenho ligado, num misto de corta mato e "aventura", a foz do Trancão aos trilhos e passadiços que, desde o limite sul do concelho de Vila Franca, levam a Alverca e de Alhandra à capital daquele concelho. A tão proclamada Frente Ribeirinha de Loures ... até meados do ano passado nunca passou de um projecto megalómano em vídeo, que há 3 anos divulguei nestas minhas memórias, quando igualmente "descobri" e divulguei os únicos 740 metros inaugurados 2 anos antes no concelho de Loures, entre a estação de Santa Iria e o antigo pontão da BP.
Sapais da margem direita do Tejo, do pontão da ValorSul,          
26.Fev.2023, 09h10                                  
Foi preciso "nascer" a XXXVII Jornada Mundial da Juventude, a realizar no próximo mês de Agosto, para que o projecto da Frente Ribeirinha de Loures "renascesse" ... e desta vez que a obra começasse. Em dez meses, diz-se ... e portanto, à boa maneira portuguesa ... a todo o gás. No entanto ... pelo menos aos fins de semana não se vê gás nenhum ... não se vê viva alma a trabalhar. Por isso ... hoje resolvi ir à descoberta do que já está construído para lá do Trancão. Em Novembro passado, numa pequena incursão ciclista, não tinha visto muita coisa, para além dos pilares para a futura ponte pedonal que há-de atravessar a foz do Trancão, ligando o Parque das Nações à famosa frente ribeirinha.

Pontão e vala junto à ValorSul e ao terminal de contentores ... onde terminam as actuais obras da Frente Ribeirinha de Loures
Saí de casa direito a Santa Iria, para começar no extremo norte a que chegam actualmente as obras dos futuros passadiços. Algo me dizia contudo que as obras não chegam lá ... e não me enganei.
Clique para ampliar ou aqui para ver o percurso no Wikiloc
Cruzada a linha de comboio e passando por baixo do IC2 pelo túnel da ValorSul, estava no já meu conhecido pontão ... junto a cuja face sul terminam quaisquer vestígios de obras. Terminam ... e duvido que alguma vez de ali passem, já que duvido que o pontão e todos os sistemas de depuração ali existentes sejam derrubados. Só se for construído um túnel perpendicular ao da ValorSul ... ou um passadiço a sobrevoar o pontão...
Dali ao pontão da Fima e deste ao antigo pontão da BP (onde terminam os anteriormente únicos 740 metros do concelho de Loures) são 1350 metros, que já atravessei ... mas onde nada há. E estamos a mais de 2 km do limite sul do concelho de Vila Franca de Xira ... onde aí sim começa o Trilho dos Moinhos da Póvoa.
Ainda o pontão da ValorSul ... um imenso muro de betão
       a limitar, a norte, a área onde a Frente Ribeirinha
                     de Loures está a ser construída
Com alguma "ginástica" consegui saltar do pontão da ValorSul ... para então sim começar a seguir, no sentido norte/sul, as obras da famosa e tão pretendida Frente Ribeirinha. Pretendida sim, claro! Há muito que o concelho de Loures deveria ter seguido o exemplo do seu vizinho concelho de Vila Franca. A Expo-98 foi há 25 anos ... e já teria havido tempo de sobra para que os amantes da Natureza, a pé ou de 'bicla', pudessem ligar Lisboa oriental às terras ribatejanas, sempre pela margem do Tejo. Mas os amantes da Natureza ... não precisavam de megalomanias! Embora eu conhecesse o projecto ... acreditava ingenuamente que os tempos difíceis que o país e o Mundo atravessam ditassem uma contenção de obras "faraónicas" e sem qualquer lógica racional. Mas o que ali fui encontrar hoje ultrapassa todos os limites do bom senso...
É este sapal que se quer preservar ... que se quer que o público possa conhecer e usufruir ...
... mas destrói-se a vegetação do sapal para abrir
os estradões necessários à construção ...

... de um passadiço faraónico ao lado do estradão aberto!
Quem leu a minha opinião sobre os Passadiços do Mondego há-de dizer que sou completamente anti passadiços ... mas já sobre aqueles e outros fundamentei a minha oposição ou defesa, consoante as razões, as características dos locais, os materiais empregues e o impacto não só dos passadiços em si mas também das respectivas obras de construção. Ao contrário do alto Mondego, aqui o terreno é plano; se se abriu um estradão, para que veículos e maquinaria pesada possam avançar, drenando ou canalizando as muitas valas existentes ... então não bastaria macadamizar o estradão, que já destruiu o sapal à sua passagem, transformando-o em trilho? Qual a necessidade de construir um passadiço, por vezes a uma altura descomunal ... ao lado do estradão aberto para a sua construção?!
Destas duas ... a foto de cima é o cúmulo da aberração ... enquanto me vou aproximando da foz do Trancão
Também já tinha visto no projecto ... e hoje confirmei-a no terreno: até uma monumental rotunda de passadiços está a ser construída! Para quê? Quantas toneladas de madeira estão ali a ser utilizadas?
Quantas árvores representam? Os passadiços da Póvoa de Santa Iria e, de um modo geral, os existentes na Frente Ribeirinha do concelho de Vila Franca, são maioritariamente em polipropileno, um material muito mais durável e de menor manutenção.
Com todas estas interrogações, aproximava-me da foz do Trancão ... muito longe de saber ou sequer de imaginar os custos desta obra faraónica! Mas ... o construtor faz questão de divulgar, in loco, que estão envolvidos ... quase 7 milhões de euros!!! Dado que temos sensivelmente 7 km da foz do Trancão ao limite sul de Vila Franca (onde as obras não chegam...), conclui-se que o custo é, mais euro menos euro ... de 1 milhão por quilómetro! Duvidei de mim próprio, se estaria a ver e a ler bem! Fala-se tanto no custo exorbitante do(s) palco(s) para a Jornada da Juventude ... mas afinal temos ao lado uma obra que envolve quase o dobro!
Serão as pirâmides do Egipto? Ah, não ... são os pilares da ponte pedonal sobre a foz do Trancão
E pronto, chegado à foz do Trancão ... há que acompanhá-lo até por baixo do IC2 ... continuando ao lado do estradão construído para a obra...
Com 11 km percorridos em caminhada circular, cheguei a casa satisfeito por ter conhecido in loco o que está a ser construído e como, na famosa Frente Ribeirinha de Loures ... mas triste por constatar um imenso esbanjar de fundos, numa obra faraónica feita a coberto de umas Jornadas que deveriam ser de bom senso e de união. Mal sabe o Papa Francisco, seguramente ... as megalomanias que grassam em tantas cabeças (mal) iluminadas. Vamos ver os próximos capítulos da construção das "pirâmides"... 😂

1 comentário:

Anónimo disse...

Não há limites para a estupidez de uns, sempre sabiamente aproveitada pelo oportunismo de outros!
Tudo é feito sem articulação, sem a humildade de procurar a opinião de quem sabe.
Às vezes parece que qualquer um de nós faria melhor.