A tradição oral popular atribui o nome da vila de
Penacova à existência de muitos corvos na Penha onde a mesma se localiza. Entre a
Penha dos Corvos e as águas do
Mondego ... uma data especial levou-nos, a mim e à minha "pequena arraiana", às terras de
Penacova e ao relax nas belíssimas instalações e excepcional localização da "
Quinta da Conchada".
Debruçada sobre a margem esquerda do
Mondego, junto à
Barragem da Aguieira, a "
Quinta da Conchada" é o paraíso ideal para uns dias de puro relax ... mas um dos dias tinha de ser dedicado a uma actividade pedestre, evidentemente...
J
Conhecendo já grande parte da "Rota dos Moinhos" da
Serra do Buçaco, bem como os Moinhos da
Aveleira, na freguesia de
Lorvão, a escolha recaiu sobre o percurso a que a Câmara de Penacova chamou "
Penacova, o Mondego e a Lampreia" (PR1 PCV). Trata-se de uma rota circular que "
permite a quem o percorre descobrir, caminhando, o património e o traçado urbano da Vila de Penacova, até ao Penedo de Castro.". Percurso muito bem descrito, muito bem sinalizado, mas como adiante veremos ... nem tudo são rosas.
|
E o Mondego visto de Penacova, 9.Dez.2014 |
A manhã acordou mágica, na "
Quinta da Conchada": sobre o
Mondego corria um nevoeiro denso, evidenciando a proximidade da albufeira da
Aguieira. Temperatura ... 3ºC! Mas a previsão era de Sol e bom tempo, pelo que saímos do nosso "refúgio" quase às dez da manhã. Optámos por iniciar o percurso pouco abaixo do centro histórico de
Penacova, descendo ao rio e deixando a vila propriamente dita para o final. A ideia era atravessar o
Mondego na ponte pedonal referida no
website da Câmara, que dá acesso à praia fluvial do
Reconquilho, após o que seguiríamos pela margem esquerda. Era...
|
Belo caminho de beira rio |
|
"Ponte" pedonal sobre o Mondego ... mas só se conseguirmos levitar...J |
Por um arborizado e belo caminho ribeirinho e seguindo a muito boa sinalética que, no terreno, indica a progressão do percurso, sem que haja em parte alguma qualquer aviso, chegamos à suposta ponte pedonal ... e damos de caras com o que as fotos acima documentam...! Atravessar o
Mondego ... só a nado...! Nem no próprio local existe qualquer informação ou explicação para o paradoxo ... chegando ao cúmulo de, uns metros antes de ali chegar, existir uma última marca do PR ... a mandar virar à esquerda ... ou seja para as águas do rio. O
Mondego é um rio de encantos e de amores ... mas não abusemos...
J.
É, no mínimo, ridículo! Senhores da Câmara de
Penacova ... há que corrigir este imperdoável paradoxo!
|
E não houve outro remédio
caminho alternativo de |
|
se não descortinar um
subida ao Penedo do Castro |
|
No Penedo do Castro ... tínhamos um oceano de nuvens sobre o Mondego ... |
Virando costas ao
Mondego e recorrendo ao meu fiel
OruxMaps (continuo a usar o velho
OziExplorer na versão PC), lá descortinei forma de "trepar" por velhos carreiros e vielas ao bairro Penacovense da
Cheira, retomando o PR pouco antes do
Penedo do Castro, uma das melhores vistas panorâmicas da zona.
A minha "princezita" acusou a subida dos 30 metros da margem do rio aos 300 e poucos do alto daquela penha, pelo que ali permanecemos cerca de 20 minutos ... durante os quais o mar de nuvens que cobria o vale do Mondego se foi gradualmente dissipando.
|
Penacova e o vale do Mondego renascem das nuvens... |
Não admira que o escritor Augusto Mendes Simões de Castro, um dos mais antigos propagandistas da região - a cuja glória se deve o nome dado ao Penedo - se deleitasse e perdesse na contemplação das serranias e vales que preenchem aquela ampla paisagem.
|
E do Penedo do Castro descemos
para norte, para o vale do Ribeiro da Presa
|
|
O Mondego visto da janela do Restaurante "Côta". Ao fundo a célebre "Livraria" do Mondego |
A norte da vila de
Penacova, desaguando no Mondego, corre o
Ribeiro da Presa, para cujo vale descemos, cruzando uma zona muito urbanizada, mas também velhas quintas, denotando um passado infelizmente perdido no tempo. Entretanto ... eram horas de almoço. Esta caminhada era especial, integrada nas "comemorações" de uma data especial, como referido de início. Como tal ... não levámos o habitual "farnel"; algum restaurantezinho havia de aparecer; e apareceu...
J. De pergunta em pergunta, o
Restaurante "Côta" cativou-nos desde logo pela vista sobre o
Mondego, a pequena aldeia rural de
Azenha do Rio ... e o saboroso arroz de míscaros com que nos deliciámos, que era o manjar do dia. Quase nos sentimos transportados ... para a "nossa" raia Sabugalense...
J
|
"Livraria" do Mondego, face sul |
Depois do almoço, faltava-nos a margem esquerda do
Mondego, cruzando-o agora pela ponte rodoviária ... esta evidentemente transitável...
J. Esta é uma das duas extensões opcionais do PR1, até à chamada
Livraria do Mondego, monumento natural que o tempo esculpiu ao longo de mais de 400 milhões de anos. Depois de ter recebido o
Alva, seu afluente da margem esquerda, o
Mondego estrangula-se ao atravessar o contraforte de
Entre Penedos e surgem as altas assentadas de quartzitos silúricos dispostos quase verticalmente, como se de livros numa estante se tratasse.
|
O Mondego pouco a jusante da "Livraria" do Mondego |
O regresso foi à beira rio, com as cores e as luzes de uma tarde a anunciar um declinar a aproximar-se. A praia do
Reconquilho, a sul da ponte rodoviária, essa teria de ficar para outras "núpcias" ... ou teríamos de regressar pelo mesmo caminho, dada a incapacidade de caminhar sobre as águas...
|
Cores e luzes de uma tarde a declinar, junto a Penacova |
Restava-nos o centro histórico de
Penacova. De novo na margem direita, umas escadas e o auxílio do GPS fizeram-nos embrenhar numa mata que cobre a encosta sudeste da vila ... e descobrimos um velho caminho que, em tempos, deve ter sido bem agradável e, até, romântico. Pena é que não se encontre recuperado, uma vez que nos conduziu directamente ao altaneiro
Mirante Emygdio da Silva, ex-libris de Penacova, de onde se desfruta nova panorâmica magnífica sobre o Mondego. Mandado construir no início do séc. XX por iniciativa daquele político e de autoria do italiano Nicolau Bigaglia, na sua construção foram utilizadas colunas de pedra trazidas do Mosteiro de
Lorvão.
|
O Mondego, do Mirante Emygdio da Silva |
|
Pérgola Raul Lino, outro dos miradouros de Penacova sobre o Mondego |
Próximo da
Pérgola Raul Lino situa-se o Posto de Turismo. Encontrando-se aberto, entendi dever perguntar a razão da insólita inexistência da ponte pedonal referida no percurso do PR1 ... e o que fiquei a saber constitui por si só um paradoxo maior ainda! A ligação pedonal entre as duas margens só existe efectivamente no verão, sendo removida todos os anos no final da época e dela restando apenas os suportes metálicos com que havíamos "esbarrado"!!! Se, por um lado, se pode compreender este processo de "monta / desmonta", devido às enchentes, ao perigo da passagem em época de intempéries, etc. ... é completamente inexplicável e inadmissível que não haja qualquer informação sobre esse facto, nem na documentação que a Câmara editou, nem na sinalética. Os caminheiros que vêm a Penacova fazer o PR1 baseiam-se no percurso que lhes é proposto, iniciam-no em qualquer ponto, uma vez que é circular, e, ao chegarem àquele ponto ... esbarram com um sinal que os manda ... para dentro de água! Ridículo!
|
Um último olhar sobre Penacova e o Mondego ... |
Com a tarde a declinar, regressámos à "
Quinta da Conchada" ... para assistirmos, da própria varanda do quarto, a um espectáculo de cores sobre o rio de todos os amores...
Hoje, último dia na
Conchada, foi de descanso ... não sem um pequeno reconhecimento pelo maravilhoso jardim em socalcos e pelas margens desta excelente unidade hoteleira, onde trouxe a minha "pequena arraiana" para comemorarmos ... uma data especial...
J