Tal como em Junho/Julho, o projecto nasceu e foi posto em marcha via redes sociais. E, aos participantes inicialmente previstos, na 5ª feira à noite juntaram-se mais três, mobilizados por uma das participantes no
MegaTransect da Estrela, em que participei nos primeiros dias de Setembro. Juntámo-nos assim 14 apaixonados pelos "
montes que medem o céu ", 14 amantes "
das frias serras onde primeiro o Sol nasceu ".
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Não, não é uma vista de avião...! Cume do Xalmas, 23.10.2012 |
As fragas das redes sociais originam aliás novas e interessantes formas de comunicação e de aproximação: dois dos "estreantes" nestas serras ... só os conhecia virtualmente. Mas, tendo vindo mais cedo ... vieram almoçar na minha casa de Vale de Espinho, na 6ª feira! Mais: vieram juntos, da zona do Porto e Vila do Conde ... mas igualmente não se conheciam pessoalmente, só se conheceram quando se encontraram para vir
J!
Quatro dias antes, na 3ª feira 23, fiz um reconhecimento solitário de uma alternativa de acesso ao
Xalmas, numa manhã mágica, de Sol, a que se refere as primeiras fotos deste artigo. E é assim que, às seis e meia da manhã de sábado 27, ainda noite cerrada, nos encontrámos todos junto à antiga Escola Primária de
Foios, em cuja camarata quase todos ficaram, como em Junho. A primeira parte do percurso fizemo-la portanto acompanhando o lento clarear de um novo dia, subindo a serra em direcção à
nascente do Côa, por entre um nevoeiro mágico que emprestava um ar místico a toda aquela envolvência serrana. Depois de mais de dois dias de chuva ininterrupta ... sábado acordava para nós como um magnífico dia que se viria a mostrar soalheiro!
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Foios, junto ao Côa, 27.10.2012, 7:00h |
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E o nevoeiro envolve-nos nos mistérios da Serra das Mesas |
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Sobre a planície de Valverde del Fresno, onde o Sol já clareia |
Com pouco mais de uma hora de marcha e a 1220 metros de altitude, cruzámos a linha de fronteira perto do geodésico das
Mesas, a que tínhamos ido em Julho ... para logo a seguir descermos para a
nascente do Águeda e para os
Llanos de Navasfrias. Estávamos então na estrada Navasfrias - Valverde del Fresno, com duas horas de caminho e quase 7 km percorridos.
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Descendo a encosta das nascentes do Águeda |
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Llanos de Navasfrias: 8:55h, 1070m alt., 6,6 km |
Tínhamos agora pela frente a Serra do
Espiñazo, cujos cumes rochosos são também conhecidos por
Torres das Ellas, ou
Torres de Fernán Centeno. Torres das Ellas porque de ali se avista a aldeia de
Ellas, que, juntamente com as suas aldeias gémeas de
San Martín de Trevejo e
Valverde del Fresno, constituem as três aldeias do vale do Xálima, ou d’"A Fala", conjunto de dialectos mistura de galego, português e castelhano. A outra designação é menos nobre: ao galgar aquelas fragas, por entre o persistente nevoeiro, quase víamos saltar detrás dos rochedos as hordas de bandoleiros guiadas pelo celebérrimo Fernán Centeno, El Travieso, senhor de Peñaparda, que, do seu castelo de Rapapelo (de
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Nas Torres das Ellas, em manhã de nevoeiro |
que não restam vestígios), assolou no séc. XV grande parte destas terras e tomou os castelos das Ellas e de Trevejo.
A Serra do Espiñazo ficou também para sempre ligada à aventura do contrabando. Os seus esporões rochosos esconderam "carregos", testemunharam perseguições, fugas e mortes, por vezes aliadas a fenómenos naturais agrestes, como as fortíssimas trovoadas que aqui ocorrem. Em Agosto de 2009, numa caminhada orientada por fojeiros bem conhecedores destas rotas, aprendi histórias de barrocos cortados por um raio, de fontes que guardam tesouros escondidos ... histórias com que agora fui animando e alimentando esta manhã, ao longo das
Torres das Ellas.
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Barroco do Raio, Serra do Espiñazo |
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Majadal de los Guijos, 1170m alt. |
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San Martín de Trevejo à vista |
Quando o nevoeiro se começou lentamente a dissipar, ainda conseguimos ver as povoações estremenhas das
Ellas e, principalmente, de
San Martin de Trevejo, bem como, já na encosta ocidental da Serra de Xálima, um dos maiores castanhais da Europa, o
castanhal de Ojesto, ou de O’Soitu, pertencente à segunda daquelas típicas aldeias serranas.
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Castanhal de Ojesto, com San Martín aos pés |
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Na calçada romana das Ellas ao Puerto de Santa Clara |
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A chegar ao Puerto de Santa Clara, entre o maciço do Espiñazo e o do Xálima |
Já com quase 17 km nos pés, chegámos ao
Puerto de Santa Clara (1024m), na estrada Payo - San Martín de Trevejo … e tínhamos pela frente o morro imponente do
Xalmas, ou
Xálima. É o ponto mais alto do ocidente da Serra da Gata (1492m alt.). O "ataque" ao corta fogo que vence os primeiros 70 metros de desnível (em menos de 400 metros...) foi um teste à resistência e um "aquecimento" para a longa subida aos 1492 metros daquele cume "sagrado". A origem etimológica do termo (Xálima, Xálama, Xalmas e outras grafias) parece derivar do deus
Xalmas, a divindade pré-romana que habitava estas montanhas. Xalmas era o Deus vetão das águas, sendo os vetões parentes dos lusitanos, que habitavam estas terras em tempos pré-romanos.
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Floresta de fetos em tons outonais |
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Serra do Espiñazo e Torres das Ellas, de onde viemos! |
Depois do nevoeiro que nos acompanhou nas Torres das Ellas, o deus Xalmas foi-nos brindando com uma gradual abertura das nuvens. À medida que subíamos ... os céus iam-nos alargando os horizontes!
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No "ataque" |
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final ao Xalmas |
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E às 14:30h, com 22 km percorridos, atingimos o cume do Xalmas, ou Xálima: 1492m de altitude |
No limite das províncias de Salamanca (Castela) e Cáceres (Extremadura), o cume do
Xalmas é o lugar onde se juntam a terra e o céu, altar dos deuses vetões, de onde Xalmas faz brotar as águas que escorrem pelas encostas, precipitando-se por vezes em cascatas e alimentando rios. O vento frio massajava-nos as faces, enquanto a vista viajava daquelas alturas num ângulo de 360º. Para norte, estendem-se as terras castelhanas e leonesas, percebendo-se ao longe a nossa Serra da Marofa; rodando para nascente, as alturas da
Serra da Penha de França e a região de
Las Hurdes (a "terra sem pão", de Luis Buñuel); aos nossos pés, o vale de
Acebo e a barragem da
Cervigona; para lá do vale, a
Serra da Gata continua a cordilheira em que nos encontramos, destacando-se bem a
Torre Almenara, torre árabe sobranceira à vila de
Gata, e percebendo-se mesmo ao longe a serra de
Béjar. Contrastando com as montanhas, para sul estende-se o vale do Xálima e a planície de Moraleja e Coria, até ao vale do Tejo; e, para lá dele, nos limites do horizonte, avistava-se mesmo a
Serra de S. Mamede.
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O geocacher que deixou a 1ª cache do
Xalmas, na paisagem da Serra da Gata
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Um pouco mais a poente e mais próximo de nós, a Serra de
Penha Garcia deixava espreitar por trás o morro de
Monsanto. E o vale do Xálima fecha-se, a poente, na
Serra da Marvana, continuação natural da
Malcata; mais longe, as serras da
Gardunha e da
Estrela completam o quadro, vendo-se também facilmente a Guarda.
Um dos companheiros que "mobilizei" para esta "aventura", apaixonado pelo
geocaching, deixou a primeira
cache existente naquela montanha mágica! Aguardará agora com ansiedade os primeiros registos de outros
geocachers.
Do cume do Xalmas descemos para sul, sempre à vista dos vales de
Acebo, a nascente, e de
San Martín, a poente. Após uma descida mais abrupta, chegámos ao velho caminho que vem de terras de El Payo, ligando Castela à Extremadura. Ao entrar no magnífico carvalhal que bordeja o
Arroyo de los Lagares, o nosso destino apareceu-nos ao fundo, o castelo medieval de Trevejo.
Os últimos cerca de 4 km conduziram-nos a esse autêntico museu vivo de arquitectura popular serrana, que é a aldeia medieval de
Trevejo.
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E descemos do cume do Xálima: panorâmica da Serra da Gata para sul |
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Vila de Acebo e, ao fundo, a barragem de Borbollón |
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Objectivo à vista: ao fundo, o Castelo medieval de Trevejo |
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Campanário da Ermida de S. João Baptista, Trevejo |
E assim, pelas 17:30h e com um pouco mais de 31 km nos pés, estávamos a entrar na aldeia de
Trevejo. Situado no alto de uma atalaia, entre a Serra de Xálima e a planície de Moraleja e Coria, a 750 metros de altitude, o castelo de Trevejo domina a aldeia e a ermida de S. João Baptista. Teve origem árabe, nos séculos IX a XII. O que dele hoje resta data contudo dos séculos XV e XVI, quando as ordens militares de Santiago e de Alcántara dominavam estas terras. Como já atrás referi, em 1474 o cavaleiro Fernán Centeno, em acto de rebeldia, deixou o seu castelo de
Rapapelo para tomar o de Trevejo, onde encarcerava e agrilhoava os habitantes que não lhe obedeciam. O actual grau de destruição do castelo,
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Ermida de S. João Baptista, Trevejo |
do qual praticamente resta apenas de pé a torre de menagem, deve-se contudo essencialmente aos franceses, como estratégia habitual na retirada das invasões. Por sua vez, a pequena
Ermida de S. João Baptista, aos pés do castelo, possui um altar exterior e está rodeada de pequenas tumbas antropomórficas, escavadas no granito. Separado do edifício, o campanário olha orgulhosamente para poente.
Tínhamos cerca de 45 minutos para visitar a aldeia e o castelo, completando com essa deslocação o último cerca de quilómetro e meio da jornada ... e assistindo precisamente ao espectáculo fabuloso do Sol poente, a partir das muralhas do castelo ou, mais atrás, por sobre a aldeia e a atalaia em que aquele se situa. A explosão de cores, sobre as serranias a sul da
Marvana, foi sem dúvida alguma o melhor culminar que poderíamos desejar para esta nossa "aventura".
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Castelo medieval de Trevejo ao Sol poente: magia em estado puro! |
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E começa uma longa sessão fotográfica sobre o espectacular pôr-do-Sol em Trevejo |
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Arms wide open...J
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Às 18:24 o astro rei mergulha no horizonte de Trevejo ... fechando com cores de ouro este dia inesquecível! |
Às 18:24h o astro rei mergulhou no horizonte. Depois ... depois seguiu-se o regresso aos
Foios, com a importante e generosa colaboração da respectiva Junta de Freguesia, na pessoa do seu sempre inestimável Presidente, José Manuel Campos. Mas este regresso aos Foios, numa carrinha de caixa aberta (apenas os homens, as senhoras foram na cabina...) ... também foi uma autêntica "aventura"...
J!
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Percurso Foios - Trevejo, 27.10.2012 |
Já sem a companhia de 4 dos 14 participantes na "aventura" de sábado, mas com mais duas novas caminheiras (uma das quais a minha habitual companheira de "aventuras"), o dia de ontem foi dedicado a uma caminhada mais suave, circular, mas igualmente bastante apreciada por todos. Como não podia deixar de ser, já que em Julho apenas se tinham fotografado no largo das Eiras, esta jornada de domingo teve por base a "minha" Vale de Espinho! Parcialmente ao longo do Côa, agora já saudavelmente mais caudaloso, por efeito das grandes chuvas dos dias anteriores ao fim de semana, levei o grupo também a um "cheirinho" da encosta norte da
Malcata, entre os cabeços do
Colmeal e do
Alcambar, descendo depois para a quadrazenha Capela do
Espírito Santo ... e para o complexo da
TrutalCôa ... através de uma "selva" que custou a atravessar...
J!
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Vale de Espinho, 28.10.2012, 9:20h |
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Moinho dos Pecas, no Côa, Vale de Espinho |
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Vale da Ribeira dos Abedoeiros, afluente do Côa |
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Cores e brilhos do Côa,
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na açude do Engenho, Vale de Espinho
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O velho "engenho" de Vale de Espinho, antiga "fábrica da luz", antiga fábrica de mantas, antigo moinho... |
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Chegamos à velha ponte romana de Vale de Espinho |
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Moinho do Rato ... "e de repente damo-nos conta que envelhecemos, a ver envelhecer estas pedras que não envelhecem" (Paulo Sérgio Silva) |
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Junto à Capela do Espírito Santo, Quadrazais |
O almoço significou também umas duas horas de são convívio ... após o que a caminhada prosseguiu, com o regresso a Vale de Espinho pelo
Moinho da Ervaginha e
Ponte Nova ... e terminando no "retiro espiritual" que é a minha casa de Vale de Espinho.
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Moinho da Ervaginha, Vale de Espinho, 28.10.2012 |
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O Côa junto à Ponte Nova de Vale de Espinho |
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E o regresso a Vale de Espinho, no fim deste fantástico fim de semana raiano |
Este foi realmente, por todas as razões, um fim de semana fabuloso. Caminhar não é só caminhar, caminhar em grupo pode e deve ser o que todos nós vivemos neste fantástico fim de semana, fazendo e fortalecendo amizades.
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E neste clima de amizade e convívio ... terminou este belo |
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fim de semana da GRD Mesas - Gata - Vale de Espinho |
Muito obrigado a todos os companheiros que me "aturaram", seja ao impor o ritmo que as características da caminhada de sábado nos obrigavam, seja a atravessar "selvas" de giesta e de silvas...
J! A vida é feita destes momentos! A vida é feita desta partilha, desta amizade. A vida é feita destes pequenos nadas que são muito, deste pequenos nadas que nos ficam cá dentro como os mais belos incentivos, destes pequenos nadas que nos dizem ... que a vida é bela!
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Percurso circular em Vale de Espinho, 28.10.2012 |