sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

VIDA ... UMA MELODIA A QUATRO ESTAÇÕES

𝕰𝖒 𝖛𝖊́𝖘𝖕𝖊𝖗𝖆𝖘 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖆𝖓𝖔 𝖒𝖚𝖎𝖙𝖔 𝖊𝖘𝖕𝖊𝖈𝖎𝖆𝖑...

Em 19 de Abril de 1973, ao lado da jovem que começara a namorar em Fevereiro desse mesmo ano e a bordo do velho Cortina guiado pelo pai dela ... chegava pela primeira vez a Vale de Espinho ... esse "outro mundo" tão diferente do meu ... mas um mundo que, na Primavera da Vida que eu estava a Viver, parecia que há muito me chamava. Desde cedo, tinha corrido as estradas da Europa e de África, com os meus pais e irmão, de Lisboa ao Cabo Norte, a Moscovo, a Istambul, aos confins da Escócia ... e de Luanda ao Cabo da Boa Esperança e à Beira. Dos 17 aos 20 anos, estava também a Viver os "anos loucos" da espeleologia, do mergulho, das serras e dos vales, dos acampamentos, da apanha do tomate nos campos de Campo Maior; tinha acordado tarde na minha descoberta da Natureza, do são convívio, da simplicidade do mundo rural, dos valores da Amizade ... mas esses dois anos e meio foram intensamente Vividos ... intensamente Sentidos!
Em Agosto do mesmo ano de 1973 fiz 20 anos ... já com a tal jovem ao meu lado ... e ao meu lado ficou para sempre em Dezembro desse mesmo ano de 1973 ... estávamos nós no 2° ano do cadinho que nos juntou: a licenciatura em Biologia, na velhinha Escola Politécnica.
1973 foi, portanto ... um "ano especial". E se 1973 foi um ano especial ... 2023 também confio que o seja. Em Fevereiro ... faz meio século que começámos um namoro que dura até hoje; em Abril ... faz meio século que conheci a minha aldeia adoptiva; em Agosto ... juntar-me-ei à minha "estrelita arraiana" no "estatuto" de septuagenário; e em Dezembro ... faz meio século que nos unimos pelos laços que se mostraram eternos ... e comemoraremos as nossas bodas de ouro.
A tristeza de, em Abril, também se passarem 20 anos sobre um doloroso regresso a Vale de Espinho ... não apaga a alegria e a Felicidade das restantes efemérides. Pelo contrário ... a memória e a "presença" do meu Querido Zé Malhadas é um estímulo, uma força viva que me/nos leva a festejar a Vida e o Amor, como ele tanto gostava. Lá onde quer que ele esteja, está seguramente orgulhoso dos ninhos a que directa ou indirectamente deu origem. Não conheceu os bisnetos ... mas seguramente que lá, onde quer que ele esteja ... os "vê" e os "conhece".
Na Melodia da Vida, as estações não têm necessariamente a mesma duração. Na Melodia da Vida, somos nós que ditamos o que as caracteriza ... somos nós que marcamos os solstícios e os equinócios ... guiados pela inteligência do Universo. Como Primavera que foi, também a nossa floresceu e frutificou; "produzimos" filhos ... demos-lhes o adubo para que pudessem construir a Primavera deles, enquanto nós entrávamos num Verão que terá sido, talvez, a nossa estação mais longa, uma estação de maior maturidade, de maior "acalmia" ... mesmo com o vento e as nuvens negras que os nossos Amigos mais chegados testemunharam, ao longo de dez longos anos (1989 - 1999).
Mas do Verão da nossa Vida fez parte também a Vida profissional. Pelas nossas mãos, milhares de alunos cresceram e formaram-se, aprenderam a olhar para a Natureza; muitos deles ... mantêm-se como amigos ... 15, 20, 30, 40 anos depois...
Reformados em 2008 e 2009 ... o "fim do Verão" voltou a ser, particularmente para o autor destas linhas, uma espécie de repetição dos "anos loucos" Vividos 40 anos antes. À medida que vou descobrindo que tenho muito mais passado que futuro ... vou querendo Viver e fazer o que sempre quis Viver e fazer: caminhar ... subir montanhas ... extasiar-me na contemplação da Criação. E, agora com mais tempo ... lanço-me nas autonomias, nas grandes caminhadas, com a parceira nas que ela pode, sozinho, com grupos de amigos ... e de Amigos; alguns passam a ser verdadeiros irmãos ... "Manos" ... a juntar aos "Manos velhos" ... aqueles que a Vida nos trouxe e nos deu aos dois desde a noite dos tempos ... aqueles que acompanharam a nossa Melodia e nós a deles. "Novos" ou "velhos" ... aqueles que souberam e soubemos manter ... aqueles com quem partilhamos alegrias e tristezas, ilusões e desilusões ... aqueles que sabem e sabemos ... Amar!
Em 2014 percorri o meu 1° Caminho de Santiago ... e a minha relação com a Natureza e com o Universo passou a ter outra dimensão. E vão 13 Caminhos, neste momento ... em 2 dos quais consegui cativar a minha pequena/grande peregrina e timoneira. E assim, nesta amálgama de emoções e de Vivências ... o Tempo avança ... a Melodia soa. Do Gerês a Somiedo, da Malcata aos Picos de Europa, do Monte Perdido às montanhas do Atlas, dos cumes da Madeira e dos Açores aos Andes Peruanos e aos Alpes ... em cada "aventura" parece-me sentir uma cada vez maior febre de Viver ... uma cada vez maior pressa de fazer o que ainda não fiz. Deve ser pretensiosismo meu sentir-me ainda ... no Verão. Fim do Verão, talvez ... mas não vi ainda as folhas caídas do Outono ... ou não as quero ver ... mesmo sendo o Outono, junto com a Primavera ... a mais bela das estações.
As fotos do mosaico que ilustra este discurso vão fazer meio século … são do ano especial de 1973 ... de quando conheci Vale de Espinho. A de baixo, à esquerda,  à porta da casa das Fontes Lares … o meu "santuário". Meio século depois ... já cá não estão tantos que comemorariam connosco o "ano especial" de 2023 ... mas a presença deles está nas memórias. O passado escreveu o que fomos e o que somos e projecta-se no futuro … se houver futuro! 𝘚𝘐𝘊 𝘔𝘝𝘕𝘋𝘝𝘚 𝘊𝘙𝘌𝘈𝘛𝘝𝘚 𝘌𝘚𝘛 … o nosso Mundo!
Vivo sempre numa espécie de twilight zone entre o Sonho e a realidade … sou um velho dinossauro que cada vez mais anseia saborear a Vida e o Amor … antes que o Outono dê lugar ao Inverno ... ao Inverno das nossas Vidas. É que, ao contrário das estações do ano ... ao Inverno da Vida não se segue uma nova Primavera...
Quantos terão tido paciência para ler este "testamento"? Estarei a ficar louco? Não creio! Creio que estou a ficar ... o que sempre fui: sentimental ... emotivo ... apaixonado; apaixonado pela Vida e pelas pessoas que fazem parte da minha Vida! Elas sabem quem são! Quando chegar o Inverno, se já não puder fazer mais nada … quero estar junto delas ... quero abraçá-las ... beijá-las ... ajudá-las ... Senti-las ... Viver ... escutando a Melodia do Tempo ... a Melodia das Estações…
☮️💖 𝗙𝗘𝗟𝗜𝗭 𝗔𝗡𝗢 𝗗𝗘 𝟮𝟬𝟮𝟯 💖✝️
Vivam a Vida … saboreiem-na … cada dia e todos os dias das vossas Vidas! Ultreïa!

sábado, 3 de dezembro de 2022

Na Rota dos Palácios (1): de Santo Antão do Tojal a Mafra

Século XVIII. Os barcos chegam a Santo Antão do Tojal. Vêm carregados, trazem estátuas em pedra e sinos para o Convento de Mafra. Já em terra, tudo em segurança para partir rumo a Mafra. Mas para isso é indispensável a bênção do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Tomás de Almeida. El-Rei D. João V também aparece, e com ele toda a corte e restantes classes sociais. Mas voltemos à actualidade...
Praça Monumental de Santo Antão do Tojal e Palácio dos Arcebispos, 3.Dez.2022, 07h50
E na actualidade ... algumas leituras na net e as actividades pedestres de alguns grupos fizeram nascer a ideia de ligar os Palácios mais emblemáticos da região metropolitana de Lisboa: o Palácio dos Arcebispos do Tojal, o Palácio Nacional de Mafra, o Palácio Nacional de Sintra (Palácio da Vila) e o Palácio Nacional de Queluz. Quase uma centena de quilómetros, num roteiro circular que implicaria 4 etapas ... a que eu e o "mano" Zé Manel chamámos a "Rota dos Palácios". A primeira etapa ... foi hoje!
Já com alguns carros em Mafra, às oito da manhã 16 caminheiros que responderam ao desafio estavam a partir da Praça Monumental de Santo Antão do Tojal. Não íamos transportar os sinos para o Convento de Mafra, mas íamos preparados para os 30 km da primeira etapa ... que ao longo do dia foi dando origem à ideia de juntar mais Palácios ... e portanto mais etapas... 😂
Num sábado frio de Dezembro, começamos a caminhar com o Sol acabado de nascer...
Pinteus e ladeira subjacente à Ribeira de Fanhões, 08h30
Entre Pinteus e Casainhos, próximo do geodésico do Murtal
Pinteus e Casainhos, as ribeiras de Fanhões e de Casainhos, foram os primeiros "marcos" desta jornada, num dia em que a meteorologia já tinha previsto chuva, depois Sol, e por fim ameaços de chuva fraca. O já histórico pacto com S. Pedro da minha "mana" Cristina deu-nos um dia frio, mas apenas no Cabeço de Montachique caíram algumas pequenas e passageiras pingas de água; de resto, o Sol até espreitou algumas vezes, animando as "tropas" que já estavam animadas por natureza.

Travessia da Ribeira de Casainhos e panorâmica sobre o vale de Ribas
À conquista do

Cabeço de Montachique

O Cabeço de Montachique assinalou o primeiro terço da caminhada e o primeiro "banana time". A paragem ... até deu para andar de baloiço... 😂
Descendo quase à aldeia de Montachique,  a jornada prosseguiu por Casais do Forno, já a poente da autoestrada A8, rumo à Venda do Pinheiro, com belos troços de bosque. Na Venda do Pinheiro estávamos sensivelmente a meio ... começámos a procurar um local para o almoço volante ... e encontrámo-lo próximo do geodésico da Atalaia, o ponto mais alto do Concelho de Mafra.
Do Cabeço de Montachique à Venda do Pinheiro, sempre com rumo NW, com um almoço à vista da Serra do Funchal
Antes das duas da tarde estávamos na Avessada; depois do almoço, o cafezinho veio a calhar. E o dia manteve-se sempre sem chuva, honrando o pacto da "mana" Cristina com S. Pedro. A caminho de Alcainça, entre as ribeiras da Carrasqueira e do Casal Novo ... tivemos foi um troço de "selva"; aquele trilho, pelos vistos, há muito que não é usado. Não houve mortos ... mas houve "feridos"... 😂

Em plena "selva tropical", entre a Quinta das Pêgas e Alcainça
Ribeira do Casal Novo, na base do Cabeço de Alcainça
E nos belos trilhos de Alcainça, a caminho da Arrifana
Às quatro da tarde estávamos na Carapinheira. Faltavam poucos km para o destino. Três dos 16 "expedicionários" residem em Mafra; por sábia sugestão do Deonel, optámos pela estrada velha nesse último troço, evitando a EN 9. E na aproximação ao Convento de Mafra, embora ainda faltasse mais de meia hora para o pôr do Sol, as cores já se reflectiam no horizonte, brilhando no mar da Ericeira.

Troço final da "aventura" entre o Tojal e Mafra, com as espectaculares cores do pôr do Sol deste primeiro sábado de dezembro
Convento de Mafra à vista, 16h30
Às quatro e meia estávamos a entrar em Mafra, com os previstos 30 km nos pés; ou melhor ... faltavam uns "pozinhos". Mas as brincadeiras e o convívio final, frente ao Palácio e até depois, junto aos carros ... preencheram os poucos metros que faltavam para os 30. E mais ... à nossa chegada tivemos direito a um "concerto" dos carrilhões de Mafra ... desejando-nos "a todos um Bom Natal".
Mafra, 16h40 - Estava completada a ligação entre o Palácio dos Arcebispos e o Palácio Nacional de Mafra
(Fotos: Deonel Pinto)
Estava assim completada a primeira etapa "Na Rota dos Palácios". E que excelente sábado passámos ... e que excelente grupo formámos! Foram 30 Km de caminhada, com mais de 900 metros de desníveis acumulados, em quase 9 horas de jornada ... mas foram também 30 km de convívio e de amizade ... em que no final até houve espumante, junto aos carros! As próximas etapas já serão certamente em 2023 ... mas venham elas ... até porque 2023 é, para o autor destas linhas ... um "ano especial"...

sábado, 26 de novembro de 2022

Por trilhos da Sapataria ... cinco anos e meio depois...

"Amanhã vou ao da Sapataria.". "De quem?", perguntei. "Da Junta de Freguesia", veio a resposta ... e assim nasceu, de um dia para o outro, uma pequena mas bela caminhada, num belo sábado de Sol, relativamente perto, em que pude ter a companhia da minha "pequena arraiana", quase septuagenária, além de três bons Amigo(a)s com os quais, no final da caminhada ... almoçámos um bom manjar 🤪

Sapataria, 26.Nov.2022, 09h30 - Verdes são os campos ... e amarelos
Em Abril de 2017 - já lá vão cinco anos e meio - tinha andado com os "Novos Trilhos" nos trilhos desta freguesia rural do concelho do Sobral de Monte Agraço, numa caminhada maior e mais ... à "Novos Trilhos". Desta vez tratava-se de uma caminhada de 11 km, organizada pela Junta de Freguesia, seguindo o PR2, a Rota do Sizandro, que cruzámos quase logo no início do percurso.

Da Sapataria aos Moinhos da Atalaia (314m alt.), pelos belos trilhos do Oeste
Do geodésico da Atalaia a panorâmica dava-nos 360º; para norte, a Serra de Montejunto; para sul o Cabeço de Montachique e as restantes formações do complexo vulcânico de Lisboa. Descemos depois para Galegos e para o Parque Desportivo O Sobreiro, onde a organização providenciara um pequeno mas simpático reforço alimentar, seguindo depois para os Moinhos do Charela e de Terras.

Fontanário na nascente do Sizandro, na pequena aldeia de Sizandros
Igreja de Nossa Senhora da Purificação, à entrada de Sapataria, 12h45
Clique no mapa para ampliar ou aqui para ver no Wikiloc
Antes da uma da tarde estávamos a reentrar em Sapataria. Apenas 10 km ... mas, como sempre, os km são o que menos importa. Foi sem dúvida uma bela manhã de um belo sábado de Sol de Outono ... a que se seguiria um belo almoço, num belo "Manjar do Marquês" ... e até por um belo preço. A sobremesa e o café ... foram oferta, integrada no "Fim de Semana Gastronómico" promovido pela Junta de Freguesia e diversos restaurantes da zona.