No passado dia 4, ao escrever a
crónica
dos primeiros três dias do meu
Caminho de Inverno, no Albergue de
Vilamartín de Valdeorras, não fazia ideia de quando escreveria a
crónica seguinte.
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À entrada de A Rúa, 5.Mar.2022 Já faltavam menos de 200
km...
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"
Quando o Caminho me disser; até pode ser só quando chegar a casa...".
E como o Caminho nunca é o chão que pisamos ... não voltei a escrever durante
os dias intensos que se seguiram.
Saí de
Vilamartín antes das oito da manhã do quarto dia de Caminho,
rumo a
A Rúa de Valdeorras. O Sil já me acompanhara quase sempre, mas agora entrava no coração da
Ribeira Sacra, rica região vinícola do sudeste da Galiza, estendendo-se pelo norte da
província de Ourense e sul da província de Lugo, delimitada pelos rios
Sil e
Minho ... e cantada pelos
Luar na Lubre.
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Igreja de Nossa Senhora de Fátima em A Rúa, 9h10
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Um merecido pequeno almoço em A Rúa,
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num bar com frases bem verdadeiras
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A Rúa de Valdeorras, com o rio
Sil em pano de fundo
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Embora por estradas secundárias, a quarta etapa teve muito alcatrão ...
pero tamén moitos recunchos fermosos 😊. O Caminho atravessa parte do
geoparque das
Montañas do Courel
... e a neve lá estava, nalguns cumes mais elevados. Foram-se sucedendo
pequenas aldeias desertas, como
Os Albaredos,
Montefurado e
O Ermidón, testemunhas de um Tempo varrido
pelo tempo; mas ... até gnomos dos bosques surgem neste troço ... e cestas com
fruta para os peregrinos! 🙂
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13h30 - Moinho de azeite de Bendilló
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O Soldón, de novo nas margens do
Sil ... e onde fui pastor por uns minutos...
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Na primeira etapa que passava dos 30 km, a tarde ia começando. Um sítio para
almoçar? "
Neste pobo non hai nada", diziam-me as poucas almas que via.
Felizmente ... ainda tinha cubos de marmelada 😄
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Castelo e aldeia de Os Novais, num
troço bem bonito desta etapa entre Vilamartín e Quiroga
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E às 15h55, numa volta do Caminho, tinha
Quiroga à vista
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16h20 - Entrada em Quiroga, com 33 km percorridos desde
Vilamartín de Valdeorras
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Quase às quatro e meia da tarde, estava a entrar em
Quiroga, maior do
que eu supunha. A etapa tinha sido a maior até então, 33 km percorridos, com
muito alcatrão e bastante desnível, mas também com recantos paradisíacos.
Central, o
Albergue Municipal
foi um paraíso, com quarto privativo e WC privativo ... por 12 €! E outro
paraíso foi o restaurante e bar
Chapakuña, quase nas
traseiras do albergue ... onde fiz a segunda refeição normal nos primeiros
quatro dias de Caminho.
Embora na altura não o soubéssemos, o
Albergue de Quiroga
foi um ponto chave do meu Caminho ... e no de mais alguém. Estava eu a acabar
de me registar, quando chegou uma peregrina brasileira. O(a) segundo(a)
peregrino(a) em 4 dias de Caminho. Na altura apenas ficámos a saber que
estávamos ambos a percorrer o Caminho de Inverno e que tínhamos saído de
Ponferrada no mesmo dia ... mas nem o nome um do outro soubemos. Mais tarde
viríamos a concluir que ambos fomos jantar ao
Chapakuña, mas não nos encontrámos mais nesse dia, nem no dia seguinte.
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O Despertar dos Mágicos, próximo de
Nocedo, na margem direita do
Sil, 6.Março.2022, 8h25
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E o dia seguinte era suposto ser, no meu
planning, a maior etapa do meu
Caminho de Inverno: 37 km, de Quiroga a Monforte de Lemos, capital da
Ribeira Sacra. A meteorologia, exceptuando o segundo dia, estava-me a dar um clima mais
primaveril do que invernal. E esta era também a etapa em que começava a
transição do vale do
Sil para o vale do
Minho, ou seja da
Ribeira Sacra Ourensana
para a
Ribeira Sacra Lucense, mais a norte, começando pela subida à singela
Capela dos Remédios,
pouco antes de
O Carballo de Lor. A poente,
percebia-se o vale do
Lor, afluente do Sil.
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Capela dos Remédios, nos Montes de Lor ... onde
encontrei o testemunho peregrino do Claudio, o italiano da
primeira etapa
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Ponte medieval de A Barxa do Lor, um
recanto paradisíaco num dia ... primaveril
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No vale do
Lor, na zona de
A Barxa, o Caminho de Inverno faz uma ampla
curva para noroeste, ligando aquele aos vales dos rios
Saa e
Cabe, rumo a Monforte de Lemos. A extensão da etapa e o permanente
desnível eram amenizados pela beleza da paisagem ... e pela luz ... ou A
Luz...
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A Barxa do Lor
... será a luz ... ou A Luz?... Seja ela qual
for ... senti-me ali iluminado ... inspirado ... motivado...
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A Pobra do Brollón, nas margens do
rio Saa
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Monforte de Lemos, 16h30 - Estava a terminar a quinta e maior
etapa do meu Caminho de Inverno
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Na capital da
Ribeira Sacra, fiquei alojado na
Pensión Miño, já que o albergue só abre em Abril. Uma boa unidade, a preço peregrino. Mas
algo aberto para jantar ... só tarde e caro; e por isso a solução foi umas
compras no supermercado ... para o jantar no quarto e o pequeno almoço do dia
seguinte.
O Claudio, italiano conhecido logo na primeira etapa, sabia que fazia jornadas
longas e já estava em Chantada. Da peregrina brasileira conhecida por breves
minutos em Quiroga, nenhuma notícia; a partir do dia seguinte, contudo ...
tudo seria bem diferente... 😃
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Monforte de Lemos, 7.Março.2022, 7h35 - Ponte sobre o rio
Cabe
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Menor do que a anterior, na 5ª etapa saí apesar de tudo antes do nascer do
Sol, já que Monforte de Lemos é relativamente grande e a previsão era de bom
tempo. E assim, iniciei a travessia da
Ribeira Sacra Lucense, rumo às terras do nosso rio
Miño; o Sil já ficara para trás, desagua
no
Miño bem mais a sudoeste. E a manhã desta segunda feira acordou bem
fresca, com os campos geados.
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Despertar dos Mágicos próximo de Moreda, com os campos bem
geados
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Pequeno almoço campestre, através dos tapetes mágicos de uma
Galicia máxica
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Em subida gradual, próximo da aldeia com o curioso nome de
O Camiño Grande começo a perceber o vale do Minho à minha
esquerda. E a indicação de um miradouro com o apelativo título de
O Cabo do Mundo alimentou-me o desejo de vir mostrar partes deste
meu Caminho à minha estrelita raiana, como tenho feito em relação a pelo menos
alguns dos Caminhos anteriores.
De novo através de uma zona eminentemente rural, as poucas e pequenas aldeias
estavam despovoadas, mas em
Montecelo um simpático ancião, além dos
"Bos días", meteu alguma conversa comigo, acabando por me dizer que há
coisa de meia hora passara também uma peregrina. "É capaz de ser a brasileira de Quiroga", pensei logo, já que não tinha encontrado mais quaisquer peregrinos. Sabia
que esta era a etapa com uma descida e uma subida mais radicais ... mas
acelerei o passo; era o Universo a dizer-me ... que o Caminho ia deixar de ser
a solo...
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Próximo de Fión e do Miradoiro do Cabo do Mundo, percebendo-se já o
vale do Rio Miño (Minho)
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Descida para Belesar e para o
Rio Minho ...
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mas as fotos não ilustram a dificuldade da descida
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Em
Belesar cruzei o Minho ... e vi alguém a
iniciar a subida da margem direita, de mochila às costas. Só podia ser a
peregrina que o ancião de
Montecelo tinha visto passar. Comecei a subir
a bom ritmo, numa das curvas do Caminho ela apercebeu-se também de que havia
um peregrino a "persegui-la", esperou ... e podemos dizer que aquele momento
marcou o início
de unha conexión máxica,
naquel recuncho máxico ...
dunha Galicia máxica... 💖. Obrigado,
Universo!
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O encontro de dois peregrinos a solo ...
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para um Caminho que passou a ser a dois 💖
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Logo ali nos apresentámos, logo ali houve magia ... a começar pelo próprio
nome: Stella ... estrela ... no Caminho das Estrelas. Tínhamo-nos visto apenas
por minutos em Quiroga, mas o nosso Caminho a solo ... passou a ser a dois.
Encontros mediados pelo Caminho ... a caminho do Campus Stellae 🙏
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Ainda o vale do Rio Miño (o
"nosso" Minho). Dir-se-ia que estávamos no Douro ... mas é a
Ribeira Sacra Lucense
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Polos camiños máxicos dunha Galicia máxica...
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Chantada, 15h10 - Contrariamente ao habitual, a Igreja
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estava aberta e entrámos ... talvez em agradecimento🙏
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Chegámos a
Chantada pouco depois das três da tarde. A Stella já
havia reservado dormida e eu iria alojar-me no
Albergue "A Pousa do Asma"
... mas o albergue pareceu-me mais um
bunker ... e para
bunker já chegam as trágicas notícias da guerra na Ucrânia.
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O rio Asma à entrada de
Chantada (Clique para ver o
álbum completo
de fotos)
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E aliás, por 18 € no
bunker, preferi pagar 20 € no
Hostal Gamallo, modesto mas onde fiquei bem instalado. Mas ... claro que combinámos
encontrar-nos, os dois peregrinos. Entre duas cervejas, durante a tarde ... a
Stella disse-me que eu lhe tinha dado uma lição de Caminhos ... e de Vida 😊.
Escrevi nesse dia no facebook: "
Se amanhã estaremos juntos ... o Caminho o dirá!" ... e o Caminho disse-nos que estaríamos juntos até ao final ... e muito
para além do final, se o Universo assim o quiser. Ultreïa!
(Escrito e publicado em casa, em 16.03.2022)
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