sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Machu Picchu ... a cidade perdida dos Incas (3)

Winikunka, as montanhas do arco-íris ... ou quando pulverizo o meu record de altitude...
No dia 6, sexta feira ... começava a "aventura". Uma "aventura" pré Caminho Inca propriamente dito, para completarmos a adaptação à altitude e, regressando a Cusco, podermos ver a reacção à alta montanha. Para mim, a máxima altitude a que alguma vez tinha chegado tinham sido os 4167 metros do Toubkal, no Atlas; a Madalena tinha atingido altitudes semelhantes na cordilheira dos Anapurnas. Agora, começando embora já a altitudes maiores ... íamos chegar e ultrapassar os 5000 metros!
Ao longo do vale do Vilcanota, que mais a norte se chama Urubamba, 6.Setembro.2019, 6h55
De acordo com o combinado, o nosso guia Washi foi-nos buscar à "nossa" Casa Andina a umas matinais 5h30. No Peru, nesta altura, o dia começa a clarear a essa hora ... e o serviço de pequeno almoço nos hotéis é a partir das 5h00. A viagem de carro ia ser longa: cerca de 140 km rumo a sudeste, subindo o curso do rio Urubamba, o mesmo que, a norte de Cusco, forma o Vale Sagrado dos Incas ... e que banha os pés à cidade perdida de Machu Picchu. De notar que o Urubamba (também chamado Vilcanota), no norte do Peru toma o nome de Ucayali, juntando as suas águas às do Maranhão próximo da cidade peruana de Iquitos ... para formar o Amazonas.
Ponte suspensa inca e ponte colonial sobre o rio Pitumarca, afluente do Vilcanota, 7h45
Por Urcos e Pitumarca, o nosso destino era Quesoyuni, acima já dos 4 mil metros de altitude, a seguir a vários outros pequenos povoados de montanha. Estávamos completamente no Peru profundo, bem no meio da Cordilheira dos Andes. A estrada, desde que deixámos o vale do Urubamba, era um estreito e pedregoso macadam, ao longo do qual íamos subindo pelo meio de uma paisagem esmagadora.

Subimos, subimos, subimos ... e pouco depois das 9h00 íamos finalmente iniciar o trekking que nos levaria ao Winikunka
Mais de três horas depois de sairmos de Cusco, num agitado "mar" de curvas, pedras e balanços, durante o qual batemos os nossos records de altitude, chegámos ao destino. Estávamos a 4760 metros de altitude! Pelo caminho ... metemos na boca uns quantos caramelos de coca, a somar ao chá que já tínhamos bebido no hotel. Havia que prevenir o temido soroche, o mal da altitude. Mascar coca continua a ser um saudável costume nas alturas andinas ... mas modernamente os turistas e montanheiros usam preferencialmente o chá e os caramelos. A coca evita náuseas e tonturas e é o melhor remédio para várias enfermidades e fadigas. A folha de coca é um símbolo da identidade andina, que só por ignorância se poderá confundir com a manipulação química que é a cocaína.

Rumo ao cume do Winikunka, a montanha das 7 cores, ou montanha arco-íris ... por meios diversos
A partir de Quesoyuni, o percurso a pé é de uns parcos pouco mais de 2 km até ao cume. O piso é bom e o desnível acumulado é de pouco mais de 200 metros ... mas estamos a aproximar-nos dos 5000 metros de altitude. O ar é rarefeito; qualquer movimento mais brusco sente-se. O temido soroche não se me apresentou contudo para além de uma ligeira dor de cabeça, mas a Madalena sentiu mais fortemente os sintomas da falta de oxigénio. Daí, como a foto acima ilustra ... o Washi rapidamente providenciou uma montada para a transportar até onde é possível um equídeo chegar. Depois, calmamente, a minha valente companheira de aventura subiu até aos ambicionados 5000 metros, quase o cume, mas de onde já podia apreciar a esmagora imponência do que nos rodeava.

5000m de altitude ... quase no cume, onde voam as aves
sagradas dos incas, os Alkamari, ou caracara de montanha
E ... o esplendor das Montanhas Coloridas, o Cerro Colorado, ou Montanhas do Arco-Íris
Cume da Montaña Winikunka, 5036 metros de altitude ... dificilmente alguma vez ultrapassarei este record...
A história da montanha arco-íris começou há milhões de anos. As cores que decoram as encostas da montanha resultam de sedimentos marinhos, lacustres e fluviais, transportados pela água que antes cobria todo o lugar; datam dos períodos Terciário e Quaternário, ou seja, de 65 milhões até 2 milhões de anos atrás. Ao longo do tempo, os sedimentos foram formando camadas (com grãos de tamanhos diferentes) que hoje compõem as franjas coloridas. O movimento das placas tectónicas elevou esses sedimentos; aos poucos, as diferentes camadas foram adquirindo as suas cores, por oxidação dos diferentes minerais em virtude da humidade e da erosão dos mesmos: argilas vermelhas e outras ricas em minerais ferromagnesianos, margas, silicatos, arenitos, misturas destes e de outros minerais, etc..

À nossa volta ... a imponência da Cordilheira dos Andes. Alguns picos superam os 6000 metros de altitude...
Por trilhos de montanha, com alguns dias de trekking certamente bem duro, seria possível a partir do cume do Winikunka chegar "aos céus" ... que nesta zona dos Andes é o cume do Ausangate, a 6384 metros de altitude. Mas nós tínhamos de regressar a Cusco. Na descida, o soroche ainda se fez sentir, mas pouco depois do meio dia estávamos de novo no ponto de partida ... prontos para novo "chocalhar" ao longo da "estrada" de montanha que nos havia conduzido à montanha do arco-íris.

Tínhamos pulverizado os nossos records de altitude ...
e víamos agora do alto dos 5000m o que tínhamos subido
Com o nosso guia Washi, vigiando e controlando a descida
Lamas e alpacas pastam nas encostas, alheias à passagem dos jeeps de quem desceu das alturas de regresso aos vales
Ainda incluído no "pacote" Winikunka ... no regresso esperava-nos um saboroso almoço, já no vale do rio Urubamba. E pouco depois das quatro da tarde estávamos de regresso a Cusco. No dia seguinte, bem cedo ... começaríamos o Caminho Inca de Machu Picchu.
Ver o álbum completo

Sem comentários: