CAMINHO PRIMITIVO: de Lugo a Santiago Santiago de Compostela, 22 de Maio
19 de Maio: vinte minutos antes das sete da manhã saímos do Albergue de Lugo, para atravessar o Rio Minho com a luz do nascer do Sol. A ponte romana de Lugo fazia parte da Via XIX do Itinerário de Antonino, comunicando Lucus Augusti (Lugo) com Bracara Augusta (Braga).
Ponte romana sobre o Rio Minho, Lugo, 19.05.2017, 7h10
Entre O Burgo e San Roman da Retorta, o percurso atravessa amplos túneis de vegetação, salpicados aqui e ali pelas Ermidas e Igrejas que, ao longo dos séculos, fizeram a História do Caminho. É uma etapa muito rural, que faríamos terminar em As Seixas ... num albergue muito especial.
Igreja Paroquial de San Vicente de O Burgo, 9h00
Sim ... é por ali o Caminho...
por entre todos estes
túneis de vegetação!
Igreja românica de San Roman da Retorta
Almoço rural, na ruralidade da aldeia de Pacio
Fonte de Santiago em Requián, Augas Santas, 19.05.2017, 15h05
A Mana Paula já conhecia o Albergue de "As Seixas" ... e a sua simpatiquíssima hospitaleira, Mari Fé. Aliás assim que entrámos ... vimos exposta uma fotografia dela e dos companheiros que com ela fizeram o Caminho Primitivo em 2015 ... com a Mari Fé! Um excelente Albergue, com uma excelente forma de receber e de tratar os peregrinos ... entre os quais se veio a contar o Joseph, o nosso amigo alemão; a restante "família" que fizemos pelo Caminho havia ficado mais atrás, em Ferreira.
Albergue de "As Seixas" ... e a foto de 2015: a Mari Fé
com os 4 portugueses em que a Mana Paula se incluía
E agora, 19.05.2017 ... com um abraço muito
especial à "sua" Paulinha... 😊
Única nota negativa para este lugar de As Seixas, que nada tem a ver com o Albergue e muito menos com a Mari Fé: o único bar da aldeia, de seu nome "Casa Goriños" ... aproveita-se infelizmente de ser o único para (mal) servir os peregrinos. Pagámos o melhor de 5 € por um "caldo gallego" ... que era uma espécie de água quente com umas folhitas de couve a boiar; uma garrafa de sidra ... tinha passado o prazo de validade! De todo não recomendável!
20.05.2017, 8h00 - Um pouco mais tarde que o habitual, deixamos o Albergue de "As Seixas", com o alemão Joseph
E ao 15º dia (10º, para o Zé Manel) chegávamos a Melide ... e à "procissão" de peregrinos. Em Melide, o Caminho Primitivo e o Caminho Francês juntam-se; os últimos dois dias e meio até Santiago já eram conhecidos ... mas o Caminho é sempre diferente, nunca nada se repete...
O Caminho faz-se caminhando ... e faz-se de amigos!
Teríamos chegado ao Campo das Estrelas?...
Melide, 11h30 ... e entramos em Caminho já percorrido!
Em Melide ... à hora de almoço ... era obrigatório ir ao famoso "Ezequiel". E lá fomos, com o Pedro, o nosso "ligeirinho". O "pulpo a feira" estava bom ... mas o de Fonsagrada era melhor...
Em Boente, lá estava o albergue onde o ano passado tínhamos ficado. Mas, também o ano passado ... tínhamos gostado do aspecto do albergue de Ribadiso, à beira rio ... e para lá apontámos o fim da etapa.
20.05.2017, 15h30 - A caminho do Albergue de Ribadiso ... à beira do Rio Iso
Em Ribadiso, estávamos a 43 km de Santiago. Seriam duas etapas folgadas, por terreno já conhecido do Caminho Francês. O "ligeirinho" Pedro acompanhava-nos já quase em permanência, a Anne e o Steve por vezes, bem como o Joseph e o jovem casal Stephanie e John; o Albert ... sabíamos que estava algures para trás, com os pés meio desfeitos...! Havíamos começado por reservar um albergue em Santiago para nós 3 ... depois passámos a reserva para 4 ... e acabaríamos por aumentá-la para 10!
E outra pausa na Casa "Tia Teresa", em Salceda ... com cerveja
"Peregrina", a comemorar os 400 km de Caminho meus e da Paula!
x x
A penúltima etapa terminaria em O Pedrouso, no respectivo albergue municipal. Ao jantar, no bar/restaurante com o emblemático nome de "Taste the Way" ... éramos oito. E quase tivemos de correr para o albergue, onde às 22h00 fecham as portas... 😊. No dia seguinte ... Santiago esperava-nos!
A caminho de O Pedrouso ... e da última etapa para Santiago (21.05.2017, 13h40)
São 6h30 do dia 22, entre O Pedrouso e o aeroporto de Santiago de Compostela...
Ao 12º dia do Caminho Primitivo (17º meu e da Mana Paula), saímos do Pedrouso ainda noite. O dia começou a clarear por alturas de O Amenal, pouco antes do aeroporto de Santiago. E às 7h20 estávamos a entrar na área urbana de Santiago de Compostela. A Igreja de San Paio também nos deu as boas vindas. Pequeno almoço em Vilamaior ... e antes das dez estávamos no Monte do Gozo.
22.05.2017, 7h20 - Entramos na área urbana de Santiago. À esquerda, o Pedro e o Joseph, respectivamente
Igreja de
San Paio, 7h40
Monumento comemorativo da visita de João Paulo II a Compostela em 1989, Monte do Gozo
O Pedro e o Joseph já caminhavam connosco. Entretanto a Stephanie e o John tinham-nos apanhado no percurso ... e no Monte do Gozo o Albert volta-se a juntar a nós. Tinha quase "voado" nas etapas anteriores, apesar dos pés "desfeitos"! No Monte do Gozo ... já éramos portanto oito!
No Monte do Gozo ...
de três passámos a oito!
No Monumento aos Peregrinos, no Monte do Gozo,
onde pela primeira vez se avista a Catedral de Santiago
A Anne e o Steve tinham ficado ainda no albergue ... mas na Rua de San Lázaro surgiram atrás de nós. Íamos passar juntos a Porta do Camiño ... a Praza de Cervantes ... íamos entrar juntos no Obradoiro!
Praza de Cervantes ...
lançando-nos para o Obradoiro
Cerca de oito minutos separam as duas fotos anteriores, na Praça de Cervantes, das seguintes. Desses oito minutos ... não há fotos, não há vídeos ... não há descrição possível. Há a memória de muita emoção, a memória de dez pessoas de mão dada, descendo a Rua da Acibechería e a Praça da Imaculada, passando o arco sob a ala esquerda da Catedral, onde se ouvia como sempre o som da gaita galega ... e entrando na mágica Praça do Obradoiro ... de mãos dadas, cantando, saltando, chorando e rindo ... vivendo aqueles minutos, aqueles momentos ... como se não houvesse mais amanhã ... intensamente ... num êxtase de Felicidade ... num êxtase de Amor! Amor pela Vida! Amor por aqueles que ali tínhamos chegado, nós os três, os meus Queridos Manos Paula e Zé, mas também aqueles sete amigos que o Caminho nos deu. Dez pessoas ... sete nacionalidades diferentes ... unidas por um sentimento comum ... unidas por Santiago ... unidas pelas Estrelas...! Amor pelo ninho familiar que, não estando presente ... esteve sempre presente!
Praça do Obradoiro, 11h15 ... para aqui convergem todos os Caminhos, todas as motivações ... todas as emoções!
Os dez gloriosos peregrinos que completaram o Caminho Primitivo. 7 nacionalidades unidas por um sentimento comum!
Campus stellae ... o campo das estrelas! A Catedral de Santiago continua a preparar-se para o Ano Santo de 2021
Como sempre ... o nosso "mundo" viajou connosco!
O abraço ao Apóstolo foi feito por turnos, já que é preciso guardar as mochilas no exterior da Catedral. Era a quarta vez que eu entrava a pé em Santiago! A "Compostela" e o Certificado de distância percorrida foram emitidos na Oficina do Peregrino, eu e a Paula desde León, o Zé Manel desde Oviedo. Instalados depois no novo e excelente Albergue "Blanco", próximo do centro histórico, a tarde foi para sentir Santiago e a sua permanente Vida. Eu e a Paula fomos à Igreja do Convento de S. Francisco - como me habituei a não deixar de ir - ao velho "Café Casino" ... e às velhas ruas gastas pelo tempo e pelas memórias.
Convento de S.
Francisco ... um peregrino em Santiago
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E no velho "Café Casino" de Santiago ...
merecemos as "velhas" tartes de Santiago!
Mantendo a tradição ... a chegada a Santiago não podia deixar de ser assinalada pelo Conxuro, que nos deixaria "libres dos males da nosa ialma e de todo embruxamento"! No tradicional Bar "Fucolois" - mais uma vez - e para a nossa "família" de dez peregrinos de sete nações ... a Queimada galega invocou todas as "forzas do Ar, Terra, Mar e Lume". Alí e agora, os espiritos dos amigos que estaban fóra ... ¡participaron con nós daquela Queimada!... 😌
Passava das dez da noite quando recolhemos ao Albergue ... quando fizemos a maioria das despedidas. Para a maioria daqueles dez peregrinos, o Caminho terminara. Para sempre ficaram as vivências, as emoções, as dores ... mas acima de tudo as memórias!
Ao ler esta etapa final quase chorei, realmente não só construímos um Caminho como criamos uma família. E a emoção à chegada foi algo que não se descreve.
1 comentário:
Ao ler esta etapa final quase chorei, realmente não só construímos um Caminho como criamos uma família. E a emoção à chegada foi algo que não se descreve.
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