No meu
Caminho de Santiago desde Santa Cruz, interrompido precocemente em
Ourém, teria chegado a terras flavienses na 5ª feira, 30 de Abril. O meu Caminho teria então uma interrupção de dois dias e meio ... para me encontrar com os "meus" Caminheiros Gaspar Correia e com a minha "namorada", em
Vinhais.
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Rio de Fornos, Vinhais, 1.Maio.2015 |
O destino ditou contudo que afinal partisse de Lisboa, na actividade de Maio desta "família" Caminheira. Talvez que o destino me tenha querido poupar, no meu Caminho ... à muita chuva dos últimos dias de Abril e destes primeiros dias de Maio. O destino, era a pequena aldeia de
Rio de Fornos e o
Parque Biológico de Vinhais, no perímetro florestal da
Serra da Coroa, a escassos 3 km do centro de Vinhais e em pleno
Parque Natural de Montesinho.
O
Parque Biológico de Vinhais ocupa o antigo viveiro florestal de Prada. A vegetação é dominada pelos bosques de carvalhos (
Quercus pyrenaica), mas as margens das linhas de água e o fundo dos vales são ocupados por amiais ripícolas, salgueirais arbóreos de amieiro e salgueiro-negro; nas encostas, os urzais, tojais e giestais cobrem a paisagem.
Depois de uma viagem de mais de seis horas de autocarro, pelas quatro da tarde de sexta feira estávamos no
Parque Biológico. Começámos por uma visita de apresentação, que incluiu um pequeno percurso pedestre pelos cercados, onde é possível ver as diversas espécies animais existentes. O grupo ficou alojado na
Casa do Guarda e nos bem apetrechados
bungalows existentes, bem como na chamada
Hospedaria, situada na aldeia de
Rio de Fornos, a poucos quilómetros do Parque Biológico.
O Solar, setecentista, pertenceu ao Morgado de
Rio de Fornos, o qual, sem filhos para herdarem o que tinha, o deixou como herança ao Seminário de Vinhais, com a condição de acolher e dar formação às crianças pobres da sua aldeia.
E assim foi: o Seminário recebeu e formou várias crianças com poucas posses.
Contudo, com o passar dos anos, o Solar foi-se degradando, até que a Câmara de Vinhais o adquiriu, restaurou e transformou na Hospedaria que hoje dá apoio ao Parque Biológico. Sem dúvida um exemplo que deveria ser seguido.
No ano do 30º aniversário dos Caminheiros, a organização desta actividade tinha preparado uma pequena surpresa para depois do jantar: 30 anos ... 30g de saboroso presunto de Vinhais...
J!
Seguiu-se uma caminhada nocturna, entre o Solar/Albergaria e o Parque Biológico: 3,5 km em que era suposto apreciarmos as estrelas ... se não chovesse e não atravessássemos, até, um cerrado e místico nevoeiro.
Sábado era o dia da caminhada principal. Do Parque Biológico subimos ao geodésico de
Ciradelha, esplêndido miradouro virado a sul, debruçado sobre
Vinhais. O nevoeiro e a persistente chuva miudinha não nos deixaram contudo apreciar a panorâmica que se adivinhava soberba. E seguimos, por entre belos carvalhais, cruzando com algum trabalho a
Ribeira da Vidoeira, sob a
Barragem de Prada.
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Alto de Ciradelha (1021m alt.) |
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Ribeira da Vidoeira |
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Foto de grupo, junto à Barragem de Prada. O fotógrafo ... não chegou a tempo... J |
Ao inflectir agora para poente, os céus começaram a ter piedade de nós. As nuvens tornaram-se menos negras, mais altas, deixando-nos apreciar melhor a beleza selvagem que estávamos a atravessar.
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Sobre a Barragem de Prada (Foto: Margarida Ribeiro) |
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E atravessamos mato virgem... |
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As giestas lembram-nos que já estamos em Maio |
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Charca da Vidoeira
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(Foto da esquerda: Margarida Ribeiro)
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A
Charca da Vidoeira é um dos três polos que complementam o Parque Biológico de Vinhais. Possui um observatório de madeira e informação relativa à fauna e flora desta área. E o almoço foi pouco depois, já sem chuva e com a promessa de uma tarde que se viria a confirmar maravilhosa.
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Poderia haver beleza maior que esta, |
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para a hora de matar a fome?... |
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E a caminhada prossegue, rumo à Ribeira de Ladrões |
O destino era agora o encaixado vale da
Ribeira de Ladrões, curioso topónimo para um vale que é uma autêntica preciosidade. A paisagem é dominada por extensas manchas de carvalho negral e lameiros balizados por cortinas ripícolas, nas quais prevalece o freixo e o amieiro. Parte do grupo seguiu por caminho mais
soft, a uma cota mais elevada, bordejando os restantes os estreitos carreiros marginais, carregados da muita água que tem chovido. Dir-se-ia que atravessávamos um recanto do paraíso.
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A caminho do vale da Ribeira de Ladrões |
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Ao longo da Ribeira de Ladrões |
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Subida ao "Castelo" |
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O grupo "hard ", uma vez conquistado o "Castelo" sobre a Ribeira de Ladrões |
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E continuamos a subir o curso da Ribeira de Ladrões: ruínas dos Moinhos dos Mosteiros |
Uma fenda entre rochas, que nos obrigou a passar as mochilas à cabeça, parecia uma passagem para outra dimensão. E os dois grupos reuniram-se de novo pouco acima dos velhos
Moinhos dos Mosteiros ... e invertemos o sentido. Agora ao longo da margem direita, o percurso até
Rio de Fornos acompanhou quase sempre a mesma
Ribeira de Ladrões, numa exaltação de verdes!
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Descendo a margem direita da Ribeira de Ladrões |
Pouco antes das quatro da tarde estávamos a entrar em
Rio de Fornos, com os olhos e a alma lavados ... e a lavar as botas no tanque à entrada da aldeia...
J
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Entrada em Rio de Fornos ... e lavagem de botas... |
xxxxxxx
O percurso realizado, que aliás engloba troços do PR5 e PR6 do Parque Natural de Montesinho, juntamente com o percurso nocturno de sexta feira, permite uma caminhada circular a iniciar em Rio de Fornos ou no Parque Biológico. É, sem dúvida, um paraíso a não perder pelos amantes da Natureza pura!
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Vinhais em fim de tarde, 2.Maio.2015 |
O fim de tarde e o jantar foram em
Vinhais. O Castelo, o Pelourinho, a Fonte do Cano, a escultura dos "Anjos de Vinhais", o antigo Convento de S. Francisco ... e dou de caras com um belo monumento ao
Caminho de Santiago, a
variante portuguesa da Via da Prata, proveniente de Zamora por Quintanilha e Bragança! Decididamente, "
o Caminho faz parte de nós ... e nós fazemos parte do Caminho"...
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Pelourinho de Vinhais |
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Vinhais, Fonte do Cano |
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Panorâmica para sul de Vinhais
e antigo Convento de S. Francisco
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Monumento ao Caminho Português da Via da Prata
"O Caminho faz parte de nós ..." |
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O fim de semana Caminheiro iria terminar com um passeio e um almoço em
Chaves ... de onde o meu
Caminho de Santiago prosseguiria para terras galegas. E bem patentes vi as simbólicas Vieiras e as setas amarelas do
Caminho Português do Interior. Mas, como então escrevi, o meu Caminho não acabou ... até porque muitas vezes a meta está antes mesmo de darmos o primeiro passo...
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Chaves, 3.Maio.2015 - Rio Tâmega |
2 comentários:
Ler esta narrativa é outra maneira de fazer a caminhada!
Invocando o privilégio de ser nascido e criado na pequena aldeia de Rio de Fornos, digo que a narrativa é belíssima.
Esta aldeia integrava-se na rota para Santiago e ali se chegava, vindo dos lados de Santa Cruz ou Paçó. Orientava-se, então, para Lagarelhos e Alto de Santa Luzia.
As vista mais deslumbrantes enquadram-se no trecho do percurso que, desde "Rigueiro" de Ladrões, desce à entrada da povoação.
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