sábado, 23 de junho de 2012

Um dia abri as asas e voei...

O céu não é o limite… é o começo!
Mais de 40 anos por fragas e pragas, levaram-me a percorrer serras e rios, a beber a água divina das fontes, a sentir a energia telúrica de escarpas e barrocos, a descer torrentes e ribeiras, a pulular de som e de vida … saltando as fragas. A aproximar-me dos 60 anos, a paixão pelos grandes espaços naturais cada vez mais me inspira e alimenta. É a entrega, a comunhão ... o sonho! E quantas vezes dei por mim a planar, em sonhos, sobre os meus paraísos perdidos, sobre os vales e as serras que já calcorreei a pé, sobre os bosques de xanas e nuberus, de duendes e de fadas.
Livre como o vento...! Santa Cruz, 23.06.2012
E como "no canto de cada sonho nasce a vontade" ... há muito que me havia nascido a vontade de passar do sonho à realidade, de abrir as asas e voar, nem que fosse por breves momentos, numa leve e fugaz experiência. Pelo menos no meu imaginário, a asa delta é a experiência que mais se aproxima do voo das aves, da sensação de liberdade. Livre ... como o vento! Alguma vez tinha de experimentar essa sensação, de viver esse sonho. Foi hoje!
A escola de voo livre "Sobrevoar" foi a eleita para me transformar em ave planadora. Pensada inicialmente para os céus da Beira Baixa, a experiência passou contudo para a minha velha Santa Cruz, a Santa Cruz da minha meninice e adolescência, a Santa Cruz dos passeios pelas arribas, dos acampamentos nos pinhais, das voltas na bicicleta ou na motorizada alugada ao velho Sr. Filipe. Se nos céus da Beira Baixa eu podia ser cegonha ou abutre, nos céus de Santa Cruz eu seria certamente gaivota, qual Fernão Capelo testando a superação dos limites, ao encontro da liberdade verdadeira, pautada no amor e na compreensão do outro e do mundo.
Não, não sou um astronauta... :)
E foi um Fernão Capelo ávido de novas sensações que hoje levantou voo do velho aeródromo de Santa Cruz, pouco depois das onze da manhã. Para as "gaivotas" inexperientes como eu, o baptismo de voo é realizado em asa delta bilugar e traccionada, o que significa que o "salto" não é de uma fraga no alto de uma serra, mas sim da pista do aeródromo, em que o aparelho é puxado por um carro até que as correntes de ar impulsionem a asa em direcção ao azul do céu. Este Fernão Capelo claro que estava tenso, ou, porque não dizê-lo, amedrontado com o que iria encontrar neste novo ambiente e como iria reagir. Mas a sensação é indescritível! A partir do momento que levantámos e, principalmente, quando largámos o cabo que nos prendia ao carro ... pareceu-me que o mundo era nosso, meu e do monitor que me guiava nos ares!
E assim, mais de 40 anos depois de me ter iniciado na espeleologia, de ter explorado o mundo submarino na prática do mergulho amador, de ter passado a vida a calcorrear fragas e pragas, pelos grandes espaços pelos quais me apaixonei, um dia, hoje ... abri as asas e voei! A asa delta passou a fazer parte das "aventuras" que já vivi. O céu não é o limite... é o começo!

3 comentários:

Lírio disse...

Quase que fiquei sem ar....mas que sensação amigo!! Não sei se era capaz, mas por cima do Gerês talvez!!
Por vezes dou por mim a desejar ser uma águia, esta deve de ser a forma mais próxima e natural de o ser...ainda continuo sem ar!!! Que grande aventura!!!!!!!!Parabéns :)

José Carlos Callixto disse...

Pois, Lírio, por cima do Gerês seria o auge da sensação extraordinária de voar sem motor! Mas só com um curso e muita experiência de asa delta. Este voozinho foi a experiência possível para experimentar a sensação de liberdade.
Não és só tu a desejar ser águia, há muito que sonhava com este baptismo de voo livre. E, lá de cima, não foi só o litoral de Santa Cruz que eu vi. Ao som do vento que passava por mim, fechando momentaneamente os olhos pareceu-me ver precisamente o prado da Roca Alva, as Sombrosas, o vale do Homem, a Lamalonga, as alturas dos Carris e da Nevosa, o vale das Sombras, as aldeias mágicas de Pitões, Lapela, Fafião, ou aqui a minha Malcata, onde agora me encontro, com os seus cabeços e vales profundos, a raia espanhola, a planície estremenha! Lá do alto ... eu vi ou sonhei ver todas as "fragas e pragas" onde a vida e as minhas paixões já me levaram.
Um grande abraço para ti e para o Orion, e até um dia em que nos cruzemos na tua e nossa terra sagrada do Gerês!

António Mousinho disse...

Depois da terra e do mar, só faltava o ar!
É mais uma rota que começa...e mais uma paixão que nasce! Ou será a mesma?
Parabéns pela ousadia.