terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Regresso da minha "família" Caminheira ... às
"minhas" terras raianas

Da Sortelha aos Foios e às Serras da Malcata, Mesas, Enxalma e Gata, de ambos os lados da raia, já tinha levado os Caminheiros Gaspar Correia às terras do alto Côa por cinco vezes. Só da primeira vez estiveram, contudo, na capital do concelho,  a  cidade  do  Sabugal  ...  bem  como  na  "minha"  Vale  de
Ao longo da barragem, de Malcata ao Sabugal, 11.02.2012
Espinho.
Este sábado, foi assim a vez de admirarem as paisagens criadas pelo grande lago artificial da Barragem do Sabugal. Domingo, percorremos as serranias de riba-Côa, entre Aldeia do Bispo e Vale de Espinho, pelos belos e velhos caminhos rurais que tão bem conheço, carregados das histórias e estórias que também tão bem conheço... Desta vez, contudo, não vim com o grupo desde Lisboa. Como bom arraiano (de adopção...), recebi-os no Sabugal J!

Sábado, 11 de Fevereiro

Antes do meio dia, estávamos a partir da ponte sobre a Ribeira Porqueira, à entrada de Malcata ... precisamente onde tinha terminado, com eles, a última caminhada de Abril de 2006. Quase sempre à vista da barragem, o percurso foi ao longo do Côa, entre Malcata e a capital do concelho. O frio e algum vento faziam-nos recear pela caminhada do dia seguinte...! Mas as paisagens ribeirinhas afastavam o pensamento e levavam os olhares para o grande "Rio Sagrado", que brota do ventre das Mesas. Passada a capela da Senhora da Graça, dirigimo-nos à açude e lameiros do Cascalhal, um dos locais mais bonitos a jusante da barragem.
Açude e lameiro do Cascalhal,
a jusante da barragem do Sabugal
E atravessamos o Côa, no Cascalhal
Vendo gente no Moinho do Cascalhal, quis a curiosidade que fosse tentar saber se o "ti" Zé Martins - que filmei em acção em 2004 - ainda estaria entre nós, já que das últimas vezes que ali passei o moinho estava fechado. Qual não é o meu espanto e enorme satisfação ... quando verifiquei que era o próprio Zé Martins que ali estava! Um dia destes tenho de voltar aos Moinhos do Bazágueda, saber se a "ti" MariZé Salgueiro também ainda por lá se encontra, "perdida" e isolada do mundo, com as suas cabras e cães ... e se ainda faz aqueles deliciosos queijos que eram, sem dúvida alguma, os melhores de toda a Serra da Malcata ... e portanto os melhores do Universo... J!
A beleza do troço final, do Cascalhal à praia fluvial do Sabugal, ao longo da margem direita do Côa, deu azo a amplos comentários de satisfação e admiração ... e a múltiplos registos fotográficos dos amantes da fotografia.

Três aspectos ribeirinhos do Côa, culminando na praia fluvial do Sabugal
Já no fim, o grupo foi brindado com três importantes visitas ligadas ao património histórico do Sabugal: o velho moinho de água do “ti” Zé Ricardo, que os filhos puseram em pleno funcionamento; o Castelo das Cinco Quinas, "emblema" do Sabugal; e a "Casa do Castelo", verdadeira embaixada e cartão de visita do concelho, ainda recentemente divulgada na RTP, a propósito do lançamento do Projecto "Sepharad Lands". A "Casa do Castelo" possui um "altar" judaico - um "aron ha kodesh", ou "armário da Lei", lugar onde se guardava a "Torah" - que foi encontrado por mero acaso quando da restauração daquela que era uma vetusta ruína da cidadela medieval do Sabugal.
Visita às memórias de um passado contado na
água e na pedra: Moinho do 'ti' Zé Ricardo, Sabugal
Sabugal, Castelo das Cinco Quinas, e painel das "Sepharad Lands", na Casa do Castelo
Casa do Castelo, verdadeira embaixada do Concelho
"Aron ha kodesh", na Casa do Castelo
Seguiram-se também algumas explicações no exterior, acerca da história e dos vestígios da presença judaica no Sabugal. Todos os elementos do grupo consideraram estas visitas importantes mais valias, como complemento cultural da actividade caminheira.

Domingo, 12 de Fevereiro

Domingo era o dia da caminhada maior ... e mais alta. Iríamos atingir os 1149 metros de altitude, o que obviamente nada teria de especial ... não fora o intensíssimo vento que marcou praticamente toda a jornada. O percurso desenvolveu-se entre Aldeia do Bispo e Vale de Espinho, numa distância de 15,5 km … percorridos sob frio e vento intensos. No miradouro do Malhão e no geodésico da Serra Alta, onde tantas vezes já estive a contemplar as panorâmicas a perder de vista … quase se voava! Mas a limpidez da atmosfera permitiu uma visibilidade ímpar, incluindo os cumes nevados da Serra de Béjar, a leste. Antes, ainda na subida ao longo da Ribeira dos Munhos, visitámos as sepulturas antropomórficas, onde ainda há pouco mais de um mês tinha estado, na "Rota do Malhão".
Partida de Aldeia do Bispo, 12.02.2012, num dia gélido e ventoso
Sepulturas antropomórficas junto à Ribeira dos Munhos
Mesa de orientação no Miradouro do Malhão, Serra Alta
Ao fundo o Xálama, ou Serra da Enxalma ... ou Xalmas, o deus vetão das águas
E, empurrados pelo vento agreste e fortíssimo, lá vamos subindo ao cume da Serra Alta (1149m alt.)
Da Serra Alta, seguiu-se a descida para as Fontes Lares. Quantos artigos neste blog têm mostrado a minha ligação àquele local...! Nunca ali tinha levado ninguém a quem o local não pudesse dizer algo ... mas a minha "família" caminheira é especial... J!
A caminho das Fontes Lares
Fontes Lares: estas pedras contam histórias e lendas...
É claro que, para os de fora, aquele é um barroco como qualquer outro, carvalhos como quaisquer outros, um freixo e uma nascente como quaisquer outros, umas ruínas como quaisquer outras. Claro que sei e compreendo … mas depois de lá terem passado e conhecido as histórias e as "lendas" do local … talvez tenham passado a ser, para os "meus" caminheiros, um barroco, uma nascente, um freixo, carvalhos e ruínas um bocadinho diferentes.
Fontes Lares: fonte de água "divina"
Os Caminheiros recebem a energia do barroco "sagrado"... (foto de Margarete Almeida)
A casa há muito em ruínas, as terras e a velha presa, eram dos pais da mãe da minha arraiana ... e dos pais dos pais dos pais deles antes deles. Gerações perdidas no tempo! Contam velhas lendas perdidas nas brumas do tempo e das memórias ... que a menina arraiana que me tem acompanhado nas fragas e pragas da vida  foi "feita" naquele local, provavelmente com a energia que brota do barroco "sagrado", ou das folhas dos carvalhos seculares, ao correr das águas da mais bela nascente. Ainda um dia conheci aquela casa de pé, como descrevi num já velho post neste blog.

Fontes Lares: um dia, há muitas luas atrás, ainda conheci esta casa de pé!
Despedida das terras "sagradas" das Fontes Lares
E das Fontes Lares a Vale de Espinho ... uma horita de caminho, com a bela "descoberta" da aldeia quando se começa a descer do Areeiro, registada pelos muitos apaixonados pela fotografia.
Areeiro: Vale de Espinho à vista
Vale de Espinho, vista do Areeiro. Há lá panorâmica mais bonita?...J!
Deixei para o fim desta descrição uma curiosidade sem dúvida a registar: na caminhada de domingo, juntaram-se ao grupo de caminheiros propriamente ditos dois naturais das terras raianas … sendo que um deles foi a mãe da arraiana que me acompanha há quase 40 anos J! Apesar das muitas fragas e pragas que a vida já a obrigou a passar, mantém a fibra e a garra das gentes raianas; com 77 anos, era ela por vezes a dizer a alguns caminheiros … "então vocês não andam?". A passagem pelas Fontes Lares foi, para ela, um recuar no tempo e nas recordações, relatadas no post e no meu filme "Vale de Espinho - Uma Melodia a 4 Estações".
Vale de Espinho ... em fim de caminhada J
E o grupo regressa a Lisboa ... com a velha
Escola Primária de Vale de Espinho em pano de fundo
Depois de um pequeno "aconchego de estômago" em minha casa, antes das 17 horas o grupo estava a partir de regresso a Lisboa. Não será seguramente a última vez...! Nós ... ainda ficamos mais uma semana ... que talvez inclua novas "aventuras"... J!

2 comentários:

Anónimo disse...

Ola

Mais uma vez muitos parabéns, impecável gosto de passar os olhos por aqui........

Infelizmente a Ti Maria Zé segundo sei toma conta do lugar.....vendo la de cima pois infelizmente partiu recentemente....ficou um sobrinho no local......continuando a sua obra.

Um abraço

Luis Cruz Penamacor

José Carlos Callixto disse...

Obrigado Luis Cruz, pelas palavras de estímulo.
Fiquei triste com a partida da Ti MariZé, tanto mais que há algum tempo que tencionava voltar a passar por lá. Espero que lá do alto ela continue a viajar nas águas do Bazágueda e nos ares da Malcata.