5ª feira, 22 de Outubro ... último dia em
Somiedo, antes do regresso a casa. A última "aventura" ... destinei-a ao tecto de Somiedo, o cume do
Cornón ... integralmente a mesma "aventura" vivida
há 4 anos atrás, com a minha "pequena arraiana", naquela que foi até agora a única vez em que liguei as minhas três "terras natais" num mesmo périplo: Vale de Espinho, o Gerês e Somiedo...
J!
5ª feira era também o dia em que seríamos acompanhados pela
Rosalía, filha das terras de Somiedo, mas que iria conhecer o cume do Cornón pela nossa mão. Entre
Saliencia e
Santa Maria del Puerto, apanhámo-la no cruzamento de Pola ... e às 9:30h estávamos a começar a caminhar.
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S.ta Maria del Puerto de Somiedo, 22.10.2015, 9:30h - Começamos a última jornada nos "Cumes de Somiedo e Ubiñas"
(Foto: Américo Guerreiro) |
Cornón ... e o regresso do paraíso
Num crescendo de redenção meteorológica, 5ª feira foi o melhor dia! Pouco depois da partida já estávamos a "descascar" camadas, à medida que subíamos o curso do
Arroyo de Prefustes, rumo a
Los Praus e à
Boca de los rios, sempre com a mole imensa de
Peña Penouta a vigiar-nos.
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Deixávamos Santa Maria del Puerto para trás ... |
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... com Peña Penouta como farol! |
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Rumo à Boca de los rios (Foto: Américo Guerreiro) |
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Boca de los rios ... e, ao fundo, o Cornón |
Passando a sul de
Peña Penouta, sempre rumo a ocidente, o
Cornón começava a aparecer no horizonte. Também habituada a andar pelo seu paraíso, a Rosalía acompanhava o grupo à velocidade das muitas fotografias que todos iam tirando. Dias depois, escreveria no seu blogue, "
Desde Somiedo":
"Cuando me dijeron, 3 días antes, que en su último día de estancia en Somiedo subirían al Cornón, me di cuenta de que esa era mi gran oportunidad; subir con un grupo grande (no todos irían al mismo ritmo) y cansados de caminar tras haber ascendido Las Ubiñas el primer día, Peña Orníz y Los Albos el tercero, y 2 días intermedios, con sendas caminatas por Somiedo, el último día “estarían agotados”... pensé, ingenua de mí."
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Rumo ao Cornón ... através do Paraíso... (Foto: Joaquim F. Gomes) |
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Da Almozarra ao Collado del Estrecho |
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Lagunas del Barroso (1853m alt.): o Cornón e o seu espelho... |
Poucos minutos depois do meio dia estávamos no alto de
Barroso, frente ao
Cornón. Faltavam subir ainda cerca de 350 metros de altitude ... e a partir dali ... era a subir mesmo. A Rosalía ia subir ao tecto de
Somiedo ... e nós éramos "
los companheiros
perfectos para ascender por primera vez en mi vida a nuestro techo. Todo ocurre en el momento justo". Quanto orgulho, Rosalía!
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Começou o ataque ao Cornón ... |
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Um olhar sobre o trilho já percorrido ... e chegamos |
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ao "acampamento base" do Cornón (2070m alt.) |
Os últimos 120 metros de desnível seriam para regressar à "base" onde viríamos a almoçar. Desta vez, o "mano" Zé Manel ia também conquistar o tecto de
Somiedo, ele que se andara a guardar nas
Ubiñas e em
Peña Orniz...
J. Ao início da tarde, 28 heróis chegaram assim ao cume do
Cornón!
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Cume à vista! Estamos a chegar ao Céu (2194m alt.) |
Escreveu a
Rosalía uns dias depois ...
"Iban riendo, hablando, y cantando todo el trayecto, y, cuando todos estuvimos arriba ... a cantar de nuevo. Son envidiables."
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28 envidiables no Cume do Cornón... Há magia no ar ... há magia dentro de cada um de nós... (Fotos: Joaquim F. Gomes) |
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Uma Irmandade das Estrelas, no Cume do Cornón... J (Foto: Joaquim F. Gomes) |
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As Almas irmanadas das montanhas do Gerês, de Somiedo ... dos grandes espaços... |
Tal como em 2011 com a minha arraiana, no cume do
Cornón cada um de nós sentiu-se no céu ... o céu de Somiedo. 360º à volta, tínhamos o "mundo" aos nossos pés, das
Ubiñas aos
Ancares e a terras galegas, do
Cantábrico que se adivinhava, para lá das últimas montanhas a norte, às terras de
Laciana, a sul. Mesmo à nossa frente, a noroeste ... o Shangri-La do vale de
Cereizales e do
Pigueña, que ainda dois dias antes tínhamos percorrido; e a nordeste ... o Shangri-La do vale do
Trabanco, por onde íamos descer, com o seu portal mágico aberto entre
Peña Canseco e
Peña Penouta.
Ali, no cume do
Cornón ... sentíamo-nos personagens de um tempo sem tempo. Ali, no cume do Cornón ... o tempo para nós tinha parado!
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Cume do Cornón (2194m alt.) |
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Entrega à Montanha ... somos personagens de um tempo sem tempo... |
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Livres como o vento... |
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(Fotos: Américo Guerreiro e António Saraiva) |
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Vertente de Las Cereizales para o vale do Pigueña |
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"Espectacular vista desde el Cornón: Valle del Trabanco, abriéndose paso entre El Nuncio, o Canseco, y Penouta. A continuación El Rozo de La Peral y El Mocoso. En el centro, "Momián" flanqueada por El Molinón y Peña Gúa. Tras ellos las peñas de Urria. Es una suerte haber recorrido previamente todos los valles en orden ascendente, para
terminar viéndolos desde arriba. Más felicidad si cabe..." (Rosalía Alvarez) |
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Mas havia que descer ... e havia que |
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almoçar, repondo energias... |
Regressados à base do
Cornón e repostas as energias, havia que regressar. Cito mais uma vez a
Rosalía: "
El largo descenso ya fue otra cosa. Apetecía un tobogán y deslizarse Trabanco abajo ... o echar a volar...". E,
Trabanco abajo ... estávamos de novo no paraíso ... o autêntico Shangri-La de Somiedo.
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O largo descenso do Trabanco |
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Há um fogo que |
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arde sem se ver ... |
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Vale do Trabanco ... ou o Shangri-La de Somiedo ... |
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Há vida |
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no paraíso... |
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No coração do Paraíso ... |
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... há quem |
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nos vigia... |
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O "milagre" do Sol ... o milagre da Vida (Foto: Joaquim F. Gomes) |
Às cinco da tarde estávamos à vista de
La Peral, mais de 200 metros acima da aldeia vaqueira de onde tínhamos partido dois dias antes. E a última hora e meia de jornada, de regresso ao ponto de partida no
Puerto de Somiedo, foi caracterizada pelo contraste entre a rocha e as cores do Outono, no esplendoroso bosque de faias que estávamos como que a sobrevoar.
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La Peral à vista |
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Não ... não é uma pintura! |
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As cores do Outono |
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mágico de Somiedo |
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E de novo sob a "brecha de Rolando" de Somiedo |
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Rumo ao Collado La Paradina |
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Santa María del Puerto à vista ... quando houve um "sprint" final... J |
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De regresso a Saliencia ia haver festa ... e que festa! |
Conquistado o
Cornón e cumpridos os três cumes que nos havíamos proposto ... em
Saliencia esperava-nos o último jantar. A nossa semana fantástica estava a chegar ao fim.
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O José, tirando a sidra J |
Mas, no último jantar e na última noite ... havia uma surpresa ... que não seria tão surpresa para os que participaram na "edição" de 2014: à semelhança do ano passado, os nossos anfitriões
Laly e
José tinham-nos preparado uma
espicha asturiana, a festa da sidra, a festa dos produtos gastronómicos típicos, a festa da música ... mas fundamentalmente a festa da alegria, da amizade, da fraternidade. Se as noites anteriores já tinham sido o que foram ... esta última noite foi memorável. À música asturiana juntou-se a música portuguesa, juntaram-se os nossos cantares, do fado às cantigas populares e de intervenção ... incluindo uma versão personalizada do "Tiroliro"...
J
A nossa amiga
Rosalía foi, evidentemente, convidada para esta
espicha, que marcaria a nossa despedida de
Somiedo...
J
Os rostos espelhavam e contagiavam alegria. Éramos
NÓS que estávamos ali; éramos nós que tínhamos vivido uma semana fantástica; éramos nós que tínhamos consolidado e construído a
AMIZADE ... o "
elixir d'amore" que dá nome ao blogue da nossa amiga
Rosalía.
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Saliencia, 22.10.2015, 23:00h - Espicha ... Festa ... Alegria ... Amizade ... Amor |
Contagiados pela animação, o
José e a
Laly levaram-nos a construir ... uma "obra de arte": num painel colocado no exterior, cada um dos presentes ia saindo da sala à vez ... para expressar através de um desenho, texto, o que lhe viesse à cabeça, sobre a nossa permanência em
Somiedo. Assim fizemos ... e a nossa obra ficou a decorar a parede do salão do
Albergue de Saliencia. Uma recordação através da qual aquele jovem casal se ficará a lembrar de nós ... e de 5 noites mágicas que ali vivemos, com eles!
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Já passava da meia noite ... e tínhamos, todos ... construído uma "obra de arte"... J |
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Saliencia, 23 de Outubro, 8:00h ... 7 dias fabulosos estavam a chegar ao fim. Mas não será certamente um adeus... |
O dia 23 era o dia do demorado
back home. Os "Cumes de Somiedo e Ubiñas" tinham terminado ... mas o que 27 portugueses e 3 asturianos construíram naqueles dias não terminou nem termina. Durante aqueles dias ... fizemos história! Não a história que fica nos livros ... mas a história que fica na mais profunda das nossas recordações ... no mais íntimo de cada um de nós. Durante aqueles dias ... construímos
VIDA! E construímos ... o sonho com Somiedo III...
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23.10, 9:15h - Atravessando |
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terras de Babia ... |
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... a magia ainda continuava! |
1 comentário:
Chegaste-me a lagrimazita ao olho...palavras mágicas duma viagem mágica. Muito arrependido. Fica para a próxima. Obg Callixto
*** O Crujo falou-me numa queda mas não fazia ideia que tivesse tido flicks-flacks. Já deves estar pronto para outra.
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