sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cumes de Somiedo e Ubiñas (5)

5ª feira, 22 de Outubro ... último dia em Somiedo, antes do regresso a casa. A última "aventura" ... destinei-a ao tecto de Somiedo, o cume do Cornón ... integralmente a mesma "aventura" vivida há 4 anos atrás, com a minha "pequena arraiana", naquela que foi até agora a única vez em que liguei as minhas três "terras natais" num mesmo périplo: Vale de Espinho, o Gerês e Somiedo... J!
5ª feira era também o dia em que seríamos acompanhados pela Rosalía, filha das terras de Somiedo, mas que iria conhecer o cume do Cornón pela nossa mão. Entre Saliencia e Santa Maria del Puerto, apanhámo-la no cruzamento de Pola ... e às 9:30h estávamos a começar a caminhar.
S.ta Maria del Puerto de Somiedo, 22.10.2015, 9:30h - Começamos a última jornada nos "Cumes de Somiedo e Ubiñas"
(Foto: Américo Guerreiro)

Cornón ... e o regresso do paraíso
Num crescendo de redenção meteorológica, 5ª feira foi o melhor dia! Pouco depois da partida já estávamos a "descascar" camadas, à medida que subíamos o curso do Arroyo de Prefustes, rumo a Los Praus e à Boca de los rios, sempre com a mole imensa de Peña Penouta a vigiar-nos.
Deixávamos Santa Maria del Puerto para trás ...
... com Peña Penouta como farol!
Rumo à Boca de los rios  (Foto: Américo Guerreiro)
Boca de los rios ... e, ao fundo, o Cornón
Passando a sul de Peña Penouta, sempre rumo a ocidente, o Cornón começava a aparecer no horizonte. Também habituada a andar pelo seu paraíso, a Rosalía acompanhava o grupo à velocidade das muitas fotografias que todos iam tirando. Dias depois, escreveria no seu blogue, "Desde Somiedo":
"Cuando me dijeron, 3 días antes, que en su último día de estancia en Somiedo subirían al Cornón, me di cuenta de que esa era mi gran oportunidad; subir con un grupo grande (no todos irían al mismo ritmo) y cansados de caminar tras haber ascendido Las Ubiñas el primer día, Peña Orníz y Los Albos el tercero, y 2 días intermedios, con sendas caminatas por Somiedo, el último día “estarían agotados”... pensé, ingenua de mí."
Rumo ao Cornón ... através do Paraíso... (Foto: Joaquim F. Gomes)
Da Almozarra ao Collado del Estrecho
Lagunas del Barroso (1853m alt.): o Cornón e o seu espelho...
Poucos minutos depois do meio dia estávamos no alto de Barroso, frente ao Cornón. Faltavam subir ainda cerca de 350 metros de altitude ... e a partir dali ... era a subir mesmo. A Rosalía ia subir ao tecto de Somiedo ... e nós éramos "los companheiros perfectos para ascender por primera vez en mi vida a nuestro techo. Todo ocurre en el momento justo". Quanto orgulho, Rosalía!

Começou o ataque ao Cornón ...
Rosalía G. Alvarez"Todo ocurre en el momento justo..."
Um olhar sobre o trilho já percorrido ... e chegamos
ao "acampamento base" do Cornón (2070m alt.)
Os últimos 120 metros de desnível seriam para regressar à "base" onde viríamos a almoçar. Desta vez, o "mano" Zé Manel ia também conquistar o tecto de Somiedo, ele que se andara a guardar nas Ubiñas e em Peña Orniz... J. Ao início da tarde, 28 heróis chegaram assim ao cume do Cornón!

Cume à vista! Estamos a chegar ao Céu (2194m alt.)
Escreveu a Rosalía uns dias depois ...
"Iban riendo, hablando, y cantando todo el trayecto, y, cuando todos estuvimos arriba ... a cantar de nuevo. Son envidiables."
28 envidiables no Cume do Cornón... Há magia no ar ... há magia dentro de cada um de nós...    (Fotos: Joaquim F. Gomes)
Uma Irmandade das Estrelas, no Cume do Cornón... J    (Foto: Joaquim F. Gomes)
As Almas irmanadas das montanhas do Gerês, de Somiedo ... dos grandes espaços...
Tal como em 2011 com a minha arraiana, no cume do Cornón cada um de nós sentiu-se no céu ... o céu de Somiedo. 360º à volta, tínhamos o "mundo" aos nossos pés, das Ubiñas aos Ancares e a terras galegas, do Cantábrico que se adivinhava, para lá das últimas montanhas a norte, às terras de Laciana, a sul. Mesmo à nossa frente, a noroeste ... o Shangri-La do vale de Cereizales e do Pigueña, que ainda dois dias antes tínhamos percorrido; e a nordeste ... o Shangri-La do vale do Trabanco, por onde íamos descer, com o seu portal mágico aberto entre Peña Canseco e Peña Penouta.
Ali, no cume do Cornón ... sentíamo-nos personagens de um tempo sem tempo. Ali, no cume do Cornón ... o tempo para nós tinha parado!

Cume do Cornón (2194m alt.)
Entrega à Montanha ... somos personagens de um tempo sem tempo...
Livres como o vento...
(Fotos: Américo Guerreiro e António Saraiva)
Vertente de Las Cereizales para o vale do Pigueña
"Espectacular vista desde el Cornón: Valle del Trabanco, abriéndose paso entre El Nuncio, o Canseco, y Penouta.
A continuación El Rozo de La Peral y El Mocoso. En el centro, "Momián" flanqueada por El Molinón y Peña Gúa.
Tras ellos las peñas de Urria. Es una suerte haber recorrido previamente todos los valles en orden ascendente, para

terminar viéndolos desde arriba. Más felicidad si cabe..."     (Rosalía Alvarez)
Mas havia que descer ... e havia que
almoçar, repondo energias...
Regressados à base do Cornón e repostas as energias, havia que regressar. Cito mais uma vez a Rosalía: "El largo descenso ya fue otra cosa. Apetecía un tobogán y deslizarse Trabanco abajo ... o echar a volar...". E, Trabanco abajo ... estávamos de novo no paraíso ... o autêntico Shangri-La de Somiedo.

O largo descenso do Trabanco
Há um fogo que
arde sem se ver ...
Vale do Trabanco ... ou o Shangri-La de Somiedo ...
Há vida
no paraíso...
No coração do Paraíso ...
... há quem
nos vigia...
O "milagre" do Sol ... o milagre da Vida    (Foto: Joaquim F. Gomes)
Às cinco da tarde estávamos à vista de La Peral, mais de 200 metros acima da aldeia vaqueira de onde tínhamos partido dois dias antes. E a última hora e meia de jornada, de regresso ao ponto de partida no Puerto de Somiedo, foi caracterizada pelo contraste entre a rocha e as cores do Outono, no esplendoroso bosque de faias que estávamos como que a sobrevoar.
La Peral à vista
Não ... não é uma pintura!
As cores do Outono
mágico de Somiedo
E de novo sob a "brecha de Rolando" de Somiedo
Rumo ao Collado La Paradina
Santa María del Puerto à vista ... quando houve um "sprint" final... J
De regresso a Saliencia ia haver festa ... e que festa!
Conquistado o Cornón e cumpridos os três cumes que nos havíamos proposto ... em Saliencia esperava-nos o último jantar. A nossa semana fantástica estava a chegar ao fim.
O José, tirando a sidra J
Mas, no último jantar e na última noite ... havia uma surpresa ... que não seria tão surpresa para os que participaram na "edição" de 2014: à semelhança do ano passado, os nossos anfitriões Laly e José tinham-nos preparado uma espicha asturiana, a festa da sidra, a festa dos produtos gastronómicos típicos, a festa da música ... mas fundamentalmente a festa da alegria, da amizade, da fraternidade. Se as noites anteriores já tinham sido o que foram ... esta última noite foi memorável. À música asturiana juntou-se a música portuguesa, juntaram-se os nossos cantares, do fado às cantigas populares e de intervenção ... incluindo uma versão personalizada do "Tiroliro"... J
A nossa amiga Rosalía foi, evidentemente, convidada para esta espicha, que marcaria a nossa despedida de Somiedo... J
Os rostos espelhavam e contagiavam alegria. Éramos NÓS que estávamos ali; éramos nós que tínhamos vivido uma semana fantástica; éramos nós que tínhamos consolidado e construído a AMIZADE ... o "elixir d'amore" que dá nome ao blogue da nossa amiga Rosalía.
Saliencia, 22.10.2015, 23:00h - Espicha ... Festa ... Alegria ... Amizade ... Amor
Contagiados pela animação, o José e a Laly levaram-nos a construir ... uma "obra de arte": num painel colocado no exterior, cada um dos presentes ia saindo da sala à vez ... para expressar através de um desenho, texto, o que lhe viesse à cabeça, sobre a nossa permanência em Somiedo. Assim fizemos ... e a nossa obra ficou a decorar a parede do salão do Albergue de Saliencia. Uma recordação através da qual aquele jovem casal se ficará a lembrar de nós ... e de 5 noites mágicas que ali vivemos, com eles!
Já passava da meia noite ... e tínhamos, todos ... construído uma "obra de arte"... J
Saliencia, 23 de Outubro, 8:00h ... 7 dias fabulosos estavam a chegar ao fim. Mas não será certamente um adeus...
O dia 23 era o dia do demorado back home. Os "Cumes de Somiedo e Ubiñas" tinham terminado ... mas o que 27 portugueses e 3 asturianos construíram naqueles dias não terminou nem termina. Durante aqueles dias ... fizemos história! Não a história que fica nos livros ... mas a história que fica na mais profunda das nossas recordações ... no mais íntimo de cada um de nós. Durante aqueles dias ... construímos VIDA! E construímos ... o sonho com Somiedo III...
23.10, 9:15h - Atravessando
terras de Babia ...
Ver o álbum completo
... a magia ainda continuava!

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(Escrito em Vale de Espinho, 3 de Novembro de 2015)

1 comentário:

Miguel Bento Lopes disse...

Chegaste-me a lagrimazita ao olho...palavras mágicas duma viagem mágica. Muito arrependido. Fica para a próxima. Obg Callixto

*** O Crujo falou-me numa queda mas não fazia ideia que tivesse tido flicks-flacks. Já deves estar pronto para outra.