terça-feira, 20 de outubro de 2015

Cumes de Somiedo e Ubiñas (3)

20 de Outubro, 8:35h - O dia nasce em Saliencia ... para mais uma "aventura"  (Foto: Américo Guerreiro)
O dia 20 acordou ainda com muitas nuvens, mas as boas previsões viriam a confirmar-se. Somiedo dava-nos bom tempo para o resto da semana ... e para as 3 "aventuras" que nos faltava viver.

De La Peral a Villar de Vildas
Terça feira era destinada à travessia de La Peral a Villar de Vildas, ligando o vale de Somiedo ao vale do Pigueña, com passagem pela maior e mais célebre braña somedana, a braña de La Pornacal. Os "aventureiros" que haviam participado na edição de 2014 não se importaram de regressar ao Miradouro Príncipe de Astúrias, próximo de La Peral, onde no ano passado tínhamos começado a caminhada da Braña de Mumián, que aliás se via ao fundo, tal como todo o esplendoroso vale de Somiedo.

La Peral e o Miradouro
Príncipe de Astúrias
Uma Irmandade das Estrelas, no Miradouro Príncipe de Astúrias
O vale de Somiedo, com o Pico El Miro ao fundo, sobre a braña de Mumián
Eram dez horas quando virámos costas ao vale de Somiedo e a La Peral, rumando a ocidente. Subindo primeiro ao longo da margem esquerda do Trabanco, tínhamos do outro lado do vale a mole imponente de Peña Penouta e o matizado de cores de Las Camposas.

Numa manhã perfeitamente mágica, lançamo-nos rumo ao Collado La Enfistiella
A "brecha de Rolando" de Somiedo...
Peña Penouta, vista de Las Machadas
Sempre a subir, primeiro por estradão acimentado e depois de terra, ultrapassámos os 1700 metros de altitude. O primeiro break foi próximo de Los Borrones, ali onde o flanco da serra se começa a dobrar para o vale do Pigueña, no Collado La Enfistiella. Como em tantos outros locais ... veio-me à memória o querido e saudoso amigo Luís Fialho, também ele maravilhado com as belezas naturais e geológicas daquelas paragens, quando ali o levei, com os Caminheiros Gaspar Correia, em Agosto de 2007.

Do Collado La Enfistiella vamos descer para o vale do Pigueña
Vale do Pigueña e Los Cereizales ... há magia no ar...
E havia mesmo magia no ar! O fabuloso vale de Los Cereizales estava descoberto, coroado pelo Cornón. Mas, a noroeste, o vale do Pigueña libertava os seus mistérios, sob a forma de espessas nuvens brancas que subiam rapidamente, que rapidamente cobriram Los Cereizales, que rapidamente nos envolveram, subindo a La Enfistiella e às alturas de Peña Penouta ... para rapidamente se esvaírem no céu azul, sob um Sol meigo, doce, acariciador. Alguém tem a feliz ideia de pararmos, de nos concentrarmos nos sons do silêncio, ouvindo apenas o vento, e, lá ao fundo, as águas do Pigueña descendo de Los Cereizales. Foram momentos mágicos, vividos num local mágico, em comunhão com uma Natureza fantástica, com pessoas fantásticas! Obrigado, Vicente!...

Quando nos sentimos magos, vivendo momentos mágicos, num local mágico, em comunhão com uma Natureza mágica...
Passados aqueles inesquecíveis minutos, continuámos a seguir o trilho em zigzag que nos levaria ao fundo do vale do Pigueña. Novas nuvens se desprendiam dos bosques, à medida que descíamos, rumo à Braña Los Cuartos, ou Braña Vieja. Se o Paraíso existe ... ali é uma parte dele!

Descida de La Enfistiella ao vale do Pigueña
Grande grupo! Ao fundo do vale do Pigueña, a chegar à Braña Los Cuartos (ou Braña Vieja)
O Paraíso existe!
E como o Paraíso existe ... foi naquele Paraíso que parámos para almoçar, para encher os olhos e a Alma com aquela paisagem idílica, junto aos velhos chozos da Braña Los Cuartos, ou Braña Vieja, e às pequenas cascatas do rio Pigueña. Apetecia ficar ali eternamente...

Um almoço no Paraíso...
Cascatas do Rio Pigueña
E vamos descer o curso do Pigueña, rumo à Pornacal e a Villar de Vildas
O vale do Pigueña constitui um dos maiores refúgios do urso pardo na Península Ibérica, particularmente o bosque de Las Sendas, na margem esquerda do rio. Pela margem direita, onde seguíamos, chegaríamos à Braña de La Pornacal, a maior e melhor conservada de Somiedo.

Descendo o vale do Pigueña, chegamos à Braña de La Pornacal
As brañas, típicas do sudoeste asturiano e do norte leonês, correspondem às nossas brandas, típicas por exemplo das Serras da Peneda e do Soajo. Em Maio, os vaqueiros de alzada subiam para as pastagens de altitude, em busca dos frescos prados, regressando aos campos e pastagens mais baixos para passar o inverno. Em Somiedo, as cabanas mais primitivas tinham planta circular, como nas brañas de Sousas ou de Los Cuartos; as mais recentes tinham planta rectangular e, muitas vezes, alpendre, como na Pornacal.

Braña de La Pornacal ... a memória dos vaqueiros de alzada
A caminho de Villar de Vildas: a magia em tons de outono
No troço final, entre a Pornacal e Villar de Vildas, as cores do Outono dominavam o fabuloso bosque de Las Sendas. Não vimos ursos, mas o matizado de cores justificava as muitas fotografias; houve quem tivesse tirado, só neste dia ... mais de 700 fotos!

Ao longo do bosque de Las Sendas e uma vez cruzado o Rio Pigueña, chegamos a Villar de Vildas
Às quatro da tarde estávamos a entrar em Villar de Vildas, aldeia vaqueira que em 2004 ganhou o Prémio de "Pueblo Ejemplar de Asturias". E como no fim de uma caminhada sabem sempre bem umas cañas ... entrámos no Bar da Casa "La Corte", onde aliás há já 11 anos fiquei alojado com a minha "fada", numa das nossas muitas incursões pelo paraíso de Somiedo.

Casa "La Corte", no fim de mais uma caminhada
... e despedimo-nos de Villar de Vildas



Deixando Villar de Vildas, regressámos à nossa "base" em Saliencia ... para mais um jantar seguido de alegre convívio. Mas o "recolher" foi um pouco mais cedo ... já que o dia seguinte começava cedo e era o mais duro dos nossos dias pelos cumes de Somiedo e Ubiñas...
(Escrito em Vale de Espinho, 31 de Outubro)

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