sábado, 10 de outubro de 2015

Do Forte de Paimogo ao Forte de Peniche

O Instituto do Mar e da Atmosfera previa para este sábado períodos de chuva, aumento do vento e da agitação marítima, provocados pela passagem da depressão extratropical Joaquin. No entanto ... era para sábado que estava calendarizada a actividade de Outubro dos Caminheiros Gaspar Correia ... na orla marítima de Peniche... J.
Junto ao Forte de Paimogo, 10.10.2015, 10:00h
Confiantes que o "nosso" S. Pedro não nos deixaria ficar mal, um pouco antes das 10 da manhã lá estávamos, portanto, a começar a caminhada junto ao Forte de Nª Srª dos Anjos de Paimogo, próximo da Lourinhã, construído no contexto da restauração da independência de Portugal em 1640 e da guerra contra Espanha.
O programa incluía dois percursos de pouco mais de 8 km cada um. O primeiro, ali iniciado, desenvolveu-se sempre ao longo do litoral, por S. Bernardino e até à praia da Consolação. Foi à chuva que a jornada começou, mas, para a previsão que havia, o dia esteve até bastante "ameno". A muita lama não denegriu a alegria de todos, nem minimizou a beleza da paisagem litoral, que nos ofereceu belos cambiantes do céu cinzento, o mar azul e o ocre dos arenitos das arribas.

Praia de Paimogo, a sul do Forte
Percurso litoral, entre o Forte de Paimogo e a praia de S. Bernardino
Quando as ondas se
desfazem nas rochas
S. Bernardino deve o seu nome à existência de um convento franciscano construído no século XV, cujo Santo padroeiro era São Bernardino de Siena. Em 1910, com a implantação da República e com o anticlericalismo que esta trouxe consigo, o convento foi transformado em escola agrícola sob a alçada da Casa Pia de Lisboa. Posteriormente foi reconvertido em colégio correcional feminino e mais tarde masculino, já sob a alçada do Ministério da Justiça.
De S. Bernardino à Consolação, acompanhámos ainda mais o litoral. O Joaquin não nos levou das arribas, regando-nos apenas com aguaceiros intermitentes. Ao fundo já se via Peniche e as Berlengas.

As gaivotas recortam-se no cinzento do céu, enquanto
caminhamos sob elas e sob esse mesmo céu...
Forte da Consolação, com Peniche e o Cabo Carvoeiro ao fundo
À hora do almoço estávamos junto a outro baluarte da arquitectura militar, o Forte da Consolação. Esta caminhada, entre dois fortes e terminando também junto ao Forte de Peniche, trouxe-me à memória o meu saudoso Tio, Carlos Pereira Callixto, apaixonado que foi pela história das nossas fortificações marítimas e autor de diversas obras de referência que ajudaram a construir a nossa memória colectiva, no que à referida história diz respeito.
14:30h - Papoa ... debaixo de chuva e com muita lama...
Da Consolação, os céus sobre Peniche pareciam querer desabar, mas quando chegámos às imediações o panorama era já um pouco melhor, apesar de ter sido igualmente debaixo de chuva que iniciámos a segunda parte da jornada, na sempre bela península da Papoa, lugar de contemplação de maravilhas naturais, como a estratificação das diferentes formas geológicas desta zona.
A Papoa propriamente dita terá resultado da agregação de materiais expelidos pela fenda vulcânica que existe no mar. Tal como a restante costa de Peniche, provocou inúmeros naufrágios, fruto de colisões com as formações rochosas e a linha de costa, como a do navio de guerra espanhol San Pedro de Alcantara

A Papoa em dia de "tempestade" ...
... e continuamos rumo aos Remédios e ao Cabo Carvoeiro
Ao longo da costa norte da Península de Peniche, nos céus já se viam por vezes pedaços limpos. S. Pedro ía-nos dar um final de tarde bem longe da tempestade "prometida" pelo Joaquin. E rumámos ao lugar dos Remédios, base de um Santuário consagrado ao culto mariano.

A caminho do Santuário dos Remédios
Segundo a lenda, a imagem de Nossa Senhora terá sido encontrada no séc. XII, escondida numa pequena caverna, situada no local onde hoje se ergue a ermida; a importância deste culto traduz-se em peregrinações anuais, os Círios, que terão motivado a criação do Santuário no séc. XVII, composto pela referida capela e por uma praça fronteira orlada de casas onde se encontravam a residência do ermitão e dos mordomos, as hospedarias e as cavalariças. Acontece que, nessas casas ... há 42 anos funcionava uma colónia de férias da Paróquia de Moscavide, sob a gestão do saudoso pároco Francisco Cosme; alguns dos namorados das moçoilas que estavam na colónia de férias ... acampavam à porta; eu ... era um deles. Essas e outras histórias, "perdidas na noite dos tempos" ... constam da parte retrospectiva deste blogue - "Cantando é como se dissesse: estou aqui! "... J


Casario dos Remédios, hoje ...

e em Agosto de 1973...
Santuário de Nossa Senhora dos Remédios
Dos Remédios à Nau dos Corvos foi um salto ... numa tarde que nessa altura já era de Sol. O Cabo Carvoeiro e a velha nau lá estavam, a olhar o mar, quais guardas avançadas a relembrar-nos, também, os passeios de há mais de 40 anos. As Berlengas como que nos chamavam, envoltas que estavam nalgumas résteas da neblina do Joaquin. Gaivotas e corvos marinhos partilhavam "pisos" diferentes da nau.

A caminho do Cabo Carvoeiro
Nau dos Corvos, a guarda avançada do Cabo Carvoeiro. Ao fundo a Berlenga
Gaivotas e corvos ocupam "pisos"
diferentes da velha Nau dos Corvos
Costa sul da Península de Peniche ... aproximando-nos do final da jornada
E pela costa sul completámos o percurso, que terminámos junto ao velho e histórico Forte de Peniche. Os elementos, enlouquecidos pelo Joaquin, como que se digladiavam entre os céus e a terra.

Praia do Carreiro da Joana
E ... entramos em Peniche, com o velho Forte à vista
Forte de Peniche
Peniche ... e os elementos de um fim de tarde "bélico"...
Sem dúvida uma bela jornada caminheira, no seio da "família" Gaspar Correia, recordando uma zona que tanto nos diz e que faz parte da história de vida do autor destas linhas ... e da sua "pequena arraiana"... J
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